sexta-feira, 26 de abril de 2024
terça-feira, 23 de abril de 2024
Fragmentos da AJS: A NOSSA ONG RESUMIA-SE A DUAS PASTAS DE ARQUIVO
sexta-feira, 19 de abril de 2024
Um voo de ida que já dura cinco anos
Há 5 anos, num dia precisamente como hoje, o meu sósia na imagem (benguelense congénito sonhador de jornalista mas que se viu
raptado pelo mercado de trabalho ainda aos 14 anos de idade em 1993 como ajudante de fotógrafo) fechava um ciclo profissional de 12 anos de serviço de terra na aviação civil para "fazer as pazes" com a comunicação a tempo integral na Vertente Institucional e Relações Públicas (na aldeia global capital de fatos e gravatas chamada Luanda). Pelo meio estão outros 25 anos dedicados ao sector da ONG's, que se iniciam em 1999 com a co-fundação da AJS-Associação Juvenil para a Solidariedade, passando pela Handicap International e pontualmente pela Save The Chilren e NDI, sem deixar de parte outros 2 anos como ajudante e soldador, entre 1998-2000 no estaleiro da (fabricação de estruturas metálicas para a indústria petrolífera). Já pode vir a aposentadoria, 31 anos a "aturar" patrões é muito 😃😃😃sexta-feira, 12 de abril de 2024
quinta-feira, 11 de abril de 2024
quarta-feira, 10 de abril de 2024
terça-feira, 9 de abril de 2024
Núcleo de Artistas Angolanos em Portugal elege Órgão sociais
domingo, 24 de março de 2024
Crónica | PARA JUSTINO HANDANGA A CARTA QUE TE NUNCA ESCREVERIA
Companheiro Handanga, espero que te encontres bem aconchegado pelo coro de anjos de uma dimensão
paradisíaca em que muito creio que crias. Que o diga Ndondi, a missão.
Tive a sorte de nunca ter privado contigo, nem como Tinox tampouco como Handanga, o que felizmente me concede o privilégio de seguir convivendo contigo e com a grandeza da tua existência num patamar de imortalidade.
Porque tu, meu camarada, no choro da tua caneta, no laminar da tua mensagem, no encanto do teu canto, plantas é mitos directamente no coração do povo, do nosso povo. E muito bem plantadinhos, é bom que se acresça, como aquela avó narrada pelo personagem Man’Toy no parágrafo de fecho da minha novela Não Tem Pernas o Tempo. Aquela avó que vivia cosendo e descosendo cantares, reinventando-lhes ora as garras, ora o veludo, tal como tu, portanto, com dotes de plantar mitos, perde pois a faculdade de perecer, falecer ou morrer. Porque o mito não cabe na morte, triunfa sobre ela.
Pedem-me que escreva linhas de uma circunstância que se soma à pesarosa nuvem que teima em arrebatar poetas ultimamente. Miguel Gullander, o também professor português em Luanda, a peruana Júlia Wong e outro português, Nuno Júdice, todos a transcenderem assim como gotas finais da cabaça de cisângwa combundi culturalmente nutritiva.
Enfim, só António Cardoso na causa, como diria o nosso povo, no seu evangelho poético da inutilidade do choro. «Se choramos aceitamos. É preciso não aceitar.» Portanto... celebremos a obra e a memória, o legado e o obreiro, em termos do seu reflexo em nossas formas de ver e viver a angolanidade. Honremos, conforme nos permite a recolha do mosaico de experiências atravessadas pela música Handanguiana.
Recuemos. Dezembro de 2018. A tarde cede lugar ao manto que pinta no céu o ponto mais alto da confraternização de fim de ano no quintal Rádio Benguela, com Adão Filipe a encabeçar. E tu, músico e compositor Handanga, acompanhado pela Banda FM, revisitas o repertório que é já desde 2002 uma prateleira prenhe de clássicos made in planalto central, cuja marca é o cruzamento entre a recolha etno-musical e o retrato social arraigado nos mais desfavorecidos. Temas como “Ndatekateka”, “Paulina”, “Abílio”, “Olonamba” despontam nas delícias da assistência.
