quarta-feira, 31 de outubro de 2018

[Oficina literária 1] CARAPINHA COM GINDUNGO – poema de Anjo N'silu


CARAPINHA COM GINDUNGO

Não existem feias em si
Feio é viver almas alheias
E morrer para a sua própria.

Como carne, silicone não
Não se trata de frio ou quente
Só não mudes o teu visual.

Se mudas o teu conceito
Vestes o preconceito
Ser mulher não se imita
Por que te limitas?

A televisão te leva para trás
A tua visão te faz incapaz
De ver as coisas como elas são.

A telenovela acendeu a vela
Há nova febre na favela
O teu juízo deu-se ao óbito
Nem vale a pena ver de novo
Quem te gere não te vê.

Escondes o rosto à base de base
Para seres verdadeira
Nem ainda estás quase
Posso saber por quê?

O medo do ridículo
Apaga a tua essência
Não adianta estudar a beleza
Ela vai além da ciência
É questão de consciência.

Garçom, por favor
Chega ainda mais perto
Não me tragas picanha
Traz uma carapinha
Um pente de madeira
E bastante gindungo!

Anjo N'silu | Retratos

SOBRE O AUTOR
Filho de pai mukongo e mãe kamundongo, Anjo N’silu nasceu no município de Rangel, província de Luanda, se bem que o registo oficial mencione, como local de nascimento, o distrito de Ingombota. É um novo talento da literatura angolana, versado em poesia, prosa, crónica, conto, dramaturgia, abordando temas que traduzem a realidade sociocultural angolana e africana.
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Primeiro ano de presidência de João Lourenço motiva livro


O jornalista e escritor Luís Fernando, há um ano nas vestes de Secretário para os Assuntos de Comunicação Institucional e de Imprensa do Presidente da República, lança no dia 05/11 a obra documental Notícias do Palácio – O primeiro ano de mandato do presidente João Lourenço. A sessão terá lugar no Memorial Dr. António Agostinho Neto, em Luanda, pelas 16H00, com a apresentação do sociólogo e docente Laurindo Vieira.

Notícias do Palácio, de acordo com a nota da Mayamba Editora, é uma compilação inédita de episódios e factos testemunhados. Acrescenta ainda a nota que se trata de “um documento histórico precioso e um relato fidelíssimo do autor-personagem Luís Fernando, escrito com a emoção de quem vive os acontecimentos na primeira pessoa e faz parte da história que acompanha o quotidiano político do Presidente da República de Angola.”

A nota não poupa elogios ao presidente angolano João Lourenço, que dá afinal motivo à obra. “É o homem do momento, que aposta num novo estilo de governação, na transparência, na proximidade e no contacto directo com o eleitorado, nos afectos e em todas as acções que levem ao emergir da percepção de que, no Palácio do poder, quem ali se encontra a gizar e gerir as estratégias dos nossos destinos é uma pessoa como nós, um ser humano sensível aos nossos problemas e por isso vem até nós um homem que não se enclausura numa redoma à prova de contágios plebeus”, lê-se.

Luís Fernando Nasceu na aldeia de Tomessa, província do Uíge, Angola, em 1961. É membro da União dos Escritores Angolanos. Estreou-se em 1999 com o livro Noventa Palavras. Foi quadro gestor da Rádio Nacional de Angola e correspondente em Havana, Cuba. Foi director-geral do Jornal de Angola por 12 anos e do semanário O País por cinco anos, desde a sua fundação em 2008. Foi administrador-executivo do grupo Media Nova

Em 2011, venceu o Prémio Maboque de Jornalismo. Entre as suas obras publicadas encontram-se: A Saúde do Morto; Antes do Quarto; João Kyomba em Nova Iorque; Clandestinos no Paraíso; A Cidade e as Duas órfãs Malditas; Um Ano de Vida; Dois Anos de Vida; Três anos de Vida; Letras na Brasa; Silêncio na Aldeia; Angola: Memórias da Transição Política – De José Eduardo dos Santos a João Lourenço. Em co-autoria com o escritor português Águaboa coordenou a coletânea de crónicas Taras de Luanda.

Gociante Patissa | Benguela, 31.10.2018 | www.angodebates.blogspot.com
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segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Uma fedorenta ponta [poema inédito]


No outro dia pediram-me um poema, para a minha agonia. Apalpei os bolsos e no momento não se achava um só. Podia ter declarado logo insolvência, que os rendimentos ultimamente mal dão para cobrir o básico – a comida, a renda de casa, o transporte – quanto mais restar margem para extravagâncias. Mesmo assim, temendo ser rude, eventualmente, prometi arranjar o maldito poema. Afinal, sou um homem de palavra, ou ao menos tento ser. Sucede que de lá para cá me visto de um turbilhão de indagações quando raia a lucidez. Onde achar um poema nos dias que correm? Em que tempo verbal funcionaria tal coisa? Vivo procurando o poema que prometi. Mas saberei ainda o que é? É coisa de tratar por tu ou por você? Foge-me a memória do último que apertei e me escapou. De que forma ou estrutura? Apetecia de repente um poema vadio, que se insuflasse à velocidade de cruzeiro e te alcançasse, salgada, livre de tecidos, fumasse uma fedorenta ponta em dia de chuva, bebesse sumo de cajú, te desfilasse a língua em riste a auréola, derretesse o forno todo, lambesse aos estalidos as secreções. Mas quanto tempo dura um poema, meu bem? – Pergunta tola, já sei. Não respondas. – Talvez o hiato entre o ardente desejo e o talvez.

Gociante Patissa | Benguela, 2018 https://angodebates.blogspot.com/
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A quem possa interessar | BLOG ANGODEBATES REABRE OFICINA LITERÁRIA PARA TEXTOS DE COLABORADORES


1. Justificação: Se você se dedica à escrita (por gosto, paixão, missão) e gostaria de dar a conhecer parte do que é capaz de fazer, a gestão editorial do Angodebates convida-lhe para um desafio de crescer juntos. Trata-se da colaboração em jeito de oficina para a publicação de textos de autores com ou sem obra no mercado, nos seguintes géneros: crónica, poesia e conto. O blog está com uma audiência semanal acima de 1500 páginas visitadas, sendo os principais países Angola, Portugal, Brasil, Estados Unidos.

2. Requisitos: Os textos deverão ser enviados até ao dia 17 de Dezembro para o e-mail patissagociante@yahoo.com, através do qual o autor receberá do editor (sempre que se justifique) a notificação sobre os arranjos de ordem linguística e de estética literária. Juntamente com a foto de perfil (opcional), cada autor poderá enviar pelo menos até dois textos por semana, não excedendo uma página A4 cada, Times New Roman, tamanho 12. Isso, porque uma das complexidades da blogosfera é não termos perfil exacto da nossa audiência. E certamente ainda mais do que em outros formatos, há o sentido de síntese, que é o recurso mais valioso da era digital. É quase um milagre ficar-se relativamente muito tempo preso à tela por um mesmo assunto. Pronto, é o tal lado mecânico que se tem de associar ao criativo.

3. Histórico: Surgiu com o endereço www.angodebates.blogspot.com o blog Angola Debates & ideias, em Agosto de 2006, denominação influenciada por um programa radiofónico semanal de mesa-redonda e debates sobre o exercício da cidadania e a saúde pública, que o autor realizava e conduzia através da Rádio Morena Comercial sob iniciativa da AJS (Associação Juvenil para a Solidariedade), organização da sociedade civil angolana por si fundada, com sede no Lobito.

4. Ideais: O blog Angodebates, tal como o seu gestor editorial, não serve nem se serve da literatura para alimentar competições em busca de prestígio ou status quo. Acredita é que é pelo esforço na auto-superação e trabalho contínuo que cada um conquista o seu espaço. A divisa ainda é a mesma: "Humildade, Justiça e Solidariedade." Já em termos políticos, o Blog Angodebates coloca Angola acima de qualquer intenção político-partidária, pelo que o seu exercício da cidadania foca na união.
Ainda era só isso. Obrigado.

Gociante Patissa. Benguela, 29 Outubro 2018
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domingo, 28 de outubro de 2018

Gociante Patissa reage à Política Nacional do Livro e da Promoção da Leitura | É PRECISO INCENTIVAR A PRODUÇÃO DE LITERATURA EM LÍNGUAS NACIONAIS


Nota prévia: O depoimento do escritor surge a convite do jornal Folha-8, edição de 27.10.18, que lhe deu um tratamento de síntese por questões de espaço. Segue-se, pois, o conteúdo na íntegra.

É pertinente a medida traçada pelo executivo sobre a criação do fundo para subvenção do livro. Eu não sou perito mas como escritor, tenho andado por alguns países e participado em eventos como a Bienal do Livro de Jerusalém, uma iniciativa presidencial, estivemos na Bienal de Jovens de CPLP, mais recentemente na Festa Literária de Pelourinho no Brasil. O que vamos vendo é isso. Tem que haver um comprometimento institucional para fazer do livro um mecanismo de intercâmbio, naquilo que se fala muito, da diplomacia cultural.

Então, a minha expectativa é que esta política do livro venha também a dar vitalidade à promoção. Porque o que é que acontece? Acontece que alguns escritores angolanos vão tendo oportunidades de visitar eventos internacionais, depois infelizmente Angola não oferece reciprocidade. Ou seja, se por um lado nós agradecemos que outras nações nos ajudem a divulgar o que é nosso, depois vamos ter o impasse de que nós também não fazemos nada por aquelas nações. O que é que vai acontecer? É que o próprio livro, mesmo dentro do espaço da língua portuguesa, não circula. Então, penso que essa política do livro, tanto vai impulsionar a investigação, a produção, mas também uma relação de intercâmbio – não digo tanto de igual para igual, mas pelo menos de Angola que também tenha algo a oferecer.

Por outro lado, espero não estar muito deslocado, mas a outra minha expectativa é que esta política venha a dar incentivo num sector nevrálgico mas que não tem merecido prioridade, que é o da produção de literatura em línguas nacionais. Se houver depois, dentro do fundo, uma componente para bolsas de criação literária e bolsas de pesquisa em línguas nacionais, será muito importante. Porque não se pode falar do ensino das línguas nacionais sem o suporte bibliográfico.

Em termos mais imediatos, o que se quer é que o livro saia desse espectro de objecto repelente, objecto de elite, e consigamos ter tiragens genéricas em certa medida mais confortáveis. Está visto que mil exemplares, que é o nosso padrão de tiragem de livros, para um país com cerca de 25 milhões de habitantes, com províncias algumas delas muito distantes das outras, não é para já uma realidade promissora. Então são muitos os desafios.

Sei que temos uma postura imediata de cepticismo, pois já foram muitas as promessas institucionais que acabaram por não se materializar. Compreenderei o cepticismo dos que olharão para este anúncio do governo como sendo mais uma “boa intenção”, que eventualmente não vingará, mas eu iria pedir – até para legitimarmos a nossa cobrança – é dar um voto de confiança.

Era preciso avaliar o que é que nós já fizemos, que iniciativas boas foram feitas, e o que é que há a depurar. Por exemplo, não entrarei para o mérito da gestão financeira – porque é algo que eu não domino – não é por ali. Nem da transparência nem da lisura. Mas pelo menos há alguns aspectos do [extinto] GRECIMA, na componente do projecto “Ler Angola”, que podiam ser melhorados. Falo como beneficiário. Fui um daqueles do concurso nacional que apurou 11 obras de autores relativamente novos. Tivemos um subsídio financeiro, tivemos uma percentagem das vendas, e o próprio livro custou 500 kwanzas. Tanto é que, pelo que sabemos, os livros esgotaram. Quanto mais barato e mais promovido o livro for, ganharemos todos como país.

Não vale a pena pensarmos que cultura é só o carnaval. Até porque o carnaval, que a meu ver é o que mais dinheiro absorve do Estado, acaba por não ser sustentável. Ou seja, vamos desfilar, no dia seguinte não há mais nada, depois não fica nada registado. O livro poderá ser um suporte para marcar o próprio carnaval para a posteridade, sob o ponto de vista de lhe dar um suporte teórico.

*Escritor. Residente em Benguela | www.angodebates.blogspot.com
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sábado, 27 de outubro de 2018

A Voz do Olho: 06 | POSSO OU NÃO ESCREVER SOBRE O AMOR?


Já em posse do bruto que daria corpo ao meu livro de estreia, o editor deu-me a ler algumas obras literárias, gramáticas e antolo­gias para captar conceitos, forma e espírito de poesia. Intrigou-me um conselho que desaconselhava principiantes a escreverem sobre o amor, de tão explorado que o tema vem sendo por grandes escritores.

Sobre o amor já vivi, também eu, tudo o que me poderia surpre­ender. Já enganei, já fui enganado. Já conquistei, já fui venerado. Já enchi litros de lágrimas, não duvido que tenha causado o mesmo a alguém. Já levei corrida (a que mais me marcou foi a da cunhada de uma miúda de Benguela que conheci, quando aos dezasseis anos trabalhava como fotógrafo numa barraca da praça da Katombela; era bonita, voz grossa, trocamos alguma carícia periférica, até o dia em que me meti no autocarro para ir ter com ela no bairro Alda Lara. Foi correr de verdade e nunca mais olhar atrás, o nome dela é tudo quanto restou. Cheguei a desejar morte à minha algoza — sei que não devia, embora não ignore que amor e morte, efectuada ou prometida, não andam muito distantes uma da outra). Como é claro, também já fui herói. É esta última condição que conta, hoje, nesta crónica em particular, digo.

Certo dia, de bucho devidamente satisfeito, um meu amigo e eu cuidamos de esfregar as mãos com petróleo iluminante (querosene?) para abafar a inconveniência do perfume da lombula (ou lambuda, para aqui aportuguesar a boa sardinha) grelhada, difícil que estava, naquela noite, achar o pedaço de sabão mais próximo. Cumprindo a rotina, fizemo-nos à parada, ao longo da estrada Kalumba-Katom­bela, caprichando no vocabulário para cair na graça de novas rapa­rigas na sanzala ou, no mínimo, consolidar namoricos.

