segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Trechos da vida real


«Eu lhe liguei mesmo. Falei: ‘mor, marido não é só de boca. Tens que me levar no réveillon. Compra roupa e paga ingresso, quero estar bem bonita ao teu lado. É tarefa do marido. Tens de me levar. Se falta combustível no carro, eu vou meter. Enquanto ainda o tal amor está na parte doce, temos que aproveitar. Deixa-me só viver a minha felicidade. Quando chegar a fase das pancadas, já sei que não vamos dar conta que há passagem de ano'. É verdade, meu irmão, vocês, homens – vai-me desculpar –, não prestam. Você pode dar mesmo tudo, sempre já vai ter pancada na relação. Homem não é raça. O amor é mesmo assim, sempre já vai ter mesmo os dias de pancada. Eu falo mesmo. O amor não presta!» (monólogo de uma senhorita balconista de supermercado de Benguela). www.angodebates.blogspot.com
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domingo, 30 de dezembro de 2018

Resenha | Minha reação ao “Homem Que Plantava Aves”, de Gociante Patissa, por Banny de Castro


| Banny de Castro |

Muito além da criatividade e da crítica humorística subjacente, cá para nós, que vivemos próximos da realidade trazida para esse livro, vale muito a atenção que o Gociante Patissa dedicou não apenas à cultura, mas à própria história da nossa gente. Claro que, por estar composto de textos literários, não se deve imputar ao livro algum carácter técnico-histórico.

Mas a literatura, em diversas circunstâncias, tem tido um papel interventivo muito forte, principalmente no que tange ao despertar fazedores de outras ciências para assuntos que lhes teriam passado despercebidos… Esse livro é interessante porque carrega o poder de instigar e provocar aqueles historiadores preocupados não somente pela cultura, mas também pela história de Benguela e dos Ovimbundu; aliás, já é conhecido o engajamento do autor na investigação da nossa tradição oral, o que de uma ou doutra maneira desemboca no seu interesse pela própria história das nossas gentes.

Por existirem ainda raros escritores a fazerem o que ele faz por Benguela, sem o envolvimento dele nessas questões muita da nossa tradição estaria ameaçada a perder-se sem deixar resquícios de sua existência, e a posteridade estaria impedida do prazer de conhecer esses detalhes importantes do seu passado; graças à essa intervenção, a sorte bate a porta e as pequenas comunidades abrangidas pela pena do Patissa ganham o privilégio de verem a transmissão de suas idiossincrasias para as cidades e para o futuro, o que não é algo de somenos importância para as suas vivências e o seu orgulho.

Para um futuro que se apresenta hostil à tradição oral, esse contributo, de um escritor que regista episódios do passado e do presente de uma comunidade que durante bastante tempo viveu apenas da oralidade, é de extrema importância. Para mim não é o folclore que me interessa, mas fundamentalmente a historicidade desse povo que não teve a sorte de fazer registos escritos do seu passado. Como mais novo que sou, aprendi muito nesse livro. Há textos que me deixaram comovido porque retratam questões intimamente ligadas ao meu passado, como é o caso da mitologia envolvendo o substantivo “Ndumba”, nome de meu avô materno.

Os rituais de saudações, os atambos, os cerimoniais de julgamentos, a “Lenda do Soba Ndumba”, o feminismo e as ousadas políticas de natalidade da Camarada Vice, e mesmo as cenas da guerra pós-independência, representam não somente aspectos mitológicos ou tradicionais da nossa gente, mas também suas crenças, suas esperanças, suas derrotas, suas vitórias, suas descobertas, suas ideias e aspirações, em suma, são sua história; uma história que tem sido feita e contada na escuridão e/ou à sombra de mulembas. Que essa história seja bem-vinda à luz da ciência e das novas tecnologias!

Benguela, 30 de Dezembro de 2018.
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sábado, 29 de dezembro de 2018

VÍDEO| Lançamento livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa

VÍDEO TPA | Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, a edição angolana da mais recente colectânea de contos do escritor angolano Gociante Patissa, que foi lançada nos dias 14 e 15 de Dezembro na província de Benguela, numa reportagem da Televisão Pública de Angola (TPA) 2018. Narração de Angelino Samuel (Angélico Samuel Anjo), imagens de Cardoso Muhongo
(reprodução feita em directo por telefone a partir da página TPA online)

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Comunicado

Aos interessados em ganhar o livro O HOMEM
QUE PLANTAVA AVES, a edição angolana da mais recente colectânea de contos do escritor angolano Gociante Patissa, que foi lançada nos dias 14 e 15 de Dezembro na província de Benguela, os serviços de apoio a sua excelência eu comunicam que o autor (já) não tem exemplares em sua posse, pelo que deverão adquirir a obra (2.500 kz) directamente no quiosque do Movimento Shalom, sito no recinto do Mercado Municipal de Benguela, ou e contactando a editora Acácias (Rua Reverendo Agostinho Pedro Neto, Prédio nº 20, 1º andar - 2.ª porta à esquerda. Contactos: 991123209 / editora.acacias@gmail.com). Mais se informa que em Luanda, a obra está disponível na rede de livrarias Mulemba, também presente na Cada da Juventude em Viana. Ainda era só isso. Obrigado. Continuação de boas festas.
www.angodebates.blogspot.com
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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Justino Handanga e Banda FM animam confraternização de fim de ano na Rádio Benguela

Neste momento estamos a viver o ponto mais
alto da confraternização de fim de ano no jardim da Rádio Benguela. O músico e compositor Justino Handanga, acompanhado pela Banda FM, revisita o repertório que é já desde o ano de 2002 uma prateleira cheia de clássicos da música produzida na região centro e sul de Angola e com forte pendor de crítica social, sem perder de vista a recolha etno-musical. Temas como "ndatekateka", "Paulina", "Abílio", "Olonamba", para só citar alguns, fazem as delícias da assistência, com a transmissão em directo do show na frequência dos 92.9 FM. O palco foi montado num conceito intimista, permitindo deste modo uma interacção sem barreiras com quem entende tirar uma foto ou sussurrar elogios (merecidos, por sinal) ao pé do ouvido do artista que viajou da província do Huambo.  Sua excelencia eu agradece com todas as letras ao director da estação e produtor do evento, Adao Emanuel Filipe, pelo convite. Ao Gilceu, à Lena Sebastião Sebastião e a todo o colectivo, por todo o carinho neste convite que nos chegou na condição de amigo da rádio. A feijoada e o cabrité estiveram no ponto. Ainda era só isso. Obrigado
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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Citação

Olá caro autor [Gociante Patissa.
Foste citado por várias vezes, numa tese de doutoramento de uma personalidade angolana, devido ao teu trabalho literário e de pesquisa cultural.
Senti-me feliz e orgulhosa de ti.
E por ter lido a tua primeira obra " O Consulado do Vazio ".

Força e sucessos.
[Isabel Ferreira, escritora angolana residente na diáspora]
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Citação

"Os autores usam os personagens para falarem de si mesmos" (discurso de personagem do filme Istambul Vermelho. Netflix)
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Citação


"Amigo, por vezes, pode ser um contrário, que parecendo confrontar o outro, visa apenas alertá-lo sobre o cometimento de erros e o trilhar de caminhos sinuosos, na sua acção diária."
(William Tonet, Folha-8, 25.12.2018)
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Citação

"A parte suja, às vezes muito suja, da segurança mundial fica na responsabilidade dos EUA" (Daniel Conh Bendit, Euronews)
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[Oficina literária 52] NA CARRINHA, UM DESERTOR DA VIDA– crónica de José Cumandandi

Terça-feira, 04 de Setembro de 2018, período matinal. Estava eu na parte de frente de um táxi a caminho da Mutamba, saindo das imediações da Muliperfil. Já no Morro da Luz, por razões que dizem respeito ao acaso, direcciono o meu olhar para a outra faixa de rodagem do mesmo sentido ao que transitávamos e vejo três senhoras com semblantes amarfanhados, numa carrinha, em volta de algo que parecia uma pessoa adulta enrolada em panos.
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Livro de contos O HOMEM QUE PLANTAVA AVES (do escritor angolano Gociante Patissa) à venda... EM BENGUELA à venda 2500 kz no quiosque do Movimento Shalom, mercado Municipal de Benguela || EM LUANDA à venda 2500kz nas livrarias MULEMBA. Contacte Editora Ed Acácias​ Acácias, Rua Reverendo Agostinho Pedro Neto, Prédio nº 20, 1º andar - 2.ª porta à esquerda. Contactos: 991123209 / editora.acacias@gmail.com

RESENHA
“Com um conjunto de 14 contos e uma fábula, Gociante Patissa constrói suas histórias explorando um enredo criativo, único. Na história que dá nome à obra O Homem Que Plantava Aves, a ficção constrói-se sobre a história de um povo rural devoto à natureza. A narrativa de Patissa marca-se como uma escrita crítica, que pela construção de um humor fino destila suas críticas contra os paradigmas do homem. Ainda na história, este povo rural citado enrijeceu-se sobre a crença de que as pessoas portadoras de deficiência não podiam ter os seus direitos igualados aos das ditas pessoas sadias; a ficção do escritor irá desenvolver-se no sentido de desconstruir a barreira de preconceitos levantados pela sociedade. Esta acidez singular de Patissa também se mostra na história A Meia-Viagem do Senhor Serviço, na qual a narração denuncia a hipocrisia inerente aos status sociais, através da elaboração do humor. Com isto, astutamente o escritor marca o seu ponto de vista, trazendo ao final dos seus contos a comicidade dos desconexos preconceitos humanos, que quase sempre recaíam sobre a mesma população que os criou e sustentou. Com a característica de um escritor-parodista, Gociante Patissa cria as suas histórias com uma escrita concisa e leve, porém estruturada pelas palavras de um homem que enxerga além da construção social, tão aceita, mas tão necessária de ser repensada…” 

(Caroline Eulália, Brasil, Abril de 2018)


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segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

[Oficina literária 51] A DEGRADAÇÃO – poema de Armando de Sousa

Dou-te o que mais precisas quando te encontras sobre os lençóis dos hospitais
Mas destróis o que demais sou
Quando te firmas com o Machado

As vezes dizes que fazes parte de mim
Enquanto incendeias com ambição o meu chão
Para segregares a Madeira e o Carvão
Outras vezes ainda fazes-me renascer
Quando te reúnes para irrigares os meus estrumes

Meus recursos também são fontes
De beleza nas cidades
E a essência da sua vida
Ainda assim dás cabo da minha flora e fauna

Estou a morrer e é por isso que
Os meus olhos choram
Gravados de angústia desmedida 
Sem uma gota de esperança


SOBRE O AUTOR

Armando Dias de Sousa nasceu em 1991 na província (e município) de Benguela, bairro da Lixeira, actualmente residente no bairro 71. Desde 2010 que se interessa pelo mundo da literatura, apaixonado pela poesia. Um dos primeiros livros lidos o “Consulado do Vazio”, livro que lhe foi ofertado pelo mano Silivondela.
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[Oficina literária 50] O SEGREDO DO MEU SILÊNCIO – poema de Octávio “O Caquissi”


A minha mente é um mar
Onde desaguam pensamentos
E formam-se ondas de conhecimentos
Cada suposição minha é um grão de areia
Quando me ausento de qualquer reflexão,
Passo a viver de mitos das sereias.
           
Na ausência do silêncio,
O meu segredo faz-me verter lágrimas,
Lágrimas que se tornam um mar de angústia
Onde eu navego impacientemente
A fim de matar todo pensamento insolente
Que do silêncio me torna um crente.

O meu silêncio é uma mala
Que pode estar vazia ou cheia
O meu silêncio pode ser respostas
Que me fazem procurar perguntas
nunca feitas,
É refugio para minha aflição
E resultado de uma difícil equação,
O silêncio é o segredo de todos meus segredos.

Octávio “O Caquissi”

SOBRE O AUTOR
Octávio Darwin Domingos Caquissi, nasceu aos 17 de Março de 1996 na província de Benguela, município de Benguela. Reside do bairro Vila das Acácias. Estudante universitário da Universidade Katyavala Bwila, no Instituto Superior de Ciências da Educação de Benguela, na especialidade de Linguística Inglês, frequentando o quarto ano. Também professor de Inglês como segunda língua no Iº ciclo do ensino secundário.
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[Oficina literária 49] VOU DEIXAR MINHA ALMA FALAR – poema de Marta Teixeira Lopes

Hoje enxergo melhor que ontem
Não vou dramatizar
Vou deixar minha alma falar

Vou sincronizar as antenas
Da minha estação
Sentimental
Vou dar a notícia matinal,
Não vou xinguilar,
Vou-me equilibrar.


Vivemos como se tivéssemos
Donos
Nossas vidas são expostas
Como fardos
Estendidos nos cabides das
Praças.

Somos despidos.
Levam nossas esperanças
Os nossos assaltantes
Usam fatos e
Gravatas
Ai de quem reclamar lhe avançam
A verdade dói.

Ai de quem falar demais!
gente grande querendo
Calar a nossa voz
Até parece que nascemos
Para sofrer!
Quem nos vai acudir?!
Temos medo de sucumbir.

Vivemos de esmolas,
Comemos migalhas
O lema é chorar por dentro
E sorrir por fora
Hora bolas…

Estamos a engordar com
Mentiras,
E promessas jamais cumpridas
Clamamos por justiça
Queremos justiça…
Grita o povo sofrido!
Aonde vamos parar?
Vou deixar minha alma falar…
Nem tudo eu vivi

Meus antepassados viveram com
Medo da
Guerra
Da fome
Da miséria
E alguns até morreram.

Meus irmãos
Eram chamados
De refugiados
Procuravam abrigo em cada
Cubico.
A vida era correr com as
Crianças no dorso
E viteles nas cabeça

Falavam sobre esperança
Nos discursos banais
Que sabiam a bálsamos
O terror espalhava-se
O caos aumentava
E perder foi virando rotina

E os gritos de dor!
Ah! esses eram ouvidos
Não dava para ignorar
A miséria assolou
A nossa terra
A dor envelheceu o rosto
Dos jovens e também
O das crianças

Os olhares eram o puro reflexo
Do sofrimento sofrido
Veio a paz, 
Agora vivemos a kitota
Da igualdade
Que maldade!

A história não acabou,
Está escondida no olhar,
Nas cicatrizes,
Na alma e também no
Silêncio
Nem tudo eu vivi,
Mas senti, nas histórias que ouvi.

Marta Teixeira Lopes

SOBRE A AUTORA

Marta Teixeira Lopes, de Nacionalidade Angolana, tem 29 anos de idade, residente em Benguela, município da Catumbela. Licenciada em psicologia da educação, pela universidade Katyava Bwila. Professora, palestrante e formadora de opinião pública.
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domingo, 23 de dezembro de 2018

[Oficina literária 48] ÚTERO DA VIDA – poema de Armando de Sousa

Firma-te sobre um silêncio ignóbil
Quando nos olhos fundamentas com lágrimas

O báratro de um sonho febril
Que amarga o percurso das suas lágrima 

E sob o vazio escuro e azulado
Percorres pelas ruas cantando aos choros
Descalça e com o coração baratinado
Seguras nos braços a fealdade dos destinos

No amanhecer e morrer do dia

Acordas com os olhos grávidos de desespero e dor
Mas Deus a ressuscitará algum dia
Antes… Forjar a alma com fé e amor


SOBRE O AUTOR

Armando Dias de Sousa nasceu em 1991 na província (e município) de Benguela, bairro da Lixeira, actualmente residente no bairro 71. Desde 2010 que se interessa pelo mundo da literatura, apaixonado pela poesia. Um dos primeiros livros lidos o “Consulado do Vazio”, livro que lhe foi ofertado pelo mano Silivondela.
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[Oficina literária 47] ASSIM ACABOU O MUNDO – poema de Nelson Maurício


Quando o fôlego Deus
Coube - Lho tirar - te,
A bradar fiquei ao céu
Inconsolável, qual réu 
Por comigo querer-te
*
Pois, partir sem adeus
Recitar aos entes teus
Machucou o coração.
É a triste sensação
Que não quero aos meus.
*
Turvou - se - me ao redor
O mundo, tudo e todos.
O riso em rio de lágrima
Rumando me sobejou
Pálidas mágoas seculares
*
E, então, à memória minha
Vivenciei Jó, questionando:
Como Deus pode a um anjo
Sem ter os mares velejado
Feliz, encurtar - lhe a sina?
*
Por ora, coube-me o vazio
No proceder de bom amigo
Um ombro me amplificar,
Muito embora quisesse o frio
Péssimo também me acalmar.
*
E, após essa tempestade
Que quase todo tudo levou
E só de ti em mim deixou
Um riso teu de felicidade,
Réplica ainda não achei.
|
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ASSIM ACABOU O MUNDO 
by: Nelson Maurício 
Folgares/Huíla, 16/Out/2018 00:10