Chegada hora do fim do concerto, os artistas iniciam os procedimentos de desmontar o palco, para o protesto amigável do público. Bis, bis! Handanga agradece o carinho e tenta convencer o público do contrário. Em vão. Volta-se à primeira forma para só mais duas. E lá o bis é servido mas o público segue insaciável, a noite vai longa, os músicos, porque de carne e ossos são feitos, rendem-se ao descanso. E tu, qual soldado disciplinado, cumprias a ordem, na proeza do bis de um bis, já só em companhia do guitarra ritmo.
Handanga entra na vida da muitos de nós em 2003 na ressaca do calar das armas, com aquela colectânea denominada Sucessos do Huambo Volume 1, que de alguma forma alicerça o processo de reconstrução e reconciliação da família angolana a bordo das ondas da rádio ou dos meios rolantes que desafiavam os sulcos no lugar das estradas nacionais, onde o belo, o crítico e o proverbial se conjugam nas vozes de Zé Katchiungo, Viñi Viñi (que viria a partir também de diabetes, em 2007), Bessa Teixeira e o General Jafar. Era a nossa nova Angola, tomada por uma onda romântica no sentido de corrigir o rumo em direcção à prosperidade, ao fim de três décadas de guerrilha fratricida e que só nos dividiu.
Lembro-me de uma viagem por estrada durante esse período, de Benguela a Lubango, daquelas aventuras românticas da juventude com uma beldade estrangeira de expressão inglesa, quando nunca se conseguia transpor os quatrocentos quilómetros em menos de onze horas, tal era o estado de destruição. No velhito Hiace em que seguíamos, o trajecto todo era ao som de uma só cassete de sessenta minutos em auto-reverse, o que significa a mesma música de hora em hora. De modo que até chegarmos ao destino, qualquer um a bordo conhecia de cor e salteado o repertório e o teor da mensagem na língua umbundu.
Que siga tocando a tua rica música, companheiro Handanga, uma música que não só toca, como afinal nos toca... profundamente. “A mbwale ndakwivaluka, akome!”
Gociante Patissa | Lisboa, 19 Março 2024 (publicada no Jornal de Angola, edição de 24.03.2024)
domingo, 3 de março de 2024
A cara que te acontece quando pensas que amanhã é já segunda-feira e as guerras no mundo ainda não se lembraram de cessar. Tanta BALA no lugar de bola, tanto NÃO no lugar do pão, nossa espécie humana tão prendada a cultivar conflitos e impor interesses por tudo e por nada. Tanto evangelho, doutrina, crença e deuses para tão pouco entendimento no mundo. É porque nós, os loucos na caverna, cremos na PAZ, ainda.
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
domingo, 21 de janeiro de 2024
O MARKETING É UMA MENTIRA (crónica de hoje nas páginas do Jornal de Angola, coluna Carta de Lisboa
Crónica | O MARKETING É UMA MENTIRA
O que vai querer para sobremesa? Pergunta-me o homem da facturação na copa do Museu Gulbenkian. Uma fruta. Se não houver melão, fico com o mamão, se faz favor. PAPAIA. Rectifica prontamente o homem, entre o simpático e o professoral. É PAPAIA, reforça suavemente enérgico, não vá outro cliente na fila confundir os termos, cuja diferença, se alguma, para já não enuncia. Agradeço-lhe e sorrio maroto, como quem nunca se engasgou ao degustar mamão contra papaia ou ananás contra abacaxi, diga-se.
E como até vivemos a era da lucidez de auto-ajudas, fico a conjecturar que raio de gatilho faria o substantivo mamão espoletar no rol de memórias, quiçá dos mais malandros e fisiológicos superlativos na cabeça do homem. Mas deixemos isso para lá, farto que anda o mundo de nos provar o quão útil é a produção em série de coaches e motivacionais e etc. Tanta sabedoria a granel, e enquanto isso nada contém as guerras, como se vê.
A fila da copa no museu tem sempre mais olhos que barriga no que respeita à sua cadência. Turistas e nómadas digitais fazem a paisagem. De escritório às costas que atende pelo nome de mochila e internet e fome no pico, aguardo a vez. Conto pelos dedos da mão, ou diria antes pelos dentes da minha boca, o tempo de espera, que por sua vez não cabe na métrica. Aqui o tempo é só isso mesmo (não chega a ser dinheiro, pelo menos não como proveito), não se detém na boa-vontade do pessoal de serviço, que tem de se desdobrar com interpretações e traduções, tanto babel circulando na metrópole, os que ficam e os que nunca mais voltamos a ver. A única certeza dos encontros é a data.
