quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Benguela choca pelo não uso de máscaras

Em pouco menos de dez horas de estadia em Benguela, o choque é inevitável dado o desleixo individual e colectivo flagrante na via pública. Praticamente ninguém (mais) usa máscara, já nem falarei da ausência de frasquinhos de álcool ou solução em gel, da saudação aos punhos e cotovelos recomendados. Bombas de combustível, farmácia, supermercado, via pública, tudo igual ao litro.

Não sei o que é pior, se as incertezas crónicas ligadas às políticas mundiais de resposta à Covid ou se os cidadãos corajosos que dispensam a prevenção, marimbando-se para a regras de contenção da propagação da pandemia, seja pela narrativa negacionista, seja pelo discurso triunfalista de ter já tomado as doses completas da vacina.

Eu cá faço parte dos que escolheram ficar do lado da prudência, na consciência de se tratar de uma "bolha" como opção - e disso não há que ter vergonha - no sentido de contribuir até onde me for possível fazer a diferença. Do lado oposto há os corajosos, os decididos, que dispensam o uso de máscaras ou distanciamento, pena é que estes corajosos também não se limitam ao restrito espaço dos seus lares. Só que estes corajosos acabam expondo os demais cidadãos, o que acaba por ser no final das contas uma liberdade em contramão, uma imposição da insensatez. Estamos fartos desse já velho novo normal? Estamos, sim. Mas neglienciar nem por isso compensa. Inicia amanhã um novo ciclo de regressão, para não dizer endurecimento, no plano legal, das medidas de prevenção da Covid-19, na esteira do Decreto anunciado esta noite, no dia em que as estatísticas superaram os quatro dígitos, mais de mil e 100 casos.

À parte os profissionais de saúde e defesa, que têm de enfrentar na primeira linha o mal, bravo mesmo seriam aqueles que duvidam da existência da doença, se recusam a usar a formas de prevenção e como tal... não saem de suas moradias, não expõem ninguém ao risco de contágio. Aí, sim, a cara lavada faria sentido!

Votos de festas felizes e cuidemo-nos!

Gociante Patissa, 23 Dezembro | www.angodebates.blogspot.com |
(Imagem ilustrativa do site Luxemburger Wort)

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domingo, 5 de dezembro de 2021

Crónica | Quanto custa denunciar o corrupto à IGAE?

É com esta indagação de retórica que me dou ao luxo de iniciar esta reflexão solta e cidadã. Vem a propósito das recorrentes reportagens com flagrantes de detenção de fiscais, polícias e demais servidores públicos a partir de denúncias do cidadão via terminal 119, da IGAE (Inspecção Geral da Administração do Estado).

 
A série de enredos é longa. No trânsito, no ramo imobiliário, no comércio, na justiça. Tão omnipresente como a extorsão e o oportunismo, males que a sociocultura mwangolê há bwé que os amparou: "gasosa", "cabritismo", "mixa", "saldo", etc.

 
Com a agenda do executivo do presidente João Lourenço, voltada para o combate à corrupção e para a consequente moralização da sociedade, cresceu em mediatização a pauta. Só que sempre que se desnovela, senão sempre pelo menos na maioria das vezes, a trama envolve valores acima da metade do salário mínimo da função pública. Podemos afirmar que as vítimas denunciariam na mesma à IGAE caso o suborno fosse confortável ao bolso?

 
É necessário começar de algum lado, mas pode ser ilusório tomar tais flagrantes por indicadores satisfatórios de viragem para a almejada sociedade mais ética e patriota. Um combate à corrupção que se foque mais no corrupto do que na excessiva burocratização pode fracassar. É a complexidade dos processos que fomenta atalhos. Soma-se a isso outro fenómeno, o da elegibilidade. Subscrevo que o próximo combate terá de ser contra a incompetência.


Eu ainda hoje me vejo obrigado a corromper, não me orgulho em nada mas também não abraço a ingenuidade. E como só posso falar por mim, partilho alguns factores. Em 2014 adquiri o terceiro carro da minha vida. Até à data em que me desfiz do ligeiro, sete anos depois, continuei a carimbar verbete, nunca vi a cor do livrete. No mesmo ano, deixaria por esquecimento a carteira de documentos e cartões bancários num supermercado, aonde regressei volvidos dez minutos. Sugeri então que compulsassem o fluxo para aferir se o ladrão identificado estava cadastrado via cartão da loja. Tinha de ser o Serviço de Investigação Criminal (SIC) a fazê-lo.

 
No SIC fui bem atendido. O investigador que me foi "cedido" é que não pôde grande coisa. Aceder ao vídeo de CCTV sem autorização escrita da Procuradoria Geral da República (PGR)? Passados três dias, na PGR o processo ainda não tinha número, era para ir passando, crimes sem preso envolvido não são prioritários. Moral: desisti da queixa. Ainda hoje me viro com o verbete da carta de condução. A renovação do BI foi graças à amiga de um amigo.

 
Noutro dia fui interpelado na Maianga. O senhor viu o que fez? O que foi, senhor agente? Não sabe que neste cruzamento não se vira à esquerda? Mas não vi lá nenhum sinal, nem horizontal nem vertical. Mas o senhor está a ver mais algum condutor a praticar a mesma transgressão? E lá o homenzinho puxou do seu bloco de multas. Pedi-lhe que atenuasse. Mas atenuar como?!

 
Perante a minha insistência, o regulador de trânsito me impinge o cardápio de um snack-bar, diz que tem fome. O que podes fazer por nós? Era sexta-feira à noitinha, fim-de-semana prolongado. Até terça-feira nada garantia que não fosse extraviar os meus documentos. Que alternativas? Ocorreu-me lubrificar-lhe a mão com dois mil Kwanzas. Por azar, tinha nota de cinco mil. Aí diz ele: como estás a dar de coração, podes seguir; gostei da tua humildade, ya?

 
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Luanda, 05 Dezembro 2021

(Imagem do Jornal de Angola)

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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Memória vegetal


Memória vegetal, o fogo, o afago. Todo o amar, abunde mar ou lago, foi antes de mais um bago, aquele bago no peito semeado por sabe-se lá quem, talvez um mago, todavia bem gago🤓 (GociantePatissa). Bom dia e boa semana, minha gente✅

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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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