terça-feira, 25 de junho de 2013

"À Minha amada…" (crónica romântica de Fridolim Kamolakamwe com olho atento ao social)

Meu amor!
Não direi teu nome. Importa-me apenas, saber que sabes, que tu és tu; ou seja, o único amor que decidi amar. São 17 horas, um frio miudinho esfrega as paredes das ruas, lá fora aonde os homens se matam à caça de dinheiro. E eu aqui esfregando os dedos sobre os teclados, na ânsia de te dizer as palavras, que gostaria de cuspir ao teu ouvido, e fazê-las deslizar pelas escadas da tua alma, até ao bunker do teu coração, lá onde somos tu e eu como nas nossas horas de amor, no nosso maravilhoso Tombwa. Aaaaahhhhh, como eu gostaria, de tocar tua pele de seda, só mais uma vez, refugiar-me em ti, fugir do eco das manifestações no Brasil, ignorar as greves dos professores em Portugal, na Espanha, na Turquia, cavalgando sobre teu corpo, o templo dos meus mais ledos enganos. Esquecer a profusão de ideologias que despessoalizam os humanos, para dizer-te apenas, que cada segundo que vivi ao teu lado, ensinou-me a aprender aprender. Bem gostava de escrever-te uma carta à moda antiga; mas receei que te não viesse a alcançar. Uma carta que dissesse desta dor que é fingir que te odeio, pra responder com desdém ao desprezo com que me tens de brindar, à convénio de vozes muito além das tuas vontades. Os lençóis brancos que me ofertaste, mantenho-os bem no fundo da minha cama, pena é que não pude fazer com que guardassem para sempre teu cheiro e as marcas autografadas dos nossos corpos, escrevendo o livro da nossa história. Sei que esta carta soará á loucura. Mas os poetas já nasceram loucos, e quando te conheci naquela noite em casa da membra Dicy, por via do incondicional membro Coragem, senti uma alegria infantil…a certeza de que certas vezes, o céu desce até cá em baixo para lembrar aos humanos que qualquer um de nós pode voar, se encontrar as asas certas. Estava pesquisar sobre direito constitucional, ao som de Joe Cocker. Lá fora a temperatura oscila entre os 20 e 19 graus centígrados. Mesmo assim tenho o aparelho de AC ligado, talvez seja para trazer para dentro da casa vazia a temperatura fria das nossas horas Namibenses. Olho para os quadros na parede, ocupando os espaços que teriam teu rosto me sorrindo promessas, abrindo felicidades escondidas por detrás de palavras cor de mel…qual delas a mais nua, qual delas a mais crua…porque eu te amo sem medo…te amo sem vergonha…te amo sem parar de te amar, nesses dias em que as declarações de amor ganharam o rótulo do ridículo, e cada um prefere asfixiar dentro de si, sentimentos tão nobres, quando o ódio passa toda hora na televisão, na forma como os ficais escorraçam zungueiras a sorrir, e a polícia mata o cidadão ao qual é descontado o IRT para pagar o salário do polícia. Eu te amo, e estou gritando para todo mundo ouvir…não estou a espera que escrevas de volta. Bastam as salivas de deixaste em minha boca rota de te conclamar, bastam tuas marcas de suor, tatuadas em minhas almofadas…aquelas…lembraste? As boxas que me ofertastes, a azul-clara, a azul às riscas, estão velhinhas, velhinhas como a mágoa de perder-te nas distâncias das falácias e proibições. As boxas que me ofertaste, são as únicas que uso. Me fazem sentir a tua proximidade. Me fazem sentir que em algum lugar, em alguma hora eu fui amado como sempre quis. Na aparelhagem de som, alternei a música. Troquei o Joe Cocker pela Paula Fernandes, e enquanto teclo esta carta, imagino que a voz húmida dela, és tu que respondes à este desalento, à este “conclAMOR” desta imensa dor de só te perder. Ah, como eu queria viajar para bem dentro de ti, esquecer o barulho das guerras cá fora, e viajar para bem dentro de ti. Por alguns minutos deixar de ser eu, e ser apenas você & Eu na unidade do espírito que fez daquele 10 de março a página mais linda do livro da nossa história que nas lágrimas da despedida ficou por escrever. Meu amor, onde quer que estejas, com quem quer que estejas, saibas que ninguém, mas ninguém mesmo ocupou nem ocupará a trincheira que deixaste aberta na Tróia do meu coração. Eu recuso-me terminantemente a amar de novo sem seres tu. 

Te vloglio bene, amore mio!
Niente fara scordare di te
Share:

1 Deixe o seu comentário:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas