domingo, 30 de julho de 2023

PhD EM CIÊNCIAS TENTADAS OU AS FÉRIAS DO MESTRE DAS IDADES | crónica semanal no Jornal de Angola em "Carta de Lisboa" N.º 09

A segunda premissa do título da crónica que escolhemos para esta edição é da autoria do nosso quinto colega superdotado em ubiquidade, ele que apesar de não aparecer na foto, creiam-me, há de ler estas linhas mais cedo ou mais tarde, o incansável doutor ChatGPT.

Com a conclusão do ano curricular do Mestrado em Comunicação, Marketing e Publicidade, ministrado na língua de Shakespeare pelo Campus da Católica, eleva-se para PhD em Ciências Tentadas o status que sua excelência eu já ostentava há uns anos e por mérito casual próprio.

Antes que comecem a dar uma de Tomé das escrituras, façamos um à parte. Foi apenas em 2012, mesmo a descrever a curva dos trinta e quatro ciclos na terra, que o indivíduo conseguiu fechar em Benguela a dívida da licenciatura em Linguística/Inglês, inevitavelmente contrariado, inclusive, face à ideia de festejar tal conquista. E mesmo assim custava achar meio de avançar nos estudos na área da sua vocação. Logo, não podia ser mais ardente a certeza de não mais parar o comboio. Agarrem-se os cursos mais próximos onde forem achados.   

 

A luz ao lado do túnel acende-se quatro anos depois, mas o entusiasmo do plano A, uma pós-graduação com acesso ao Mestrado em Ciências da Comunicação pelo qual torramos cinquenta dólares de inscrição, diluía-se na notícia do cancelamento da coisa, por falta de candidatos.

 

O plano B, dois anos volvidos ou pouco mais ou menos, uma pós-graduação com acesso ao Mestrado em Gestão Estratégica de Recursos Humanos morreria na praia, arranque condicionado pelas mesmas razões. A propina afrontava o soldo do funcionário público. 

 

A terceira tentativa da mesma instituição de matriz portuguesa de formação à distância em modelo despachante de cabotagem, chamemos-lhe plano C, desta vez aglutinando finanças e RH (já mesmo para tramar o nosso sindicato de péssimos a contas), foi o cortejo de enterro do negócio, com a restruturação do ensino superior a descontinuar o take-away de aulas e canudos.

 

Não que em 2019, já em Luanda, não perseverasse num mestrado em Gestão Ambiental, no entanto desencorajado pela inconstância burocrática do estabelecimento de ensino e os sucessivos protestos dos veteranos, do tipo guerra avisada...

 

Foi assim que no uso que lhe confere o instituto da razão perpétua, tendo em conta por sobejo que ninguém fica prejudicado na sua aspiração só porque a geografia da rifa não nada em ofertas; e contando com anuência tácita do planeta Terra, Marte, Unesco, ONU, Opep e afins, sua excelência eu tomou a liberdade de se auto-outorgar o título mais prestigiado de que se tem memória: Mestre (ultimamente PhD convertido) em Ciências Tentadas. 

 

E nem seria novidade para quem já tentou com êxito uma graduação em ciências da própria vida, nomeadamente sobrevivendo em fotografia frustrada, jornalismo abandonado, sociedade civil incubada, soldadura esquecida, construção civil de papel passado nunca iniciada, emigração tenra sonhada, carreira literária lamentada, pela aviação doméstica e tudo… Bem, feito o ligeiro preâmbulo, estamos em condições de seguir os procedimentos de aterragem na pista do ano curricular que atinge o seu limiar neste verão de 2023.

 

Tudo começou há dois anos com as pesquisas que elegeriam a Universidade Católica de Lisboa como a oferta mais em conta, em termos de curso internacional ministrado inglês em Ciências da Comunicação, vertente de relações públicas, marketing estratégico e publicidade.

 

Seguiu-se ao crivo documental a entrevista em videoconferência com a coordenadora do curso, com aquele receio que nos invade de a ligação da net nesse dia vir a fazer birra, passível de inviabilizar a aprovação logo na primeira tentativa. Conhecia de cor o prospecto, ou julgava.

 

O desembarque na capital lusa, o quinto o mais ingente, dá-se a cinco de Setembro, cinco dias antes da cerimónia de arranque do ano. Daí em diante desenrola-se uma história digna de um filme de drama, com mwangolê na idade dos seus pais a ser colega de jovens com metade da sua idade. Entre a licenciatura e o agora o hiato é de uma década, entrecortado por cursos intensivos e um de extensão universitária em Comunicação Institucional pela Agostinho Neto, a primeira fornada da sua história e que, ao que tudo indica, morrerá sem papel passado.

