quinta-feira, 31 de março de 2016

Diário | Afinali?...

"Meu kota, esse livro é mbora da igreja?"
"Não." 
"Waaah"
"É literatura."
"Afinali?..."
"Sim. É uma novela."
"Hahahah. Afinal também há livro de novela?"
GP, Malanje, 2013
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EM PLENA AVALIAÇÃO ORAL NUMA AULA DO CURSO DE DIREITO (de certa Universidade em Benguela há poucos anos):

Professor: “Qual é o papel de um juiz?”
Estudante: “Condenar, professor! O papel do juiz é condenar!”
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terça-feira, 29 de março de 2016

A QUEM POSSA INTERESSAR: "Gostaria que convidasse escritores angolanos que escrevam com qualidade para colaborarem"

Fui contactado há dias por uma interessante revista cultural inter-comunitária, mensalmente editada na Europa, no sentido de retomar a minha colaboração, que se ficou o ano passado por dois textos. É um projecto editorial que visa a integração de artigos do espaço de língua portuguesa e por vezes também acolhe textos em espanhol. Para aqueles que estão na escrita como missão, a colaboração, ainda que não remunerada monetariamente, pode ser uma oportunidade de conquistar leitores fora "da zona de conforto". Para mais informações, estou no patissagociante@yahoo.com
Era só isso. Obrigado.
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segunda-feira, 28 de março de 2016

Citação

“A literatura é quase sempre uma perspectiva diferenciada de se olhar uma mesma sociedade maculada pela oficialidade dos factos. Os textos literários não são – ou não devem ser – para consumo imediato. Parece-me que esta é uma divergência entre a literatura comparada e os estudos culturais. Mesmo que não queiramos admitir, a literatura é um produto elitista: não é qualquer um que o consome ou compreende. E essa ideia exclusivista do produto literário coloca-o numa prateleira diferenciada e a apreciação exige outros requisitos de consumo e compreensão. O que é literário não é sensacionalista a favor ou a desfavor. É literário e pronto. As abordagens, perspectivas, referências e outros, como podemos observar em certos romances históricos, não sendo história nem oficial, trazem outros desafogos dum mesmo mundo. Os meios existirão sempre, mas não esgotarão a capacidade de o produto literário conquistar os outros olhares necessários à construção de vários prismas.”

(António Quino, jornalista, escritor, ensaísta e professor angolano, entrevistado pelo portal Rede Angola, 28.03.2016)
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domingo, 27 de março de 2016

Diário | E quem te autorizou por escrito, hã?

“Senhor Director, vim falar com o senhor Director.”
“Qual é o assunto?”
“Queria uma guia médica. O corpo não está só assim bem…”
“MAS ISSO NÃO É ASSIM, Ó SENHOR PROFESSOR!!!”
“Diga?”
“E quem te autorizou por escrito, hã?”
“Autorização para quê?”
“Ficar doente…”
“Mas doença é doença, senhor Director…!”
“Seja o que for, tem que saber esperar a tua vez! A tua colega Doroteia já não pediu guia? Não autorizei?”
“Sim…”
“Mas então se a outra ainda não acabou o tratamento, você agora vem outra vez com essa conversa? Vocês não sabem que no hospital os medicamentos são poucos, reagentes para análises é ouro? Quer dizer, logo, logo a minha escola entra na estatística… com dois professores a dar cabo dos medicamentos?”
“Mas vou fazer mais como, ó senhor Director?”
“Volta para o teu trabalho, mais é, homem! Há gente mais carente de remédios; não é um professor!!! Vá, agora desaparece-me das vistas e vê se ficas doente mais tarde; nessa época de crise é que não! Faço-me entender, pá?! Aprende de uma vez por todas a evitar gastos no OGE, ok?!
GP, Lubango, 27.03.2016
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sábado, 26 de março de 2016

Tudo é alguma coisa

Diante da felicidade
da prosperidade
longas filas.

Nos bairros nus
tantos corpos nus por vestir
crianças perdidas por salvar
palavras obscuras por apagar
do Livro do Mundo –
se o ler, perco a minha vista.

Tudo está nas pedras do caminho.
Tudo é alguma coisa.

Em torno dessa alguma coisa
eu escondo a minha pele
transformo-me em nada.
Mergulhado numa água por branquear.

João Maimona, in “Trajectória Obliterada”, pág. 53. União dos Escritores Angolanos, 2013. Colecção 11 Clássicos da Literatura Angolana, 1ª edição. Luanda
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citação

"Chefe, chefe! O chefe sabe que eu não tenho lá muito estudo na cabeça. O chefe sabe também que de ideias não sou bom, mas acho que a minha ideia com as ideias dos outros podem-se aproveitar. Então, ó chefe, se cada vez que chove, as pessoas sofrem, as cidades ficam intransitaveis... né?... E é o país todo. Quer dizer que o nosso problema é os esgotos que não existem ou não funcionam. Mas assim, ó chefe, será que não dá para pegar assim uns quinhentos gajos, lhes mandar ao estrangeiro, para estudar sistemas de esgoto?"
(De uma pessoa devidamente identificada, Catumbela. 24.03.2016)
www.angodebates.blogspot.com
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quarta-feira, 23 de março de 2016

terça-feira, 22 de março de 2016

O que ficou por dizer no aparente desmaio em directo do repórter TPA hoje?

Fiquei com a impressão que o repórter da TPA, Alves Fernandes, desmaiou durante o apontamento em directo agora há pouco (22/03/2016) no telejornal. Alves entrevistava uma alta patente militar em Menongue, Kwando Kubango, sobre inauguração amanhã de uma grande ponte. A meio da entrevista, perdeu equilíbrio e foi agarrado por um senhor que estava aí lado, momento em que a pivot Ana Lemos interrompeu o directo como se nada se passasse. A ausência de uma informação oficial só pode contribuir negativamente, pois abre espaço à especulação.
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Diário | Você lhe chamou de porco ou não?

"Obrigado, meritíssimo."
"MAS O QUE É QUE QUER ACRESCENTAR MAIS, SE O DEFENSOR OFICIOSO JÁ TUDO FEZ POR SI?"
"Meritíssimo, eu apelo à sua generosidade, por favor. Tem de me perdoar, porque não vou aguentar tanto processo..."
"'TANTO PROCESSO', COMO ASSIM?"
"A pessoa não pode ser julgada duas vezes pelo mesmo crime, não é isso?"
"MEU CARO, NÃO ESTAMOS PROPRIAMENTE NUMA AULA DE JURISPRUDÊNCIA, ESTÁ BEM?"
"Meritíssimo, eu apelo que reconsidere. Dois processos é muito..."
"VOCÊ CHAMOU O SEU VIZINHO DE PORCO, ACUSANDO-O DE DESVIAR AS OFERTAS DA IGREJA PARA COMPRAR UMA MOTORIZADA PESSOAL. O OFENDIDO PEDE REPARAÇÃO PELOS DANOS MORAIS AO BOM NOME. NÃO SEI SE SABE, MAS A LEI DEVE SER CUMPRIDA. VOCÊ LHE CHAMOU DE PORCO OU NÃO?"
"É esse o problema, meritíssimo. Os porcos abriram outro processo contra mim por esta comparação, sentem-se difamados. Assim vou indemnizar quem neste meio?"
GP, Benguela, 22.03.2016
www.angodebates.blogspot.com
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Excerto

"Temos uma crítica muito forte e assertiva sobre os manuais do sistema de educação em Angola. Posso dizer publicamente, mesmo que não seja entendido, que isso tem muito a ver com as assessorias estrangeiras, particularmente a portuguesa, que vão sendo buscadas para elaboração do sistema de ensino angolano. E é por isso que a nossa história que está a ser ensinada aos miúdos continua a ser adulterada.