Caminhávamos aleatoriamente pela noite escura, que se fazia mais escura pela ausência, não já da energia eléctrica, mas sobre­tudo de meninas que deviam ter muito trabalho doméstico a seguir ao jantar. Não seria a primeira noite de desencontros, estávamos cientes, bons dias viriam, ou não tivesse a semana sete dias e noites.

Chamou a nossa atenção algo a que chamaríamos de discussão, se passasse de monólogo. «Vou-te sepultar… na sepultura», retinia um tipo que mal conhecíamos. Aproximámo-nos. A diferença de idade entre nós e o trio em certa medida equivalia a uma geração. «Eu vou-te sepultar… na sepultura. Eu sou baiano. Eu sou muito baiano», arrotava.

Mas será que os baianos (naturais da Baía Farta) sepultavam fora de sepulturas? Bem, teria de consultar livros de arqueologia e antropologia mais tarde, o que urgia mesmo era salvar o mano que conhecíamos. Este, na típica ambivalência, tentava uma recaída com a ex-namorada, não que ela não fosse cúmplice, só que, para o seu azar, o rival se antecipara na recolha de informações relevantes sobre si (nome e fenótipo).

A rapariga, impotente, tentava acalmar o namorado mais ou menos chifrudo, que seguia ameaçando, com as mãos ora no bol­so, ora na cintura, dando a entender que trazia armamento sob o casaco. Já o nosso amigo era a mais acabada ilustração de pânico. A sua motorizada andava confiscada pelo agressor. Mas por muito agressivo que o baiano quisesse ser, ele era estranho no bairro, ao qual estava ligado apenas pela namorada. A nossa presença jogava contra si. Foi então que libertou a motorizada. E lá o nosso conhecido saiu connosco da zona de conflito.

Por essa e por outras, posso ou não escrever sobre o amor?

Bairro da Santa Cruz, Lobito, 8 Maio 2013.

Gociante Patissa, Benguela. In «O Apito Que Não Se Ouviu», 2015. Pág. 75-76. União dos Escritores Angolanos. 1.ª Edição. Luanda, Angola. Colecção: «Sete Egos»
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Diário | Tar-ve-ji é isso já, né?


"Boa tarde, tudo bem?"
"Olá, meu chefe. Já dá."
"Começo por aqui ou pego o envelope na sua colega?"

"Pega mesmo nela, pai."
"Ah, está..."
"Tamanho normal, vai am-pi-liar ou sai árbum di-gi-ta-li?"
"Não. Fico pelo tamanho normal mesmo."
"Mas desculpa só. Esse mar aí é no Lobito?"
"Sim. Lobito de noite."
"É por isso. Aqui eu nunca vi um mar assim tipo esse."
"É ali perto do porto. Dá esse efeito com as águas feitas lençol escuro e as luzes do morro como papel de parede..."
"Não!, mas gostei. Por acaso! A foto está mesmo top."
"Obrigado."
"Isso é uma ex-se-ssão, né, meu kota?"
"Sim. Uma sessão fotográfica."
"Te bato pala, chefia. Respeitei a qualidade! O kota é mesmo fotógrafo ou é só de família?"
"Já vivi da fotografia, mas hoje, já não. É uma arte cara em termos de equipamentos e há pouco rendimento..."
"Aí depende só já. Ainda é bom negócio. Os qui-li-en-tes se passam a palavra..."
"Pois. Isso também é verdade..."
"Mas é só que ur-ti-ma-men-te, esses fotógrafos de facebook estão a estragar a profissão. Mesmo a gente aqui no s-tú-dio, às vezes aconselha mas não ouvem. Estão a exagerar lá só muito a enfeitar no computador..."
"Achas isso?"
"Acho, meu kota. Os que dominam a máquina com os que não dominam bem, todo o mundo é só correr para aparecer de fazer marca e se fazer lá fama como melhor fotógrafo. Depois no Facebook o kota já sabe, tudo é só like. A fotografia até já não é a mesma, pessoa fica só uma coisa tipo não é pessoa... Mas eu acharia melhor que a arte não podia deixar de ser simples, tipo assim respeitar um ponto que não se mexe mais na imagem..."
"Mas tudo tem fases..."
"Tar-ve-ji é isso, já, né?"
www.angodebates.blogspot.com | GP | Benguela, 16.10.2018
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Aos meus amigos e outros brasileiros


Caríssimos, sendo o voto um direito soberano dos brasileiros, os efeitos dele no entanto transcendem a fronteira e as cores partidárias. Há que castigar o PT pela má governação, pela corrupção, SIM. Mas, face à abordagem extremista da alternativa, peço-vos, por gentileza, #EleNão.

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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

A Voz do Olho: 05 | JUSTINO HANDANGA, UM POLÍCIA QUE CANTA COM O POVO

Esteve recentemente no Lobito para ser homenageado pela sua trajectória, desta vez por iniciativa de uma entidade privada local vocacionada na promoção de eventos, tributo que se junta deste modo a tantos outros, entre os quais ressalta o Prémio Nacional de Cultura e Artes, que o distinguiu em 2003. É de Justino Handanga que falamos.

Cantor e compositor, despontou em 2013 enquanto integrante do projecto «Vozes do Planalto», cuja divulgação rápida fica a dever-se à pirataria, face ao problema conjuntural da distribuição. Ao lado de Bessa Teixeira, Viñi-Viñi, Katchiungo, Sabino Henda, Jacinto Tchipa, para só citar estes, Handanga afirma-se por uma linha estética que combina a originalidade com um forte sentido de observação e o carisma, tocando a sensibilidade de milhões de falantes da sua língua materna, o Umbundu, e não só. «A minha música é nacional; não sou músico do norte nem do sul», defende Handanga, citado pela Voz da América. As músicas passam mensagens de amor, moral, civismo e resgate dos valores culturais, destaca por outro lado a Angop. É já quase uma lenda.

Povoa no anedotário da província do Huambo uma cena que, se não for verdade, também não está longe de fazer sentido. Conta-se que determinado comandante policial, não se sabe se por birra ou por mera casualidade, teria colocado o agente Handanga em policiamento na via pública a pé, que vulgarmente se diz «polícia do giro». E até dá para imaginar o filme: uniforme a rigor, cassetete à mão, pistola na cintura. Só que a cada metro, vinha um fã envolvê-lo num efusivo abraço. É só por ser o primeiro dia; amanhã já a emoção do público passa, terá pensado já ao conforto do travesseiro.

Na manhã seguinte, a formatura e o «giro». Os abraços suplantam o dia anterior, como se alguém avisasse os fãs do itinerário do agente. Uma euforia daquelas, não faltando quem lhe pedisse para cantar esta ou aquela música. Faz-se tarde. O homem reporta ao superior a «incontinência» em que se tornou a tarefa que, de assegurar a ordem pública, passou a ser a de distribuir abraços aos admiradores. A solução teria vindo meses mais tarde só com a substituição do comandante. E por pouco não perdíamos o homem, asfixiado nos abraços dos seus admiradores, passe algum exagero da nossa parte.  

