Trabalhando a fio sem nunca ver a lisura da vida
Quando a esquina não mais acolher bastardos
E o Sol se puser antes de a aurora chegar
Esfolheie o livro da vida
Ache-me na outra margem do texto se dia ainda for
Não me espere
Quando chegar o crepúsculo e eu não chegar
Quando atracar o último barco e o cais se fartar
O pescador regressar trazendo apenas a exaustão
A fadiga de longas horas de martírio no alto mar
Pacifique a alma rota do herói sem guerras p'ra vencer
Anime o espírito desconsolado do mundo sem aura
Não me espere
Ao cair o pano neste século
Ao desfalecer a última esperança
Ao declinar da última constância
Se se fizer crepúsculo o arrebol
Terei explorado ao máximo
Terei vivido até ao extremo o meu direito de errar
Não me espere
Se se ofuscar o brilho do Sol
E a Lua omitir a sua luminosidade
Tranque as portas da cidade
Convoque os pobres de todo mundo
Dê-lhes chapas de zinco
Mande-os para longe erguer cubatas
Diga-lhes que a cidade é só p'ra ricos
Que os especiais devem continuar pobres
Dê-lhes ZAP sem SIC e longe de ALJAZEERA e WIKILEAK
Dê-lhes fornicação digital
Não me espere
Quando se der o fim do escrúpulo
O dó for virtude extremamente rara
E esgotar-se o fundo que sustem mendigos
Não haverá chegada para caminhantes exaustos
Não haverá partidas p'ra caminhadas exaustivas
Não me espere
Henriques Fortuna Cardoso | “Inusitado” Luanda, 03.12.2017 | Vila da Mata-Cazenga
SOBRE O AUTOR
Henriques Fortuna, formando em Língua Portuguesa e Literatura pelo ISCED-Luanda, poeta e cronista, autor de textos dispersos, publicados, alguns, no espaço semanal de poesia e sugestão de leitura, no programa “GENTE VIVA” da Rádio Cuanza-Sul, enquanto formando na E.F.P do Cuanza-Sul, 2013-2016. Tem escritos poemas de temas variados, «DE FÉRIAS NO EXÍLIO» denunciando a correria, os infortúnios e a alegria dos angolanos.
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