SOBRE O AUTOR

Nelson Maurício Francisco, pseudónimo de Nelson Maurício é natural de Capelongo, município de Matala, província da Huíla. Nascido aos 22 de Março de 1992. Filho de Amílcar Francisco (Poeta e Artista Plástico) e de Paulina Ngueve (Padeira). Desde cedo começou a enamorar - se pela arte por meio de desenhos e versos de amor. É co-fundador da escola de dança "Escola de Arte Show de Toques", na comuna de Capelongo; Publicou o caderno do poeta "CANTOS DA MINHA ALMA". Participou na Antologia poética "A GENTE QUE EU CONHEÇO "; É poeta, Declamador, Coreógrafo, Artista Plástico e coordenador do Movimento Lev'Arte/Subsector Capelongo.

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[Oficina literária 46] IMPERFEITO – poema de Inocêncio Cambwe


Sou criatura, criador não
O desejo nunca foi criar dor
Nunca fui amor, mas amador
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos uma...

Perseguido por ser filho do Pai
Condenado por ser um filho da mãe
Bom para uns, mau para outros
"Bon bon" para amigos
Jindungo para inimigos
Faço muita gente sorrir
Mas posso ferir
De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos uma...

Tudo para todos...
Este sou eu
Creio que leste
Ora norte... Ora sul
Sou quente para frios
Frio para quentes
Trago café para branco
Branco que detesta leite
Leite para negro que detesta café

De mim espera-se tudo
e todas as coisas, menos perfeição.

SOBRE O AUTOR


Inocêncio Manuel Sapalo Cambwe nasceu aos 04 de Maio de 1996. Natural da Santa Cruz-Lobito, província de Benguela e de nacionalidade angolana. Responde pelo nome artístico de Inocente Sente. Técnico Médio formado em Educação Primária (Magistério Primário). Jovem declamador e apreciador da arte. Não é especialista em literatura, porém amante da mesma. Gosta de escrever de tudo um pouco, principalmente poemas.
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[Oficina literária 45] PORNO FONIA – poema de Pedro Kamorroto

acolhe-me nos teus braços
que jazem toda nossa a (s) simetria
queria o dobro de 50 tons de cinza
e tu: porno fonia

como é possível degustares do erótico som e tom das palavras?
e renunciares toda nata de prazer do meu corpo esguio?

alimenta a minha libido com as mesmas mãos
que constróis cada sílaba, cada palavra ferida

recorre a todos sortilégios que existem por aí
deixa-me sôfrega e ofegante
não há grandeza que meça a intens(a)idade e a extensiv(a)idade do prazer do meu prazer 

alimenta a minha libido mais uma vez
perco-me em ti tal como te perdes nestas palavras que dizes dominar

palavras estas que são ilusões,
que são o tudo, que são o nada
que fingem não ouvir o gorjear da minha fatalidade
roubadas pela madrugada


Pedro Kamorroto ou talvez Pedrospectivo

SOBRE O AUTOR

Pedro Kamorroto ou Talvez Pedrospectivo é um dos alter-egos de Pedro Nascimento Francisco, eterno viajante, cidadão do mundo, de nacionalidade angolana. Nasceu no vigésimo segundo dia do décimo mês do ano civil 1988. É licenciado em Engenharia de Telecomunicações pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Lanzhou, China, teve também uma passagem curta pela ISCED de Luanda ex unidade orgânica da Universidade Agostinho Neto.
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[Oficina literária 44] ACTA – crónica de Rodino Sapateiro

No passado mês de Novembro, o escritor angolano Gociante Patissa abriu uma oficina literária que visava ajudar a limar potenciais talentos no mundo da escrita. Apesar de ter nascido em Benguela, província onde reside o escritor e mentor do projecto, através do seu blog, a iniciativa foi abraçada e dela participaram não só ‘‘mecânicos’’ da cidade de Ombaka, mas também de outras províncias como Luanda e Huila.