Mesmo quando o instrumental nos soa algo idêntico ao de um qualquer tema já explorado dele, o que me parece frequente nos temas mais recentes, Justino Handanga supera-se a si próprio na forma como capta a vivência da sua gente, a qual sabe como muito poucos retratar de uma maneira tão instigadora à reflexão social e busca de soluções em prol das camadas desfavorecidas, sem perder de vista a missão de recolector da tradição oral Umbundu. E consegue-o com a mestria do contraste, pois é em ritmo dançante do género «sungura» que a mensagem de intervenção social perpassa até atingir a sensibilidade de cada um, seja decisor, seja pacato observador.

Nascido em Janeiro de 1969 na comuna do Luvemba, do município do Bailundo, na província do Huambo, Justino Handanga iniciou a cantar em 1980 no «pió-pió», programa de actividades extra-escolares da Rádio Nacional de Angola. É autor dos álbuns «Ocipango Catelinsiwa-Alvo Atingido» (2005) e «Homenagem a Valentim Amões» (2011). Quanto ao nome Handanga, na tradição Umbundu é atribuído a quem sucede ao poder real por conta da sua mulher, na falta de descendentes desta para herdar o trono.

Gociante Patissa, Benguela, 5 de Agosto de 2015
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Divagações | Para ouvir, "Olukwembo", de Ndaka Yo Wiñi,


Finalmente tenho em mãos o exemplar autografado de OLUKWEMBO, álbum de estreia do mano NDAKA YO WIÑI, afrojazz e reinvenção da tradição musical Umbundu, recém-lançado, para já uma proposta para a caminhada pela música angolana com alguma consistência e substância cultural. Natural do Lobito, província de Benguela, com vivência nas províncias do Huambo, Cabinda e ultimamente Luanda, onde reside, o músico adoptou para se identificar o icónico nome artístico @Ndaya Yo Wiñi, que na língua Umbundu significa a voz do povo. Ouvi-lo é brindar os ouvidos com momentos de descanso ao entulho em que se tornou a nossa música urbana, que cada vez mais se perde quanto aos pressupostos elementares da música como arte para se encaixar na oca, redundante e obscena lei de mercado do showbiz, tão poderoso no lobby, lançando para a sombra o que ainda restava de legado das décadas anteriores e quem insiste em produzir estética, rítmica e tematicamente para ouvidos mais exigentes. Ndaka, para a nossa sorte e a das gerações vindouras, (ainda) não se rendeu a cantar "mamawé, tou a sofrerié/ me cuias malê", o que faz dele um revolucionário que rema contra a corrente.

Gociante Patissa
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quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Diário | Ao menos prioridade ao viúvo, não?!


"Estão muito ocupados?"
"Bom dia, senhor."
"Ah, desculpa. Bom dia ainda primeiro, né?"
"Vai imprimir fotografia, T-shirt, fliers..."
"Não. Um cartaz. É para resolver a minha vida... Os angolanos são muito lentos, pá..."
"Como assim?! Vai fazer manif na cidade alta ou quê para JLo te ver?"
"Xê!!! Não me arranja problemas com a oposição, ó mais novo! Achas que ela deixaria ir contra o presidente que namora com a esperança de todos?"
"Pronto, desculpa, kota. Estava a brincar. Qual é o conteúdo?"
"Também quero muito isso, e não se preocupe com a rival, sou viúvo..."
"Kota, não é querer me meter no assunto do cliente, mas ainda vou perguntar ao meu patrão se posso escrever esse mambo..."
"Deixa de frescura rapaz! Despacha lá isso, pá. Eu pago. Tenho que apanhar autocarro. Para te facilitar, vou ditar devagar: TA-MBÉM QUE-RO MUI-NTO, E NÃO SE PRE-O-CU-PE COM A RI-VA-L, SOU VI-Ú-VO, ponto."
"Mas isso assim é para quê, kota?"
"Meu puto, é assim. Anda aí uma senhora assim fofinha, cheiinha, tudo no lugar e quê, uma brasileira mesmo bala. Está a falar QUERO SEXO. Dizem que é das Cáritas, aquela ONG que alivia sofrimento dos pobres e dos carentes, estás a ver, né?"
"Acho que Cárita é o nome dela, não tem nada a ver..."
"Será? Conforme vi na TV, a senhora é mente aberta, sem esses fingimentos da mulher angolana, sabes? Anda todas as províncias a anunciar isso. "Quero Sexo, quero sexo". E os angolanos, distraídos, o que é que fazem? Estão só a bater as palmas. A tal raiva que sinto eu?!!! Olha, como só diz "QUERO SEXO", ainda não indicou onde nem com quem, e uma vez que estou viúvo, pensei ainda chegar lá e me declarar. Quando ela aparecer com aqueles papéis, ah porque "QUERO SEXO", eu levanto o cartaz: "Também quero muito isso, e não se preocupe com a rival, sou viúvo..."
"Kota, você me mata, ya? hahahah O kota a essa hora já deve estar com camisinhas no bolso. Coitado. hahaha. Aquilo é arte..."
"E eu é que não sou um livro, ó rapaz!? Ao menos, prioridade ao viúvo, não?!"

www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 17.10.2018
(foto: Universo digital, facebook)
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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Diário | "Não há maka, ya, mano?"

"Boa tarde, senhor. O que deseja?"
"Boa tarde. O vosso liro de prato do dia é posta ou inteiro?"
"É posta."
"Ok. Daqui eu gosto de peixe grelhado, funji e molho de tomate. Têm pargo ou caxuxu?"
"Não sei. Deixo só ainda ir buscar o menu. Mas os peixes estão naquela tableta ali, é só ler."
"Ok. E quanto custa o carapau? No menu só vejo caxuxu?"
"Caxuxu não temos, vai desculpar."
"Ok. Fico com carapau grelhado, molho e funji."
"Ok. Como é que vai querer o peixe? Grelhado, frito ou como? Aqui é feito na hora..."
"Grelhado, se faz favor."
"Ok. O meu colega do balcão diz que fica por 2900."
"Pode ser."
"Desculpa, senhor. Como é que vai querer o peixe? Grelhado, frito?"
"Grelhado, amigo. Já falamos disso."
"É desculpar, meu chefe. A mente já anda cansada com uns problemas lá dentro..."
"Não há maka, ya, mano?"
www.angodebates.blogspot.com | GP | Baía Farta, 16.10.2018
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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Luís Rosa Lopes com novo livro | «Tsháhua Tsháhuilê» é lançado em Novembro

Iniciou a contagem regressiva para o acto solene de lançamento da obra literária intitulada «Tsháhua Tsháhuilê», do escritor Luís Rosa Lopes, agendada para o dia 15 de Novembro, pelas 18 horas, no Centro Cultural Português em Luanda acolhe às 18h de hoje, 15/10, 

O livro, no género prosa, sai sob chancela da Editora Acácias e trata, basicamente, segundo o seu autor, de como se usa e abusa, por vezes, da tradição, sendo que embora a estória se passe nas Lundas, poderia passar-se em qualquer parte do mundo.

