Voluntariado

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Conheça a AJS
A AJS—Associação Juvenil para a Solidariedade é uma organização não governamental angolana de âmbito local, voluntária, apartidária, fundada em Dezembro de 1999, no município do Lobito, província de Benguela –   Angola. Tem mais de 16 membros de ambos os sexos e baseada na Lei das Associações vigente; 

Missão saída do último planeamento estratégico: “promover a participação, o conhecimento, a dignidade humana, a responsabilidade e a igualdade de oportunidades na província de Benguela, municípios do Lobito, Benguela, Baía Farta, Caimbambo, Bocoio e Balombo, intervindo nos sectores de saúde, educação e direitos humanos, através de acções de sensibilização contra as ITS/SIDA, pressão social pelo acesso à gratuitidade e qualidade do ensino primário, informação e formação sobre direitos humanos e cidadania, em benefício de jovens dos 15 – 35 anos de idade, crianças dos 6-14 anos de idade e respectivos encarregados de educação”.
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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (18) | 18 DE DEZEMBRO DE 1999 – 18 DE DEZEMBRO DE 2017, AJS 18 ANOS. DA LEVA DE FUNDADORES, FALTA-NOS O CAMBOMBA




Termina hoje um conjunto de 18 artigos publicados sob o genérico «Curiosidades e memórias da AJS»para coincidir com o 18.º aniversário da Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), ONG de âmbito provincial com sede na cidade do Lobito, na província de Benguela.


Combinando textos novos devidamente assinados e uma compilação do arquivo publicado pelo Boletim “A Voz do Olho”, veículo informativo AJS (hibernado), lancei este exercício agridoce, da minha inteira responsabilidade e alicerçado na legitimidade de membro fundador, no sentido de contribuir para deixar algum registo da nossa agremiação, a qual muitos só conheciam pela face exibida da porta para fora, como tal relativamente “cosmética”.

A “maioridade” da AJS, que era suposto, pelo simbolismo que carrega, acontecer num clima
de congregação de um conjunto de membros matematicamente coincidente, 18, esteve longe disto mesmo. Os factores são vários e parte deles foi espelhada nos 18 artigos que podem ser consultados pela palavra-chave “Curiosidades e memórias da AJS” aqui e no blog www.angodebates.blogspot.com .

A primeira curiosidade é em jeito de homenagem a um dos fundadores e assíduos membros nas reuniões que tinham lugar à sombra de qualquer árvore na fase embrionária da AJS, quando nem um beco sequer para as reuniões da comissão instaladora havia e a escola ReiMandume falhava a promessa de emprestar uma sala. Falo de Avelino Cambomba, professor de profissão, que“ascendeu” há coisa de cinco anos. Era da linha dos mais kotas, recrutado pela relação de colega de escola e pela personalidade. A vida de Cambomba foi marcada por uma tenacidade notória, muitas vezes recorrendo ao triplo esforço, senão mais, contornando os obstáculos de quem tem problemas motores em função de uma paralisia na infância, um dos quais a peleja diária por um lugar nas carruagens de comboio do CFB em direcção à escola.

A outra curiosidade está na frustração de nunca termos conseguido, e aqui faço a mea culpa de mentor da ONG, mobilizar cérebros para ocupar os lugares nas demais estruturas dos órgãos sociais, nomeadamente o Corpo Directivo (órgão estratégico e delineador de políticas) e a Mesa da Assembleia Geral (órgão deliberativo e poder soberano), o que sobrecarrega em tarefas e competências a Coordenação Executiva. É uma realidade comum na sociedade civil angolana onde as vicissitudes da vida urbana retiram das prioridades o voluntariado. Algumas associações são felizes em assegurar o espírito cooperativista, outras nem tanto. Aspectos como a prestação de contas, a disciplina, o zelo do património e dos ideais, assim como o recrutamento de membros acabam à mercê da subjectiva agenda de quem gere a instituição.

Face ao alegado abandono da AJS por parte dos “históricos”, vale rememorar a assembleia geral de membros que se encontra PENDENTE HÁ SEIS ANOS (fora deliberada para ocorrer três meses após a assembleia extraordinária que contou com a mediação externa), visando aprovar as contas, actualizar o regulamento interno, os estatutos, quiçá o plano estratégico. Estatutariamente as assembleias ordinárias devem ser anuais.

Fecha-se com o inevitável elogio à Coordenação Executiva por manter a casa aberta, pelo crescimento no património material e no palmarés no que respeita à relação de confiança com doadores para implementar projectos.

AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade”
Catumbela, 18 de Dezembro de 2017
Daniel Gociante Patissa (Membro Fundador)
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quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (17) | “NOSSA VACINA É A INFORMAÇÃO”


Guga (esq.), Luzia, Salomão, Maria e Celma
Na foto, a equipa de activistas da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) comandada pelo mobilizador social António Salomão Gando, durante a sensibilização interpessoal na área do Curral, Catumbela, enquanto decorria o Afrobasket 2007. A promoção da saúde pública exige, a AJS através dos seus projectos intensifica cada vez mais e melhor a marcha pelas comunidades, disseminando informação e sensibilizando moradores face à necessidade de prevenir o risco de propagação das infecções de transmissão sexual (ITS).

Não é fácil o trabalho dos activistas, sobretudo para os voluntários, tendo em conta que as comunidades escolhidas situam-se em elevações, desde o São João, Lobito, até à área do Morro do Galo ou Alto-Chimbuila, Catumbela, percorrendo a via rápida. Mas mais difícil é vencer o ainda reinante baixo nível de informação, não só sobre questões de saúde pública, mas também sobre a cidadania no geral.


Para se ter uma ideia das dificuldades, a Oficial de Terreno do Projecto “Viver Contra a Sida-3, Cidadania e saúde preventiva” (VCS), Luzia José, conta:


“Algumas pessoas que nunca tinham ouvido falar da A.J.S e das actividades que realizamos, pensavam que dávamos vacina contra a Sida, mas esclarecemos que a nossa vacina é a informação, já outros pensavam que fazíamos parte da Administração (mesmo identificados); achavam que íamos tirar os seus terrenos."


Mas nem tudo é constrangimento. Também contou a “nossa” Luzia que da comunidade se recebe encorajamento e colaboração. E, parafraseando uma moradora, “é de louvar o vosso trabalho, porque estão a passar uma informação muito válida e importante não só para agora mas também para toda vida”.


O conforto vem da sensação do dever cumprido, na hora de avaliar cada passo dado, e a noção do acumular de experiências, como considera Luzia:


“Em cada dia que vamos tendo contacto com a comunidade através de actividades programadas pela equipa do Projecto VCS, as experiências aumentam e é visível a receptibilidade na atitude das pessoas que abordamos. Por isso, nosso lema é “Por amor à Vida, vamos todos viver contra a Sida”.


AJS—“A cidadania é resultado de um exercício permanente de educação e comunicação”.
In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 1, Edição Nº 8, Setembro de 2007
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terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (16) | NO PERÍODO “ROMÂNTICO” DO ASSOCIATIVISMO, AS CONTAS DA AJS NUNCA BATIAM CERTO


Jacinto Faustino "Lito" (à esquerda.)
 e Amândio Serviço
Um inusitado problema contabilístico marcou os primeiros anos de vida efectiva da ONG. As saídas eram superiores às entradas. Explico-me. Se o elementar paradigma da contabilidade é ver quanto entrou, quanto saiu e ver quanto sobra, no caso da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), havia muito mais gastos do que permitiria a existência resultante das quotizações dos membros. É que levávamos a coisa de um modo tão “romântico” que despendíamos do próprio bolso sem prestar atenção a registos e/ou facturações para posterior devolução. A justificação técnica depois consistia em qualificar a diferença como “doações indirectas”.

A matriz cooperativista da AJS é suis generis. A sua composição deriva da coligação de afinidades, que vem do parentesco, de amizades prévias, de irmandade religiosa em alguns casos e, sobretudo, de colegas de escola. Daí que se defenda a existência de uma vida interna responsável pela contenção diante de conflitos internos, vida interna esta que soçobra a partir do ano de 2007, com a “desactivação” das assembleias gerais (ordinárias e pacíficas) de membros, fórum ideal de socialização e reinvenção do sentimento de pertença. Vamos à história.

Em finais de 1998, espalha-se pelo bairro do São João e arredores a fama da APDC (Associação de Promoção do Desenvolvimento Comunitário), liderada por Jacinto Faustino “Lito”. A par das noites dançantes, levavam a cabo campanha de construção de latrinas “melhoradas”, por via da distribuição de lajes, com o apoio da Save The Children UK, representada pelo (belga) Jean. Na segunda quinzena de Dezembro do ano de 1999, aproximamo-nos ao Lito (colega na Sonamet) para obter pistas de como constituir uma ONG e este deu-nos também a Lei das Associações.

Determinado, Daniel Gociante Patissa convence o seu amigo Edmundo da Costa Francisco, que conhecera na escola do 3.º nível dos Bambús da Catumbela por volta de 1995, onde este último se destacava pelo nível de inteligência e índole calma. Incluem a Flora Domingas da Costa Francisco “Mirita”, uma dinâmica escuteira e poço de simpatias. O último a entrar é Simão Marques, um motivador carismático ligado à igreja Católica no Bairro da Santa Cruz.

Na tentativa de legalizar a AJS, fazendo-se acompanhar de um manifesto/estatutos de quatro páginas, digitalizado pela senhora Helena da Costa, mãe de Edmundo e Mirita, somos “rechaçados” pelo oficial do Cartório Notarial do Lobito (Sr. Abraão), que por sua vez recomenda uma leitura melhor da Lei das Associações. Sugeriu "imitar", ali mesmo, os estatutos da ANABOC (Associação dos Naturais e Amigos do Bocoio) que, curiosamente, nunca saiu do papel.

Mobilizam-se três novos membros, a Arminda Kanjala Gociante Patissa, o Amós Chitungo Gociante Patissa e o Amândio Serviço, optando pelo valor mínimo na exigência de sete a 14 assinaturas. Postos no Notário, mais um chumbo. Tivemos de acrescer mais sete assinantes. Assim entram os irmãos Malaquias Catanha Fernando e João Jorge Fernando, o César Menha (colegas de escola de Edmundo no Puniv), bem como o Jaime Caliongo, o Avelino Kambomba, o Henrique Chissapa Januário, o “Chimangá” e a Delfina Kandolo.

Os mais novos (22 anos em média) dedicam-se a tempo integral à Coordenação Executiva. Até 2002, data da inauguração da sede própria no bairro da Santa Cruz, funcionávamos provisória e oficialmente nas instalações da ADAMA (Associação dos Defensores e Amigos do Ambiente) no bairro da Caponte, do Sr. Tshombé. Nessa altura, recruta-se o Henrique da Silva Pascoal, pela inteligência e pela vantagem de ser vizinho da sede. A "caça" de cérebros leva-nos a incluir o Aquiles Chicapa Daniel, os irmãos Bungo Dumbo Casseque e Maria Dumbo Casseque, assim como a Mariana Pascoal Manuel. Mas como o caminho se faz caminhando, ocupações profissionais de uns e o desencanto pela chegada tardia dos frutos do projecto, por outra, foram ditando chegadas e partidas.

A sustentabilidade foi sendo um problema, o que levaria a Coordenação Executiva a delinear estratégias de incentivo ao pagamento regular da quota, quesito no qual passaria com distinção o membro Amândio Serviço, a quem foi atribuído o prémio “AJS UM OLHAR POR DENTRO”, no valor de USD 20, angariados dos subsídios pessoais que recebíamos enquanto membros de projectos da Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito ou da Coligação Ensino Gratuito, já!”

Por incompatibilidade de horários com o seu emprego, o membro Amós passaria a contabilidade para o Malaquias, de quem a Coordenação Executiva da AJS ficaria “órfã”, depois que um concurso público ao professorado o “atirou” para o distante município do Balombo. O César (formado em ciências sociais) virava o herói da Administração e contabilidade, graças à assessoria da consultora australiana Susan Dow. Privados também ficamos da Mirita, que se mudou para a província do Bié.

A partir de 2004, ensaia-se um pacote de capacitações internas para diminuir o fosso em conhecimentos entre a Coordenação Executiva e os demais membros da linha de sucessão. A assembleia geral de membros autoriza o recrutamento, em 2006, de mais “reforços”, entre os quais o Júlio Lofa, a Mariana Teixeira, o Ricardo Calengue “Amado”, a Celma Canduli.

De 2007 para cá, com a “hibernação” das assembleias gerais de membros, abrandou igualmente a cultura da quotização, pelo que a AJS sobrevive apenas de financiamento externo e, provavelmente, do bolso do pessoal da Coordenação Executiva que for assalariado de projectos. Ainda era só isso. Obrigado.

AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade” | Benguela, 12 Dezembro 2017
Daniel Gociante Patissa (membro fundador) www.angodebates.blogspot.com
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segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (15) | BOLETIM DA CULTURA E DA CIDADANIA VAI PARAR OUTRA VEZ


Tudo indica que, no final deste ano, este Boletim informativo [designação modesta para o nosso jornal institucional] enfrentará mais uma pausa indeterminada, ainda, imposta pela inexistência de recursos para a sua reprodução. Como vem já sendo anunciado em edições anteriores, aproxima-se o mês de Dezembro, que marca o período de férias da equipa dos projectos “Viver Contra a Sida-3, Cidadania e Saúde Preventiva”, e do “Palmas da Paz”, financiados pelo Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e pela Embaixada Americana, respectivamente.

Vai deixar saudades ao vasto público leitor e amigo deste veículo que dá ressonância à cidadania e à promoção cultural. Mas vai também, a sua ausência anunciada, transtornar de certo modo a equipa envolvida na sua edição, a mesma que tem dado a sua prestação de forma voluntária, incentivada que está pelo sentimento de dever enquanto cidadãos, filhos desta Angola e ainda pelo amor às tecnologias de informação e comunicação. Em Fevereiro último marcávamos o nosso regresso. E a chamada de capa não podia ser mais oportuna: “Estamos de Volta”, na qual, embora omisso, o ponto de exclamação era bem evidente. Tínhamos vencido os seis meses de interregno, forçado pela necessidade de aumentar a tiragem, melhorar o aspecto e formalizar o Boletim “A Voz do Olho” junto do Ministério da Comunicação Social, iniciando, obviamente, pela Direcção provincial.

"A Voz do Olho" é um humilde jornal de voluntários, que usa técnicas simples e mensalmente distribuído grátis. Na verdade, a ideia do seu surgimento, em 2005, foi, precisamente, facilitar de forma gratuita para os cidadãos o acesso à informação e dar espaço à nossa cultura através da divulgação de obras, eventos e contos (uma vez que os jornais não estão ao alcance de todos).

Um trio de amigos ligados à AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), com sede no bairro da Santa Cruz, no Lobito, [formado por Livulo Prata, Gociante Patissa e o Júlio Lofa] lançou então, de Janeiro a Junho de 2006, a fase experimental, com folhas agrafadas no formato A4, contando com o patrocínio do jovem Lázaro Bernardo Dalas. De seguida, “adoptados” pela AJS passamos ao actual formato, numa evidente melhoria, embora ainda não satisfaça o que equipa editora almeja.
A Coordenação Executiva da AJS anda há bastante compenetrada em identificar apoios e doações para não pararmos.
AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade”
In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 1, Edição N.º 9, Outubro de 2007
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domingo, 10 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (14) | SABINO NUNDA CASACO, UM DOS BENEVOLENTES DESCONHECIDOS QUE DERAM VIDA À AJS


A história das instituições, a partir do momento em que estas saltam da esfera do sonho para a materialização, legitima várias perspectivas. E como só podia ser de uma ingenuidade gigante esperar que exista apenas uma versão de registar a trajectória e o impacto junto da sociedade, que é em fim último o beneficiário do altruísmo, a história da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) é passível de ser colhida pela perspectiva dos protagonistas, pela das testemunhas, pela dos continuadores. Ultimamente, passou a contar também a versão das vítimas (aqui um lamentável fruto de umas e outras escolhas).

Neste apontamento ressalta-se outra perspectiva muito valiosa que não se encontra em actas de reuniões nem na glória dos relatórios de projectos implementados. Falo de parceiros desinteressados que se mantêm anónimos, aqueles que na primeira hora abraçaram o que para muito boa gente roçava o lunático. Um destes é Sabino Nunda Casaco. A AJS é faísca do sector da sociedade civil, Organização Não Governamental de âmbito local, nascida do inconformismo de estudantes do ensino médio (a média de idade do “núcleo de cérebros” contava-se abaixo dos 21 anos), num quadro complexo de guerra civil e carência urbana de vária ordem.

Enfim, depois de conhecer a Okutiuka-Acção para a Vida, coordenada por José Patrocínio, no ano de 2000, através da qual foram adquiridas habilidades em elaboração e gestão de projectos de desenvolvimento comunitário, chegou-se a delinear linhas de acção, uma delas sendo a da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A oportunidade consistia em "infiltrar-nos" em excursões de jovens (à praia e não só) para no destino improvisarmos palestras e debates sobre o assunto. Mas havia depois um entrave chamado falta de material de apoio.

Nessa época, tudo o que a AJS tem é a determinação de quem vende ideias e crê que mais cedo ou mais tarde apareceria um financiador para projectos em gaveta. Não havia fundos para adquirir propaganda e preservativos junto da ADPP-Esperança ou do PSI (as quotas dos membros mal cobriam as despesas com táxis entre Lobito e Benguela à procura de parcerias).

Eis que “do nada” surgia o paramédico Sabino Nunda Casaco, da 7.ª Região Militar, e o seu colega Alexandre Camongua, que durante meses apoiaram o projecto, não só assessorando os palestrantes, mas também partilhando connosco dentro das suas possibilidades o tão precioso material informativo e preventivo.

Casaco é um homem de estatura alta, de fala terna mas é também conhecido pelo punho militar firme. À volta do seu carisma, rolava o relato de ter administrado uma sonante bofetada a certo jovem que o teria molestado durante uma festa. Dizia-se que tão valente fora a famosa bofetada que o destinatário da mesma desmaiou de imediato… e acordou sóbrio. Seria uma “bofa medicinal”? Morava no bairro da Kalumba. Viria a bater à porta da AJS por influência do seu amigo Simão Marques, membro fundador da ONG.

Foi na verdade graças ao impulso do mano Casaco que ganhou corpo a série de projectos "Viver Contra a SIDA" (financiados de início pela Oxfam em 2003/4 e introduziu a dinâmica dos activistas voluntários, dos quais cito o João Nunda, o Ricardo “Amado” Calengue e a Celma Yaveleka Tungalavo Canduli). O maior "bolo" viria com o financiamento do Fundo Global/PNUD e afins, que suportou o Boletim "A Voz do Olho" e o programa radiofónico semanal "Viver para vencer", produzido e conduzido por quadros da AJS via Rádio Morena Comercial, através de pagamento do espaço de antena.

A natureza melindrosa da disciplina militar fez com que o seu patrocínio tão determinante fosse mantido discreto ao longo destes quase vinte anos de existência. Obrigado, mano Casaco! Teria de ser amnésia colossal não lhe ter em conta como um membro honorário.

AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade” | Benguela, 01 Fevereiro 2017
Daniel Gociante Patissa (membro fundador) www.angodebates.blogspot.com
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sábado, 9 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (13) | A PROBLEMÁTICA 1.ª VIATURA DA AJS, UM TESTE À HONRA DA ONG JÁ ANTES DA DOAÇÃO


Tem-se dito que na arte de coleccionar relíquias, o valor alto que é pago não é pelo artigo como tal, mas sim pela história em torno dele. Diremos, adaptando a asserção, que o valor da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) é para nós fundamentalmente imaterial, um afecto que de resto, dada a natureza humana, nem sempre resulta transmissível. No apontamento de hoje, o assunto é a viatura Toyota Land Cruiser Prado (“chefe máquina”), o primeiro (único até ao momento) zero quilómetros na história da AJS e o que nos custou a sua obtenção.


A história começa em finais de 2003, princípios de 2004, quando recebemos por intermédio da D. Manuela Costa a manifestação de intenção de uma consultora independente chamada Susan Dow, residente em Luanda. A D. Manuela, na ocasião Oficial de Projecto da ONG Omunga, trabalhara com Susan por muito tempo na britânica Save The Children. Havia em carteira um projecto no sector da educação cuja materialização passava por estabelecer parceria com uma ONG nacional de boa reputação. A AJS foi a escolhida.

Algum tempo depois veio a Susan. Lançou as bases e adoptamos a ideia projectual. O projecto em causa, que compreendia uma pesquisa para identificar as linhas de base para posterior intervenção no reforço de capacidades de pais/encarregados de educação, assim como de professores no ensino primário, seria co-implementado pela Education Action International (EAI), em português, Acção Internacional para a Educação, com sede em Londres, a também cidade dos doadores, entre eles o Comic Relief.

O município do Bocoio seria o grupo alvo, em virtude de já lá termos realizado alguns debates e workshops, sem esquecer a excursão marcante no ano de 2004, no contexto do 27 de Julho, data de fundação da antiga Vila Sousa Lara, em parceria com o “Pelotão”, colectivo informal recreativo do bairro Santa Cruz. Só que, durante as visitas de campo e encontros com as autoridades, numa delas com a presença da britânica Mandy, quadro sénior da EAI, ficou-se a saber que o CCF (Fundo Cristão para a Infância) também tinha projectos na área da educação, o que suscitaria duplicidade. Foi então que se optou pelo município do Caimbambo.

Originalmente, a parte angolana de implementadores incluía o Sinprof, pelo seu incontornável papel sindical na influência de políticas públicas e domínio de dossiês importantes na relação entre o professorado e a entidade patronal. Numa altura em que o desenho do projecto estava consolidado, recebemos uma delegação de alto nível, constituída por gestores da EAI e das instituições doadoras, para aquela monitoria inicial. Viajamos para o Caimbambo onde nos desdobramos em encontros com as autoridades, professores, sindicalistas e com a comunidade. O que os britânicos não gostaram foi da crispação entre o sindicalista e o então Chefe de Secção de Educação do município, do qual se inferia um antecedente mal resolvido. No final do dia concluíram que o perfil não condizia com o espírito do projecto, cuja estratégia passava por estabelecer uma relação de cooperação metodológica nos dois primeiros anos e só mais tarde a advocacia.

E quando por questões de transparência foi apresentada a proposta de projecto ao então Administrador Municipal, ficou-nos, pois, alguma má impressão dele. Em posse do documento, correu para o orçamento e solicitou que o carro (ainda não encomendado) viesse a ser propriedade da sua administração, finda a iniciativa. Diplomaticamente foi-lhe negado. O carro deveria servir para uma possível extensão das actividades.

De volta ao hotel Turimar, indisfarçável era o rosto desiludido dos decisores vindos da Europa. Bem, sem surpresas. Tinham passado metade do dia a fazer observações de nariz contorcido e fotografias, tais eram a condição de extrema pobreza material e o calor do armazém em que funcionava o nosso escritório. Maior ainda foi o impacto ao se depararem com as condições infra-higiénicas do WC que usávamos por empréstimo. Com nove anos de história, era aquela a nossa condição, não havia como maquilhá-la. Reunidos no restaurante, pediram-nos para aguardar enquanto provavelmente “puxavam as orelhas" à D. Susan. No relógio, 18h30.

Perto das 21h00 chamaram-nos aos suspiros para anunciar reformas notáveis na estrutura do projecto. Faltava-lhes coragem para verbalizar a insegurança que tinham da nossa idoneidade e carácter, pois podíamos muito bem, pobres que éramos, agarrar na primeira tranche do orçamento e fugir com a massa. A outra imposição foi no sentido de incluir a Okutiuka na liderança do projecto. E perguntaram-nos o que achávamos, receosos de uma atitude radical nossa. Respondemos, cordialmente, que o mais importante era a implementação do projecto, independentemente de quem lideraria o processo. Olharam-se uns para os outros, depois olharam para nós com alguma empatia e orgulho. Disseram que a nossa atitude tinha sido bastante saudável, que lideraríamos nós o projecto na mesma, sendo entretanto indispensável a entrada da Okutiuka (que tinha antecedentes positivos no Caimbambo e até um representante de nome Açores).

Com o arranque do projecto, era finalmente comprada a viatura ao preço de USD 35 mil e começavam as complicações e tensões, inicialmente na relação da AJS com o mundo externo. A “madrinha” Susan receava, pela nossa idade juvenil passível de vícios anti-éticos e abusos dos meios para fins pessoais, que se repetisse o trauma de uma ONG que apadrinhara no passado, a qual alegadamente partiu o carro todo antes da primeira revisão. Para o conforto dela, naquela altura (2005) os membros da AJS ainda não tinham carta de condução, pelo que os motoristas foram recrutados por via do seu crivo. Como não era de estranhar, contratou-se um antigo motorista da Save The Children que ela tinha em muito boa linha de conta.

A outra tensão latente reside no facto que prevalece até hoje, salvo melhor informação, de que a viatura, sendo nossa, foi comprada em nome da ONG irlandesa Ibis (sedeada no Kwanza Sul), congénere da EAI, como que uma espécie de semáforo para a recolha da viatura tão logo fossem registadas condutas contrárias ao voluntariado. Mas não é tudo. Outra exigência incontornável também era o seguro ENSA contra todos os riscos, um valor para já nada desprezível. Houve um momento em que quase nos pediram para conduzirmos a viatura ao Sumbe, desprovida que a tesouraria da AJS andava na sequência do fim do ciclo do projecto. Tivemos de pedir emprestado dinheiro a um dos membros para “salvar” o meio.

Pela sua história, o carro passou a ser uma questão de honra, como pessoas e para uma AJS comprometida com valores. Ironicamente, o tempo, e não foi preciso muito, veio a mostrar que a Susan não estava de todo errada. Lá houve quem não tolerasse reincidências, pioradas com a inexistência de um regulamento escrito, onde o bom senso já não servia como critério… e bateu com a porta. Ainda era só isso. Obrigado.
AJS – “Humildade, Justiça e Solidariedade”
Benguela, 9 Dezembro de 2017
Daniel Gociante Patissa (membro fundador)
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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (12) | MALAQUIAS FERNANDO, UM DOS CINCO SIGNATÁRIOS DA ASSEMBLEIA-CONSTITUINTE


Malaquias Catanha Fernando integrou a Comissão Constituinte, cinco membros a quem coube a missão de subscrever a escritura da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) no Cartório Notarial do Lobito, no primeiro trimestre do ano de 2000, aquando da formalização da ONG. "Da impressão que tenho dos 10 anos de percurso da AJS, digo que é uma organização madura, pois que passamos por momentos difíceis, e também por aquilo que são as acções desenvolvidas", referiu o membro fundador e contabilista voluntário durante os primeiros anos de abertura da sede da Organização. Instado sobre qual seria sua resposta caso fosse outra vez convidado a integrar uma associação em fase embrionária, disse: "realmente é um pouco complexa a ideia, mas, na verdade, aceitaria".

In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Edição Especial—10º Aniversário da AJS, Dezembro de 2009
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sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (11) | Descobrindo novos valores em prol da cultura – A PROPÓSITO DO GRÉMIO DE ARTES "ELONGISO"


O Grémio de artes “Elongiso” foi fundado a 11/07/07, no bairro Santa Cruz, Lobito, congregando 15 jovens  moradores dos bairros de São João, Kalumba, Santa Cruz e comuna da Catumbela. É uma iniciativa autónoma que conta com a colaboração de várias instituições, estatais, do sector voluntário e singulares.

O grupo desenvolve actividades culturais, tais como o teatro, a dança, a poesia, a música, entre outras artes. Também já levou a força da sua recreação aos palcos dos municípios da Baia Farta, Caimbambo e Cubal, no âmbito do projecto “Noite Cultural”, que visa a descoberta de novos valores no mundo das artes  e realização de debates e palestras sobre problemáticas que assolam a sociedade, e a juventude, em particular.

Enquanto batalham para a sua consolidação, os jovens contam com o amparo da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), com a qual partilha os escritórios.

In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Edição Especial—10º Aniversário da AJS, Dezembro de 2009
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (10) | ASSEMBLEIA-GERAL DE MEMBROS ANALISA CONTAS 2005-2007


Os membros regozijaram-se com o notório crescimento da Organização, traduzido pela identificação e implementação harmoniosa de três projectos, “Palmas da Paz”, “Viver Contra a Sida”, desenvolvidos nos três municípios do litoral da província de Benguela, e o Projecto “Pesquisa sobre os factores que influenciam a qualidade do ensino primário”, realizado no município do Caimbambo.

No passado dia 30/12, realizou-se a Assembleia-geral de membros da Associação Juvenil para a Solidariedade (AJS), que teve lugar na sua sede social, ao bairro da Santa-cruz, cidade do Lobito. Participaram dez dos 15 membros que a compõem, e apesar da ansiedade já que a última assembleia aconteceu em finais de 2005, o ambiente foi, como sempre, marcado pela cordialidade e metodologia informal. Entre o essencial da agenda, constou a análise dos relatórios narrativo e financeiro do período 2006/7, do inventário do património da Organização, e a proposta de inclusão de novos membros, e, ainda, a constituição dos Órgãos Sociais.

A AJS, que já se tornou “obra da sociedade”, é uma iniciativa voluntária e apartidária da responsabilidade de um punhado de jovens humildes e com vontade de aprender, divididos em três galhos: A Coordenação Executiva, que frequenta com regularidade a sua sede social, a Assembleia-geral, formada por membros com pouca disponibilidade de tempo, e, ainda, por voluntários, jovens que participam de actividades e frequentam a casa sem remuneração nem vínculo como membro.

Os membros regozijaram-se com o notório crescimento da organização, traduzido pela identificação e implementação harmoniosa de três projectos contabilizados em cerca de USD 200 mil, nomeadamente, “Palmas da Paz”, “Viver Contra a Sida”, desenvolvidos nos três municípios do litoral da província de Benguela, e o Projecto “Pesquisa para o ensino primário em Benguela”, este último implementado em parceria com a ONG angolana Okutiuka-Apav, no município do Caimbambo. Mereceu igual atenção uma lista considerável de eventos e programas, sob iniciativa de parceiros governamentais e da sociedade civil, em que a AJS esteve envolvida, tais como feiras, conferências, encontros de coordenação e planificação conjunta, para só citar alguns. Um outro símbolo de crescimento registado reside no facto de instituições nacionais e internacionais recrutarem quadros da AJS para prestação de serviços como seminários, pesquisas e reforço de capacidades.

Os membros destacaram, entre os principais motivos de satisfação, o Boletim informativo mensal “A Voz do Olho” e o programa radiofónico “Viver para Vencer”, cuja aceitação por parte da sociedade é cada vez maior, revelando-se os mil exemplares, no caso do Boletim, insuficientes para satisfazer a demanda. Entretanto, erros ortográficos e, nalguns casos até de sentido, mereceram a reflexão da Assembleia. Da Equipa editora, também constituída por membros da AJS, ficou o compromisso de se prestar maior atenção, embora tal se deva em grande medida à pressão constante causada pelas sucessivas avarias da máquina reprodutora e a necessidade de se contornarem eventuais atrasos.

Lamentou-se, contudo, a exiguidade do tempo, que impediu a cobertura integral da agenda. Por outro lado, dificuldades vividas pelo secretariado condicionaram a disponibilização atempada dos documentos necessários para a Assembleia, não tendo sido possível em certos aspectos uma discussão mais profunda. Face a isso, os membros recomendaram a realização de uma assembleia-geral extraordinária ainda no próximo mês de Janeiro.

Como já o escrevemos numa das edições, fundar uma associação ou Organização Não Governamental, como queiram, é fácil; basta para isso guiar-se na Lei das Associações vigente em Angola. Agora, manter a ascensão de uma associação juvenil ao cabo de oitos anos a fio, no contexto de desenvolvimento, isso sim é uma obra. Ou então que nos desminta a história, que viu falecer inúmeras associações surgidas como parceiras do Programa Alimentar Mundial (PAM) na fase de emergência.

Desde a sua fundação, em 1999, a AJS vê nas parcerias a alma do seu crescimento, quer a dar, quer a receber. Em termos de projectos financiados, contabilizam-se cinco, estando entre os doadores a OXfam-GB, a Usaid, a Embaixada Americana, o Programa das nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Education Action International (EAI) com sede na Grã-Bretanha. Não estão aqui descritas pequenas acções enquadradas em redes e consórcios de que a AJS tem sido co-implementadora.

Independentemente dos financiamentos directos e indirectos, é prática elaborar programas com os parcos recursos próprios, como foi o caso do “Viver Contra a Sida”, delineado em 2001, quando participávamos de excursões de jovens para palestrar e distribuir material informativo sobre Infecções de Transmissão Sexual e não só. O Boletim “A Voz do Olho” é outra iniciativa de pessoas próximas da AJS, o que reforça a convicção de que os financiamentos e os apoios são bons, mas não paramos de pensar quando não existem.

In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 1, Edição N.º 11, Dezembro de 2007
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (9) | “QUANDO AS PESSOAS FALAM, A ORGANIZAÇÃO CRESCE”


César Menha
Boletim A Voz do Olho (AV-O): Ao participar nesta Assembleia, antecedida de um considerável intervalo, já que a última aconteceu em 2005, que impressão tem? Houve abertura para a prestação de contas?
BD (Bungo Dumbo): Dizer que a Assembleia não deu abertura para uma conversa franca e aberta estaria a mentir, porque ali falou-se de tudo um pouco. E, pese embora, termos deixado alguns pontos para o próximo encontro, acredito que foi frutífero o debatido.

AV-O: Teve de se deslocar à província do Huambo por questões de formação, o que o obriga a estar um pouco distante da organização e das suas actividades. Como se sentiu ao reencontrar os colegas?
BD: Sinceramente a emoção é tanta, porque há muito tempo que não participo de um encontro como este, com os meus colegas e amigos associados nesta nossa organização. E sempre que lá estivesse, sentia sempre a saudade deste reencontro, tanto mais que tenho um convite para comemorar o reveillon com os meus amigos no Bocoio, e tive de sair de lá directamente para esta Assembleia.

AV-O: O que espera para 2008?
Espero que tudo corra bem para as pessoas que dão o seu desempenho por “amor à camisola”, não só os membros como também os activistas, como nos é característico.
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João Fernando “John”
AV-O: Acha que valeu a pena a realização da Assembleia?
“John”: Sim, valeu, visto que abordamos aspectos que têm a ver com a Organização, aspectos esses que eu posso admitir que desconhecia. Em suma, foi bom.

AV-O: Quais foram os aspectos que julga necessitarem maior atenção, por exemplo, já no próximo ano?
“John”: Bem, é tentar rever o regulamento em si, visto que é um dos aspectos que ficaram reagendados para o próximo encontro e olhar mais por dentro a Organização.

AV-O: Como se sentiu no reencontro com os membros?
“John”: Senti-me muito bem. De facto, foi um grande encontro.

AV-O: O que espera para 2008?
“John”: Espero mais trabalho, que apareçam mais doadores, mais projectos, que a AJS cresça ainda mais.

AV-O: Em 1999 foi convidado a se juntar à constituição da AJS. Se lhe convidassem hoje a integrar outra Associação, qual seria a resposta?
“John”: (Risos) Não sei. Sinceramente, não sei…
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César Menha (CM), membro, responsável pela Administração e gestão dos fundos da AJS

AV-O: Que avaliação faz desta Assembleia?
CM: Faço um balanço positivo e para mim valeu porque daí poderão sair outras ferramentas para os próximos encontros, onde sairão alicerces para a nova AJS e para o progresso.

AV-O: Para o período 2007 quais foram as questões positivas e que preocupações gostaria de ver resolvidas nos próximos anos?
CM: Questões positivas foram, por exemplo, o contacto com as comunidades, o trabalho com as escolas e parceiros. Para o próximo ano, gostaria de não pararmos no contacto com os parceiros, as escolas, com a comunidade e mobilizar os membros para a sua participação nas acções da Organização.

AV-O: Se lhe voltassem a convidar hoje para integrar outra Associação a nascer, qual seria a sua resposta?
(Pausa) Acho que podia, por um lado, analisar que fim teria essa Organização e, por outro, aceitar. Porque qualquer Organização, desde que seja para o bem da sociedade, é sempre bem-vinda.
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Na Assembleia de 2005, o membro Edmundo Francisco (EF) foi elevado à responsabilidade de Coordenador Executivo da AJS.

AV-O: Como se tem sentido de lá para cá?
EF: Bem, por causa da colaboração que existe entre os membros e também são pessoas amigas, mas também muito apertado por causa da minha agenda pessoal. Mas tem sido possível levar a Organização, digamos, a bom porto.

AV-O: O que dizem os estatutos sobre a periodicidade dos encontros?
EF: Deviam acontecer pelo menos uma vez por ano, ordinariamente. E, extraordinariamente, sempre que necessário. (O interregno registado) é uma fraqueza interna de planificação e de organização de condições, nossa. Nós assumimos.

AV-O: Qual é o estado de saúde da Organização?
EF: Está a crescer e muito bem. Por exemplo, os dois últimos anos foram de muitas acções, de projectos que tiveram um impacto público muito grande, reforçaram a capacidade de intervenção, principalmente nas áreas de comunicação social, educação para saúde preventiva e cidadania. Também fizemos muitas mudanças internas, em termos de administração e gestão interna, bem como na articulação do pessoal recrutado, apesar de os outros membros terem pouco tempo disponível na sua agenda pessoal.

AV-O: A Assembleia correspondeu à expectativa?
EF: Maioritariamente, sim. Inicialmente fizemos uma agenda muito ambiciosa, com muitos pontos e tivemos que priorizar. Ficamos com a apresentação das contas, quer das actividades desenvolvidas desde Setembro de 2005 até finais de 2007, quanto ao dinheiro correspondente aos fundos livres e aos projectos financiados.

AV-O: Qual é o ambiente lá dentro?
EF: Eu sinto que, depois de quase três anos, as pessoas continuam a ter o mesmo espírito de abertura e participação, frontalidade e amizade, seriedade com o trabalho. Quando as pessoas falam, a Organização cresce. Estamos a falar de um grupo, de um movimento de pessoas que envolve interesses principalmente dos cidadãos.
In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 1, Edição N.º 11, Dezembro de 2007
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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (8) | APRENDER-FAZENDO É CHAVE DA AJS NA PROMOÇÃO DO ACESSO À INFORMAÇÃO (*)


Uma breve viagem no tempo leva-nos até Dezembro de 2003, um ano após o fim do conflito armado que durou três décadas. Dia 17, uma quarta-feira algo agitada, e não era para menos. Às 17h00 ia ao ar a edição inaugural do programa Palmas da Paz, a primeira aventura da AJS, através da Rádio Morena, na modalidade de espaço de antena. Contou-se com o financiamento da USAID, através do OTI/CREA.
Excepto o Eduardo Chingole, recrutado especificamente para a produção, os demais eram membros da AJS, que mais não tinham além do inconformismo cidadão e cursos intensivos, portanto nenhuma estrela do jornalismo. Pacificação, cidadania e prevenção de conflitos era a temática. O projecto, em prol da reconciliação, teve igualmente debates e workshops no Lobito, Benguela e Baia Farta.

Em Junho de 2004, tivemos um interregno forçado pelo ciclo do projecto, porque o fim de missão (algo eivada da má gestão) da agência doadora em Angola condicionou a garantia de custear o espaço de antena. Não faltaram no entanto especulações que interpretaram a paragem como fruto do medo ou bloqueio, dado o nível de “aquecimento” de certos debates sobre assuntos sensíveis politica e socialmente. Segundo ditado chinês, “só se atiram pedras a árvores que dão frutos”. Tudo indica que foi o caso.

Em 2006, a AJS adoptou o Boletim Informativo, Educativo e Cultural A Voz do Olho, inicialmente criado por três jovens (dois membros e um amigo) da Organização. Ressurgia também o espaço de debate radiofónico, rebaptizado como “Viver para Vencer”, um pouco por influência do projecto Viver contra a SIDA. O Boletim e o espaço de rádio respondiam ao compromisso da AJS em promover o acesso à informação através do uso dos mass media, enquanto veículos alternativos e gratuitos pela cidadania, saúde pública e cultura.

Seriamos outra vez “tramados” pelo fim do projecto, isso em 2007. Em 2008 nasceu a parceria com a ONG espanhola Médicos do Mundo, que, reconhecendo a relevância da iniciativa, assumiu as despesas com o espaço de antena, um ano depois, sendo que os recursos humanos labutam a título voluntário. Mesma sorte teve o Boletim, embora por enquanto só possa sair à rua de dois em dois meses.

In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 5, nº 2—  Junho, Julho e Agosto de 2010
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (7) | JOVENS DA SANTA CRUZ MUDAM O MUNDO


Desde Junho último, cerca de 15 jovens de ambos os sexos decidiram dar corpo ao seu dever de servir a sociedade com o pouco que podem fazer e com o muito que desejam aprender. De forma voluntária, dedicam-se ao aperfeiçoamento do teatro de intervenção, dando ênfase à promoção da educação cívica e à saúde pública.

Em fase embrionária ainda, o Grupo Teatral da Santa Cruz é constituído por jovens moradores do bairro com o mesmo nome, alguns dos quais mantêm, desde 2004, uma relação de voluntariado com a AJS. As oportunidades de participarem de debates e sessões de capacitação fizeram os jovens adoptar o teatro, não só como expressão de arte, mas também uma estratégia na veiculação de mensagens para atitudes pessoais e sociais construtivas. Pode ser que o grupo consiga singrar, ou, quiçá, dispersar-se, mas o certo mesmo é que marcaram o passo decisivo, o de começar. É mais uma demonstração de que ser cidadãos não é sentar-se e só criticar, mas é, sobretudo, contribuir com ideias e acções para o desenvolvimento da sociedade. É com pequenas mas sucessivas conquistas que se muda o mundo!

Félix Rodrigues “Guy” é apenas um deles que, pela dedicação e interesse, foi convidado a integrar a turma de activistas e actores de teatro radiofónico do programa radiofónico “Viver para Vencer”, emitido através da Rádio Morena, às terças-feiras, pela equipa dos projectos “Viver contra a Sida-3, Cidadania e Saúde Preventiva” e “Palmas da Paz”. No dizer de Guy, um dos dinamizadores, «o sonho deste grupo é de levar a arte aos pontos mais altos de toda a sociedade, de modo a educar e mudar comportamentos negativos que nos atingem, e ser um dos melhores grupos de teatro», revelou.

«A dificuldade que temos com o teatro de rádio é mais o medo de errar, porque sabemos que muita gente vai ouvir e ficamos com esse medo. É questão de tempo», disse. Bem, se no teatro radiofónico já fizeram história, no palco porém é ainda grande a maré por vencer, destacando-se o medo de enfrentar o público e o posicionamento da voz. «O momento mais difícil foi quando o grupo foi convidado a apresentar uma peça alusiva à eleição do “Mister Santa Cruz». A peça apresentada teve como título “Quando os pais não existem”, retratava a delinquência Juvenil. «Houve muita pressão no momento da apresentação, por parte dos organizadores. O cenário criado pelos organizadores não possibilitou a apresentação da peça em condições, pelo que tivemos que encurtar a peça», lembrou o nosso interlocutor.

Curiosamente, foi no mesmo recinto onde o grupo experimentou o momento mais gratificante. «Foi quando o grupo apresentou uma peça no dia 28/10, com o título “O inimigo da Família”. Isto porque foi a primeira vez que apresentamos uma peça comunitária no mesmo bairro, o grupo foi bem recebido pelo público e o mesmo reconheceu que foi um sucesso» confessou.
 In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 1, Edição N.º 9, Outubro de 2007
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (6) | AJS VAI RECRUTAR MAIS MEMBROS (anúncio do ano de 2007)


Fundar uma Organização Não Governamental angolana é apenas um passo e qualquer cidadão consegue fazê-lo se se guiar pela lei das Associações. Agora, sustentá-la no presente contexto de desenvolvimento é que é uma obra. Aliás, não é nada pequeno o número daquelas que se viram convidadas pela adversidade a encerrarem as portas e todo um sonho, depois de incentivadas a surgir pelo contexto de emergência.
Em Dezembro deste ano, a AJS somará sete anos de existência, uma experiência relevante para os seus membros, amigos e, sendo de todo justo aqui considerar, para a sociedade, que constitui o seu ponto de partida e de chegada. Nesta edição trazemos para @ noss@ leito@ o retrato recente da AJS.

No campo dos projectos, o biénio 2006-07 é o melhor da história da AJS, na medida em que permitiu gerir três Projectos autónomos em simultâneo. Trata-se dos projectos “Pesquisa para o Ensino Primário em Benguela”; “Viver Contra a Sida-3, Cidadania e Saúde Preventiva”; e “Palmas da Paz-2, Cidadania e Prevenção de Conflitos”, financiados pela Education Action International, Reino Unido, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e pela Embaixada americana, respectivamente.

Para o Responsável da Organização, Edmundo Francisco, vive-se actualmente um momento determinante para a vida da AJS, chegando a considerar tal experiência como resultado de todo um trabalho de equipa, reflexo da confiança nos valores que norteiam a agremiação, bem como o poder de iniciativa e execução dos seus recursos humanos tem merecido da sociedade. Todavia, considerou, sendo indicador de crescimento implica também que a sociedade vai exigir mais “de nós”.

Para melhor ilustrar o nosso leitor, recordamos que, depois de ter completado no ano 2000 a sua formalização, só no final de 200l é que AJS se habilitou a gerir fundos indirectos – enquanto membro da Coligação “Ensino Gratuito, já!”. Contudo, em 2004, mediante apuramento em concursos públicos, a AJS implementou os projectos “Viver Contra a Sida” e “Palmas da Paz”, financiados pela Oxfam e pela Usaid, respectivamente.

IMPACTO, AMPARO DO PÚBLICO E APRENDIZAGEM CONJUNTA
O amparo do público e parceiros é uma lufada de ar fresco com a qual se vem caminhando ao longo destes sete anos de existência e das mais diversas formas. Um dos sinais muito recentes a indicar são, por exemplo, a receptividade do programa radiofónico “Viver para Vencer” e do Boletim informativo “A Voz do Olho”. “As pessoas, quer singulares quer colectivas, comparecem para debate no estúdio e, quando impedidas, não hesitam em comunicar-nos das razões, um sinal claro de retribuição da consideração”, qualificou. Por outro lado, o retorno do Boletim AV-O tem sido encorajador, sendo que dos leitores da última edição se destaca o Dr. Zeferino António, médico de profissão e Director do Hospital da Catumbela.

