quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Crónica | O FILME DA MINHA SEGUNDA VEZ EM LUANDA

Perguntaram-me há dias sobre a primeira impressão de Luanda, que acaba de completar 445 anosOra, convém esclarecer que me estreei em luandices em Junho de 2001, recebido com eclipse solar e tudo. É a cidade da auto-estima. A cabeça erguida com que passam a cantar os pneus de carrões de última geração é notória no tipo do Starlet a cair de podre. E no trânsito, ninguém ofende mais ou menos a mãe do outro em função da cilindrada do seu motor e logo cada um segue, como diz o outro graças da Deus, a caminho da igreja.

 

Será a cidade que mais revela o meu lado trapalhão, a exemplo da segunda vez há 18 anos quando vim para o curso de pesquisadores de grupos focais num estudo sobre a disposição dos angolanos em relação às eleições que se cogitavam para dois anos após o fim da guerra.


Fiz o vôo de uma hora e vinte minutos de Benguela a Luanda com a concentração dividida. De um lado o livro cativante que lia, de outro a ânsia do reembolso dos USD 110 que investi na passagem da avioneta. Desembarquei às 9h00 no terminal da Sal com aquela pressão no ouvido e que obriga a apertar as narinas com a ponta dos dedos para desentupir. 


Ainda no aeroporto 17 de Setembro, o amigo Florêncio André, da TPA, pede-me para entregar aos estúdios centrais cassetes de vídeo, matéria urgente para o telejornal. Ia negar?! Um favor à comunicação social era investimento no quadro das relações públicas.


Bagagem recolhida, tirei da agenda o contacto que me fora fornecido pelo mestre cabeçudo Zetó José Patrocínio. De um telefone público liguei para o NDI (Instituto Nacional Democrático), ONG americana dirigida por Isabel Emerson. Desculpa, mas deve ser um engano. Não é, venho da parte do projecto Omunga, sou líder da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), parceira na Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito. Senhor, a reserva está em nome da Sra. Manuela Costa. Pois, estou a substituí-la, o Zetó já tratou disso. Deixa ainda consultar. Um minuto depois: É como disse, não há mesmo como te acolher.


Só me restou comprar o regresso no vôo das11h00. Raiva, frustração e humilhação mesmo povoavam. Não tinha telemóvel nem havia telefones nos escritórios, quanto mais e-mail para tirar satisfações com o mestre. A agravar a aflição, dois companheiros de viagem para quem transferi o favor da TPA não aceitaram e lá regressei com as cassetes pensando nas consequências ao repórter por sabotar o telejornal.


Posto em Benguela, diz-me o Zetó que fora um equívoco do pessoal logístico. Andava estafado da altitude, desmoralizado pelo USD 220 perdidos. O outro vôo sairia às 15h00. Coloquei todas as variáveis da equação na mesa. Contratos com ONG internacionais aquilatavam sempre o CV, um sonho de fundadores de ONG locais para injectar capital e alicerçar parcerias. Por último, o contrato seria de USD 550, pelo que para quem já perdeu, engolir o sapo e encaixar USD 330 era a melhor opção. Às 16h45 recebia as boas-vindas do senhor Domingos, de Land Cruizer, que ajudou a ver a maka da TPA.


Creio que a formação se passou, coincidentemente com a de 2001, no quintal do INAC, ao Kalemba 2. Fiz dupla com o Vadinho Silvério Santos, da Okutiuka, que foi o primeiro a chegar. O aprendizado correu animado, graças também ao sentido dramático e cómico de Augusto Santana, o número dois, ligado à ONG nacional NCC (National Counselling Center) e a algum pessoal das artes cénicas, falo da Nela do grupo Julu.


O senhor Domingos, motorista, na sua generosidade levou-me em dia de folga a passear à sua banda, Viana, a bordo do Corolla bolinha já idoso sem ar condicionado. Foi um choque. Nunca me advertiram tanto na vida contra o risco de sofrer assaltos. LEVANTA O VIDRO! TRANCA A PORTA! CUIDADO!


Gociante Patissa | 28 Janeiro 2021| www.angodebates.blogspot.com

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

O que nos diz o segundo lugar ganho pela extrema direita na diáspora portuguesa Angola?

