Terça-feira, 04 de Setembro de 2018, período matinal. Estava eu na parte de frente de um táxi a caminho da Mutamba, saindo das imediações da Muliperfil. Já no Morro da Luz, por razões que dizem respeito ao acaso, direcciono o meu olhar para a outra faixa de rodagem do mesmo sentido ao que transitávamos e vejo três senhoras com semblantes amarfanhados, numa carrinha, em volta de algo que parecia uma pessoa adulta enrolada em panos.
À velocidade da luz, ficou notório tratar-se de um cadáver a ser levado à morgue do Hospital Josina Machel, realidade que me transportou para um clima de reflexão, permanecendo os olhos fitados na cena infeliz da carrinha que, numa marcha à camaleão, lá ia depositar o ente querido na sua penúltima, gelada, evitada e temida morada.
O cenário me era tão forte que dei em mim num monólogo a nível do pensamento, com afirmações lógicas, do tipo, com certeza, aquela pessoa não sabia que aquele infeliz dia seria a data da sua última respiração; certamente, tinha planos por executar; obviamente, pensava transpor este ano; decerto, se possível fosse, escolheria viver mais; claramente, não faz ideia de que os seus familiares estão mergulhados no alto-mar do pranto; logicamente, do pó veio e a ele, em breve, estará a voltar, tendo como única bagagem o nada, que, de resto, foi esta a nenhuma coisa que trouxe nesta passageira terra.
O meu monólogo sequer terminou e dou pela carrinha a fazer a curva que dá acesso à mais recente casa de passagem do nosso objecto de relato, numa clara e evidente confirmação da minha cogitação. Pronto! Aquele foi mesmo! O jogo terminou para ele. É finda a sua influência directa na vida dos que ainda respiram, já que aquela estrutura física, que agora é baptizada de corpo, cessa o seu vaguear pelas avenidas reservadas aos ainda não desertores da vida.
Morte,
Morte,
Morte! Que mistério és tu, que todos te dão crédito e temem?
Vida, vida, vida! Que sejas usada em prol do bem comum dos que te têm!
Morte e vida: dois lados da mesma moeda!
José Cumandandi
SOBRE O AUTOR
José Cape Carlos Cumandandi, nascido as 16/08/1993, na Província do Huambo, Município de Huambo, de onde saiu, em 2006, com a quarta classe feita, tendo terminado o Ensino primário em Luanda, onde vive até ao presente momento. Fez o Ensino Médio em Ciências da Educação, no IMNE Marista de Luanda, na especialidade de Português. Actualmente, é licenciado em Língua Portuguesa, pelo ISCED-Luanda e lecciona esta mesma disciplina nos Primeiro e Segundo Ciclos do Ensino Secundário.
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário