quinta-feira, 31 de julho de 2014

Citação

«Nós muitas vezes acusamos “o outro” de nos ter colonizado. Portanto, o nosso discurso quase sempre faz referência à colonização portuguesa, mas nós nos esquecemos do “colonialismo” de nós próprios. Hoje há mais repressão aos curandeiros do que no tempo dos portugueses. Hoje, há mais assimilação da cultura do “outro” do que no tempo de Portugal. A libertação nacional ou a libertação espiritual é um processo que deve continuar.» - Paulina Chiziane, escritora moçambicana ao programa A Páginas Tantas, canal TVM de Macau, disponível no Youtube
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Interessante contraponto de uma escritora moçambicana

Entrevistador (TVM de Macau, programa A Páginas Tantas): “Recusa também, com insistência, o rótulo de romancista. Diz sobretudo que é uma boa ouvinte e que, a partir das histórias que ouve, torna-se uma longa contadora de histórias. Porquê a recusa deste estatuto de romancista quando tem uma obra traduzida pelo mundo todo?”

Paulina Chiziane (escritora moçambicana): “Eu acho que o mundo está habituado a pôr rótulos em todas as coisas. Nós queremos liberdade, mas as pessoas nos rotulam. E a partir do momento em que a pessoa é rotulada de alguma coisa, tem que pertencer a esse gueto. Romance é algo europeu, pelo menos veio com os europeus para o nosso país, faz parte da academia europeia. Eu sou africana, contacto com o romance, sim. Agora, se eu aceito ser romancista, eu tenho que cumprir com as normas do romance, e eu não quero. Eu quero escrever em liberdade aquilo que me dá na cabeça. Porque se eu me apresento ao mundo como romancista, as pessoas vão querer cobrar de mim aquilo que são as regras de um bom romance. Estou a fugir das regras, é só isso.”
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Bom dia, capital

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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Porque existimos

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Homenagem: Artista plástico Délio Batista lembrado por Isidro Sanene, seu ex-aluno

Isidro Sanene (esq) e Délio Batista, arquivo GP
"Délio Baptista, ou mestre Délio como é chamado pelos do Núcleo de Jovens Pintores, inclusive para mim, foi um artista aberto e tinha um senso critico bem apurado em relação às artes plásticas. Como pessoa, conheci apenas a humanidade dele. Como pintor mostrou-me o significado da arte metafisica, o reconhecimento e a recolha de símbolos que enobrecem uma obra de arte, herdei dele a pesquisa e o dançar com as cores, aprendi que uma obra de arte tem o mesmo valor que uma vida. Uma vez, quando fui a casa dele pegar um cavalete emprestado, contou-me um mistério, e esse mistério consistia no que chamaria a psicanalítica quântica do verdadeiro artista plástico. Tenho frescas lembranças dele quando pinto, com ele aprendi que a arte não se resume apenas no belo senão em formas abstratas que pernoitam em nossas mentes. Foi um cientista silencioso! Não falo isso porque ele conscientemente não está entre nós, mas sim porque várias vezes o consultei e o apreciei. Aprendi com ele o que nenhuma universidade de artes visuais do mundo ensina, nem ele mesmo foi puramente autêntico no que me ensinou. queria tanto poder dizer a ele que me encontrei..."

Isidro Sanene, artista plástico angolano actualmente na diáspora, 29/07/2014
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Trecho


«Presenciava, inconformado, o funeral. A poucos passos do túmulo, um atraente vaso na cabeceira de uma campa de humilde aparência saltou-lhe à vista. Seria natural ou artificial? Agachou-se. Arrancou uma folhinha. O verde húmido entre o polegar e o indicador, ao esmagá-la, respondia: «natural, claro!». A planta, sem lhe dizer há quanto tempo não era irrigada, só mostrou que tem sobrevivido no meio de outras plásticas em vasos cheios de água. E a conversa com as flores não mais parou, o locutor Caçule ficou maluco.»
Gociante Patissa, in «A Última Ouvinte», pág. 25. União Dos Escritores Angolanos, Luanda, 2010
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terça-feira, 29 de julho de 2014

Diário: JULHO COM CARA DE BAÍA

Faltavam poucas pás para completar a saliência do túmulo. A família pede, se está cá um colega de serviço, que possa dizer algumas palavras. Surgiram olhares no vazio, uns à direita, outros à esquerda. Nada é mais esclarecedor do que o silêncio. O enterro se completa, a família é, afinal, o que resta quando o resto é tão abstracto como os próprios ideais. Na semana seguinte, porque muito bons camaradas, estão os camaradas a querer saber para quando o komba, para o qual havia fundo e disponibilidade humana. Não, nós não choramos e festejamos a morte ao mesmo tempo, não sabemos fazer isso. Hoje é terça-feira, Julho até já está a acabar, que se lixe a crónica.
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MARCAS DO NAMIBE

Se
deserto
é
inerte
de
conceito
vai
defeito
léxico
na
culpa
das
cores.

Ora
verde
ora
castanho
é
Namibe
d’acordes
ventos
passos
modernos
no
mahini
do
mucubal.

Na
pacata
transição
de
cenários
rios
são
fios
dourados
contornando
serras.

O
que
sussurra
a
marginal
é
jura
de

de
orelha
de
amantes
em
orgasmo
pura
inconfidência
partilhar.

Qual
sinal
em
mármore
quem
por
ele
passar
há-de
regressar.

Gociante Patissa, in «Guardanapo de Papel», 2014. Pág. 26. Nóssomos, Lda. Luanda, Angola / V. N. Cerveira, Portugal.
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Aviação: Rota Angola-Alemanha com mais um voo semanal a partir de Setembro

A companhia alemã Lufthansa, que opera com aeronaves do tipo Airbus A340-300, tem agendada para a segunda quinzena de Setembro a entrada em vigor da sua nova programação, segundo uma nota daquela empresa chegada ao blogue Angodebates por e-mail e assinada pela assessora de imprensa em Luanda, Margarida Pereira-Müller.

O voo LH561 partirá de Luanda às 20h00 de segunda e sexta-feira, com previsão de chegada às 7h30 do dia seguinte. Já à terça-feira, a partida dá-se às 23h30 e a chegada às 9h30. Os voos de regresso são às segundas, quintas e domingo, com partida de Frankfurt às 22h05 e chegada às 05h30.

Além dos três voos semanais da Lufthansa, acrescenta a nota da companhia alemã que liga Angola à Alemanha desde Abril de 2008, a Brussels Airlines, parceira da Lufthansa, oferece igualmente três voos semanais de Luanda para a capital belga, com a modalidade de transbordo.
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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Ditos

"A única ambição literária que eu tenho é ler literatura." - Ricardo Pereira Araújo, humorista português
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Um ano sem Délio Batista


No mês em que se assinala um ano desde que o pintor Délio Batista faleceu, volto a partilhar a relevância que ele teve na minha trajectória. Quando em 2008 precisei, por recomendação da editora, de um quadro para capa do "Consulado do Vazio", o livro de poemas com que me estreei, e após fracasso com outros artistas, Cláudio Silva (Pepino, do Hotel Luso) apresentou-me a Délio Batista (1947 - 2013), um artista plástico de curriculum vastíssimo. Eram nove e tal da manhã. E por volta das 11h00, o kota Délio já me havia cedido "De Pernas Cruzadas", com que me enamorei dentre o seu acervo. Tudo a custo zero. De tal sorte que o tive como um "padrinho", carinho que de resto era retribuído. Tive o privilégio de ser a pessoa que mais o fotografou nos últimos anos de sua passagem pelo mundo, quase sempre com a finalidade de elaborar folhetos para exposições em perspectiva. Obrigado, tio Délio, pelo seu monumental exemplo de solidariedade artística.


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Citação

"Eci cakala osimbu, polonambi pali uloño volombangulo. Kaliye, volupale, omãlã vainda ponenle, vakaimba ovikanda. Cisapeliwa ka vacilete, pwãi cimwe ndaño eci calya omunu ka vaci."

(Tentativa de tradução do Umbundu: No nosso tempo, antigamente, colhia-se sabedoria nas conversas de um óbito. Hoje, nas cidades, os mais novos isolam-se para jogar cartas (sueca), não seguem o que se conversa, às vezes mal chegam a saber a causa da morte) - Alfredo Gociante, tio meu materno
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domingo, 27 de julho de 2014

DE VOLTA AO LONGE (duas noites em Benguela souberam, como sempre, a pouquinho)

"Os que odeiam a cidade de Luanda são muitos, e têm razão. Os que a amam não são poucos nem estão errados. Aqueles a quem Luanda não aquece nem arrefece são vários, e estão igualmente certos. É que a capital é um eterno modelo de contrastes, assim entende Man’Toy. Ele, inclusive, não pensou duas vezes quando, por coincidência, saiu a carta de condução e surgiu o primeiro emprego, o de motorista funerário."
(Parágrafo que abre a narrativa no livro "Não Tem Pernas o Tempo", pág. 17. União dos Escritores Angolanos, Luanda,2013)
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sábado, 26 de julho de 2014

Retratos

Pelos becos do bairro benguelense que cada vez mais se vê tentado a desistir do sonho alcatroado, o ancião deu um instintivo salto para escapar, iminente que se fazia o atropelamento por esses triciclos motorizados com carroçaria, conhecidos como kaleluya. "Omanu vaindela posi, ene olomoto wuvivolisa", reagiu com repulsa o ancião, a quem aborrecia menos o risco de atropelamento nos becos do seu próprio bairro do que aquilo que via na carroçaria: uma moto delop empoeirada, com ares de degradação por falta de uso, muito provavelmente a caminho de ser descartada. "As pessoas andam a pé, e vocês entregam as motorizadas ao apodrecimento".
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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Diário: LÁ SE FOI O TÍTULO

Na primeira semana dessa vivência em serviço por Luanda, acendeu-se no meu forno criativo a ideia de uma obra inspirada no engarrafamento, que é das coisas da capital a que não me acostumarei jamais. O título até já anda(va) definido, CIDADE DAS SIRENES, que fica a dever-se aos constantes apelos estridentes de ambulâncias ou de batedores motoqueiros para as entidades protocolares que se tentam desenvencilhar do caótico trânsito. Se seria conto, novela, romance ou poesia, estava ainda por amadurecer a ideia. Por via das dúvidas, ao pesquisar na Net, eis que me apercebi que o título era já algo explorado. Há até uma música no youtube, ainda que de outro contexto. Portanto, seja qual for o que vier a escrever, não poderá chamar-se CIDADE DAS SIRENES.
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Ecos

“In lobby, you convince someone by the power of argument; and in corruption, you convince someone by the power of money.” (O lobby consiste em convencer alguém pela força do argumento; e a corrupção consiste em convencer alguém pela força do dinheiro) - de um ex-polícia russo ao canal Russia Today.
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Citação

“propaganda, which is by definition, misinformation" (a propaganda, que é por definição, desinformação) - de um cidadão ao canal Russia Today.
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ALMAS DE PORCELANA

ALMAS DE PORCELANA

Do forno ao desejo
simétricas
almas
de porcelana

É a linha
exterior
que revela
mais que qualquer
configuração
no centro
dos azulejos

Um em si
não cabe
de quadrado
tão pequeno

Daí galgar
de costas para o chão
onde renasce
em forma de mulher
fecundos cacos de gume
e
verniz.

