Se
bem me lembro da versão contada certa vez pelo professor de epistemologia no
curso de sociologia em uma universidade cá de Benguela que acabei não
concluindo, a sereia (ou menina do mar) nasceu dos pescadores. Até aqui, parece
não haver novidade na descoberta, tendo em conta que, pela natureza da sua actividade,
só podem estar ligados a tudo o que seja ao mar relacionado. Contudo, a coisa vai
muito além do simples pescar. A sereia é uma infinita narrativa de amor entre
homem e mulher, vista numa dimensão de transcendência.
Antes
de avançar, permitam-me partilhar uma dúvida. Haverá em Umbundu vocábulo para
sereia, como seria “kianda” na língua Kimbundu? Justificará a existência da
palavra “kianda” o senso-comum segundo o qual a essência do território de
Luanda é o mar, ao contrário da também dita “Nação Ovimbundu”, cuja capital era
o planalto centro? É consabido que o Umbundu e o Kimbundu são de inevitável
diálogo intercultural, ou não tivessem ambas a raiz Bantu.
Retornando
à lenda, dizia que o mito da sereia simbolizava a transcendência do amor entre
homem e mulher e a noção dialéctica de felicidade no lar. Talvez por lhes ser difícil
perceber como pode um pescador, que tem por habilidade primária saber nadar,
morrer por afogamento e ainda por cima o corpo não ser encontrado. A explicação
que encontravam era recorrente: o homem foi conquistado pela menina do mar, que
tem por hábito não devolver maridos alheios.
O
retrato dessa figura que é certamente imaginária, apesar do dogma que retira do
questionável qualquer relato sobre o conhecimento ou experiência dos mais-velhos,
não escapa aos estereótipos de beleza e atracção feminina. Ou seja, é uma
mulher acima de perfeita, muito carinhosa, um manancial de relações humanas. Resumindo,
é o oposto do que os homens não encontram de bom em suas esposas, ou do mal que
julgam haver nestas.
O que a lenda não diz é se esse casal híbrido pode, ou não, ter filhos, e se, podendo, os rebentos nascem com a barbatana do lado da mãe, ou pernas mesmo, como o pai. A pergunta de retórica seria a seguinte: e se as mulheres procurassem um menino do mar também? Bem, até onde se sabe, a sereia é sempre solteira, além de que não é expectável que mulheres tomem comando de detalhes mais complexos da actividade de pesca, como seria ir jogar a rede ou desembaraçá-la no fundo do mar.
O que a lenda não diz é se esse casal híbrido pode, ou não, ter filhos, e se, podendo, os rebentos nascem com a barbatana do lado da mãe, ou pernas mesmo, como o pai. A pergunta de retórica seria a seguinte: e se as mulheres procurassem um menino do mar também? Bem, até onde se sabe, a sereia é sempre solteira, além de que não é expectável que mulheres tomem comando de detalhes mais complexos da actividade de pesca, como seria ir jogar a rede ou desembaraçá-la no fundo do mar.
Nesta
ordem de ideias, as esposas dos pescadores conviviam com o risco inerente à
actividade dos maridos, não tanto pela sinuosidade das marés ou ventos, mas pela
promissora felicidade de enamorar uma menina do mar e nunca mais o regresso à
terra.
O
da foto é o primo meu mergulhador que penso levar a tribunal brevemente por me ter
prometido uma sereia há quase um mês, sem se dignar em trazê-la já para a casa.
Bem, se você se interessar por uma sereia, é bom lembrar que o texto é apenas uma
versão.
Gociante Patissa, Restinga do Lobito, 27 Junho 2013
2 Deixe o seu comentário:
Sensacional, Patissa.
Um abraço.:)
Valeu, querida Lita. Um bom dia para si e família
Enviar um comentário