domingo, 31 de outubro de 2021

Crónica | Rua das relações interiores

Debaixo do prédio há coisa de quinze minutos quando estacionava, vindo da boemia luandense que se seguiu à colectânea Trilha dos Inadaptados, a vida fez questão de imitar a literatura. O flagrante foi curto mas impagável. Já conto, não vá eu ser injusto na ordem de chegadas, posto que este episódio está longe de ser a estreia, ainda que parafraseando George Michael, estrela pop inglesa de feliz memória, seja caso para dizer que a cena há pouco testemunhada de esguelha “is not the first and won’t be the last, it’s just the biggest”.

Tenho a sorte que acompanha os escritores solitários, como a bola para os pontas de lança à boca da baliza. A vantagem é que não temos de recear a incredulidade de leitor/ouvinte do episódio da vez, pois entre a verdade e a mentira, salva-nos a conotação criativa do ofício. Do outro lado do cruzamento, no conglomerado de diplomatas free lance, vi marchar uma individualidade em atavio apropriado à ocasião. Junto à farmácia, no pilar da vitrine de fatos e calçado de preço presidencial, não evitei rever-me na ansiedade do homem de mãos nos bolsos, perfume no ponto, encostado à parede para disfarçar o nervosismo. O mano aguardava naquela condição que não se deseja a nenhum adido de coisas do coração, falo dos instantes que antecedem a chegada de quem mandamos chamar, coração palpitante, mas que as palavras ensaiadas, oh desespero, encravam quando ela diz “fala já, me chamaste porquê?”. Transportou-me por instantes para as memórias de menino e moço “na província”, naquele limbo de gosto e tortura chamado “dicar ou xaxar”. Mas os tempos são outros, o sim na era do SIM chega em linha recta, pelo que tranquei o carro devagar apreciando o filme com aquela invejinha do trono libidinoso do outro. Tudo o mais devagar possível, ouvidos antenados q.b. A mulher chega coladinha a milímetros ao tronco do outro, calções jeans amputados na borda das nádegas, entranhas arrogantes, bolsa reluzente, blusa de alças, penteado executivo. Mas destoa no tom de noticiário, não há sussurros. “Vou-te avisar uma coisa, eu não gosto disso ouviste?”, atira para o embaraço do moço. “Eu quando os meus chefes me ligam é para ir f..., ouviste, né?!” Ele vai a ponto de implorar que fale baixo. “Já me ligaste às seis da manhã, às 14h, à tarde, e ficas só a estragar o meu silêncio. Meu número é para os meus chefes; liga e saio para f... Vamos se respeitar, não admito falta de respeito no meu local de trabalho, ya?” E lá o encontro termina inconclusivo, com o rapaz a sair de cena pelas sombras e penumbras dos postes que mantêm acordadas as diplomatas das relações interiores, passos disparados como cliente derrotado na falta de cobertura pelo preço do bem luxuoso na montra. Voltara? (A série continua) Gociante Patissa, 30 Outubro 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Réquiem | HORÁCIO NGANDU E O FIM DA GINGUBA

Um mês qualquer de 2006. Eram 12h e mais coisa, menos coisa, sol abrasador no lombo de um carteiro de circunstância, entre o Alda Lara e a paragem da Cruz Vermelha, serpenteando ali pelas ruelas da Sé Catedral. Mas a fome inventa. A fome sabota passos largos. Vão duas doses de ginguba torrada, garrafa de água é receita fixa na mochila. Há que apressar o passo para ocupar o lugar no Hiace do Lobito, Santa Cruz paragem e escritório, cansado mas satisfeito por ter distribuído todas as cartas-convites. Encho a boca de ginguba e justo neste instante, uma voz ao longe exclama às sílabas de carinho: Go-ci-ante-pa-ti-ssa. A saudação exigia no mínimo uma retribuição calorosa, verbal. Mas com que boca? Embaraçado como só poucos, lá me desvencilhei e rimo-nos à farta da partida que involuntariamente pregara ante a minha trapalhada de locutor que afinal se embutia de ginguba nas horas de aperto. 

 

Era o Horácio Ngandu, operador de som da Rádio Morena Comercial, um gajo do naipe competente e aprazível com quem havíamos desenvolvido cumplicidade, só rivalizava no empenho e criatividade com um Dinho Carlos ou um Manuel Chandicua, em Benguela.

 

As pessoas, passageiras por vocação como bem são, passam. Mas há as que têm a proeza de nos ficarem gravadas na memória por presenciarem aqueles momentos ímpares, talvez segundos, exactamente naquele instante improvável envolto em flagrante trapalhada. Será para sempre essa a lembrança mais imediata que fica do Horácio Ngandu. Hoje tomei conhecimento de que vai a enterrar no Cemitério do Camama às 10h de hoje, ainda ninguém me revelou as causas. Ngandu trocaria Benguela pela capital onde se estabilizou como operativo da Polícia e na sua paixão pelos bastidores das ondas hertzianas, colocado na Rádio MFM. Falamos em tempos sobre os planos que alimentava de escrever um livro.

 

Dar corpo à ONG AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) custou-nos chuva, sol, assaduras e demais desgastes de uma caminhada a começar do zero literalmente, tendo a penas o capital de gerar ideias, neste aprender-fazendo com o ímpeto de mudar o mundo. Como de resto terminam todas as juventudes, mudamos nós, o mundo nem por isso, lá permanece pronto para enfrentar novas utopias. Quanto a nós, éramos no núcleo duro jovens com ensino médio, sonhadores, origem desenrascada, irreverentes mas protegidos pela reputação de gestão rigorosa de património e parcerias. 

 

Por meio dos projectos, muito mais dos produtos de comunicação para cidadania, concretamente os programas de rádio Palmas da Paz e Viver para Vencer (2003-2012) e o do Boletim A Voz do Olho, jornal comunitário, há um somatório de memórias, entre colaboradores, voluntários, convidados, quadro efectivo da rádio, bem como a sua gestão e área comercial, sem esquecer os operadores de som, aqueles que garantiam a emissão. O programa era em directo, intervalando debate com arte dramática, dinâmico como é o pulsar da juventude pensando e debatendo Angola: reconciliação, saúde pública, educação e desenvolvimento comunitário. A mesma equipa polivalente de não mais de cinco imberbes desdobrava-se entre a concepção, condução e fazer de estafeta para assegurar convidados.

 

Repousa em paz, amigo Horácio! Aqui fica a gratidão pelo contributo prestado a nós e à AJS.

 

Gociante Patissa | Luanda 27 Outubro 2021 | www.angodebates.blogspot.com (Imagem: Facebook pessoal de Horácio Ngandu)

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domingo, 24 de outubro de 2021

Diário | Não gostei nem um pouco, sabes, né?

"Moço! Garçon!"
"Já venho. Só um minuto."
"Chega ainda aqui."
"Ok, senhora... A comida não estava boa?"
"Nada a ver, moço! Achas que agiste bem?"
"Não entendi, senhora. É o quê mesmo?"
"A tua atitude foi correcta? Não gostei nem um pouco, sabes, né?"
"Vai desculpar, moça. Mas entendi que pediram a conta e é por isso que trouxe. Não era para fechar a mesa então?"
"Claro que era, né? Nada a ver. Mas porque é que ao trazer a conta, foste logo entregar ao homem, sendo nós dois um casal?"
"Não é de propósito, é só que como normalmente ele é que é o homem..."
"Mas homem só paga, moço! Quem controla é a mulher!... Não é isso, mor?"
"Ai é?"
"Ai é, como assim, moço?!"
"Eh..."
"Tás a ver esse trabalho todo que lhe deste de conferir os gastos? Esse trabalho é meu, ouviste, né?"
Gociante Patissa | Luanda 24 Outubro 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O meu trauma com ladrões infiltrados no BPC e INSS

Agora há pouco vi uma matéria no telejornal que denunciava a pilhagem perpetrada por dois enfatados do INSS (Instituto Nacional de Segurança Social) que do alto da sua criatividade substituíam o Iban dos pensionistas pelos seus, apropriando-se indevidamente de um total de 12 milhões de kwanzas. É uma roubalheira que, garanto eu, só se modernizou, somando-se ao mau atendimento a que viúvos, reformados e antigos combatentes estão sujeitos.

Em 2002, seis meses passados mais ou menos sobre o falecimento do meu pai, passei a pressionar a Segurança Social em Benguela para os subsídios de morte e de sobrevivência a que a viúva, minha mãe, e os menores tinham direito. Mas a coisa nunca mais avançava, ora porque o chefe não estava, ora porque havia muitos documentos duvidosos por aqueles dias e a declaração de serviço, lavrada pela Administração do município da Baía Farta, levava por tabela.
Cansado e por julgar que tínhamos o direito de esperar um exemplo diferentes daqueles que um dia foram superiores do finado no quadro administrativo e na hierarquia partidária, pedi emprestado um computador no escritório da Omunga ao Zétó e elaborei uma musculosa exposição de três páginas dirigida ao então Secretário Provincial do Partido MPLA, que governa o país, Zeca Moreno. Lembrei-lhes que se aproximava a quadra-festiva, altura em que muito mais falta ainda faria a figura do mesmo pai com quem durante anos dividimos com as missões de pátria. Dois dias depois convocaram-me para audiência a informar que o assunto estava resolvido e que devia levar a mãe. Por pirraça respondi que a mãe era camponesa e não tinha tempo nesse dia. Mas o Secretário Provincial fora prestativo e deu solução, o que me transmitiu na audiência que me concedeu. A partir dali, a mãe recebu um cartão que a habilitava à migalha na ordem dos 3 mil kwanzas/mês, equivalentes a 30 USD.
Corria a coisa bem até que um dia, por azar, a velha perdeu o cartão e o BI no recinto do BPC (Banco de Poupança e Crédito) da Fronteira. Aí a coisa complicou-se um pouco, de sorte que tomei a liberdade de certa vez confirmar os relatos desumanos da burocracia. Não fiquei mais de meia-hora no local para atingir o pico da indignação ante a desconsideração de que eram alvos os clientes. Fitei com ira os olhos do compatriota, não-lhe admitia dirigr-se à minha mãe como pedinte. Aí ela disse: filho, esse senhor é o que nos é mais atencioso. Senti-me culpado, a minha mãe estava melhor na sua lavrinha a ter de se submeter ao capricho de cidadãos nossos que se julgam deuses por conta do micropoder em nome do estado, quanto mais não seja porque a minha família tem a sua pedra no processo de construção do que veio a ser Angola independente.
Passado algum tempo, descobrimos que algum infeliz andava a levantar o dinheiro da minha mãe, usando assinatura ilegível. Quando fui reclamar, nem o INSS nem o BPC conseguiam responder, já que se fosse procuração, tinham de assinar com letra legível e não rúbrica. Portanto, o roubo tinha de ter sido articulado entre um infeliz do BPC e outro da Segurança Social. Fiquei nessa dança. Então, um amigo aconselhou a solicitar patrocínio de um advogado de renome, que encerra em si um misto de incompetente e mau carácter, pois ao fim de três meses dizia que não tinha feito nada e que não faria. Na altura o desfalque andava na ordem dos dois meses.
E assim o problema continou até à data da partida da minha mãe. Tão indignado a situação me deixou que nunca mais quis saber da pensão, nem se os ladrões continuam a receber indevidamente em nome da minha mãe. Acredito que o meu pai não deu pela pátria a vida para passarmos por isso. Acredito na lei do retorno como acredito nos valores de pátria (confesso-me idealista) e acredito na existência de servidores honestos e éticos. "Et voila", este é o meu trauma com o BPC e o INSS.
Daniel Gociante Patissa | 21 Outubro 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

O que muda na Rádio Nacional de Angola após o Top dos Mais Queridos?

Que lição irá a RNA tirar da sua própria inovação no Top dos Mais Queridos 2021, num ano em que a final contou com um representante de cada província? Pela lógica da base de apoio popular, ganhou o Huambo com um grupo desconhecido de todo, com uma proposta manifestamente arrojada nos acabamentos, o que indica as condições desenrascadas em que músicos não levados ao colo pelas "labels" trabalham. Crise no Lar, tema dos Picantes, arrebatou os 2 milhões de Kwanzas de troféu principal, batendo na concorrência a "hegemonia" Paulo Flores e Yuri da Cunha, cujo tema, Njila yadikanga, está a um patamar de longe superior esteticamente e no que respeita aos arranjos. Em terceiro lugar ficou Tiviné, representando a província de Benguela (trata-se na verdade de um músico da vizinha província do Kwanza Sul que há mais de duas décadas "aportou" Benguela, onde se revelaria pelo carisma e talento enquanto integrante do Quinteto Ndjando, também na vertente da recolha e adaptação do cancioneiro). Quem conhece minimamente a dinâmica cultural e o sentimento de pertença e identidade não estranhará esse feito que bafejou o planalto central. O povo votou em massa porque conhece e se identifica, conhece porque se divulga localmente, ou seja, a província adoptou como causa de todos a participação do grupo local no concurso nacional. É que no Huambo, o que julgo estender-se ao Bié, valorizam-se e se promovem as manifestações de produção local. É o contrário por exemplo daquilo que se vê na província de Benguela, onde no campo musical o produto local é tratado como marginal, relegado para programas "temáticos", dedicando a maior parte da emissão ao mainstream, com a luandização costumeira por meio do semba (e da língua kimbundu cuja mensagem praticamente ninguém percebe, só contam o ritmo/harmonia) e do kuduro, com tudo de bom e de trágico que a subcultura carrega de boçal, salvaguardadas as virtudes cada vez mais escassas na dança/música electrónica. A mim faz mesmo muita confusão estar em Benguela, uma localidade com dez municípios e um sem fim de variantes etnolinguísticas e quando se sintoniza a rádio, é como se a pessoa estivesse em Luanda. E não é que os músicos locais não se esforcem em investir os parcos recursos para criarem. Pôr a tocar na rádio da localidade em que vivem é que é o problema. Chegam a dizer, já entristecidos, que por vezes a música tem de ganhar notoriedade fora para que localmente seja acolhida. E não é um fenómeno que só afecte as rádios do estado, as privadas também. Quando se promovem actividades, lá a música local toca, mas logo a seguir... Convém que não sejamos mal interpretados como se estivéssemos a combater o carácter cosmopolita, não é isso. É que o semba, que convém vender como bandeira nacional, pode afinal não dizer nada a muitos povos que formam a malha da diversidade cultural do país que somos, independente de ser uma riqueza muito cara ao norte ou representar o substrato da elite pós-independência e ter jogado um papel relevante na luta anti-colonial. Enfim, a pergunta de retórica é: de que adianta essa experiência da representatividade das 18 províncias e a inerente diversidade cultural na esteira do Top dos Mais Queridos, se ao longo do ano a discografia é deixada à mercê dos gostos dos DJ's e operadores de som, muitos deles, infelizmente, com pouca consistência em matéria de cultura musical?


 Gociante Patissa | Benguela 18 Outubro 2021 | www.angodebates.blogspot.com
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domingo, 10 de outubro de 2021

Crónica | Meu lugar é um desterro


Atravessa-me recorrentemente desde jovem a contradição existencial de quem ama esse País chamado Angola e continuará a honrá-lo, quer pela própria cabeça, quer pelo legado de sacrifício consentido pela família desde as décadas do nacionalismo... mas que em sentido oposto, se revê cada vez menos no rumo que a sociedade toma no campo da alteridade e ante a inversão gritante de valores elementares de convivência.

Não liguem, podem ser só dizeres de sono mal dormido de inquilino de uma certa rua cedida à poluição sonora de prostitutas (usaria termo mais bonito noutro contexto) que usam da boçalidade, da embriaguez e brigas entre si como mecanismo de se manterem acordadas no seu comércio que se instala ao cair da tarde. Não saberei dizer que sejam as mesmas todos os dias, não varia é o lugar. E a vizinhança, qual avestruz, escuda-se na barreira de som da vidraça das janelas, com isso o não-assunto prospera.

As barulhentas, socialmente invisíveis e talvez por isso inimputáveis, somem antes de lhes nascer o sol no luzir das ancas ao léu. São só umas putas coitadas que até vêm de longe, não hão-de prejudicar ninguém com noites mal dormidas derivadas do tão alto que falam e pregam na parada. Não sendo tudo más insónias, certa vez já ébrias e nostálgicas, marcava o telemóvel duas da manhã menos um quarto, elevaram a noite com coral em impecável harmonia, tenores, sopranos e contraltos, mãos dadas em arco animadíssimo em uma das línguas nacionais: na poltrona da glória celestial hei-de me sentar um dia / sim/ hei-de me sentar.

Por essas e por outras cuidei de transmitir em conversa com jovens leitores a minha resignação. Definitivamente a minha geração fracassou, não há mudança que se vislumbre para breve. Um giro simples pela cidade, no rol de murros no estômago está ao virar da esquina um qualquer de nós com o instrumento de urinar à mão, perdoado pela ausência de WC públicos que só a encarnação seguinte trará.

Esta sociedade da qual sou parte do problema, impotente em sonhar soluções, esta sociedade da ganância, da falência do bom-senso e da razoabilidade, chega a ser um desterro que nem eu próprio recomendaria para legado. Favor acordar-me logo que atingido o fundo do poço.