Gociante Patissa, in «Guardanapo de Papel», 2014. Pág. 28. Nóssomos, Lda. Luanda, Angola / V. N. Cerveira, Portugal.
capa do livro / book front page
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quarta-feira, 23 de julho de 2014

Diário: FALTA DE COMPARÊNCIA

Passei pela FILDA (Feira Internacional de Luanda), o que a par de bom alivia-stress ainda permite voltarmos para a casa com uma montanha de brindes publicitários dos expositores. A minha nota negativa vai para a ausência - na área de stands reservada à comunicação social - das Edições Novembro, em especial o Jornal de Angola e o Jornal Cultura. Este último, do qual sou colaborador, pode ter perdido uma nada desprezível oportunidade de se dar a conhecer, considerando que há sempre quem pouco ou nada saiba do nosso veículo cultural de periodicidade quinzenal. No good!
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domingo, 20 de julho de 2014

Acaba de sair mais um ensaio sobre tradição Oral Umbundu. Leia no JORNAL CULTURA nº 61, de 21 de Jul a 3 de Ago, pág. 9. Oratura: ACEITAMOS «OKUPOKIWA» EM DIAS DE CARÊNCIA?

Em outubro de 2005, visitei zonas recônditas no Sambo, comuna do município da Cikala Colohanga, no Huambo. Fiz parte do grupo de pesquisadores a grupos focais ao serviço da inglesa «Save the Children». Os alvos eram crianças órfãs e vulneráveis na Ombala de Ciyaya, capital tradicional de cinco aldeolas de refugiados provenientes da Zâmbia, cerca de oito quilómetros da comuna de Samboto. A povoação ressentia-se do fim da assistência do Programa Alimentar Mundial, agência humanitária da ONU.

Mesmo que o código de conduta da «Save» não proibisse gratificações de ordem material daqueles aldeões que ensaiavam a readaptação, finda a guerra que um dia os afugentou, o quadro crítico de penúria dizia bem que nada tinham para oferecer. Para se ter ideia, ainda aos nove anos, várias crianças andavam na produção de carvão vegetal para sustentar pais e avós, muitos dos quais dependentes de aguardente artesanal.

A recolha de dados ficou concluída com êxito em uma semana, conforme o plano. O que, entretanto, não esteve previsto foi a tensa conversa com o Soba grande da Ombala na hora da despedida. Fazia questão de nos regalar com duas galinhas, dois quilos de feijão e alguma batata-doce. E agora, o que havíamos de fazer? Receber, ou não?

Uma comissão reuniu-se no cantinho, tendo como interlocutora a mais-velha do grupo. Primeiro, era-nos enorme a empatia pelo sofrimento, não fazendo grande sentido despenderem do já tão pouco. Segundo, o código de conduta proibia-nos, pois não estávamos ali em visita, mas a trabalhar sob pagamento. O Soba, que sabia ao mesmo tempo ser cordato mas intransigente, considerou de improcedente a nossa visão. Não é «nosso», sublinhava, terminar uma visita sem «okupokiwa», símbolo de hospitalidade!

Como o leitor terá já percebido, cá estamos com mais um estudo, outra vivência para abordarmos aspectos da tradição oral do grupo etnolinguístico Ovimbundu. O verbo «okupoka» (regalar) ou «okupokiwa» (ser regalado) refere-se a bens alimentares para a boa hospitalidade, genericamente servidos como refeição, donde se destacam a «ocisangwa» (bebida feita à base de farinha ou rolão de milho, conhecida pelo seu aportuguesado quissângua) e a galinha. A norma do bom acolhimento assenta no adágio de que «ukombe elende; ndopo yaco lipita» (o visitante é nuvem; passa logo).

Quanto às regras de confecção, é certo que cada grupo entre os Bantu do território de Angola tem particularidades próprias. No essencial, a galinha é guisada e servida com todas as partes que a integram, reservando-se ao visitante a primazia de abrir a mesa e escolher das porções que bem entender. Não devem faltar o coração, as tripas, as coxas, as patas, as asas, a moela e por fim o rabinho. Dado o risco de o visitante levar à risca o direito que lhe cabe, e daí apossar-se da tigela inteira, outras iguarias não tão especiais complementam a ementa para os anfitriões, tais como o feijão e as verduras. Daí que esta praxe exija dos anfitriões uma preparação das crianças, por não ser propriamente frequente para consumo o abate de animais de criação.

Julgo não estar muito longe da verdade se afirmar que os Ovimbundu levam muito mesmo a mal qualquer gesto passível de ser interpretado como desprezo ou colocar alguém na condição de mendigo. É óbvio que nem tudo é linear. A vida na cidade é cara, aliás bem eloquente é o aforismo: «ohombo yilya opapelo, omunu olya olombongo» (cabrito come papel, pessoa come dinheiro). Tal não é, porém, a herança ancestral de povo camponês, criador de gado e caçador, como dá a entender a máxima «casupa oco catenlã» (se sobrar, é porque satisfez), ou ainda «nda cipwa, cipwe; ocipa ha nanga ko» (se gastar, que gaste; pele de animal não é tecido de algodão).

Tão sagrada é a boa hospitalidade que, ainda hoje, é quase uma questão de arte o papel de bom visitante lá onde os anfitriões estejam conglomerados por laços familiares ou de forte afinidade. Como se desenvencilharia o caro leitor se cinco lares, na razão de uma galinha por cada, lhe fizessem chegar à mesa o prato? Ora, o segredo está em comer um bocado de cada lar. De outro modo, fica a mágoa de quem vir a comida rejeitada.

Regressemos, pois, ao dilema do Soba grande de uma aldeia de refugiados em extrema carência mas que exigia que aceitássemos a oferta de bom hospitaleiro. Ora, entre a ética positiva de base ocidental e a costumeira africana, onde os anciãos são por vocação uma entidade, tivemos de arranjar um meio-termo. Não era prudente afrontar uma autoridade tradicional, quando se iria caminhar cerca de dez quilómetros em mata cerrada. Foi então que juntamos o que sobrou da nossa logística, se bem me lembro uma lata de leite, grade de gasosa, uns cinco quilos arroz, massa, óleo alimentar, sal, sabão, peixe seco, entre outros, que não ficaria por menos dez mil kwanzas.

Para terminar a reflexão de hoje, diríamos que «okupoka» é um gesto simbólico de boa hospitalidade, geralmente ligado a géneros alimentares, que tanto podem ser consumidos durante a estadia, ou levados como lembrança.
 Gociante Patissa, Luanda, 12 Julho 2014
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Além da forma das sementes

Todas as palavras de um ngoma são
lamentos da civilização. Tudo o que

pronuncio é um continente sobre
a memória dos ngomas

mas cada língua é uma nação de conversas
fortalece a raça do espírito o poema da
plebe

e este povo-irmão dissemina na minha
memória o continente erguido da semente

João Joao Tala, in "O Gasto da Semente", 2000, pág. 19. Instituto Nacional das Indústrias Culturais, Luanda. Menção Honrosa do Prémio Literário Sagrada Esperança Edição 2000
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sábado, 19 de julho de 2014

À mesa de bar

"Meu marido, eu lhe falei num sai com o carro, depois vou levar no parque p'ra vender. Ele disse, está bem. Uma gaja volta do trabalho, abro o portão, olho assim, o carro num está. À tardinha está a me ligar, ah, me receberam o carro nos batuqueiros. Assim vou fazer como, cruzo os braços? Eu disse, vem, você mesmo é meu marido. Vamos dormir, amanhã é direitinho ao banco. Um zerinho, num quero só conversa. Porque isso é negligência. Quem disse que ele num tinha dinheiro? Até a minha família queria se meter. Eu disse, vocês sabem quanto custa uma hilux? Vou perder 50 mil dólares na brincadeira?!"
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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Diário: VIVA O PP

Quando um dia eu der festa de aniversário, ofereçam-me de presente, por favor, muito PowerPoint. Isso mesmo. É que eu adoro imenso o PowerPoint, adoro ainda mais o seu cúmplice chamado retro-projector ou Data show. Não é verdade que sem eles qualquer transmissão de conhecimentos é impossível e impensável? Até já nem me consigo lembrar dos workshops que várias vezes conduzimos durante década de mobilização social e desenvolvimento comunitário, onde - inutilmente, como hoje se vê - havia preocupação com metodologias participativas e introduzir dinâmica. Produtivo mesmo é ser expert, ligar o PowerPoint, ler redundantemente, de preferência com algum requinte, o que está a ser projectado. Isso, sim, é um grande avanço para a humanidade. Viva o PowerPoint!
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quinta-feira, 17 de julho de 2014

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sociologia metropolitana

"O que vi ontem no Mártires?!... Fica já pequena, não... uma mulher como eu, grande, de collants que está nua, aquilo até os carros podem bater. Perguntei na mãe que está a vender ginguba e banana: mãe, aqui vocês é assim? Ela me disse: 'filha, aqui você ainda num tás a ver nada, aparece sexta-feira, até vais chorar! Eu, me chamem só de zairense, langa, mas ando mesmo com meu vestido. Até as minhas filhas me chamam zairense, mas não consigo andar escandalosa, não dá!" (de uma senhora de meia idade, oriunda do Soyo)
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terça-feira, 15 de julho de 2014

Falando sério

"Pessoas que não riem não são pessoas sérias" (campanha de um grupo cultural português)
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Conceito e prática

Desportivismo é levar do treinador uma chapada do ombro, ouvir um 'estás a gozar comigo, cara...?!', baixar a cabeça e continuar o jogo treino. Chegaria a essa conclusão quem de passagem espreitasse os juniores do ASA em futebol às 10h de hoje.
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segunda-feira, 14 de julho de 2014

Oratura: O CÂNTICO DE KAPALANDANDA E A DÚVIDA DA MINHA ADOLESCÊNCIA

É frequente ouvir-se a referência ao “tempo de caprandanda” (grafia errada, pois não temos “R” em Umbundu e o “C” tem pronúncia diferente de “K”). Quando foi e o que houve?

A minha adolescência foi marcada por um quadro complexo no Lobito, onde a residência se confundia com dependências das administrações comunais da Equimina e Kalahanga, uma alguns anos depois da outra. Como as deslocações de pessoas e bens eram mediante as guias de marcha, “trabalhei” também como dactilógrafo do meu pai, na sua condição de Comissário Comunal, mas sobretudo como pombo-correio da correspondência familiar entre Lobito, Catumbela e Benguela, na maioria destes casos até… a pé.

A exposição à propaganda despertou cedo o meu interesse de observador da política. Evidentemente, havia familiares que (às escondidas) não alinhavam com o Mpla. Estamos a falar entre 1988 e 1991. Calhava encontrar este ou aquele a ouvir a Vorgan, rádio da Unita, com o volume baixinho. Foi assim que certo dia retive um trecho dolente do cancioneiro Umbundu num gingle: “Kapalandanda walila / walilila ofeka yaye/ kapalandanda walila/ walilila ofeka yaye” (Kapalandanda chorou / chorou pela sua Terra/ Kapalandanda chorou / oh/ chorou pela sua Terra). Mas quem foi e chorou porquê? GP

NOTA DO BLOGUE OMBEMBWA: Segue-se, com pequena adaptação, o contributo de Carlos Duarte, in «Jornal o Chá», da Chá de Caxinde, Nº 10 - 2ª série, Abril/Maio 2014:

“Kapalandanda era sobrinho do Soba Kulembe, da Catumbela. Ia ser Soba. Agiu de 1874-1886. Adolescente, ganhou fama por ter morto sozinho um leopardo que andava a comer as cabras (…) Ainda jovem, inconformado com a passagem e estadia de caravanas de (…) comércio, levando panos e sal para o Huambo – Bailundos – e trazendo borracha, cera, mel e marfim – sem pagamento, pediu uma audiência ao Soba, seu tio, e aos sekulus, onde tentou convencê-los a que fosse cobrada uma taxa – «Onepa» - a essas caravanas. O Soba, acomodado e com medo da reação dos colonos, não concordou. Kapalandanda então reuniu um grupo de guerreiros e foi para o mato, armar emboscadas e assaltar as caravanas, cujo produto, confiscado, era em parte distribuído pelos kimbos do sobado.