Segundo dados partilhados pelo amigo Phil Nelo, nas aleições presidenciais portuguesas o candidato da extrema direita, André Ventura, foi o 2.º mais votado em Luanda com 109 votos, contra os 281 do “aconchegante” Marcelo Rebelo de Sousa. Em Portugal o controverso líder do CHEGA ficou em 3.º lugar. Que ilações se podem tirar deste indicador, sobretudo da expressividade da extrema direita na diáspora portuguesa cá?

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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

PRIMEIRO POEMA DE GOCIANTE PATISSA TEM 25 ANOS

Esta réplica que data de 1998 ilustra o texto que pode ser considerado o primeiro da caminhada do benguelense Gociante Patissa, recitado em Abril de 1996 no Comboio da Amizade, programa infanto-juvenil da Televisão Pública de Angola (TPA) Benguela, ao qual é dedicado. O convite para frequentar as gravações do programa no recinto do Museu de Arqueologia, na altura sob realização de Ladislau Fortunato, dava sequência a um encontro fortuito ocorrido em Julho de 1995 na Vila da Catumbela, na qualidade de aluno do terceiro nível da Escola dos Bambus, 16 anos, tendo sido cooptado depois para guia da equipa de reportagem e para uma entrevista e um concurso de quem comia o gelado mais rápido, o qual como bom pobre materialmente falando venci, não fosse o luxo cair em mãos alheias. E na primeira vez que lá estive e sondando o puro ambiente, concluí que um poemazinho seria bem acolhido, e foi. Levei a amiga e colega Mariana Pascoal Manuel "Yana", filha dos profs Henrique e Victória. As nossas condições só davam para fazer de comboio a ligação Lobito-Benguela. Destacavam-se na equipa de apresentadores do Comboio da Amizade os irmãos Cabral (Márcio e Izenaida), a Anaína Lourenço (mais tarde minha protectora), a Yola Poças, a Arminda, a Núria Pinto, a Rossana Victor. Seguiu-se depois uma arrojada contribuição minha como comediante, poeta e repórter desportivo estagiário (actuei, se bem me lembro, uma vez a entrevistar meninas do andebol do Electro, ao tempo da Alzira Tavares "Zizi", e outra com os putos do karaté do Estrela Clube Primeiro de Maio. A nossa desgraça na altura era cruzar com o escritor Raúl David, que consumia praticamente o espaço de antena tão ansiado pela turma, afinal só se tinha 28 minutos para todas as rubricas. O Tony Kangandjo, ajudante de pedreiro da Tecno-Hossi, era quem me emprestava os ténis para fazer bonito, logo eu o filho de um membro do governo (administrador comunal da Kalahanga) porque não tinha mesmo calçado, exceptuando um par de ténis alvo de bullying, de sola furada e com os dedos beijando o chão. Nessa altura frequentava já o primeiro ano do Puniv no Lobito, sendo que em 1997 desisti de tudo, da TPA e da escola, para frequentar o curso de pedreiro no IED, que pagava de subsídio 25 USD, o que cobriria a título de exemplo o salário de dois professores. A ligação ao jornalismo ou o bicho da comunicação social nunca morreu, tampouco o da literatura, pois com o João Filipe Paulo, filho da tia São Kalukembe, também do subúrbio do Lobito, bairro Santa Cruz, escrevíamos casos difíceis ao estilo brasileiro "Você Decide para o espaço conduzido por Kieza Silvestre na Rádio Lobito, o que viríamos a cancelar a partir do momento em que continuaram a ler os nossos casos ficcionais mas sem mencionar os autores. Nessa altura era colega de escola do Eduardo Chingole, estagiário de locutor infanto-juvenil da Rádio Lobito, com quem trocava noções. Essa façanha ocorreu entre 1995-1997. De sorte que mais uma vez reafirmo, não há separação entre literatura e jornalismo/comunicação no cidadão Daniel Gociante Patissa. Ainda era só isso. Obrigado.

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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

[vídeo] MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

MAAN - Textualidades com escritor angolano Gociante Patissa 
Memorial António Agostinho Neto, Luanda. Moderação de Cíntia Gonçalves (homenagem gravada no dia 27 de Fevereiro de 2020)
#gociante_patissa #cintia_gonçalves #literatura_angolana 
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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