Nasceu
e cresceu no Balombo. Chegou com quinze anos em Benguela, onde vive até hoje.
No princípio, quando chegou, era zombado pelos amigos, que o consideravam
estranho, ainda mais pelo facto de ele falar Umbundu.
Nunca
havia estudado, nem lá nem cá. Mas, semelhante aos grandes homens batalhadores,
já se mexia: fazia biscates. E nesse ritmo de biscates mais contactos, Nando
conseguiu um bom emprego na pedreira com portugueses.
Era
uma das pessoas mais humildes. Sempre que eu o visse lembrava Gandhi. Tinha
muitos amigos. Muitos destes inclusive bebiam, mas ele, nada. Tinha a forte educação
da gente do interior. Ajudava a casa onde morava, casa dos seus tios.
Assustava
com as kafekos benguelenses. Em toda
sua vida nunca tinha namorado – era tão tímido e educado, que achava mui
complexo conversar com “mulher”. A muitas dessas mulheres (vizinhas, amigas)
sempre que lhe pedissem dinheiro, ele dava. Ah! Quando fosse as que ele amava,
dava sempre notas gordas. Até houve um episódio em que uma vizinha lhe deu dois
beijos da bochecha, e ele amorosamente deu cinco mil kwanzas para retirar 3500.
Esta era Luzia, que fez tudo por tudo para manter com ele. Os dois acabaram por
viver, depois de realizado o pedido.
Passado
um ano, a recém-pedida engravidou. Todos diziam a mesma coisa a Nando: parabéns, agora assim és homem! Vais ser
papai… Mas como nada acontece por acaso, e não estamos a sós no universo,
certo dia, seu primo Fedy o disse:
—
Poxas, man, tá te sair bem!...
— O
quê? – perguntou Nando.— Oh, vais ser pai! Quer dizer que és bom de cama.
— Como?!
Não estou a entender…
—
Wi, você sabe o que estou a dizer:
fizeste amor com tua dama!
—Ove, não! Eu só le beijo.
—
Eh… Como assim?! – perguntava Fedy, rindo-se do primo. — Nós nunca se dormimo.
Só le beijo memo. Ela diz que ainda é cedo p'ra essas coisas, é pecado. Só
depois do casamento.
—
Wei, então como ela está grávida?
—
Nós só se beijamo mesmo.
—
Não, wi! Nunca deixaste de ser
burro?!Beijo não engravida. Se vocês nunca fizeram… ela te corneou.
— Afinal?...
— exclamou o triste jovem.
Todo
o mundo ficou a saber. Reuniram-se as duas famílias. E Luzia confessou a
verdade. Disse que só estava com ele pelo dinheiro e que nunca se envolveram sexualmente,
e o filho que estava à espera é de Samuel, primo de Nando. Pois, sempre que
este fosse ao trabalho, aquele trabalhava com sua “mulher”.
Glossário
kafekos: moças (termo umbundu);
Manter: maneira angolana
de dizer contrair o matrimónio, unir-se;
Pedido: cerimónia de formalização da intenção de casamento tradicional angolano;
Man: (termo inglês
que significa homem), calão usado para dizer mano, amigo ou camarada.
Wi: gíria angolana
que significa indivíduo, amigo, parceiro;
Ove: o mesmo que ei,
você;
wei: corruptela de
wi.
SOBRE O AUTOR
Júlio Novady Dimas Teixeira é um jovem benguelense que adora e sempre adorou escrever, pois desde cedo já brincava com as palavras. É filho de um médico contador de histórias e de uma professora de Língua Portuguesa. Seu maior sonho é ser escritor, razão pela qual fez Língua Portuguesa/EMC na EFP-Benguela, e actualmente frequenta o ISCED, especialidade de Linguística/Português.
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