Esteve recentemente no Lobito para ser homenageado pela sua trajectória, desta vez por iniciativa de uma entidade privada local vocacionada na promoção de eventos, tributo que se junta deste modo a tantos outros, entre os quais ressalta o Prémio Nacional de Cultura e Artes, que o distinguiu em 2003. É de Justino Handanga que falamos.
Cantor e compositor, despontou em 2013 enquanto integrante do projecto «Vozes do Planalto», cuja divulgação rápida fica a dever-se à pirataria, face ao problema conjuntural da distribuição. Ao lado de Bessa Teixeira, Viñi-Viñi, Katchiungo, Sabino Henda, Jacinto Tchipa, para só citar estes, Handanga afirma-se por uma linha estética que combina a originalidade com um forte sentido de observação e o carisma, tocando a sensibilidade de milhões de falantes da sua língua materna, o Umbundu, e não só. «A minha música é nacional; não sou músico do norte nem do sul», defende Handanga, citado pela Voz da América. As músicas passam mensagens de amor, moral, civismo e resgate dos valores culturais, destaca por outro lado a Angop. É já quase uma lenda.
Povoa no anedotário da província do Huambo uma cena que, se não for verdade, também não está longe de fazer sentido. Conta-se que determinado comandante policial, não se sabe se por birra ou por mera casualidade, teria colocado o agente Handanga em policiamento na via pública a pé, que vulgarmente se diz «polícia do giro». E até dá para imaginar o filme: uniforme a rigor, cassetete à mão, pistola na cintura. Só que a cada metro, vinha um fã envolvê-lo num efusivo abraço. É só por ser o primeiro dia; amanhã já a emoção do público passa, terá pensado já ao conforto do travesseiro.
Na manhã seguinte, a formatura e o «giro». Os abraços suplantam o dia anterior, como se alguém avisasse os fãs do itinerário do agente. Uma euforia daquelas, não faltando quem lhe pedisse para cantar esta ou aquela música. Faz-se tarde. O homem reporta ao superior a «incontinência» em que se tornou a tarefa que, de assegurar a ordem pública, passou a ser a de distribuir abraços aos admiradores. A solução teria vindo meses mais tarde só com a substituição do comandante. E por pouco não perdíamos o homem, asfixiado nos abraços dos seus admiradores, passe algum exagero da nossa parte.
Mesmo quando o instrumental nos soa algo idêntico ao de um qualquer tema já explorado dele, o que me parece frequente nos temas mais recentes, Justino Handanga supera-se a si próprio na forma como capta a vivência da sua gente, a qual sabe como muito poucos retratar de uma maneira tão instigadora à reflexão social e busca de soluções em prol das camadas desfavorecidas, sem perder de vista a missão de recolector da tradição oral Umbundu. E consegue-o com a mestria do contraste, pois é em ritmo dançante do género «sungura» que a mensagem de intervenção social perpassa até atingir a sensibilidade de cada um, seja decisor, seja pacato observador.
Nascido em Janeiro de 1969 na comuna do Luvemba, do município do Bailundo, na província do Huambo, Justino Handanga iniciou a cantar em 1980 no «pió-pió», programa de actividades extra-escolares da Rádio Nacional de Angola. É autor dos álbuns «Ocipango Catelinsiwa-Alvo Atingido» (2005) e «Homenagem a Valentim Amões» (2011). Quanto ao nome Handanga, na tradição Umbundu é atribuído a quem sucede ao poder real por conta da sua mulher, na falta de descendentes desta para herdar o trono.
Gociante Patissa, Benguela, 5 de Agosto de 2015
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