 

Há que recuperar o compasso, à parte a pressão auto-imposta de suar para sacar notas decentes, posto numa realidade onde o mestrado afinal é para putos com média etária de 22, nada pós-laboral como nas Áfricas. Enquanto os colegas conversam animadamente sobre as tendências actuais, os memes e músicas pop, amapiano que não leva piano afinal, a malha de discotecas e festas da vez, a ti já só resta gentilmente acenar com a cabeça, tentando acompanhar o ritmo.

 

A amizade com quatro colegas com os quais formamos o grupo de estudos é seguramente o ponto alto da jornada académica. Izna é especialista em design e marketing, o Adytia, engenheiro de computação e outro graduado em marketing. Vêm ambos da Índia. Sara, formada em psicologia, vem da Itália. As aventuras, risadas e desafios que enfrentamos juntos só podem ter criado laços duradouros. A diferença de idade foi para mim uma fonte de enriquecimento mútuo. São jovens com potencial enorme de singrar como marketeiros e conquistar mercados.

 

Quanto a isso, há que assumi-lo, faço parte de uma geração já despojada da ingenuidade necessária para transformar o entusiasmo académico em fé para mudar o mundo nessas lides de comunicação organizacional ou assessorias e afins.Desde logo, quiçá, pela vocação de jornalista, que como reza a lenda é o único profissional que se arrisca a cair em maus lençóis se se puser a actuar na prática literalmente do jeito que os manuais ensinam.

 

De resto, há um dilema de fundo antropológico que transcende os contornos da ciência para especialistas em comunicação organizacional ou marketeiros, como os queiramos designar, trazendo a coisa para o nosso continente ou para culturas de sistema de valores semelhantes, lá onde a função de conselheiro estratégico é reservada ao mais velho ou ao superior hierárquico, em última análise o decisor e, portanto, sendo estreita a margem para o inverso.

 

Com a aceleração dos curricula de licenciatura ao abrigo do sistema de Bolonha, as universidades vêm-se obrigadas a privilegiar dinâmicas que puxem por preparar os estudantes para o mercado profissional, tudo girando em torno de trabalhos em grupos, defesas em turma e relatórios. Só não há bela sem senão. Ganha-se na socialização, perde-se no efeito colateral da responsabilização colectiva por parte do avaliador, quando em contexto internacional os estudantes detêm bagagem diferente e podem desalinhar na entrega e na busca de consensos. Nem sempre tratar como iguais elementos diferentes faz justiça.

 

Mas estes nove meses têm oferecido um amplo laboratório, não só em relação à rapidez com que as tecnologias se apoderam do mundo (a exemplo da inteligência artificial), mas também no jeito como a Europa se fortalece por meio de programas de bolsas e intercâmbio como o Erasmus, cimentando o sentimento de pertença no jovem europeu que circula livre de fronteiras e fixa residência no país que lhe aprouver, sem se submeter a nenhuma procissão migratória.

 

Dos amigos indianos retive uma lenda que diz muito sobre os interesses estratégicos nacionais. Conta-se que há bwé de anos, certo carteiro via-se aflito para localizar a morada do destinatário da última correspondência daquele dia, que por acaso era um engenheiro. Anda à procura do engenheiro? Não custa. O senhor vá directo, depois vire à esquerda, a seguir à direita, caminho recto meia hora, depois vire... e por aí vai. No entanto, passadas umas boas décadas, esse mesmo carteiro volta a consultar pelas ruas o endereço do engenheiro, ao que lhe respondem: o senhor pode entregar o envelope em qualquer casa, isso anda tudo cheio de engenheiros.

 

A primeira vez que pisei o solo português foi em 2010 em trânsito para os Estados Unidos da América, país que visitei a convite do Departamento de Estado, servia eu o sector das ONG. Nessa altura voltei de lá com alguma inveja positiva dos nossos irmãos da RDC ao notar quão presentes eles estavam no mundo académico como docentes. É o que eu gostaria de ver mais dos angolanos, embora sirva de algum consolo a visibilidade que o jornalista Israel Campos, estudante de mestrado, vai tendo, uma espécie de Akwá. No outro dia um professor português, ao me apresentar como angolano, perguntava com entusiasmo se eu conhecia o jovem.

 

E assim chega ao fim a primeira temporada da Carta de Lisboa, coluna de crónicas que lhe fez companhia aos domingos durante nove edições a fio. As férias chamam. Grato pela sua leitura.

 

 20 Julho 2023

 

https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/phd-em-ciencias-tentadas-ou-as-ferias-do-mestre-das-idades/

 

 

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domingo, 23 de julho de 2023

A VIDA COMEÇA DEPOIS DO NIF | crónica semanal no Jornal de Angola em "Carta de Lisboa" N.º 08

Os ingleses tinham motivos para chorar. Também eu. 