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domingo, 13 de julho de 2014

Citação

"A fama tornou-se um bem moral neste país. Ser famoso é a virtude da coisa" (argumento irónico de um personagem de filme americano a passar neste momento na TV Zimbo)
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Denúncia do jornal A CAPITAL: POR 100 MIL KWANZAS COMPRA-SE NACIONALIDADE ANGOLANA

Papi ou simplesmente, Simão é um cidadão congolês que deixou os seus vizinhos espantados quando exibiu o seu documento. Há pouco menos de dois meses a residir no nosso país, apresentou um bilhete de identidade angolano que lhe confere o estatuto de cidadão nacional. Quando questionado sobre a forma como conseguiu adquirir aquela identidade em tão pouco tempo, a resposta foi peremptória: “business”, entenda--se, negócio.

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sábado, 12 de julho de 2014

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Com o meu sobrinho de 5 anos

"Tio, no 11 tem bandidos?"
"Sim, Ataíde. Tens medo de ir lá?"
"Não tenho, eu lhes dou uma surra!"
"Ah, é?"
"Quando eles chegam, eu lhes dou um soco da perna..."
"Vais fazer o quê?!"
"Lhe dou um soco da perna e começam a gritar."
"Mas tu ainda és uma criança."
"Sim, tio, sou criança mas já treino."
"Ah, afinal treinas?"
"Ó tio, toda a criança que estuda, assim também já treina."
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quinta-feira, 10 de julho de 2014

Diário

Prometi trazer hoje uma crónica, bem sei. Mas quando se é recolhido às seis da manhã e devolvido pouco antes das sete da noite, sendo três horas deste longo dia de trabalho despendidas no atolado trânsito, só posso fazer minhas as palavras do motorista: "Esse horário de sair essa hora cansa o corpo". Não foi desta!
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quarta-feira, 9 de julho de 2014

Entrevista à escritora portuguesa Lídia Jorge, que fala do seu percurso literário e sua vivência ligada à África

Tive contacto com a senhora em Israel, durante a 26ª edição da Feira do Livro de Jerusalém, onde Angola, Brasil e Portugal partilharam o mesmo stand em Fevereiro de 2013. Na segunda angolana, a delegação da União Dos Escritores Angolanos esteve constituída por Frederico Ningi, E. Bonavena e Gociante Patissa, co-autores da antologia de contos "Balada dos Homens que Sonham", organizada por António Quino e traduzida para hebraico. 

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terça-feira, 8 de julho de 2014

Leituras que ficam

Li há poucos anos num dos semanários publicados em Luanda uma tirada singular em jeito de homenagem à alma de um antigo governador do Banco Nacional de Angola, salvo erro. Dizia a crónica que, imediatamente depois de apresentar a sua carta de demissão, aquele gestor veio a ser chamado para se justificar, afinal não é bem todos os dias que alguém coloca à disposição um tão prestigiado cargo, ainda mais nos primeiros anos do pós-independente. E aí, cedida a palavra, o homem teria dito: "Chefe, se estamos numa festa a beber uns copos e, já embriagados, o conviva mais próximo aponta para o chão ao mijar e me saltam para as calças manchas, pronto... ali, vou ter de sacudir e me ajeitar. Mas a partir do momento em que o conviva se põe a mijar directamente para as minhas calças, o que tenho a fazer é ir para a casa." Dizia a crónica que o Chefe teria largado um inesperado sorriso, percebido a situação e procedido em conformidade. 
Apoiado!, diria eu hahaha
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Shades

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segunda-feira, 7 de julho de 2014

Diário: AINDA JULHO, LOOKING IN REVERSE

Entretanto, já três anos se tinham passado sobre o pó. Estar dentro é sempre a forma menos eficiente de perceber o tamanho da casa, a verdade idem. Já homem, o adolescente cruza algumas vezes em partilhas de saber, nesse contínuo exercício de crescer com a pátria, com o camarada chefe. Em tom paternalista, gaba ao microfone de abertura de certame. O teu pai foi um grande camarada nosso. Ora, vindo de quem assinou precisamente o despacho que elevara o ido à altura do emocional tombo, devia significar muita coisa. Quem julga é Deus, dirá o cliché. Andava magoado pelo afastamento do comité provincial do seu partido, não podendo responder pelos efeitos colaterais e respectivos sacrificados subordinados. Hoje é segunda, caramba, a mangonha do weekend vem mesmo a calhar. Que se lixe a crónica.
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sábado, 5 de julho de 2014

Diário: JULHO

Vencidos setenta e poucos quilómetros de acidentado troço em pé, de autocarro, o adolescente reporta ao gabinete do camarada financeiro. O teu pai? Não sei se o encontro com vida. Está em coma. Olha, houve um aumento pequeno, mas vais levar como tem sido. Este bocado fica para mim. Impotente, o adolescente engole em seco e assina no folho por um montante que não viu. Era cacimbo, talvez a pior época do ano para se perceber o que camarada devia querer dizer. Em casa, estava consumado. O destinatário fizera-se surdo a tudo, era o culminar de uma passagem na terra. Hepatite tinha sido o pico. Pôr-me num tractor a recolher cães vadios, depois de tudo o que fiz e perdi por este país? Prefiro ir cultivar! A opção entretanto pecou por não levar em conta a lei dos ciúmes: não há lugar para a enxada no chão onde as minas madrugam. Oitava classe, muitos Lénines e Engels, alheio à utilitária sociedade. Só somos quando explorados. Somam-se os copos para desmentir a selectiva amnésia dos ideais. Ups! Sábado é dia de bíblico descanso, que se lixe a crónica.
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Diário

Estar em casa, de visita, tão estranho como a própria existência humana
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BAD NEWS

O curso semi-presencial de pós-graduação/mestrado em ciências da comunicação na CESPU em Benguela tem as mesmas hipóteses de arrancar que teria um avião de chegar a casa do piloto. Condicionado a um mínimo de 40 candidatos para formar turma, talvez nem se tenha chegado a 10 inscritos. Qualquer coisa me diz que ir para gestão de recursos humanos, como alternativa, não vai valorar os vários anos de dedicação e alguma experiência no universo da comunicabilidade. Pronto, haja milagres hahaha
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quinta-feira, 3 de julho de 2014

Corpo de viola

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Diário: E SE JUNTÁSSEMOS DIVULGAÇÃO CULTURAL À HONESTIDADE?

Venho notando com satisfação o cada vez mais crescente interesse pela partilha de sabedoria popular nas línguas nacionais de origem africana. É de louvar, principalmente quando se trata de murais de gente mais nova, se tivermos em conta a conotação de que a maior tendência nas redes sociais recai para futilidades. Só me deixa aborrecido notar que quanto à língua Umbundu, não poucas vezes, algumas almas mais não fazem do que ir copiar dizeres aos meus blogue www.ombembwa.blogspot.com e mural do facebook, para colarem em seus murais ao pé da letra. Na minha ingenuidade, acredito que a sabedoria popular é património imaterial colectivo, de qualquer um que por ele tenha a mínima sensibilidade, mas que a tradução é de cunho pessoal. E essa preguiça só pode multiplicar eventuais erros do tradutor "imitado", até porque a Internet não pesquisa, não avalia, não escreve e... não erra. Divulgar a nossa língua e cultura, sim, mas com o mínimo esforço de honestidade intelectual.
Gociante Patissa, 3 Julho 2014
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Citação

"Há garinas mesmo com juízo. A minha namorada, tas a ver?, lhe espetei seis mil kwanzas. Hoje, é a rei das vendedoras na pracinha dos congolenses. É a mãe de casa."
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quarta-feira, 2 de julho de 2014

provérbio mexicano

"La casa no se reclina sobre la tierra, si no sobre una mujer" - A casa não se apoia na terra, mas sim numa mulher
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terça-feira, 1 de julho de 2014

Só um pequeno favor

Quando for para trocar segredinhos, gabar competência académica, ou o que seja, na via pública, não o façam em inglês. Há sempre algum infeliz que perceba. Não devia, mas há
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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