Luís Rosa Lopes nasceu em 1954 em Luanda, onde reside, e é da considerada geração de 80, do século 20, aquela que marca a transição entre a poesia militante e o país novo. Publicou, entre outras obras, «Forças da Minha Lavra», em poesia, editada pela União dos Escritores Angolanos (UEA), em 2016, agremiação da qual é membro.

http://angodebates.blogspot.com/ 
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domingo, 14 de outubro de 2018

Crónica | Um bom exemplo profissional do Cinemax Benguela


Na penúltima sexta-feira, aceitei o convite de ir assistir à estreia da comédia americana «A Turma da Noite», sessão das 18h40, no Cinemax de Benguela. Não sou propriamente um consumidor regular de filme por filme, na medida em que a minha cabeça, ou antecipa as cenas, ou presta demasiada atenção aos aspectos técnicos (narrativa e fotografia incluídas), ou então denuncia mensagens sub-reptícias de “ismos”. Dito isto, reconheço, acabo não sendo uma boa companhia para o flutuar na fantasia que a arte cénica exige. Seja como for, merece o meu incentivo o papel que o cinema representa enquanto pretexto de socialização.

Cumprido o ritual da globalização (pipocas e bebidas), entramos na sala, passava ainda a ficha técnica. Não foi nem preciso ocupar o assento para nos darmos conta de como a sala não arejava. O resto é de imaginar. Muita gente e cheiro de gordura num espaço abafado. Manifestei à pessoa que me fazia companhia não suportar o desconforto. Aí abordei o pessoal de serviço e fui direccionado a falar com um jovem, o supervisor.

O supervisor falava ao telefone com alguém que presumi ser o técnico de climatização. Percebi que não se encontrava nas instalações e que demoraria algum tempo a chegar. Quando terminou a chamada, expus a situação da falta de ventilação na sala. Respondeu-me com simpatia e profissionalismo. Justificou com os constantes picos de corrente eléctrica que durante a semana se registavam e que, entendia ele, seriam a causa do disparo de um disjuntor, a sala esteve boa na sessão que antecedeu a nossa.

Ouvi atentamente e perguntei com gentileza qual seria a saída. Ele sugeriu a sessão seguinte, para dar tempo de o técnico chegar, o que para nós não seria viável, pelo avançar da hora, já que no dia seguinte eu iria trabalhar às 6h00. Propôs então passarmos num outro dia, mantendo os bilhetes válidos. E para salvar a noite, convidou-nos a ver um outro filme que estreava, «Venon», por conta da casa, fazendo parte do cabaz dois pares de óculos 3D. O filme não é grande coisa, mas o gesto foi a graça toda.

Na sexta-feira seguinte, anteontem portanto, voltamos ao Cinemax, a ver se o supervisor cumpria a sua palavra. Atendeu-nos com a mesma simpatia e eficiência. É certo que assim acontece em sociedades normais. Porém, conhecendo a relação entre o usuário e o prestador de serviço na maioria dos casos cá, um elogio grande é inevitável. Assim, sim! Ainda era só isso. Obrigado.

Gociante Patissa | Benguela, 14 de Outubro de 2018 | www.angodebates.blogspot.com
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sábado, 13 de outubro de 2018

A Voz do Olho: 04 | O ZÉ DO 28, O INGLÊS E EU NO PORTO (*)


Aleija-me profundamente a mentira: a das mulheres, a dos mestres, a dos mecânicos, a dos políticos, a das crianças. Nunca fui, todavia, o primeiro a atirar pedras.

À chegada do interior, tive a felicidade de morar no morro da Quileva. Tem-se vista avantajada do coração da cidade. Cintura verde, a sul, as salinas, no centro, e o mar, a norte. Se desci o morro, foi somente atrás da máquina burocrática para questões escolares. Para lá dos jardins, uma vez na baixa, a cidade sumia, daí o desejo de logo regressar à prateleira. Por exemplo, disputávamos a titularidade de carros que víamos circularem na linha do horizonte.

Em cidades singulares, as portas todas costumam dar em uma só com alma, o porto. Às marés ou aos caudais, faz-se entrada e saída, ao mesmo tempo, o cais. E é este desfile aparentemente desconexo dos navios que adensa na história do meu Lobito o fio.

Com a greve dos professores, foram três meses de tédio, agora no bairro da Santa Cruz, zona com vista limitada, sem o televisor em casa, que por sua vez somava meses no conserto. Tudo levava a crer que o eletrotécnico não despacharia o trabalho sem a paga, posição quanto a nós injusta, porquanto o dinheiro que lhe faltava a ele faltava-nos a nós também. Estamos em 1995, e a presença, às centenas, de capacetes azúis da ONU e demais agências humanitárias ilustrava bem o quadro de penúria que o país atravessava, resultado do retorno à guerra civil entre as forças guerrilheiras da Unita e o exército governamental, com o fracasso da primeira experiência democrática, tendo como mote a não-aceitação pela oposição dos resultados das eleições de 1992.

Não me ocorrendo a posição do pai, decidimos entre irmãos tirar proveito da ONU. Coube-me a missão de juntar a coragem ao meu arrojado inglês e comercializar, tipo zunga, as estátuas de madeira lá de casa. Arrecadaríamos cinquenta e cinco dólares norte americanos, o equivalente a dois salários de professor. Em vão. O televisor já tinha sido extraviado.

O contacto com os capacetes azúis era fruto proibido em certos quartéis. Recordo quando o Eliseu viu o seu negócio confiscado, digamos que de modo ilícito, pela guarnição do Hotel Términus. Mais conversa, menos conversa, prometeu-se subornar o guarda angolano, penhorando o Bilhete de Identidade. Parvo do guarda, já que ficava sempre mais fácil tratar outra via do documento.

Lá conheci o Zé, mais novo e mais alto do que eu. Até em sua casa, no 28 (Zona Comercial), cheguei a beber água. Causava impressão ver-me, baixote, falar «fluentemente» com os estrangeiros, ganhando esporadicamente desde livros, cassetes, a produtos de higiene. Foi o Zé quem decidiu levar-me ao Porto do Lobito, onde esteve naquele dia um navio britânico da ONU. Atleta de basquetebol na escola da Casa do Pessoal, o Zé passava pelo portão sete como água pela garganta. Como entraria eu?

O Zé instruiu-me a dizer ao polícia que iria ter com o guindasteiro Frederico Carlos, meu «pai». O polícia fitou-me, e autorizou. Ainda melhor, disse para voltar a ter com ele, caso alguém me molestasse. Tinha resultado! Antes de degustarmos as iguarias do navio, observei ao longe o guindasteiro. De facto, tínhamos algumas semelhanças, no tom de pele ligeiramente clara e no semblante aparentemente mentalista, enfim.