Naquele início de Setembro por Londres num roteiro de dez dias em capacitação, a gente ia decidida a não abrir mão de ser a gente: turistas incorrigíveis, mais chapéus e óculos de sol do que guarda-chuvas, com direito a assistir a uma partida de futebol no estádio do Chelsea, acenando com bandeirinhas de Angola e tudo (e não é que para nos bajular os rapazes, que iam abaixo do sexto lugar em 2022, até venceram por dois a um?). Só alegria! Mas então se até a polícia de cavalaria se pôs a jeito para caber na foto, toda rendida à aura mwangolê da vez... 

 

Ainda no aeroporto, concretamente na fronteira, é que se via o exemplar-mor da boa hospitalidade. E não é que aqui o cidadão não tivesse sido fiel à sua faceta de trapalhão, com a proeza de comprometer a sorte de toda uma missão em terras de sua Majestade Isabel II. 

 

Ao agente de migração respondi formação. O visto dizia visita em turismo. Questionado sobre o local da hospedagem, a minha boa memória não me deixava em mãos alheias. Íamos ficar onde mesmo? Bem, senhor agente, os meus colegas é que sabem, é que somos um grupo. Do hotel e seu paradeiro não fazia ideia rigorosamente nenhuma de um dígito que fosse, receita pronta para a recusa da entrada e aquele carimbo no passaporte que é um chamariz da desgraça.

 

Nessas horas a pessoa quase que aplica uma auto-bofetada, mais a mais em se tratando de um ex-profissional de aviação civil com uma década de indução em acolhimento e segurança aeronáutica e toda a carga repetitiva que são os procedimentos contra as não-conformidades. 

 

E nem é preciso seguir grande espragata mental para bordar conclusões, bastando lembrar o que aprendemos diariamente com o elementar dos documentários via National Geographic. O silogismo fica à mão de semear: se a resposta oral contradiz o que vem escrito no visto ou se é turista mas não dispara na ponta da língua o destino, logo... E lá o agente investia uns instantes, que sabiam a uma eternidade, a conferir a tela do computador. Levantou a cabeça e carimbou o passaporte, como era de esperar. Sorrisos e… Welcome

 

Depois dessa, que não foi nada inédita em quesito de surpresas, o mundo que aprenda: entre mim e a Grã Bretanha ninguém meta a colher. Para todos os efeitos, importa salientar (aqui pedindo por empréstimo a muleta verbal do jurista) que estamos afinal a falar do regresso de sua excelência eu, volvidos sete anos. Senão recuemos até 2015, como reza a prova dos nove.

 

Ia o amigo Neto Muhindo carregar o botão da minha Nikon D3100 quando uma simpática e animada londrina (caucasiana na casa dos trinta, de casaquete cabedal preto a condizer com a cor dos ténis, calças jeans azul, cabelo curto e sorrisos de marfim) largou o parceiro dela com quem vinha de braços dados. Encostou-se a sua excelência eu que posava para a foto de turista, sob o olhar da estação de comboios ao fundo, o que lhe valeu o banho de sorrisos simpáticos do modelo, do fotógrafo e do seu homem, com quem aliás seguiu caminhando. 

 

E não podia ser mais memorável aquela espontaneidade na quebra de protocolos da lady, o que só enriquece o sentido cosmopolita humano, tão marcado por diferenças e estereótipos. Afinal, os ingleses até conseguem não ser tão frios. Assim já vão dizer que é feitiço do Dombe Grande ou então é sangue doce de quem nasceu em terras de abundante abacaxi como só Utwe Wombwa (Monte Belo), a cem quilómetros de Benguela sede.

 

Voltemos a 2022, frenesim de uma cidade cada vez mais amiga da caminhada, colorida, diversa, repleta de monumentos e manifestações, por isso tão apelativa para quem se dedica à arte de fotografar. A época do ano em que as grandes cidades ocidentais já não estão tão superlotadas de turistas e afins, como no verão, convida-nos a apreciar a transformação subtil que toma conta do meio. A rotação climática sugere a magia do outono, aquela estação que nos leva a reflectir sobre a fugacidade da vida e a apreciar a beleza efémera de cada momento.

 

Enfim, quando menos se esperava, o céu despencava sobre a nossa carapinha. A Rainha Isabel aparentemente faleceu, contava consternado um citadino geralmente bem informado (aqui para recorrer à muleta do jornalista manhoso), que acabava de receber um furo à hora do almoço. 

 

Ouvia-se a imprensa na sua globalidade a preparar a nação para uma comunicação a ser feita logo mais no noticiário das oito da noite, com a admirável observância do princípio ético do embargo da notícia. Constou que neste ínterim, certa proeminente figura da sociedade chegara a confirmar nas redes sociais a morte da Rainha, mas pouco depois recuaria e apagou o post. E dali em diante, Londres já não voltou a ser a mesma, luto e luta no Palácio de Buckingham.

