Meu amor!
Não direi teu nome.
Importa-me apenas, saber que sabes, que tu és tu; ou seja, o único amor que
decidi amar. São 17 horas, um frio miudinho esfrega as paredes das ruas, lá
fora aonde os homens se matam à caça de dinheiro. E eu aqui esfregando os dedos
sobre os teclados, na ânsia de te dizer as palavras, que gostaria de cuspir ao
teu ouvido, e fazê-las deslizar pelas escadas da tua alma, até ao bunker do teu
coração, lá onde somos tu e eu como nas nossas horas de amor, no nosso
maravilhoso Tombwa. Aaaaahhhhh, como eu gostaria, de tocar tua pele de seda, só
mais uma vez, refugiar-me em ti, fugir do eco das manifestações no Brasil,
ignorar as greves dos professores em Portugal, na Espanha, na Turquia,
cavalgando sobre teu corpo, o templo dos meus mais ledos enganos. Esquecer a
profusão de ideologias que despessoalizam os humanos, para dizer-te apenas, que
cada segundo que vivi ao teu lado, ensinou-me a aprender aprender. Bem gostava
de escrever-te uma carta à moda antiga; mas receei que te não viesse a alcançar.
Uma carta que dissesse desta dor que é fingir que te odeio, pra responder com
desdém ao desprezo com que me tens de brindar, à convénio de vozes muito além
das tuas vontades. Os lençóis brancos que me ofertaste, mantenho-os bem no
fundo da minha cama, pena é que não pude fazer com que guardassem para sempre
teu cheiro e as marcas autografadas dos nossos corpos, escrevendo o livro da
nossa história. Sei que esta carta soará á loucura. Mas os poetas já nasceram
loucos, e quando te conheci naquela noite em casa da membra Dicy, por via do
incondicional membro Coragem, senti uma alegria infantil…a certeza de que
certas vezes, o céu desce até cá em baixo para lembrar aos humanos que qualquer
um de nós pode voar, se encontrar as asas certas. Estava pesquisar sobre
direito constitucional, ao som de Joe Cocker. Lá fora a temperatura oscila
entre os 20 e 19 graus centígrados. Mesmo assim tenho o aparelho de AC ligado,
talvez seja para trazer para dentro da casa vazia a temperatura fria das nossas
horas Namibenses. Olho para os quadros na parede, ocupando os espaços que
teriam teu rosto me sorrindo promessas, abrindo felicidades escondidas por
detrás de palavras cor de mel…qual delas a mais nua, qual delas a mais
crua…porque eu te amo sem medo…te amo sem vergonha…te amo sem parar de te amar,
nesses dias em que as declarações de amor ganharam o rótulo do ridículo, e cada
um prefere asfixiar dentro de si, sentimentos tão nobres, quando o ódio passa
toda hora na televisão, na forma como os ficais escorraçam zungueiras a sorrir,
e a polícia mata o cidadão ao qual é descontado o IRT para pagar o salário do
polícia. Eu te amo, e estou gritando para todo mundo ouvir…não estou a espera
que escrevas de volta. Bastam as salivas de deixaste em minha boca rota de te
conclamar, bastam tuas marcas de suor, tatuadas em minhas
almofadas…aquelas…lembraste? As boxas que me ofertastes, a azul-clara, a azul
às riscas, estão velhinhas, velhinhas como a mágoa de perder-te nas distâncias
das falácias e proibições. As boxas que me ofertaste, são as únicas que uso. Me
fazem sentir a tua proximidade. Me fazem sentir que em algum lugar, em alguma
hora eu fui amado como sempre quis. Na aparelhagem de som, alternei a música.
Troquei o Joe Cocker pela Paula Fernandes, e enquanto teclo esta carta, imagino
que a voz húmida dela, és tu que respondes à este desalento, à este “conclAMOR”
desta imensa dor de só te perder. Ah, como eu queria viajar para bem dentro de
ti, esquecer o barulho das guerras cá fora, e viajar para bem dentro de ti. Por
alguns minutos deixar de ser eu, e ser apenas você & Eu na unidade do
espírito que fez daquele 10 de março a página mais linda do livro da nossa
história que nas lágrimas da despedida ficou por escrever. Meu amor, onde quer
que estejas, com quem quer que estejas, saibas que ninguém, mas ninguém mesmo
ocupou nem ocupará a trincheira que deixaste aberta na Tróia do meu coração. Eu
recuso-me terminantemente a amar de novo sem seres tu.
Te vloglio bene,
amore mio!
Niente fara
scordare di te
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Maravilha!
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