sábado, 25 de março de 2023

Escritores angolanos Zetho e Patissa celebram com alunos de Cascais em Lisboa

Os poetas Gociante Patissa e Zetho Cunha Gonçalves, membros da União dos Escritores Angolanos (UEA), visitaram a escola Aprendizes, situada em Cascais, cidade de Lisboa, Portugal, nesta quinta-feira, 23 de Março, onde animaram um encontro em torno da sua obra e percurso com estudantes do 10.º ao 12.º anos, uma iniciativa daquele estabelecimento de ensino enquadrada na semana do Dia Mundial da Poesia.

Moderada pela docente e estudiosa de literatura angolana Ana Rocha, a sessão conferiu aos alunos a oportunidade de saberem mais do processo criativo dos autores, cuja obra tem sido objecto de estudo naquela escola, para além de reforçarem noções sobre a importância da literatura e exercitarem a escrita criativa a partir do provérbio.

Alimentaram o recital os livros “Noite Vertical”, que reune a poesia publicada por Zetho Cunha Gonçalves ao longo de quatro décadas, e “Almas de Porcelana”, poemário de Gociante Patissa, publicado em 2014 pela editora NósSomos, no norte de Portugal. A ocasião foi aproveitada para oferecer à biblioteca daquela escola exemplares dos livros “O Homem que Plantava Aves” e “O Apito que não se Ouviu”, de Patissa, bem como da coletânea “100 Poemas para Agostinho Neto”, co-publicada no âmbito do centenário do poeta pelo Memorial Dr. António Agostinho Neto e pela UEA.

Nascido no Huambo em 1960 e radicado em Portugal, Zetho Cunha Gonçalves viveu parte da sua infância no Kwando Kubango. Em 2019 recebeu o Prémio dstangola/Camões. É autor, entre outras, de A Palavra Exuberante; Sortilégios da Terra: Canto de Narração e ExemploRio Sem MargemTerra: Sortilégios.

Gociante Patissa nasceu na comuna do Monte Belo, Bocoio, na província de Benguela, é  jornalista, linguista e integra o conselho editorial da Gazeta Lavra & Oficina. Em 2012 recebeu o Prémio Provincial de Cultura e Artes, pelo contributo na divulgação da língua e cultura umbundu, através do conto e de novas tecnologias de informação e comunicação. Publicou: Consulado do Vazio; A Última Ouvinte; Não Tem Pernas o Tempo; Fátussengola, o Homem do Rádio Que Espalhava Dúvidas; e Almas de Porcelana.

 

 

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quarta-feira, 15 de março de 2023

Poema inédito | COMO ACORDAR BUGANVÍLIAS

Poema inédito | COMO ACORDAR BUGANVÍLIAS

 

[para Ana Paula Tavares]

 

Conhecemos o lume

Pelo estalar da maçaroca

Granizo, lareira e esperança

A outra face recuso 

Clarão, clareira e vingança

Meu lume tem vocação griot

A terra em mim é eterna criança 

 

Em reverso

Cada chão que ficou é lume a hibernar

No pó dos meus pés griot 

Mau grado os caminhos 

Caminhos que correm

Caminhos que nos correm

Como quem nada quer no verso

 

O trilho da maçaroca é gume

Nos calcanhares desnudos da menina

húmido sutiã da dona de casa

dorso torcido da avó

Por capricho sem volta da enxada

caminhos para a casa de xará

 

Nos caminhos por onde passei 

Passai vassoura de palha

Que espalhe brácteas

Sei suar que baste

Para acordar buganvílias

Nas tranças adágio Cabinda

Na cantilena epitáfio de um cisanji 

Fernando Ndondi

"Quem fica saudades tem 

quem vai saudades leva"

 

Gociante Patissa | L. | 15 Março 2023 | www.angodebates.blogspot.com

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quarta-feira, 8 de março de 2023

Poema inédito | QUEM SENÃO O MILHO?


Poema inédito | QUEM SENÃO O MILHO?


As alfaces vistosas que pitam a rua

São as faces que a rua mal pinta

Enquanto isso há que suar para suar

A geometria dos dias

As alfaces e as faces ou a ponte

Entre o menino e a dívida da rua

E quem faz a rua

Senão o ventre?

Quem faz o galo cantar?

Quem, senão o milho?

 

A preguiça da caneta

É fruto maduro

Na pauta

O vazio da cadeira

A exclusão na lareira

É frio no leite

A minha rua

A tua rua

São mulheres 

São mulheres 

com aplausos 

em atraso

Um dia as mulheres pariram 

os homens

Que pariram as ruas

 

E quem faz a rua

Senão o ventre?

Quem faz o galo cantar?

Quem, senão o milho?

 

Gociante Patissa | 08 Março 2022 | www.angodebates.blogspot.com

(Imagem de autor desconhecido)

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sexta-feira, 3 de março de 2023

Poema inédito | A MÚSICA TEM TEMPO

A MÚSICA TEM TEMPO


Nesse dia entrei disparado

Atrás do arco

Cilindrada ao alto

No quintal

miradouro traquinas

Ontem ou amanhã

Anoitecia-me 

Fôlego parco

Atrás do arco

 

Ao pé do mamoeiro

Pregado vivia o pai menor Avindo 

Cantando notas a tiracolo

Cigarra e tudo só ouvindo

O pé que bate o chão batido 

Simétrica dança

O pai assim só dança um pé?

É compasso, papá

Desenganava o moço

Olha que a música tem tempo

Daí em diante 

Só queria ser muito música

Tanto tempo que ela tem.

 

[à memória de Henrique Avindo Manuel (1970-1996)]

 

Gociante Patissa | L. | 03 Março 2023| www.angodebates.blogspot.com

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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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