A propósito, enfio aqui um paralelo com algo que me chamou atenção há dias na condição de telespectador e estudioso de ciências da comunicação, simpatizante da sociologia e de fichas técnicas. Estava eu de óculos progressivos montados e tudo à espera da ficha técnica de um programa da RTP, quando dou por mim quase tonto e frustrado. Tão veloz era o desfile da ficha técnica que não se conseguia mesmo decifrar a sua composição. Os nomes estavam lá, porém mais valia o oposto disso. A única coisa de nítida, porque a última, era 2023. Se não é para decifrar os nomes, o que justifica então que lá estejam?
Esse pormenor aparentemente insignificante, digo aparentemente atendendo que em teoria tudo comunica, parece dizer muito sobre o rumo para o qual as relações interpessoais caminham na era digital, muito dada a pressas e ao impessoal. Temos então um modelo cada vez mais instrumental de contar histórias. Em Angola mesmo intrigava-me ouvir peças jornalísticas de rádio e televisão, aquele critério editorial de omitir o nome do interlocutor sem justificação, ou narrações do tipo este cidadão fez isto e aquilo, reduzindo a humanidade a uma estrutura fisionómica de anonimato imposto.
Aos corredores da Gulbenkian volto inúmeras vezes, tal é a variedade de atractivos da sua pauta e paisagem, da biblioteca aos palcos. O verão chega a ser a época mais voltada ao pop juvenil, com uma programação que se esforça a mitigar as barreiras que atravessam a história de Portugal na sua relação com as colónias. Contudo, o tronco principal da acção cultural, este, é voltado à faixa mais vivida, a da música clássica.
É um microcosmos de uma geração que faz dali um refúgio existencial, como quem lança o anzol às profundidades do oceano à pesca de motivos. Esse motivo por vezes pode ser só mesmo o aconchego furtivo do ar condicionado, quando se torna insuportável o interior da maioria de moradias antigas, ao longo dos quatro meses de verão.
Nas poltronas rubras do corredor do bengaleiro monto o arsenal de nómada digital, o iPad devidamente ligado à net de dados, auscultadores para reuniões virtuais e um punhado de livros (de quando em vez furtamos horas ao patrão para os atrasados académicos).
Por mim passam calados, olhar desviado com frequência reincidente, homens e mulheres, de jovens a adultos. Chegam ao fim do corredor e vêm-se obrigados a retornar, um tanto aflitos. Eu sei o que procuram. Sei também que não o acharão sem perguntar, visto que a arquitectura à meia-luz não facilita achar a sinaléctica. Sem saudar, perguntam onde fica a casa e eu indico, ora em português, ora em inglês. O WC é mesmo ali, é só virar à direita, ao que respondem obrigado. A entrada do bengaleiro é também a das casas de banho. Aliviam-se e vão à sua vida, a saudação não é mandatória, aliás, nem nos vimos.
Uma dessas almas traz consigo caixa de papelão a tira-colo e um daqueles sacos de panos caqui, que na banda até gostamos também de fingir que utilizamos, a pessoa até recebe em eventos e quê e tal para acabarem atirados, nem já para saco de pão. A mulher, 50 e poucos, cumpre o roteiro mudo, batido, mas o retorno é certo. Cumprida a escala técnica de atender a natureza, breve, procura saber a agenda. Peço uns segundos para espreitar o site. Cabe a mim fazê-lo, que ela usa telefone de botões. São 15h. De espectáculo mais próximo, só mesmo às 19h. Não dá, o meu último autocarro sai às 18h30.
Moro do outro lado do rio, acrescenta a mulher cuja jornada a Lisboa nesse dia se resumia a dois grandes ponderáveis. Um era tratar da saúde do seu bicho de estimação, um gato, motivo da recolha das caixas de papelão. O outro passava por captar um melhor ângulo da exposição que visitara dias antes. Mas não há nada a fazer, a exposição já ali não se encontrava patente. Desenrola-se o papo de dois aficcionados por fotografia feita com máquinas fotográficas DSLR, aquele deleite de ajustar os parâmetros de abertura, velocidade e sensibilidade do sensor, coisa que o digital nem sempre sabe.
