sábado, 22 de dezembro de 2018

Sobre o I SIMPÓSIO (?) DE CRÍTICA LITERÁRIA, realizado pelo Literagris e a União dos Escritores Angolanos


Começamos com a definição do que é um SIMPÓSIO; do que é uma TERTÚLIA e do que é uma CONFERÊNCIA para, depois, tecermos outras palavras sobre o acto que ocorreu no pretérito sábado, oito de Dezembro de 2018, nas instalações da UEA.


Destarte, ao falarmos de um «simpósio», estamos a falar, primeiramente, de uma reunião técnica ou científica ou, ainda, um congresso realizado para se debater sobre um determinado assunto.

Por seu turno, uma «tertúlia» poderia ser uma assembleia literária. Para o Dicionário Electrônico Houaiss da Língua portuguesa (2007), de entre as variadas significações, uma «conferência» poderia ser, também, uma conversa particular entre duas ou mais pessoas sobre um tema considerado importante.

Com os conceitos acima descodificados por nós, podemos começar a fazer um juízo de valor sobre o que ocorreu no sábado, oito de Dezembro de 2018, na UEA, a partir das 10h:00 (?).

Em primeiro lugar, no referido evento o número de leigos sobre o assunto em causa - crítica literária - era evidente, a maioria era amante da literatura, leitores não coetâneos, estudantes de diversos cursos do ensino secundário e universitário, alguma gente sem pachorra para escutar os outros e alguns jornalistas que têm confundido ou, podemos dizer, não conhecem, ainda, o conceito básico de obra literária ou mesmo a noção do que é um escritor.  

            Sendo a sala magna da união dos escritores angolanos, naquele dia, composta por uma maioria de indivíduos que desconheciam ou que ainda não sabiam, ao certo, o que é a CRÍTICA LITERÁRIA, levar-nos-ia já a dizer que o que ocorreu no sábado, oito de Dezembro - na U.E.A. - foi uma conferência, «conversação entre algumas pessoas, sobre um assunto de interesse commum entre elas», neste caso, a literatura era o «assunto em commum» que levou as pessoas para aquele lugar sediado no Largo das Escolas.

Em segundo lugar, notamos a existência de duas abordagens que, em bom rigor, na nossa opinião, por questões de coerência, não mereciam ser tratadas naquele dia e naquelas horas e naquele evento, pois aquele evento encerrava em si o mote: I SIMPÓSIO DE CRÍTICA LITERÁRIA. A organização e muita boa gente, na véspera,  gabavam-se pelo facto de que seria o primeiro evento dessa natureza realizado em Angola (?). Antes que os leitores deste nosso texto se perguntassem de que temas se trata, dizemos que se trata, em primeira instância, dos assuntos abordados pelo doutor Joaquim Martinho: «POR UMA PERSPECTIVA SOCIO-HISTÓRICA DA LITERATURA ANGOLANA: DIÁLOGOS CONTROVERSOS», e, em segundo plano, aquele que foi dissertado pelo doutor Abreu dos Paxe: «CRÍTICA LITERÁRIA: TERRITÓRIOS SEM LIMITES».

A primeira - na nossa visão - não merecia ser tratada naquele evento porque remete para outros fóruns da cientificidade no campo das literaturas, das humanidades, das ciências sociais e humanas, porquanto estava ligada aos estudos pós-coloniais das literaturas africanas feitos por alguns cientistas da literatura na diáspora, naquele caso, a literatura angolana.

Ora, a segunda abordagem idem, não merecia ser tratada naquele «simpósio de crítica literária», porque estava, em quase tudo, ligada aos estudos culturais. Abreu dos Paxe, segundo o nosso conceber, procurou levar os indivíduos presentes naquela sala a reflectirem sobre o conceito mais profundo de oratura, literatura, provérbio, a questão das línguas nacionais e o modo como se deve fazer um juízo de valor das obras literárias produzidas em Angola, isto é: não tendo em conta somente as teorias literárias, mas, também, a cultura. Enfim, a abordagem não estava muito focada ao tema que apareceu no programa confeccionado pela organização.

Assim, fica patente que apenas quatro das seis abordagens seriam necessárias para que o simpósio ocorresse e que, fosse assim, ter-se-ia mais tempo para o debate que quase não houve, visto que a cada interlocutor era pedido que fosse telegráfico na sua contribuição. Nas mais das vezes, pedia-se que, meramente, se questionasse aos locutores, o que muitos o fizeram.

Todo o mérito é dado aos prelectores pela disponibilidade para partilhar os seus know how com o público amante da literatura e uma meia de escritores, teóricos, estudiosos, transdutores e críticos literários porém, das quatro abordagens que estavam ligadas ao mote que alicerçava aquele evento - só uma, no nosso parecer, foi bem conseguida, neste diapasão, a do doutor Osvaldo Silva: «PRESSUPOSTOS DE UMA CRÍTICA DIALÉTICA». Isto porque ele discorreu sobre o assunto de uma forma serena e com muita base científica e filosófica, fazendo jus a cada uma das palavras que dizia na medida em que tecia a sua comunicação.

Salienta-se ainda que a ausência de muitos escritores, ensaístas e estudiosos tidos como consagrados na instituição literatura angolana, e de entidade(s) que representaria(m) o ministério da cultura (?) no referido evento demonstra alguma falta de vontade política e no seio dos «oleiros da palavra escrita para o deleite, a informação e a formação» quando o assunto é o bem-estar da literatura angolana, exibindo bem uma união dos escritores que demais parece desunida e um ministério que se preocupa mais com concursos de miss, o apoio a «música de gosto comum» e um país em que as «políticas do livro e da leitura» andam apenas estampadas nas folhas de um certo decreto presidencial.

Para tanto, parabéns aos realizadores da iniciativa. Contudo, tendo em conta o número de pessoas leigas na matéria sobre crítica literária que estava presente no evento que aconteceu no sábado, oito de Dezembro de 2018, na união dos escritores angolanos, a quase ausência de um debate técnico sobre a crítica literária e o modo como algumas das abordagens foram feitas, resta-nos afirmar que ainda não ocorreu o amplo simpósio sobre a crítica literária em Angola, mas, sim, que houve, naquele sábado oito, uma boa conferência sobre literatura e crítica literária.

Outrossim, somos de opinião de que se se quiser realizar um verdadeiro simpósio sobre crítica literária em Angola, sendo poucos os praticantes desta área em Angola, bastarão poucas pessoas numa determinada sala, pois o que se precisa é um debate acérrimo sobre este assunto, feito por pessoas que conhecem e fazem ou fariam crítica literária no país e mais alguns convidados, queremos dizer: escritores, representantes do poder Executivo, editores, revisores e transdutores, pois ensina a sabedoria popular que quase sempre a «qualidade não está ligada à quantidade» e o velho Pareto já dizia, na sua lei 80/20, que «em toda a actividade humana, apenas 20% é essencial, porquanto os 20% geram 80% de resultado».

A bem da literatura!
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