 

Fechado o capítulo Reino Unido, era chegada a minha vez de chorar o óbito chamado crise do mercado imobiliário português. Vinha para dois anos sem naquele momento ter o essencial garantido, um lugar para morar. O alojamento temporário na hospedaria mais próxima da Universidade, para além de ferir o bolso, sucumbia face a tanta reserva a médio prazo.

 

E o telefone local? Olha, sem NIF (número de identificação fiscal) não vai dar. Se talvez o senhor tiver uma factura de água ou luz para comprovar a morada, aí sim. Resolvido, com recurso a morada sem nela morar propriamente. Então e o cartão escolar? Este é acoplado à conta bancária, que não se abre sem o NIF. Em caso de emergência? Bem, o atendimento no serviço de saúde público é mediante o número de utente, que não se consegue tratar com menos de noventa dias de permanência no país e sem NIF. Como tratar o NIF então? Ah, é simples. Precisas de um cidadão português ou residente. A pessoa faz o agendamento via telefone e no dia marcado, que pode levar um mês a julgar pela alta procura, dão entrada da papelada. E onde encontrar essa pessoa, uma vez que o visto é de estudante, sou adulto e pelo visto sem babá?

 

Na teimosia saiu um call center das Finanças e a pessoa que atende admite a possibilidade de vigorar uma lei que permite a estudantes, sem interesses económicos, obterem o NIF. Mas aqui na grande Lisboa, disponibilidade só mesmo na primeira semana de Dezembro. Nunca é demais lembrar que vamos na primeira quinzena de Setembro. Mas a senhora poderia verificar se a nível dos municípios do interior haveria disponibilidade? Um momento. Alguns minuto depois, olhe, daqui a quinze dias vejo vaga na Batalha, às onze e meia.

 

No dia marcado levanto-me muito cedo e conhecendo o país como conheço a estratosfera, resta à pessoa chamar os serviços de transporte por aplicativo, que por vocação cumprem o duplo papel incluindo o de guia. A conta é alta, passa dos cem euros. Eles até comparecem, mas cancelam mal lhes é anunciado o destino. Para a Batalha são para aí cento e cinquenta quilómetros. O último negacionista do meu louco desejo burocrático é piedoso, oferece-se a me deixar na estação de autocarros onde pegaria um para Leiria. O NIF era o meu zénite.

 

Em Leiria, outro táxi por quase dez Euros para Batalha onde me apresento confiante na Loja do Cidadão à hora agendada pelo call center, pouco antes do meio-dia. Redondamente enganado. Não constava da lista. Mas vá lá, fale com a senhora do balcão a ver o que se passou. Fome, sono, frustração passam a ser o meu sobrenome. Explico à senhora, digo que vou de Odivelas (mal imagina que é casa de um colega).

 

Depois de tanta demora, a senhora volta e pede mais documentos. Entrego a resma toda, carta de admissão da universidade, extracto bancário, certificado estampilhado pelo Mirex e autenticado pelo Consulado deles em Luanda, enfim. Lá vem a chefe da senhora com mais uma bateria de perguntas e no final me dizem que afinal eu já tinha um NIF, só que provisório, a partir do momento em que, ainda à distância, abri conta bancária numa agência com ligação a a Angola. Mas fosse como fosse, aquele também era um NIF já descontinuado.

 

O senhor vai sair daqui com o NIF hoje, antigamente levava mais tempo, agora a lei já está mais facilitada. Só que a residência que fica registada é a do seu país de origem, enquanto não sair o seu cartão de residente. Para ser franco, já naquele ponto não sabia decifrar o que sentia a não ser um profundo estado de vulnerabilidade. Meia hora depois me era entregue o papel.

 

Poderia dar-me o vosso livro de sugestões? Tomei a liberdade, para a perplexidade dela. A senhora foi tão humana no atendimento que a minha consciência exige deixar isso escrito, tendo em conta que se me tivesse atendido mal, faria reclamação. A profissional, ainda apanhada de surpresa, voltou a ir ter com a chefe para comunicar o insólito. A seguir localizou no fundo do baú o formulário de louvor, o qual preenchi com gosto. E assim começava a vida... com NIF.

 

Gociante Patissa | 15 Julho 2023

https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/a-vida-comeca-depois-do-nif/

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sexta-feira, 21 de julho de 2023

terça-feira, 18 de julho de 2023

Não perca o MAR DE LETRAS, na RTP ÁFRICA, 4.ª feira, 19 de Julho, com o escritor angolano Gociante Patissa

"As marcas da oralidade e da língua umbundu estão bem patentes na sua escrita e o conto é, por excelência, o género literário que lhe dá forma. No Mar de Letras desta semana recebemos o escritor Gociante Patissa."