É mesmo! O digital tende a acelerar resultados, não dando a dominar os processos. É o que se vê, um mundo cada vez mais preso aos aplicativos e frio para coisas que muito acrescentam ao contacto humano, isso somos nós no papo conspirativo. Ela indaga sobre o que me traz a Portugal, ao que lhe respondo curso de mestrado. Ah sim? Sim. A questão é que me licenciei em linguística por ser o que mais se aproximava à comunicação e à literatura, na ausência da oferta em jornalismo na província de onde venho.
Conta-me ela que em jovem cultivou uma fulgurante paixão pelo jornalismo e exerceu, até perceber que afinal gostava de coisas menos dependentes dos interesses dos patrões. Trocaria os microfones pela sala de aulas, multiplicando o saber a bordo da filosofia. Não podia, por isso mesmo, deixar de abominar o assalto ao bom-senso por derivas populistas. Pior ainda é a onda de supressão de cursos tão úteis à formação do pensamento crítico como as filosofias e as sociologias, já sem falar de sistemas de aceleração que mutilam.
Sendo formado em ciências da educação, digo-lhe quão sintonizado à apreensão dela estou. E conversa vai, conversa vem, menciono a má notícia da descontinuação do curso de sociologia numa das unidades orgânicas da maior universidade estatal do meu país, precisamente por registar fraca adesão de candidatos, em se tratando de regime pós-laboral que opera na base da propina para a remuneração do corpo docente.
Como pode o mundo crer que vá caminhar saudável e consistente, dar sequência ao legado cultural e conquistas até aqui somadas, com a aposta em programas e currículos que semeiam o imediatismo e a superficialidade? Questões de retórica que prosseguem até a minha interlocutora atirar: E essa coisa do marketing, já viu como consome a juventude?! É só vender, vender. Eu não gosto nada. O marketing é uma mentira!!!
De facto, como estudante da coisa devo concordar em parte. O marketing chega a ser uma rampa de ilusões e egos esteticamente bem vendidos. Oh, mas disseste (posso tratar-lhe por tu? – Sim, claro) que estavas em ciências da comunicação. E estou, escolhi comunicação, marketing e publicidade porque trabalho no ramo. No entanto a minha escola é, como disse, ligada à educação, artes e desenvolvimento comunitário pelas ONG.
Gosto de causas sociais, diz a senhora, que é activista pelo bem-estar dos animais. Passa a ser este o tema, a ecologia e vida saudável. Mas o tempo, o mesmo que um dia considerei não ter pernas, pois seriam curtas ou longas demais, fazia das suas. A senhora abre a bolsa para localizar o bloco de notas onde tem o horário dos autocarros intermunicipais. O aplicativo não torna a coisa mais prática? Provoco eu. Livre-me dos aplicativos, por amor de Deus!, retruca. Não quero ser comandada por telefones, utilizo apenas para o essencial, fazer chamadas e enviar SMS, e mesmo assim já é muito.
Feitas as despedidas, solicitei-lhe um ponto de ordem para saber como se chamava, o que revelou com ares desprevenidos, como se fosse natural conversarmos mais de uma hora, trocar impressões pessoais sobre o mundo que queremos mais humano... e acabar tudo numa ficha técnica sem nomes. Bem, se calhar bastaria a data. Mas sou angolano.
Gociante Patissa
Lisboa, 01 Janeiro 2024
segunda-feira, 8 de janeiro de 2024
JOAQUINA KALUKANGO - ACTRIZ E CANTORA AMERICANA COM COSTELA UMBUNDU OU SEMELHANÇAS APENAS?
Saltou-me à vista o nome da actriz e cantora. JOAQUINA KALUKANGO. Mbi wetu? Mbi ocimbundu (Não será "nossa"? Não será de matriz umbundu?) A explicação é que a cultura umbundu (para não generalizar na família Bantu) gira muito em torno do milho, que é transformado em uma variedade de comeres e beberes. OLUKANGO (milho torrado, algo perto de pipocas) faz parte das memórias de cada integrante desse grupo etnolinguístico que representa(va) 1/3 da população de Angola, predominante no centro e sul, muito dado à agricultura e também à caça. Já o prefixo KA, dependendo do contexto, pode indicar diminutivo, assim como pode indicar característica. Assim, KALUKANGO seria alguém (neste caso, atenpassado) que muito aprecia(va) de consumir este quitute tão popular e animado que é OLUKANGO, de resto um elemento também de socialização, à parte a trabalheira de ir bebendo muita água, tal é a sede que causa