A oficina, a terceira organizada pelo escritor, permitiu limar potenciais talentos revelados através de contos, crónica e poemas, sendo este último o género mais explorado. A oficina, sendo uma oportunidade de capacitação e lapidação de talentos, foi marcada por uma ausência arrepiante de mulheres. Para atraí-las a participar, o coordenador da oficina ofereceu até uma sessão fotográfica gratuita, mas o silêncio tumular ainda assim bramiu alto. Outra ausência que não passou-me despercebida e contrasta com a existência de movimentos literários com expressão na nossa urbe, é a de muitos jovens que se identificam e têm ligação com os referidos movimentos. Entre o medo e a disciplina partidária que proíbe participações em actividades semelhantes fora do seu âmbito, prefiro crer que tenha vencido a primeira hipótese.

Tenho certeza quase absoluta que se Patissa tivesse convocado jovens para uma drena básica, uma chupeta básica, uma farra básica e mais sei lá o quê, a adesão seria quase insuportável por si. Uma revelação clara da consciência pobre e infeliz que temos sobre cultura. Limitamo-nos ao básico. Tudo básico e baixo. Invertemos tudo. Lá se foram os tempos em que aquilo que alimenta o espírito, a imaginação, a inteligência era o fundamento da existência. Hoje é fundamental aquilo alimenta só o corpo. Talvez por isso tenhamos corpos sarados a transpirarem catinga como: «Tenhem, divede, etc». Já não mete vergonha, chegar-se ao nono ano sem saber ler e escrever, sem saber fazer uma redação, sem saber fazer uma interpretação. Já não entristece terminar o ano civil sem ler um único livro. Lá se foi o tempo em que os concursos de poesia e de cultura geral entre os jovens e adolescentes eram realmente cheios de significado.

Agora vocês percebem por que motivo o Patissa, na sua benevolência, tenta ajudar e até oferece um bónus, mas tem uma adesão precisando de mais abraço!? Vocês percebem por que motivo um escritor aqui na banda precisa quase de ir a uma vigília religiosa ou mesmo ir banhar-se nos quimbandas para vender seus livros e cantor de futilidades, alienador de mentes ou organizador de eventos de vagabundagem terem sempre incontáveis discípulos atrás de si?

É preciso resgatar a nossa consciência de conceber a cultura.

Sem outro assunto de momento, encerra a oficina da qual se lavrou a presente acta-crónica que destapou até certo ponto a nossa alergia com as letra e os talentos não tão lentos e que será felizmente assinada por aqueles que dela participaram e infelizmente não assinada pelos que dela não participaram.


Rodino Sapateiro
SOBRE O AUTOR

Rodino Satelo Ngumbe, natural do Lobito. Professor, licenciado pela UKB, faculdade de Ciências da Educação. Exercita-se, há já alguns anos, escrevendo sobretudo crónicas e poemas.
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sábado, 22 de dezembro de 2018

[Oficina literária 43] O AMOR QUE EU AMO – poema de Manuel Mulula

O amor que eu amo, 
Nasce sempre d'um breve sorriso
E sobrevive d'um bom dia obeso. 

Não morre no tempo
Nem foge o vento. 

Sabe-me o sofrimento
Sabe-me o sentimento... 

O amor que eu amo, 
Esconde-me a idade, o bairro, a escola
Enfim, a vida em si. 

É um amor que amo
E não quero que me seja amante. 

Um amor que beijo sem o ter
E me tem sem me ver. 

É um amor do táxi, da escola, do trabalho
Um amor do Se... 

O amor que eu amo, 
É um amor que amo porque amo
E não precisa de me amar. 

Amo-te porque a mim 
Não me amo bastante. 

Amo-te por seres a polissemia 
Nas entrelinhas deste poema. 

Amo-te ainda mais 
porque não sei não te amar
Mesmo que soubesse, 
aprenderia a amar-te a cada instante. 
  
Manuel Mulula

SOBRE O AUTOR

Manuel Francisco Mulula nasceu na comuna de Luremo-Cuango, província da Lunda-Norte, Abril de 1992. Vive no Lobito, província de Benguela, desde os seus sete anos de idade. É estudante do 3° ano no Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED-Benguela) da Universidade Katyavala Bwila, na especialidade de Ensino da Língua Portuguesa. 
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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