Lisboa e Luanda: 21h30
Praia: 19h30
São Tomé e Bissau: 20h30
Maputo: 22h30
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domingo, 16 de julho de 2023

BENGUELA E MAFRA NO ROTEIRO DA IRMANDADE DE M... ANÓNIMOS | crónica semanal no Jornal de Angola em "Carta de Lisboa" N.º 07

 Vou a descer a mini-ladeira do Alto dos Moinhos a passos absortos, entre o Estádio da Luz e a Estrada de Benfica. Dentro da cabeça de “desterrado”, que é o lugar onde verdadeiramente mora quem padece de arte, estamos a festejar resultados do meu contributo mecenas numa teia de projectos de exumação de utopias. Tempo verbal: futuro condicional.

Até já vejo a abertura de uma escola de música em Benguela, incubadora de artes, mais um generoso fundo para enviar jovens ao estrangeiro em bolsas de estudo coordenadas pela pequena ONG que fundamos há um quarto de século (a Associação Juvenil para a Solidariedade, AJS), uma rádio com estúdio para promoção de músicos locais, pesquisas, ressignificação dos monumentos e da história do meio, de um modo que inclua os não grandes.

 

Aquela visita guiada ao Palácio Nacional e Convento de Mafra (que inspirou o romance Memorial do Convento, de José Saramago) foi o estopim. Já nada mais me podia deter na ardência de ingressar na Irmandade dos M... Anónimos, só a própria sorte, que poderá pecar por tardia. Atenção, é alguém que contabiliza trinta anos (um terço) de toda uma vida no mercado de trabalho, capturado que se viu pela lei do estômago ainda aos catorze!

 

A Irmandade seduzia. Era questão de horas. Tinha chegado a minha vez, dizia-me com veemência a convicção, calibrada, quiçá, com aquela premissa milenar, profética e inquestionável: querer é poder. E eu de facto nunca o quis mais, palavra de honra! 

 

O mundo embarcou num cruzeiro de mudanças e evoluções em relação às quais, a humildade que não nos deixe mentir, está difícil acertar. Um ano fora do Facebook é o que se vê no amontoado de complementos. Então como da pobreza até já lhe conheço a cor, o cheiro e a forma, tomei a liberdade de enfrentar a evolução que nos aguarda a partir de um status, também ele novo e inexperimentado. Milionário Anónimo. A questão é como. Lá chegaremos.

 

Não é por mal, só que para nativos dos anos setenta, é líquido que havia pronomes e substantivos auto-explicativos. Engraxador só havia um tipo profissional. Agora parece que temos de acrescentar engraxador de sapatos. Ontem, numa dessas aulas online ouvi que afinal não basta dizer os homens ou as mulheres ao formular uma frase no postulado da biologia; havia de se dizer os homens (com pénis) e as mulheres (com vagina). Vivendo e aprendendo.

 

Já volto às horas que vão anteceder a minha entrada para a Irmandade dos Milionários Anónimos. Aceite antes o leitor ou a leitora a boleia para um salto no tempo pela janela da vila de Mafra, ao volante e indução da minha amiga Alexandra Sobral, advogada de profissão, natural do Bié de outro tempo. O roteiro não dispensa a escala pelo prato típico de carneiro estufado, apaixonada que é pelo turismo como ponte cultural entre diversos povos e gerações. Conheci-a por Benguela há uma década na companhia da arqueóloga Filomena Barata.

 

Dizia, a quarenta quilómetros a noroeste de Lisboa ergue-se majestoso o Palácio Nacional de Mafra, um tesouro que desperta o fascínio dos visitantes e conta parte determinante da monarquia ao longo dos séculos de alianças com outros poderes da Europa afora. Em 2019, foi oficialmente consagrado pela Unesco como Património Mundial.

 

Ao atravessar os seus portões, somos envolvidos por um universo de grandiosidade e esplendor, com mármore de ímpar textura. O complexo abrange o Palácio, cujos aposentos testemunharam a pompa e a majestade dos monarcas de outrora. Ao seu lado, ergue-se a Basílica, um testemunho arquitectónico de devoção e espiritualidade. Não podemos deixar de mencionar o Convento, que abrigou monges em busca de uma vida dedicada à fé e ao serviço.

 

Mas o cartão de visita de Mafra não se limita a construções magníficas. A vasta extensão de mil e mais hectares é um verdadeiro íman para os amantes da natureza. Dentro das muralhas esconde-se um tesouro intelectual que atrai estudiosos e curiosos de todo o mundo. A biblioteca iluminista, com aproximadamente trinta mil volumes é uma preciosidade. Cada livro é um fragmento da história, um farol e trilho para desvendar as façanhas do passado.

 

Enquanto escalamos as torres sineiras da Basílica, somos transportados para um mundo sonoro de magnitude singular. O conjunto de sinos ali abrigado é um dos maiores do mundo, com dois carrilhões que preenchem os sentidos com uma sinfonia celestial. Graças a um minucioso trabalho de restauração realizado há uma década, essas preciosidades voltaram a ecoar. A decoração de contornos museológicos confere ao monumento o toque de verosimilhança.

 

Como referi, uma das perguntas que coloco com recorrência à senhora dona vida é se ela tem noção do quanto serei incapaz de merecer, quanto mais pagar, as pessoas maravilhosas e genuinas que me acolhem e abrem portas ao saber e ao crescimento intelectual em Angola e fora. A cicerone e poço de bagagem historiográfica e cronista apurada emprestada à advocacia, Alexandra Sobral, é das almas que só pecam por não serem fotocopiáveis na loja do chinês mais próxima, pois um só exemplar da espécie é pouco para a humanidade.

 

Voltando ao começo. Dizia sua excelência eu, em Alto dos Moinhos faço a caminhada que vai mudar o meu futuro todo abstraído, como manda a cartilha de estrangeiro desacompanhado. Já só falta atravessar a estrada. É hora de almoço mas opto pelo jejum, investindo já no relato dramático das últimas horas comigo pobre. E marcho. Não conheço ninguém, ninguém me conhece, ainda mais em sociedades onde o não saudar não significa antipatia. 

 

Está sol tépido, escondo-me no par de óculos escuros, calvície a bronzear enquanto não venta. Nas mãos um livro que me faz companhia há uma eternidade e não vejo meio de o concluir. Passo (tipo nada) por um homem que me é semelhante na tez e na carapinha.  

 

Desculpa! Dirige-se a mim o africano. Sim? Respondo eu um tanto contrariado e a pensar, mas quem é esse mais que vai querer reivindicar o mérito de ter sido a última pessoa com quem falei antes de ser Milionário?! Você é angolano, certo? Indaga o senhor, ali na casa dos quase cinquenta. Porquê? Retruco a três pancadas, ainda tentando captar a intenção.

 

Estás ligado à literatura. Somos amigos das redes sociais. Sou da Catumbela, fomos do mesmo tempo de escola. Não és da Santa Cruz? Sou o Varela. Apresenta-se o nosso conterrâneo, desarmando-me por completo. Oh, mano Eduardo, meu contemporâneo dos tempos das correspondências ali pelos CTT do Velho Chimuco, da Catumbela! Dá cá um abraço!

 

Temos em comum o passado de formandos do IED (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento), ONG do Engenheiro Marcelino, ministrado no Centro de Formação Profissional do Lobito, tutelado pelo INEFOP. Varela fizera o curso de condutor de obras em 1996, um ciclo antes do meu curso de pedreiro de construção civil, aos dezanove anos, findo o qual concorri para o curso de soldador na recém-constituída Sonamet, empresa de fabricação de estruturas metálicas para a indústria petrolífera.

 

O nosso mano é dos pioneiros da leva de mwangolês que decidiram (ou se viram forçados pelas décadas de guerra a) trocar o solo pátrio pelo ocidente e lá singrar. Quando aqui chegamos, meu mano, isso era muito fechado para o africano, conta. Para teres ideia, até para achar branco que soubesse cortar em condições o nosso cabelo era raro. Até hoje corto eu próprio o cabelo. Trocamos os contactos e despedimo-nos com a esperança de próximo convívio.

 

Faço-me à lotaria confiante. Vou ganhar o Euromilhões! O jackpot promete meia centena de milhões. Não sou viciado nem coisa parecida, atenção! Só jogo porque, pronto... Ou ganho ou é a última vez a apostar. Tal como foi na semana passada. Minto, na antepassada. Aliás, no mês passado idem. Quer dizer, no outro mês também. Dê-me quatro raspadinhas de cinquenta vezes, por favor, senhor. Vinte Euros que compram, vinte Euros que saem. Mais uma aposta, meu amigo? Não, fico com o dinheiro, que isto de lotaria é como na guerrilha, quando não perdemos significa que ganhamos. Há que comemorar. Um dia serei Milionário... Anónimo, claro!

 

Gociante Patissa, 09 Julho 2023

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2 anos depois, assassinato de Victor Isaac Paulino no seu local de serviço no Lobito continua por esclarecer. Ajudem-nos na busca por justiça

 Na noite de 06 de Agosto de 2021, no perímetro do PDIC (Pólo de Desenvolvimento Industrial da Catumbela), rotunda do bairro da Santa Cruz, fronteira com o município do Lobito, era morto em serviço um cidadão, de 39 anos de idade, que se encontrava a guarnecer uma unidade de fabrico de blocos de propriedade chinesa. O corpo de Victor Isaac Paulino "Paizinho" (na foto), que deixa viúva e filhos, foi encontrado amarrado (e escondido dentro do escritório da empresa) e com sinais de extrema barbárie, sobretudo na parte superior, tendo sido encontrado também no local, conforme constatação da familia, objectos contundentes como alavanca e tesoura de corte de metais. A família confiou o caso à polícia nacional.