Gociante Patissa, Lunda, 10 Outubro 2021 | www.angodebates.blogspot.com


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quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Desabafo de Ismael Mateus sobre ser "opinion maker" em Angola

Devo ao jornalismo a honra de me ter possibilitado falar para as pessoas, ser seguido nas minhas opiniões e acesso à mídia para analisar aspectos da vida nacional. Infelizmente discute-se pouco a opinião expressa e os analistas crescem pouco. Deveria ser o contrário, já que são úteis e ajudam o cidadão a formar opinião própria.

Depois de tantos anos desta actividade, aprende-se que a opinião pública é traiçoeira: a mesma mão que hoje te bate no ombro de satisfação amanhã é a primeira a considera-se um traidor. Na nossa opinião pública, as pessoas não esperam por uma opinião dos fazedores para formar a sua, como deveria ser. A maior parte das pessoas primeiro forma uma opinião e depois espera que o fazedor vá à imprensa corroborar dessa opinião. Se coincidem, então o fazedor de opinião é bestial mas se ele não diz o que se está à espera que diga, então passa a ser a besta.

Os tais analistas também têm culpas: uns porque são ostensivamente parciais, sem qualquer compromisso com o equilíbrio e alimentam a tendência de criação de facções na opinião pública e outros porque em vez de explicar e interpretar os fenómenos usam a capa da análise para fazer política, captar simpatias ou fomentar antipatias contra partidos políticos.

A qualidade da nossa política também passa pela qualidade de quem avalia as decisões, estratégias e acções dos políticos.

A bajulação e culto de personalidade que vemos nos partidos políticos têm muito a ver com o modo como os analistas são incapazes de ver os líderes como falíveis, humanos e mortais ou como olham a vida entre os bons e maus. Os erros dos líderes são escamoteados ou até apresentados como um alto nível do seu pensamento estratégico.

A opinião pública também tem de ter critérios, regras e uma delas tem de ser a de explicar os fenómenos, fazer entender os factos em vez da manipulação, da opinião pessoal, do "eu acho" ou "penso que". Bom dia

(Ismael Mateus, in Facebook, hoje. Versão de texto com revisão do Blog Angodebates)
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segunda-feira, 4 de outubro de 2021

UM JORNAL REPARTIDO PARA BENGUELA? JÁ DÁ MAS...


O Litoral é o mais recente jornal regional e generalista lançado pela Edições Novembro, entidade estatal detentora do Jornal de Angola (JA), o principal diário do país. O Litoral, que se estreia amanhã, 05/10, rodado em Luanda e de periodicidade quinzenal, cobre "ex aequo" Benguela e Kwanza Sul, para o que conta com matérias na sua maioria assinadas pelos seus "cabeças de série" nas respectivas províncias. Em especial ao ilustre Sampaio Júnior e equipa ali pelo Campo de Ténis, desejo os maiores sucessos neste desafio. Porém, pois há sempre um porém, ao mesmo tempo que aplaudo a estratégia de descentralização levada a cabo pelo consulado do PCA Drumond Jaime, o meu lado utópico diz que ainda é pouco, que o ideal era mesmo retomar a produção local, como se viu na transição entre as décadas de 80-90. Que bom era degustar o Jornal Kilamba e o personagem Rasta Kupapata, da banda desenhada assinada por Pio Mariano, ali pela Bela Vista no Lobito! Um jornal de Benguela e sobre Benguela é mais do que justificado para questões de identificação/proximidade afectiva, maior abordagem das dinâmicas e controvérsias da província, para além de contribuir para a promoção da leitura e uma consciência analítica/crítica, tendo em conta a densidade populacional que ultrapassa os 2 milhões de habitantes e a sua tradição de vida intensa nos campos económico, político e intelectual. É que com a falência consumada dos jornais privados (Kesongo, de Ramiro Aleixo, Cruzeiro do Sul, de Ismael Mateus e Lilas Orlov, e Chela Press, de Francisco Rasfado, sem esquecer o efémero Correio do Sul, de Nelson Sul d'Angola, e as suas não mais de três edições de vida), tudo o que se tem a enfeitar as bancas é um parque esporádico de exemplares nem sempre em quantidades minimamente satisfatórias do produto "novembrino", como sejam o JA, Cultura, Jornal dos Desportos e um e outro título privado, também viajado da capital do país.
Gociante Patissa, 04 Outubro 2021
www.angodebates.blogspot.com
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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