Hoje, o Zé é um homem feito, fazendo carreira como professor de educação física em colégios. Um dia desses lembrar-lhe-ei aquela emocionante aventura, todavia reprovável.

Gociante Patissa. In «O Apito Que Não Se Ouviu», 2015. Pág. 60-61. União dos Escritores Angolanos. 1.ª Edição. Luanda, Angola. 2015 Colecção: «Sete Egos»
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Livro de José Nkai promete verdades nunca contadas | «A CÉLEBRE BATALHA DO KUITO KUANAVALE – MEMÓRIAS DE UM GUERRILHEIRO» [grande entrevista em exclusivo]


Está marcada para o dia 09 de Novembro a apresentação ao público de «A Célebre Batalha do Cuito Cuanavale – Memórias de um Soldado», de José Nkai. A cerimónia terá lugar no Museu das Forças Armadas, em Luanda. A obra testemunhal sai pela Tamoda Editora e marca a estreia do então miúdo do Soyo recrutado aos 16 anos pelas FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), exército governamental apoiado pela tropa cubana. A batalha deu-se entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. A data entretanto permanece alvo de contestação. Nesta grande-entrevista em exclusivo ao Blog Angola, Debates e Ideias (Angodebates), José Nkai, em tom descontraído, destapa o véu à obra, que considera ser o primeiro relato de subalternos do último escalão sobre uma batalha “monopolizada” por altas patentes e por vezes por quem por lá não passou. O autor rebateu a polémica do “inimigo de ontem”, UNITA, aliada do regime de apartheid sul-africano, na voz do general Kamalata Numa. Este, num artigo publicado este ano, por ocasião do 23 de Março, qualificou de “ficção” a Batalha do Cuito Cuanavale, crucial para que a Namíbia se tornasse independente.

Blog Angola, Debates e Ideias (Angodebates): Quem é o José Nkai?

José Nkai (JN): José Nkai é um cidadão que naceu no Soyo, provincia do Zaire, homem de certas convicções, acredita no destino, batalhador e empreendedor. Alguns o caracterizam de impulsivo e outros o encaram como homem de virtudes, é amigos dos seus amigos, gosta da verdade e às vezes é muito frontal. Vive em comunhão de mesa com a dona Maria Antonia Garcia e é pai de oito filhos.

Angodebates: Como se deu a sua entrada para as FAPLA? É daqueles que foram rusgados ou se entregou voluntariamente?

JN: A minha entrada às FAPLA foi de forma livre e espontânea depois de estar muito saturado em me esconder das rusgas, apesar de na altura não possuir uma idade apropriada para o serviço militar.

Angodebates: Como é que um adolescente da província do Zaire, município do Soyo, foi parar ao Cuito Cuanavale, província do Kwando Kubango?

JN: Inicialmente nem mesmo eu sei como era gerido o processo de recrutamento, mas com o tempo, fui fazendo a seguinte reflexão em torno do facto: a conclusão que a minha razão encontrou consistia talvez na integração do país. Sabe-se que depois de 11 de Novembro de 1975, o país ficou dividido ideologicamente, sendo que os do mais ao Norte de angola eram considerados como zairenses ou simplesmente os da FNLA; os de Luanda, capital do país, como sendo os mais do MPLA, enquanto os do Sul, da UNITA. Daí, acredito que dentro da estratégia do MPLA e para quebrar tal gelo, fazendo reforço da palavra de ordem que dizia “de Cabinda ao Kunene um só povo uma só nação”, acho que se alinhou ao tal pressuposto. Hoje mais do nunca, vivemos nessa integração sem limites. A prova disso é o meu exemplo: a minha esposa é da província de Benguela. [ri-se]

Angodebates: Quais foram as principais dificuldades no processo de adaptação, de rapaz da vida civil a recruta, e depois na frente de combate?

JN: Olha, a minha adaptação foi rapida, se calhar, por na altura não possuir nenhuma responsabilidade à minha volta, isso porque ainda reinava nos jovens e adolecentes aquela euforia, idependentemente das suas convições politicas na altura, a defesa da Pátria era fundamental. No meu caso, pese embora certas adversidades, no fundo queríamos ver uma Angola livre e em paz.

Angodebates: No livro institucional intitulado «FAPLA – Baluarte da Paz em Angola», José Nkai aparece de canhão morteiro ao ombro. Aquilo foi uma sessão na retaguarda? Em que dia, mês, ano e localidade foi feita a reportagem? Quem foram os jornalistas?

JN: [ri-se] Companheiro, a arma no meu ombro não era Morteiro só para rectificar –. Era, sim, um míssil portátil antiaéreo. Chamava-se «Flecha C2M», possuía capacidade de derrubar qualquer tipo de avião, quer de caça-bombardeiro, quer de carga. Porque em toda a extensão da província do Kwando Kubango, com maior destaque na via que liga cidade de Menongue a Cuito Cuanavale, era recorrentemente fustigada pelos ataques aéreos da parte do exército sul-africano e seus aliados que apoiavam o outro lado beligerante no conflito armado angolano.

Aquilo não se tratava de uma simples sessão de retaguarda conforme a sua pergunta, era mesmo real e, olha, honestamente falado, eu nem sequer me lembro em que momento foram captadas aquelas imagens. Obtive-as numa das exposições fotográficas no Ministério dos Antigos Combatentes, pela parte do Focobacc – Fórum dos Combatentes da Batalha do Cuito Cuanavale.

Quanto à data, se a memória não me atraiçoa, terá sido em finais de 1987. Agora lembro que nesse período havia alguns repórteres de guerra da Televisão Angolana (TPA), que iam em diferentes frentes de combate. O cameraman responsável daquilo (soube mais tarde) chamava-se Carlos Henriques. Nem sei se este senhor ainda vive... Mas se ainda vive, devo honestamente reconhecer a sua coragem em ir fazer reportagens e imagens reais em zonas de hostilidades naquele período.

A OBRA

Angodebates: Qual foi a motivação para escrever este “A Célebre Batalha do Cuito Cuanavale – Memórias de um Soldado”?

JN: A minha maior motivação consiste apenas em disseminar informações daquilo que vivemos naquela parcela como soldados. Isso o povo angolano até então só ouvia versões históricas dos comandantes e daqueles que eram os decisores daquela nefasta guerra, em nenhum momento ecoou uma voz de um soldado, a pergunta que se coloca é a seguinte: será que na referida guerra só existia ou só foi feita pelos Generais? Acho que não, daí surgiu a inspiração em manter em escrito as minhas lembranças... Mas gostaria deixar muito bem claro aqui que a descrição que consta do meu livro, foram todos os cenários que eu vivenciei enquanto militar de 1985 à 1989 naquela região do Cuando Cubango, por falo na primeira pessoa.

Angodebates: Para além do recurso à memória, teve outras fontes para completar o livro?

JN: Não exactamente, excepto quando me estivesse a escapar nome de um colega que seria objecto da minha citação, varias vezes recorri ao Eugénio Samety para me fazer lembrar de um ou do outro. Mas todas as memórias foram colectadas simplesmente por mim.

Angodebates: Tem-se dito que o pior de uma guerra é quando ela termina, na medida em que os seus protagonistas não se conseguem livrar tão facilmente dos traumas e marcas da brutalidade. Esse livro pode ser visto como uma terapia para o José Nkai, uma espécie de exorcismo, ou não sofreu assim tanto enquanto soldado?

JN: Bom, não sei exactamente o que quer dizer com essa afirmação. Mas eu tenho um ponto de vista diferente. Na vida devemos ter princípios de auto-superação, isso é como se alguém que nasce defeituoso ou que a adquire ao longo do tempo, necessariamente procura maneiras de encontrar a melhor forma de sobreviver...

Agora, quanto ao sofrimento... [ri-se] Seria possível alguém estar mergulhado num teatro de operações de guerra estando numa situação entre vida ou morte sem ter nenhuma marca? Nós não devemos ver aquele cenário como se fosse uma peça teatral... Acho que não... A vida militar, mesmo feita em tempos de paz, não deixa de ser mesmo difícil, a começar pela fase de instrução até ao cumprimento de qualquer missão. Só quem já passou nisso consegue sentir. [ri-se]

No meu caso, não se trata de nenhuma terapia nem tão pouco uma espécie de exorcismo nem trauma. [ri-se] Felizmente tenho vindo a superar aos poucos, agora resta saber dos outros, que também lá estiveram, como andam psicologicamente.

Angodebates: Concorda com a leitura segundo a qual muita gente gostaria de escrever memórias mas acaba ficando inibida pelo medo de ser mal interpretada?

JN: Cada um tem o seu ponto de vista a cerca disso e é difícil responder. No meu caso, não acho bem assim. Bem ou mal interpretado, acho que é questão de se ver como exteriorizam os contextos da sua versão histórica. Do meu ponto de vista, deve haver a coragem do contraditório, caso a informação não confira com uma certa verdade, aí sim.

Posso admitir que hoje se calhar muita gente quer escrever, sim, mas não encontra espaços certos por falta de recursos. E as pessoas superavits, em termos de dinheiros em Angola, não estão interessadas em contribuir nisso ou apoiar quem possui determinadas memórias que possam ilustrar certos fenómenos que vivemos em diferentes pontos de angola, quer da parte das FAPLA quer da parte das FALA. Dos poucos que tiveram essa sorte ou foi com a ajuda de pessoas bem próximas, ou dos familiares, ou ainda por instituições internacionais que tinham interesse em determinados aspectos que serviria como seus suportes.

Angodebates: Para estas pessoas, que conselho deixa?

JN: “Água mole em pedra dura, bate, bate, até furar”. Devemos escrever mais sobre esta Batalha. Reconheço que não é fácil encontrar alguém disposto a patrocinar a edição de um livro, mas devemos continuar a bater às portas... Se calhar quando menos esperarmos, podemos ter portas abertas, como foi no meu caso.

Angodebates: Agora, uma pergunta corriqueira: quanto tempo levou para escrever a obra?

JN: Tive a ideia de começar a escrever o livro em 2013 quando terminei a minha formação superior pela faculdade AIEC. Mas depois houve um certo abrandamento da minha parte, se calhar devido a muitos factores externos e da própria conjuntura laboral e comercial. Já em 2016, comecei novamente a rever aos poucos o que ja existia como matéria bruta de forma mais intensa e fui alinhando as ideias. De lá para cá, posso dizer que foram quase dois anos de trabalho aturado, com maior incidência em meados do mês de Novembro de 2017, numa altura que me encontrava bastante abalado em virtude de alguns negócios que havia feito e tive enormes prejuízos. Na verdade fiquei meio frustrado. Daí para afogar as mágoas, procurei refrescar a memória escrevendo. E tenho vindo a reproduzir outras memórias dia após dia. [ri-se]  

Angodebates: Houve patrocínio ou sai com fundos próprios?

JN: [ri-se] Eu preferia não comentar acerca disso, mas vamos partir pelo pressuposto de que o José Nkai, para além de ser funcionário da SonAir, hoje é também um empreendedor. [ri-se] Logo, já pode encontrar resposta nisso, embora haja sempre ajuda de alguns amigos mais chegados. [ri-se]

Angodebates: Sobre o assunto, já outros protagonistas escreveram e debateram. O que é que, na sua perspectiva, o livro vem acrescentar à compreensão do leitor?

JN: Eu acho que os mais atentos têem vindo a acompanhar diferentes relatos isolados quando se avizinha o dia 23 de Março em cada ano e, dos debates até hoje vistos em algumas cadeias televisivos, em Angola, quer a estações de rádios ou mesmo na TPA, em minha opinião tem havido muito pouco espaço para os actores directos dessa Batalha. Ouvem-se mais, até, de pessoas que nem sequer passaram por lá, e isso entristece-me. Eu acho que a abordagem desse assunto devia ser mais inclusiva e mais abrangente para se colherem diferentes pontos de vistas em todo território nacional onde possui rádios ou centros de produção de TVs. Já se passaram quase 30 anos, acho que já é hora de reverter o quatro... Consegues imaginar quantos fazedores desta história se encontram espalhados por essa Angola? Ao invés de limitar o testemunho de alguns Generais, deviam também dar um espaço aos subalternos do último escalão a expressarem-se a respeito, em minha opinião. [ri-se]

Angodebates: A seguir a Luanda, que outros lugares constam do roteiro de lançamentos?

JN: Queremos levar essas memórias em todas as provincias do nosso país (Angola) e quiça em todos os cantos do mundo, não queremos nos limitar apenas em Luanda. [ri-se]

A BATALHA

Angodebates: A Batalha que dá corpo ao livro ocorreu entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988, estando de um lado o exército de Angola FAPLA (apoiado pela tropa cubana) e do outro as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), então movimente rebelde de guerrilha apoiado pela tropa sul-africana. Sabemos que não há consenso sobre os factos históricos, mas já falaremos disso daqui a pouco. Por enquanto queremos ouvir a sua avaliação da relevância e dos ganhos que representou o acontecimento para a história de Angola.

JN: No meu ponto de vista, os ganhos são visíveis e reconhecidos em todos os países que melhor benefício tiraram ou vêm usufruindo com aquela victória das FAPLA no campo de Batalha em 23 de Março de 1988. Foi através desta batalha que o exército angolano passou a ter mais protagonismo na região da SADC e países como a Namíbia e a África-do-Sul saíram do jugo de uma política que lhes frenava. Proporcionou-se na região uma maior liberdade e a Independência, foi ainda através desta batalha que na África-do-Sul conheceram o fim de regime de Apartheid e consequentemente a libertação do Nelson Mandela. Cá entre nós permitiu abertura para um diálogo que culminou com a assinatura dos acordos de paz em 31 de maio de 1991, entre outros ganhos.

Angodebates: Dizíamos há bocado não haver consenso sobre os factos e protagonistas da Batalha do Kwito Kwanavale, com a UNITA e o MPLA desencontrados em alguns pontos. Num artigo publicado pelo Club-K no dia 04.03.2018, por exemplo, o general Abílio Kamalata Numa, proveniente das FALA, acusa que “A dita Batalha do Kuito Kuanavale é uma ficção porque a verdadeira Batalha de 1987/88 foi a Batalha Lomba 87, esta foi uma de entre várias batalhas que se produziram naquele teatro de guerra”. Afinal o que se passou de concreto?

JN: Olha, eu por acaso vi e li sobre essa matéria. Eh, pá! Respeito a opinião do Sr. General Numa. Em minha opinião ele fê-lo como qualquer um o podia ter feito. Aquilo era como manifestar um direito de resposta quando atacado num facto. [ri-se] Vamos só aqui analisar uma questão prática: um confronto ou um jogo, normalmente só termina quando existir um vencido e um vencedor né?... Pois bem, reconheço e vale aqui dizer que a Batalha do Cuito Cuanavale teve os seus vários cenários técnicos e tácticos... Aliás, o meu livro de memórias ilustra muito bem e mostra os seus claros e os escuros que nortearam todos os cenários que éramos envolvidos entre 1985 e 1988.

Ainda acerca disso, importa aqui salientar, quanto aos desaires que as FAPLA tiveram no rio Lomba em duas ocasiões (1985 e 1987), que não representavam um final dos confrontos, atenção! Nessas épocas as FAPLA tiveram os seus momentos menos bons, confesso... E todo o interveniente que também participou dela, pode reforçar esse meu testemunho.

O General Numa quando citava no visado o texto “A derrota das FAPLA e das tropas cubanas na Batalha Lomba 87 foi à derrota da Rússia e Cuba que tinham em Angola a trincheira firme para a expansão do comunismo na parte Austral da África. Na mesma dimensão se situa o Acordo de Bicesse entre o Governo de Angola e a UNITA, que permitiu as primeiras eleições democráticas no país em 1991 para se voltar aos Acordos de Alvor violados pelo MPLA em 1975.” [ri-se] - Muito sinceramente eu não me lembro na altura o exército angolano FAPLA querer expandir o comunismo na Região da SADC através das forças cubanas ou soviéticas na altura, salvo informações que eventualmente possam transcender o meu conhecimento…

Mas o ilustre General, se calhar, esqueceu-se que na tentativa da perseguição que a UNITA (FALA) e os seus aliados pretendiam fazer do Lomba até à pequena vila do Cuito Cuanavale, as FAPLA, para vir-lhes dar o tiro de misericórdia, depois de terem atingido a parte em era considerada pivô daquela marcante ofensiva das FAPLA, com designação «Saudemos o Outubro de 1987», cuja maior vítima foi a 47.ª brigada de Desembarque e Assalto, as FALA e o exército Sul-africano fracassaram no dia 23 de Março de 1988 nas extremidades do Chambinga e do Tumpo, diante da defesa da 25.ª brigada.

Logo, o exército Sul-africano, como era o escudo das forças da UNITA, ao sair daquela batalha de 23 de Março perdedor e em debandada, acrescido de outras acções que foram perpetrados nas localidades do Calueke onde estava concentrado o maior grosso do comando Operacional sul-africana, estes ficaram sem norte e quase sem capacidade combativa de prosseguir com os seus intentos no Cuito e ele, o General Numa, se calhar, deve estar muito bem lembrado disso... Aquilo tinham sido acções combinadas e quase em simultâneo entre defender o Cuito Cuanavale e ripostar com golpes maciço na sua retaguarda, quando eles menos esperavam. [ri-se]

Portanto nessa batalha de 23 de Março, foi onde se deu a grande egemonia e o tríunfo das FAPLA com apoio dos cubanos ao sairem vitoriasos, disso acho que não temos nenhumas dúvidas, até porque os próprios protagonistas sul-africanos, que os apoiavam, hoje reconhecem isso...

Angodebates: É possível haver uma verdade sobre a batalha ou considera normal que nunca se chegue a consensos?

JN: Tem que haver muitos testemunhos à semelhança do que eu fiz no meu livro. Tem que haver muitos a escrever porque se assim não for, ficará difícil.

Angodebates: Acha que o facto de ser militante assumido do seu partido (MPLA) atrapalha o rigor que se impõe na sua faceta de académico ou nem por isso?

JN: Não, de que maneira! [ri-se] Quem ler o meu livro de memórias irá encontrar muita coisa até então não contada. [ri-se] Convido.

Angodebates: «Eu vou, eu vou / morrer em Angola / com arma, com arma / de guerra na mão. Granada, granada / será o meu caixão. / Enterro, enterro, será a minha patrulha.» Você chegou a entoar este canto de marcha?

JN: [ri-se] Muitas vezes e mesmo nos dias de hoje, quando a memória me leva a viajar, canto. Por que não?... [ri-se]

Angodebates: Se a história se repetisse, o José Nkai faria tudo de novo ou eventualmente só metade ou então iria viver para o estrangeiro?

JN: Guerra?! Nãããão... [ri-se] Eu acho que diante disso, emigraria. [ri-se]

Angodebates: Considera-se um herói? Porquê?

JN: Se é assim como se diz, por que não eu admitir que sim?! Até porque já fui condecorado medalha sobre Heroismo na Batalha do Cuito Cuanavale em Abril de 1988, medalhas essas que vieram do Estado de Cuba.

Angodebates: O que é Angola para si?

JN: Um País belo onde todos podem ter espaço para crescer e progredir.

Angodebates: Para terminar, uma provocação. Sabemos que José Nkai é um persistente empreendedor de referência no município do Soyo, província do Zaire, com intervenção na Prestação de Serviços e no apoio ao sector petrolífero, sem pôr de parte a componente de responsabilidade social com causas humanitárias. Qual das experiências considera mais difícil? Ser empresário num país em contexto de crise ou ser jovem na Batalha do Cuito Cuanavale?

JN: As duas coisas, porque a primeira foi um desafio e venci-o. Agora, a segunda variante, devo confessar que está a ser muito dura. Encontro pouco espaço para ajudar os meus compatriotas angolanos, há muito conflito de interesses. Hoje empreender requer muita inteligência competitiva, mas a luta continua, porque desistir... NUNCA!

Dizer também que a minha empresa preocupa-se muito com a componente social e já cobriu os seis municípios que a província do Zaire tem, contribuindo e ajudando comunidades mais carenciadas desde 2009, apesar de princípio ventilar-se de que com aquelas acções pretendia alcançar cargos políticos ou governamentais. Esqueceram-se de que a maioria das victórias que tive na vida advieram de muita gente anónima que hoje nem sequer tenho preço para com eles e a melhor maneira que de retribuir era ir ajudando outras pessoas, à semelhança da sorte que tive destes anónimos. [ri-se]

Muito obrigado.

Gociante Patissa | Benguela, 10 de Outubro de 2018
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