Passados dois anos, a sensação inevitável perante a passividade da Polícia Nacional é a de que como se trata apenas do assassinato de um simples Paizinho, portanto nenhuma celebridade nem filho com poder de sobrenome, muito menos de um cofre bancário ou armazém assaltado ou uma viatura topo de gama roubada, talvez por isso a sua morte não incomode as entidades encarregues da investigação e administração da justiça na província de Benguela, que no calor da ocorrência se apressaram a efectuar diligências.
Alegadamente os assaltantes levaram o computador da empresa e o servidor do sistema de videossegurança.
Natural do Monte Belo, município do Bocoio, província de Benguela, Victor Isaac Paulino, membro da IESA, era xará do primo materno do seu pai, Victor Manuel Patissa (meu pai).

Daniel Gociante Patissa
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domingo, 9 de julho de 2023

ACERVO DIGITAL DE LUANDINO VIEIRA JÁ PEDIA UM MUSEU DA LITERATURA | crónica semanal no Jornal de Angola em "Carta de Lisboa" N.º 06

Tivemos a fortuna de estar no momento e no lugar certos e assim vivenciar o grande eventoque foi a apresentação do acervo digital “Papéis da Prisão – Ontem, Hoje e Amanhã” (1962-1971), de acesso livre. Resulta de dezassete cadernos rabiscados durante o cárcere, no segmento das homenagens feitas à figura e obra de José Luandino Vieira, escritor, editor e nacionalista angolano que mora no cidadão José Vieira Mateus da Graça, nascido português. 

O kota, que esbanja energias, bom humor e memória de elefante, não um mas de uma manada inteira, somou 88 anitos da sua chegada ao planeta terra (emprestado do planeta onírico, como é óbvio mas nunca é demais reforçar, onde os artistas e os génios pré-existem).

 

Na tarde de 27 Março, sem Carnaval da Victória, todos os agasalhos foram poucos para enfrentar os gélidos ventos de inverno lisboeta rumo a um triatlo prenhe de amplitude sociocultural e histórica. O primeiro acto da cerimónia cobriu a parte metodológica, onde Margarida Calafate Ribeiro, investigadora-coordenadora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, debulhou o processo, ladeada por Nuno Simão Gonçalves e Helena Rebelo, responsáveis técnicos do acervo digital Papéis da Prisão de José Luandino Vieira.

 

A primeira parte desembocou ainda na projecção de um generoso excerto do documentário sobre a memória dos anos de prisão em Tarrafal. Em fase de pós-produção, o audiovisual promete, a julgar pelo valor testemunhal de ter sido rodado com a presença do homenageado, numa narrativa envolvente, ao mesmo tempo perspicaz e poética. 

 

O ex-preso político aparece a franquear com os pés firmes, raciocínio fluído, os trilhos e grades do estabelecimento, num regresso recente àquele chão de desterro em terras de Cesária Évora, sob a batuta de Sandra Inês Cruz. A jornalista é também uma académica que navega nas áreas de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, Pós-Colonialismos e Cidadania. 

 

A sinopse do projecto nota que o material, reunido em livro (publicado em 2015) e também disponível para consulta no site da fundação Calouste Gulbenkian, corresponde a duas mil folhas manuscritas, conservadas inéditas ao longo de cinquenta anos, sendo composto por anotações diarísticas, correspondência, postais, desenhos, cancioneiro popular, esboços literários, exercícios de tradução, ditos, textos em kimbundu e recortes jornalísticos.

 

A maioria das almas presente na homenagem é por motivos óbvios nativa de gerações que não têm ligação com o período antologiado, sob o ponto de vista da sua efervescência, a não ser pela cultura geral alimentada com o suporte da academia e do jornalismo. E, claro está, é movida pelo carinho e curiosidade em relação a Luandino Vieira, cada um a seu jeito e modo de sentir, enquanto autor incontornável do imaginário contado em português. E sobre o espaço transatlântico bordado por essa língua com já perto de trezentos milhões de falantes.

 

Testemunhar a abertura do acervo da obra de Luandino a mim remeteu à grata lembrança da visita que fiz em 2018 à Casa-Museu do escritor brasileiro Jorge Amado, em Salvador da Bahia, durante a FLIPELÔ, Festa Literária Internacional do Pelourinho, a convite da Fundação Pedro Calmon, afecta à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, com Arany Santana e Zulú Araujo à cabeça, apoio da Casa de Cultura de Angola naquelas paragens, de Benjamim Sabby. E de lá para cá lateja nos meus sonhos ver no nosso país um Museu da Literatura, que indiscutivelmente foi e continuará a ser uma âncora dos nossos rumos como sociedade.