A literatura que é ensinada não é suficiente nem é bastante, e assim sucessivamente. Aliás, independentemente da minha condição de escritor e autor como estou a falar, também sou um quadro do Ministério da Cultura. Posso dizer-vos seguramente que o Ministério da Cultura em tempo útil pronunciou-se sobre essa questão, daquilo que são os conteúdos da história e da literatura.

Chegou mesmo a ser criada uma comissão que envolvia a comunicação social, educação e a cultura para abordar essa problemática. Não sei em que ponto ficou essa situação, mas houve essa preocupação. Mas enquanto cidadão escritor assumo essa afirmação de que os manuais estão errados na sua substância e não vão contribuir seguramente para aquilo que é o propósito do patriotismo, da angolanidade e da cultura angolana, do homem angolano consciente da sua história e do interesse da cultura."

(António Fonseca, jornalista, escritor e docente angolano, in entrevista ao Jornal O País, Luanda, 22/02/2016)
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Citação

“Eu creio que o critério da naturalidade não é suficiente nem bastante para identificar um autor como autor de literatura angolana. Temos autores que nasceram em Angola mas que escreveram literatura colonial. Portanto, não são autores de literatura angolana. Entretanto, temos autores que não nasceram
em Angola, mas, efectivamente, engajaram-se com a angolanidade com obras monumentais no quadro da literatura angolana. Agora, o problema que podemos discutir é
se no contexto do século XVII, em que é referido António Dias Macedo, António de Oliveira Cadorneira, na História das Guerras Angolanas, e sendo ele um nativo, o próprio José da Silva Maia Ferreira, um mestiço de Benguela, se naquele contexto
em que os letrados eram educados de maneira europeia, se podemos relativizar e dizermos que este era nacional, de Benguela e é de facto o patrono da literatura angolana.”

(António Fonseca, jornalista, escritor e docente angolano, in entrevista ao Jornal O País, Luanda, 22/02/2016)
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domingo, 20 de março de 2016

Dos meus, o livro mais vendido de sempre | «Fátussengóla, O Homem do Rádio Que Espalhava Dúvidas»

“Devo comunicar-lhe que do seu livro FÁTUSSENGÓLA, O HOMEM DO RÁDIO QUE ESPALHAVA DÚVIDAS, foram vendidos 441 exemplares”, escreveu-me anteontem o distribuidor, reportando-se ao período de Fevereiro de 2015 a Fevereiro de 2016. Julgo que três factores terão determinado o que no mercado angolano representa um retumbante indicador de vendas: (a) O preço de capa barato, que é de quinhentos Kwanzas; (b) A divulgação do livro com breve sinopse através de spots esporádicos na TPA2 desde Novembro de 2014, altura do lançamento; (c) Uma estratégia funcional (podia ser melhor) de distribuição (que envolve as livrarias do grupo Texto Editores e a rede de mercados KERO). Pois, como é bem sabido, o grande calcanhar de Aquiles da literatura feita em Angola (mais do que na alegada fraca procura ou pobres hábitos de leitura) reside exactamente na ausência da figura do distribuidor, com os livros geralmente a ganharem bolor encaixotados na editora, sem falar da moda que é a tiragem não passar de mil exemplares por título, tão desproporcional para um país com 18 províncias e mais de 20 milhões de habitantes.


Este meu segundo livro de contos faz parte de 11 obras inéditas selecionadas por candidatura à Bolsa Ler Angola, colecção designada «Novos Autores», do programa «Ler Angola», levado a cabo pelo GRECIMA (Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração), que também reedita obras mais antigas na colecção «11 Clássicos».
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sexta-feira, 18 de março de 2016

[Oficina] Crónica | Sando (Xará ) II

Texto de Lauriano Tchoia
Benguela, 06.03.2016
“Donana trás mais comida para o Sando!” Era assim o meu Xará que a todo o custo queria me ver feliz.