Os nossos “produtos” são criados como oportunidades de aprendizagem conjunta, seja entre os membros e/ou pessoas interessadas. É nessa ordem de ideias que o programa radiofónico “Viver para Vencer” e o Boletim AV-O são editados por membros da organização com habilidades e formação, treinando na base da formação/acção” os demais membros. Fica desde já o pedido de desculpas ao público que nos acompanha pela alternância de vozes (Gociante Patissa, Júlio Lofa e Edmundo Francisco) no programa e pelos erros ortográficos no Boletim, resultados do princípio de combater a dependência.

Ao ambiente na sede da AJS há muito se evita dar a “frieza” de um “escritório”, optando por um aspecto de “lar”, onde cada qual está perto do outro. É de todo justo considerar ser graças a isso que a frequência é considerável, não importa a idade, a classe social, o género, etc. Entretanto, na dinâmica do ingresso de mais mão-de-obra, vários amigos da organização sentem dificuldades em se adaptar com tal realidade, sobretudo quando não encontram o pessoal antigo, com o qual estão familiarizados.

ORGANIZAÇÃO INTERNA
A nível interno, nem tudo corre bem. A principal preocupação é mesmo a falta de tempo dos quadros da casa. Os membros da Coordenação Executiva dividem o seu tempo entre a AJS, a Universidade e ocupações profissionais. Uma substituição quase completa traria um novo alento, mas a natureza do serviço é difícil de compreender, numa sociedade em que a principal preocupação para a juventude é ainda a luta pela sobrevivência. “Hoje em dia, é difícil encontrar jovens com espírito voluntário, que dediquem o seu tempo e talentos sem “olhar primeiro para o dinheiro”. 

Enquanto isso, a elevada carga de actividades significa pouco tempo para assembleia de membros. “Felizmente, as relações interpessoais são boas entre os membros”, considerou Edmundo, o que possibilita aproveitar as poucas oportunidades com informação passe em tempo real.

Duas soluções estão em vista, sendo que uma tem a ver com a outra. Está prevista para finais de Julho uma assembleia-geral de membros da AJS, para balancear o biénio do ponto de vista programático e também financeiro. Mais importante ainda, tal sessão aprovará também a proposta de recrutamento de novos membros, tendo em mira alguns talentos do Grupo juvenil de Activistas Voluntários da Santa-Cruz, pelo seu empenho e conduta. Que venham, serão recebidos de braços abertos!

In Boletim “A Voz do Olho” (AV-O), Ano 1, Edição Nº 3, Abril de 2007
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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (5) | PARCERIAS E "ATREVIMENTOS" ELEVARAM NOSSO PERCURSO


1999: Jovens idealizam a associação, sob a divisa “Humildade, Justiça e Solidariedade”.

2000: Completa-se o processo de legalização e afiliação nos ministérios afins. O primeiro reconhecimento veio da Secção Municipal da Educação do Lobito (obrigado, Sr. Lino Passassi!), a seguir veio do Ministério da Juventude e Desportos (valeu, Sr. António Bravo!). A busca pelas parcerias e aliados incluía ONG, associações e pessoas singulares. Em Outubro, a AJS torna-se membro da Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito, que incluía o Instituto Nacional da Criança e apoiada pela Save the Children-UK. No aniversário deste ano, a AJS apresentou-se à comunidade com encontro de balanço, de que participaram o soba, seculos, administração de zona, entidades da comunidade e Defesa Civil. Na reunião de 23/07 completou-se o quadro directivo com os cargos e funções previstos nos estatutos.

2001: Acontece em Fevereiro a 1ª Assembleia geral de membros, com a sede provisória a funcionar nas instalações da ADAMA. A AJS é uma das 40 Organizações da Sociedade civil benguelense seleccionadas para o curso de Liderança Feminina, projecto da ONG italiana CERFE, que se retirou bruscamente da província sem explicação, antes mesmo de honrar os acordos de financiamento de pequenos projectos de USD 3 mil por organização. Por outro lado, a participação de membros da AJS em excursões para palestras pars distribuição de preservativos, material de sensibilização faz surgir o programa “Viver Contra a SIDA”. Em Maio, a AJS realiza a primeira grande actividade recreativa, alusiva ao dia de África, uma oportunidade para se dar a conhecer, com ajuda da Rádio Lobito (Carlos Marques). A Rede promove o 1º Fórum Provincial sobre a Criança de Rua do Lobito, cuja preparação subdividiu as instituições participantes em grupos de trabalho. O grupo da Educação viria projectar a “Coligação Ensino Gratuito, já!”, formada pela ADAMA, AJS, CICA, Okutiuka, CRB, mais uma de Luanda, contando com financiamento da USAID através da World Learning. Receitas arrecadadas neste âmbito e contribuições de membros e amigos da AJS permitiram arrendar a actual sede, no bairro da Santa-Cruz.

2002: A AJS passa a funcionar em sede autónoma, que serve também de sala de formação para seminários, debates e workshops sobre cidadania e saúde preventiva, quer esporádicos, quer enquadrados em linhas de acção de projectos. Oxfam-GB (realiza concurso público, e a AJS convenceu com projecto de USD 2 mil na área de luta contra a SIDA, o primeiro projecto autónomo a par da Coligação. Inicia a relação com grupo de activistas voluntários, de que viriam ser aproveitados dois jovens para membros da AJS. Em Setembro, a AJS via-se envolvida no único processo policial da sua história. Em causa, a queixa de vítima de burla do DJ que tocou na “Noite de Café” alusiva ao “Dia do Herói Nacional”, organizada de forma tripartida. Na ocasião, o representante da AJS, Daniel Patissa, foi ouvido e declarado inocente. No aniversário, são alterados os estatutos, com vista à adequá-los à mudança do contexto, da emergência para o desenvolvimento.

2003: A AJS sucede no concurso público da USAID, através do CREA, com projecto “Palmas da PAZ – cidadania e prevenção de conflitos”, orçado em USD 47 mil, com 6 meses de programa radiofónico de debate e acções de campo. O êxito na implementação motivou o doador a oferecer-nos um computador portátil.

2004: Na assembleia de fim de ano, o Coordenador Executivo sugeriu sua substituição do cargo, com permanência no órgão e continuação do empenho, alegando ter esgotado os cinco anos de mandato, e as condições básicas estarem solidificadas.
2005: É confirmado o membro Edmundo da Costa Francisco, até então Coordenador em exercício, para representante legal da AJS. Através de Manuela Costa, a AJS conhece Susan Dow (consultora australiana), com a qual se idealiza projecto no sector da educação, hoje, “Projecto de Mudança Escolar”, apoiado pela ONG Inglesa Education Action International. Dois membros da AJS e um amigo fundam o Boletim Informativo, Educativo e Cultural “A Voz do Olho”, distribuído grátis em folhas A4 agrafadas, patrocínio de Lázaro Dalas. Foi feito o 1º Plano Estratégico da AJS.

2006: Os parâmetros iniciais do “Projecto de Mudança Escolar” são ajustados e este dá arranque, já não no município do Bocoio, mas do Caimbambo. A AJS sucede no concurso público do Fundo Global através do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Simultaneamente, a AJS sucede no concurso da Embaixada Americana para pequenos fundos, através da World Learning (obrigado, Sra. Fern Teodoro!). Os projectos adoptam o Boletim “A Voz do Olho”, que é legalizado no ministério da Comunicação Social como propriedade da AJS. Renasce também a intervenção através da rádio, com o programa “Viver para Vencer”, conduzido por membros e voluntários da AJS em espécie de aprender-fazendo.

2007: Projecto com PNUD termina, ditando a interrupção do programa radiofónico e do Boletim.

2008: Iniciam os contactos com a ONG espanhola “Médicos do Mundo” (Sra. Concha Fernandes), que manifesta interesse de apoiar o programa de rádio apesar de ter poucos fundos.

2009: Programa radiofónico reinicia com o espaço de antena custeado Médicos do Mundo e o restante recompensado pela AJS.


In «Boletim “A Voz do Olho» (AV-O), Edição Especial—10º Aniversário da AJS, Dezembro de 2009
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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (4) | ESTES FORAM OS PRIMEIROS PASSOS DA ASSOCIAÇÃO JUVENIL PARA A SOLIDARIEDADE (AJS)


Corria a segunda quinzena de Dezembro no distante 1999. O país vivia ainda os efeitos da crise humanitária, resultante do fracasso eleitoral de 1992.  Muita gente vende o que tem e ruma para o exterior do país, mas há uma maioria que nem sequer um dólar por dia consegue ter para sobreviver. Organizações da sociedade civil juntam-se às acções de agências internacionais ao lado do governo. Grupo de estudantes de Ciências Sociais do Centro Pré-Universitário (Puniv) do Lobito não se conforma com a realidade à sua volta, idealiza uma associação que se comprometeria com a integração de marginalizados (pela fome, drogas, etc.).

Concebida a ideia e mobilizados alguns interessados a membro, rabiscou-se o primeiro exemplar de estatutos. Tudo o que se possuía era uma máquina de dactilografar emprestada, pelo que urgia solicitar a ajuda a alguém para informatizar o manuscrito. E foi grande a ajuda da senhora Helena da Costa, que ficou várias vezes sem tempo para almoçar, no seu gabinete da ENE. Saiu um compilado de quatro páginas. Mas as expectativas viriam redundar em frustração, quando o funcionário do notário disse que aquilo estava longe de ser um estatuto. Pelo menos mais quatro rejeições notariais aconteceram, até finalmente arranjar um texto que mais perto estava de responder ao exigido pela Lei das Associações. Isso incluía aumentar o número de subscritores do manifesto, de quatro para 15. A escritura legal sairia finalmente em Junho do ano 2000, quase seis meses após as primeiras tentativas. Mas a verdadeira dificuldade estava ainda por chegar.

A comissão instaladora ganhava cada vez mais noção das suas incapacidades. Para além do inconformismo cidadão e da filantropia, faltava o essencial: o método, as parcerias, um conhecimento sólido técnico-científico das áreas em que queríamos actuar. Tinha-se ido já longe para desistir. As reuniões iniciais ora aconteciam no quarto de um dos membros, ora no recinto da escola Rei Mandume, muitas vezes ao relento por falta de chaves. Alguns membros começavam a desistir, não se vislumbrava para cedo a estabilidade financeira da ONG. Sonhadores, outros continuaram a acreditar, a maioria por sinal. Era desconforto reunir em “qualquer” lugar, pelo que a direcção prometia resolver o problema da falta de escritório, sem saber ao certo como!

Surgiu a ideia de propor à ONG Okutiuka uma tele-estória (pretendia-se convencer a TPA). Inteligente, José Patrocínio notou a fraqueza técnica dos proponentes, mas sugeriu amizade institucional aproveitando a semente do teatro. Na ocasião, ele coordenava a Rede Municipal da Criança de Rua do Lobito.

E foi num seminário sobre elaboração de projectos que se conheceu Bráulio Teixeira, da ADAMA (Associação dos Defensores e Amigos do Ambiente), que apresentou a AJS ao seu líder (e pai), Joaquim Teixeira “Chombé”. Este abriu um espaço na ADAMA, bairro da Caponte, Lobito, para servir de sede provisória da AJS. Ali a AJS ficou até Dezembro de 2001, quando arrendou a sede actual. (Na verdade, a sede na ADAMA era oficial, mas não funcional, o “Estado-maior” foi sempre na Santa-Cruz).
In «Boletim “A Voz do Olho» (AV-O), Edição Especial—10º Aniversário da AJS, Dezembro de 2009
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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (3) | É A REFILAR QUE NOS ENTENDEMOS


No campo das negociações com doadores internacionais, recordo com certa gargalhada uma cena que tem tanto de caricato, como de puxar ao limite a adrenalina, num impasse em que a parte mais vulnerável quase botava tudo a perder, no que poderia pôr em causa a história de realizações da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), logo no começo, quando ela mais precisava para consolidar o palmarés na gestão de orçamentos. Bem-vindo ao terceiro apontamento sobre as curiosidades e memórias da AJS, desta feita para olhar para as virtudes e defeitos na liderança.

De resto, em duas ocasiões, uma delas com contornos políticos, recebi censura pelo “erro” de ter abdicado o poder, responsabilizando-me moralmente pelas consequências negativas imprevisíveis da “sucessão”. Defendo entretanto que em liderança, não basta aptidão e desejo de lá chegar, é preciso haver legitimidade (represento a vontade dos associados?) e responder ao perfil que a função requer.

A primeira “condenação” deu-se no encerramento de uma excursão de dois dias, realizada pela Direcção Provincial da Juventude e Desportos na comuna do Chamumi, município da Baía Farta, no ano de 2004. Fui indicado pelas autoridades para discursar em nome dos excursionistas (cerca de 150). Era notório o ímpeto de manifestar a insatisfação pelos erros crassos de ordem logística.

Militante da cidadania e participação, intrigou-me que partisse das autoridades a escolha de quem falaria em nome das organizações juvenis. Sugeri, então, irmos a votos, sendo o outro candidato o amigo Adérito Tchiuca, que se havia destacado, tanto quanto eu. E recaiu a ele a legitimidade. Este, ao tomar a palavra, dirigiu-se à tribuna de honra em tom e gesto ásperos. A passagem mais regurgitada foi: “Esses mais-velhos estão cansados!”. E teve de ser o Patissa o culpado pela afronta ao Exmo. Senhor Administrador Municipal, por “se armar em maior democrata do mundo”.

Em segundo recebo censura permanente, enquanto fundador, por ter abdicado a liderança da AJS. Vem dos mais variados segmentos da sociedade (membros da organização, comunidade, integrantes de organizações parceiras, entidades governamentais, etc.). Mas quando anunciei o fim de mandato, ao quinto aniversário da organização, expliquei aos membros que se a organização morresse em consequência da minha saída do cargo, então é porque ela nunca chegou a existir. Até porque há uma história de sacrifícios, de ética e de abnegação, para se chegar a consolidar a AJS, e esta história está nas actas, nas correspondências, nos estatutos, nos registos fotográficos e nas pessoas ainda vivas. O motivo tem a ver com o perfil. Tenho eu? É a pergunta que nos devíamos fazer sempre.

O sonho era assumir a liderança durante o processo instalador e, logo que se desse a consolidação, cooptar um membro com perfil mais cordato e diplomata. O ideal eram dois nomes, o irmão Henrique Chissapa e o Edmundo Francisco. Porque conheço as minhas virtudes e o potencial criativo, todavia suplantados pelos meus defeitos. Falta-me tacto, habilidades de negociar, além de ser frontal e com o tubo digestivo estreito demais para dar passagem a sapos. Foi assim que em 2005, a Assembleia de Membros legitimou o sucessor natural e indiscutível, pelo empenho dedicado à organização, pela aprendizagem e etc. Na retaguarda mais directa da Coordenação Executiva destacava-se o César Menha, o eterno Administrador Financeiro e exemplo de assiduidade, lealdade e gestão do património.

Antes disso, no que respeita à vida interna e gestão de tensões, para organizações que nasceram tendo como concreto apenas o inconformismo cidadão, entre os defeitos de liderança aponta-se a vez que me dirigi aos membros por missiva, pedindo um posicionamento claro de cada um face à embrionária ONG. Há um momento na vida em que “mais vale uma minoria activa do que uma maioria passiva”. A carta visava reforçar comprometimento ou facilitar a desistência. Como é natural, não foi bem recebida e em resposta alguns membros anunciaram desvinculação, tendo a reconciliação ocorrido poucos anos mais tarde na sequência de algum trabalho de reparação do dano.

Retomando a situação caricata. Vivíamos dias de elevada expectativa pela chegada de uma delegação do CREA/USAID para discutirmos a proposta de projecto “Palmas da Paz”, que seria o maior orçamento até então, embora dado em géneros, não em dinheiro. Recebemos um jovem americano, alto, ar estudantil. A proposta incluía debates radiofónicos e debates e worskshops comunitários sobre reconciliação, prevenção de conflitos no contexto pós-guerra. E ali residia a discórdia. Defendia o doador, com base na experiência da sua realidade democrática, de mais de duas centenas de anos, que os workshops não tinham impacto. Defendemos que se tratava de realidades incomparáveis e que seriam tais actividades um complemento de reforçar a cidadania, ainda mais tendo em conta o difícil acesso ao ensino superior.

Já no alto do impasse, refilei nos seguintes termos: “É assim. Nós elaboramos projectos nos quais os nossos membros e a comunidade se revejam; não vamos pela beleza dos dólares!” E tão do fundo da alma vinham tais palavras que não as consegui exprimir em inglês. O quadro sénior angolano que fazia de tradutor perguntou ao americano se tinha captado. E realçou palavra por palavra. Instantes depois, deu-se por encerrada a conversa. Levei a mão à cabeça. Tinha mandado cerca de USD 40 mil para o ralo, tão úteis para a Associação, acreditava eu.

Ao sair do armazém feito escritório, ali na “vila” do Bairro Santa Cruz, cidade do Lobito, o ocidental pôs-se a gravar com uma máquina desconhecida até então. Perguntei por que faziam aquilo e a resposta foi hilariante: isto é GPS, estamos a catalogar as coordenadas dos escritórios cujos projectos aprovamos e que vamos financiar. Era um SIM. Até hoje sorrio ao lembrar isso. Dava mesmo para dizer que é a refilar que nos entendemos. Ainda era só isso. Obrigado.

Daniel Gociante Patissa  | Catumbela, 27.11.2017www.angodebates.blogspot.com
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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (2) | E QUEM RECUSOU FOMOS NÓS


Ester Tembo (esq), Patissa, Ana Maria (atrás),
colega cujo nome já não recordo
O ano financeiro das agências doadoras fechava entre Julho e Setembro, pelo que a partir de Outubro começavam a surgir, em cadeia de e-mails, as chamadas para apresentação de propostas de projectos para financiamento. A elaboração/sistematização de projectos, cuja habilidade era adquirida e aprimorada em seminários e workshops, constituía, como lhe considerou alguém, “o sangue das organizações”.

Em finais de 2004, chamados de urgência ao gabinete da brasileira Ana Maria, coordenadora do programa de saúde da CRS (Catholic Relief Services), de origem americana, fomos recomendados a apresentar um projecto de combate à malária, que devesse orçar até USD 20 mil. Era o máximo que o doador chamado OMS (Organização Mundial da Saúde) podia cabimentar, valor no entanto insignificante para a dimensão e prestígio da CRS. A negociação com o delegado da OMS viria a sair-se tensa e mandamos o homem “pastar”. E não deixei de festejar um pouco quando no ano seguinte saiu a notícia do afastamento do homenzinho do cargo. Já vamos voltar a este tema.

A “madrinha” Ana Maria ganhou simpatia/empatia pela nossa ONG ao longo dos três anos em que a AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade) emprestou membros e voluntários para servirem, em regime de voluntariado, na monitoria dos indicadores de qualidade das jornadas de vacinação contra a pólio (na prática, servir de fiscais para assegurar que os vacinadores conservavam devidamente as vacinas e não entornavam a gota ao chão, forjando as estatísticas, vencidos pelo cansaço de tantos quilómetros a pé e desmotivados pelo incentivo da T-shirt, boné, frango, maçã e água).

Os projectos financiados, para além de permitirem a materialização de acções e ideais de desenvolvimento social e comunitário, também permitiam reter quadros, quanto mais não seja porque a grande maioria de cérebros que reforçavam as organizações, não vindo de “famílias herdeiras”, procurava rentabilizar o seu tempo e conhecimentos, tornando a concorrência neste domínio renhida.

Os doadores mais exigentes faziam questão de anexar o formulário que indicava a estrutura a ser seguida à risca. Destaco pelo excesso de formalismos e repetições os modelos da União Europeia e das Nações Unidas/Fundo Global. Outros doadores substituem a minúcia pelo pragmatismo e valorização da aptidão local, conformavam-se com os padrões universais, afinal o conhecimento vinha de entidades ocidentais com base universitária.

Outro problema tinha que ver com o foco de intervenção da maioria das ONG’s nacionais, já que as doadoras, tendo a situação financeira e de sustentabilidade confortável, podiam “dar-se ao luxo” de se especializar em um, senão dois ou três galhos. Já as nacionais tinham de se virar em interpretações mais ou menos vagas da sua missão, de modo a ajustar os eixos de intervenção de um dado projecto consoante a área de intervenção social comunitária programada pelo doador.

Pelo menos até 2010, o panorama da sociedade civil, sob o ponto de vista das ONG’s, podia ser estratificado em três campeonatos: as internacionais (ora doadoras ora implementadoras), as nacionais (ADRA, Omunga) e as de impacto e/ou âmbito local/provincial mais ou menos sobreviventes da escassez de financiamentos (decorrente da passagem do contexto de emergência para o desenvolvimento) e dispersão de membros que tinham verdadeira percepção de voluntariado e não apenas de vínculo de segundo emprego (AJS, Twayovoka, CRB, entre outras).

Como é de imaginar, as redes de contactos, algumas surgidas em coffee-breaks, na praia, em conferências, enfim, por inimagináveis oportunidades de socialização também funcionavam e chegavam a ser determinantes. O contrário seria impossível, até porque é de alianças que se faz também a cidadania. O financiamento da OXfam, por exemplo, em 2004, que respeitou todos os trâmites do processo de candidatura, triagem, e anúncio do resultado, nunca chegaria ao conhecimento da AJS se não se tivesse abordado a jovem holandesa Erica, representante da agência doadora inglesa, num ensolarado domingo de praia na Restinga do Lobito, que deu a conhecer a abertura de concurso um mês depois daquele contacto informal.

Voltando ao debate com o Delegado da OMS. Depois de dar entrada da proposta, recebemos um telefonema para ir defender a proposta. Como líder da equipa, tu não cabes em ti de ansiedade, posto que pelo menos por um ano terás garantido fundo para tirar as ideias do papel para as vidas das comunidades de base, além de ganhar em equipamentos operacionais e gastáveis para o escritório. E tínhamos caprichado na capa da proposta, com uma imagem recortada ao famoso manual “Onde Não Há Médicos”, creio que até as autoridades tradicionais da comunidade participaram no diagnóstico, afinal não se combate a malária sem o envolvimento dos moradores nas acções para a mudança de mentalidades e atitudes.

O senhor deu a entender logo à nossa chegada, pela expressão corporal, que não era bem de dois “miúdos” que esperava. Tinha eu 25 anos na altura, magro como um cigarro. O Edmundo tinha logicamente menos idade e um semblante mais angelical. Sentamo-nos como quem se entrega ao exame oral, cada linha da narrativa da proposta na ponta da língua. Explicamos que havíamos sido recomendados pelo parceiro CRS, o que na verdade ele já sabia, não apenas por estar estampado na proposta mas também pelo telefonema da nossa “madrinha”.

Para o nosso espanto, o homem focou-se na última página, a do orçamento. Como é mesmo o teu nome? Inquiria ele. Respondi pelo sobrenome. O senhor sabe o que são 20 mil dólares?! Olhei para o meu vice, mantive a calma diante da provocação, puxei o meu lado materno e respondi-lhe: Depende. Se olhar só para o orçamento, parece alto. Se considerar a descrição da lógica do projecto como um processo é um valor razoável. O ambiente parecia anormal para aquele sector que pauta por um conceito horizontal de relacionamento.

O homem parecia disposto a nos convencer de sermos imaturos, irresponsáveis e talvez mesmo desonestos. A idade e a posição não nos permitiam devolver pela mesma moeda, pelo que a nossa estratégia seguiu sendo a defesa do projecto de forma elevada. Lembramos a ele o percurso da organização, as acções com outros doadores na luta contra as ITS e VIH/SIDA, o programa de rádio, enfim, que vínhamos de uma Associação Juvenil. A nossa divisa aliás é clara: “Humildade, Justiça e Solidariedade”.

Eis que depois de muitas voltas, o homem diz que iria financiar mediante uma condição. Que devíamos substituir Lobito por Balombo. Isto mesmo, de repente, o projecto que não estava à nossa altura para ser implementado no Lobito, já podia ser feito no Balombo. Respondemos que a proposta resultara de um diagnóstico a uma realidade que conhecíamos, pelo que não nos permitia a consciência uma tal adaptação. Posso estar enganado mas a minha intuição alertou logo para interesses escusos do homenzinho ao deslocar o projecto para uma localidade distante e de difícil acesso/monitoria (?). E quem recusou fomos nós.

Daniel Gociante Patissa (na foto com a enfermeira Ester Tembo, ao lado e a Ana Maria atrás)
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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Curiosidades e memórias da AJS (1)


Num dia como hoje, no ano de 2002, isto há quinze anos, era comprado o primeiro computador da Organização Não Governamental AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), de marca "Infant", adquirido à Lobinet. Fundada em 1999 e depois de ter funcionado provisoriamente nas instalações da Associação dos Defensores e Amigos do Ambientes (ADAMA), a AJS conseguiu arrendar um antigo armazém para servir de escritórios. A montagem do computador na sua sede, situada na a época na rua principal da parte semi-urbana do bairro Santa Cruz, na cidade do Lobito, aconteceu no finalzinho do dia. Já a pensar em projectos envolvendo radiodifusão, fez-se questão de encomendar no acto da compra uma segunda drive gravadora DVD-R. A impressora era uma HP850, para mim a mais eficaz de todos os tempos da marca, tanto que era capaz de imprimir mais de 60 certificados de participação em cartolina em menos de meia-hora. Iniciava uma era que colocava fim ao recurso às máquinas de dactilografia, duas, uma herdada da moageira do Sr. Paulo Cambiete "Podre", no que contou o empurrão do membro Amos Chitungo, outra já velhinha comprada à Lupral juntamente com secretária. Foi neste computador que viriam a ser elaboradas muitas das propostas de projecto espalhadas à avaliação e possível financiamento, entre as quais o primeiro grande financiamento (depois dos 2 mil da Oxfam). A aquisição resultava da poupança no que nos cabia do orçamento da "Coligação Ensino Gratuito, Já!", financiada pela ONG americana World Learning. A coligação era liderada pela Omunga e incluía cinco ONGs de Benguela, nomeadamente O Círculo Rastafari de Benguela (CRB), a (ADAMA) a AJS e o Conselho das Igrejas Cristãs (CICA) e, de Luanda a Associação Estrela da Criança. Conduzia uma campanha de advocacia pela gratuitidade do ensino, que se consubstanciava em reforçar as capacidades dos pais e encarregados de educação e ao mesmo tempo levar acções directas de monitoria contra as cobranças de propinas no ensino de base público. No ano de 2003, chegaria o primeiro até então grande financiamento do CREA (Creative Associates) na condição de sub-recipiente da agência do governo americano USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) , com o qual se pagou o espaço de antena na Rádio Morena para o programa de debates sobre reconciliação e prevenção de conflitos no contexto pós-guerra intitulado "Palmas da Paz". Compreendia ainda workshops e debates no litoral, concretamente nos municípios do Lobito, Benguela e Baía Farta. Ao cabo dos seis meses que durou o projecto, cuja extensão ficou inviabilizada pela extinção da missão do doador em Angola face ao despoletar de uma investigação sobre a teia de corrupção que envolvia funcionários da entidade sub-recipiente americana CREA e responsáveis de algumas ONGs nacionais, a AJS viria a ser premiada, sob orientação da USAID, pelo êxito no alcance das metas do projecto, o que lhe valeu o primeiro computador portátil (um "Toshiba" azul em segunda mão, que era da área de contabilidade da agência financiadora), quando um novo podia custar aproximadamente USD 3 mil. Ainda era só isso. Obrigado.
Daniel Gociante Patissa (na foto, aos 23 anos de idade)

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