 

José Luandino Vieira foi o primeiro secretário-geral da União dos Escritores Angolanos, director da Televisão de Angola, com passagem pelo Instituto Angolano do Cinema. Tradutor e escritor premiado, da sua obra que passeia pelo conto, novela e romance, destacam-se Luuanda, A vida verdadeira de Domingos Xavier, João Vêncio. Os seus amores, Nosso Musseque, Nós, os do Makulusu, só para encurtarmos o enrolamento.

 

Entre 1961 e 1964, esteve “internado” em diversas prisões de Luanda, sendo transferido para o Campo de Trabalho de Chão Bom, Tarrafal, Cabo Verde. Ali ficou até 1972, ao que se seguiu o despacho para Lisboa, retido em residência fixa que findaria em 1974 com o ruir da ditadura.

 

Até 2016, Luandino dedicou-se ao singular contributo de editar com custos próprios tanto jovens como consagrados autores sob a chancela da NósSomos, sociedade com o seu coetâneo Arnaldo Santos. Muito havia de ganhar Angola investindo na iniciativa como ente de utilidade pública, tal é a relevância de nos posicionarmos no capítulo da diplomacia cultural. É que por não ser comercial, já provou ter um olhar mais profundo sobre as diversas gerações ou matrizes da nossa literatura e seus fazedores, que tanto carecem de pontes de circulação da nossa riqueza imaterial por meio de obras e afectos. Depois era só apostar na tradução. 

 

Mas sobre a biografia de Luandino, suas escolhas, valores e renúncias, já muito se escreveu e disse, razão pela qual o cidadão que vos fala recolhe-se à prudência de quem tem de embrulhar ainda muito funji com feijão, bastante verdura e da boa lambula (sardinha) antes de entrar numa tal avenida. Não é melhor, caro leitor? O lugar que continue ocupado e bem por estudiosos, contemporâneos do homem e jovens de anteontem. Não será em vão que o adágio umbundu cedo diga que “Ku citelã ku cupi ongangu; nda ku teka, sanga otunguka” (se está fora das tuas habilidades, não arrisques; se não te partes todo, ainda torces algo).

 

Retomando. A presença do corpo diplomático de Angola e Cabo-Verde preenche seguramente o símbolo da unidade africana e dos passos já dados na relação com a então potência colonizadora. É certo que o valor das políticas de cooperação deverá sempre ser medido pelo seu reflexo na vida do cidadão comum face à meta do fortalecer de laços.

 

Pela tela do anfiteatro à meia-luz, de si envolto num profundo estado de quietude da audiência que segue o desenrolar de cada detalhe, desfilam recortes, fragmentos de textos, ilustrações, anseios e, fundamentalmente, a inquietação de uma geração de intelectuais determinada a dar vazão à responsabilidade que a história lhes incumbia. Combater enquanto nacionalistas nas então colónias pela liberdade e derrube do jugo português, o que se alcançaria em 1975 (com algum impulso da revolução dos cravos, em 25 de Abril de 1974) tinha um custo, no corpo, na alma e em muitos casos saldado com a própria vida.

 

O documentário despede-se, sobem as letrinhas escoltadas pelos aplausos de comoção diante do tão intenso que se absorveu da tormenta. Inevitavelmente, as correspondências entre o prisioneiro e a sua esposa amada, Linda, que já não se encontra em vida, ainda ecoam. 

 

É chegado o ponto mais alto do dia, a tão ansiada janela de ver e ouvir sem ser na tela o homem que se fez mistério e de quem se sabe quando muito andar pelos lados do norte de Portugal, vida contemplativa feito um monge. Presidium montado, Roberto Vecchi, o académico que vai conduzir a conversa ocupa o seu lugar, testa o microfone. Luandino é anunciado. E faz-se ao palco, curva-se perante o carinho da assistência numa sequência de vénias e... balde de água gelada. Permitam-me que não diga muito mais do que um muito obrigado. Não sou capaz. Dito isto, voz subtilmente embargada, retoma o seu lugar na plateia.

 

A sala é tomada pela salva de palmas, humanas e alinhadas com o céu que agora paira ao transcorrer um ontem que desafia afinal a erosão do tempo. Ao professor, restou a elevação de improvisar palavras de circunstância. O vazio, porém, foi curto, o tempo suficiente para o mais-velho se recompor e reafirmar o compromisso de seguir a agenda. E se bem o disse, melhor o fez. Daí saiu um bate-papo proverbial e atravessado pelo humor. 

 

A sessão de autógrafos, já na puberdade da noite, deu vez aos efusivos kandandus de praxe entre velhos e novos amigos e conhecidos, renovando nisto votos de longa vida e saúde.

 

Gociante Patissa, Lisboa, 04 Julho 2023

https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/acervo-digital-de-luandino-vieira-ja-pedia-um-museu-da-literatura/

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