Cérebro de elefante na grandeza de ver as coisas, os bois faziam dele um homem satisfeito e honrado.

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quinta-feira, 17 de março de 2016

Citação

“Trabalho sozinha. Faço agendamento, faço tudo. Isso dificulta muito, porque tem de ter sempre alguém a assessorar uma cantora, a tratar de diversos assuntos que não seriam mais da responsabilidade do artista. Porque, às vezes, quando o cantor entra em contacto directamente com os promotores, fica meio-complicado. Tem aquelas situações em que, se o promotor quiser baixar o cachet, baixa; se for para te dar voltas, te dá. Tendo um agente, esses problemas todos estariam resolv
idos.”

(Neusa Sessa, in portal Pérola das Acácias. Benguela, 16.03.2016)
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| Um conto que marcou a parte teórica do meu curso de pedreiro em 1997 | A ESCOLA. A FLOR. A FLOR. A ESCOLA...

Tudo ia muito bem quando Godofredo entrou na minha aula. Pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou a flor no copo. Depois saiu. Ela olhou para mim com tristeza. Quando terminou a aula, me chamou. — Quero falar uma coisa com você, Zezé. Espere um pouco. Ficou arrumando a bolsa que não acabava mais. Se via que não estava com vontade nenhuma de me falar e procurava a coragem entre as coisas. Afinal se decidiu. — Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade? Balancei a cabeça afirmativamente. — Da flor? É, sim, senhora. — Como é que você faz? — Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta. — Sim. Mas isso não é direito.
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quarta-feira, 16 de março de 2016

[Oficina] Crónica | NOVOS VENTOS: DEMO(S)C(R)ACIA

Texto de Lauriano Tchoia
Catete, Luanda, 13.03.2016
Como a casa é pequena as regras tinham de ser ditadas ao rigor.

Uns para aqui, “quarto dos rapazes”. Outros para lá “quarto das meninas”. Papá e mamã no quarto do meio, se vier visita, dorme na varanda.

O tudo para todos foi dando certo até então, tarefas divididas para homens e meninas.
Quem disse que rapaz tem de lavar fraldas de nenê? Quem disse que mulher tem de ser raboteira?

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Rubrica Crónicas do Metro | "Para quem não se deixa vender aos falsos moralistas"

Texto de Alexandra Sobral
Lisboa, Portugal, 23.02.2016
Eu não dou esmolas por princípio, ainda que seja um princípio repassado de excepções. No metro irritam-me sobremaneira os indivíduos que, cegos, fazem do pedir modo de vida. Alguns conheço desde o tempo de antes da minha era automobilística, alguns mantendo a postura, que já nessa época tinham, a de repetirem sem inovação a mesma lenga-lenga lamurienta e miserabilista, apelando à dor de consciência de quem, mais afortunado, pensa-se, não padece daquela insuficiência, ou ainda a de ficarem furibundos quando a colheita não corre de feição. Mas, como já atrás disse, as minhas regras, pelo menos nessa matéria, não são absolutas, o que se confirma sempre que de mim se vem aproximando o som de um certo ritmo, que já se tornou um ex libris, no que a esse aspecto respeita, do Metro de Lisboa.
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terça-feira, 15 de março de 2016

Partilhando leituras | Género dramático

Era a época das radionovelas puras. Em Havana, as emissoras encaixam uma novela à outra, da manhã à noite. A CMQ e a Cadena Azul disputam não só a audiência feminina como os roteiristas para servi-las. Os atores não dão conta, vão de cabine em cabine. Casam-se em uma, divorciam-se na outra, em todas vivem amores adocicados e tremendos desenganos. Se um deles resolve pedir aumento de salário, o diretor dá uma piscada para o roteirista e este os faz morrer no capítulo seguinte, e ressuscita quando voltam pedindo emprego. (…) Junto com o açúcar, Cuba exporta lágrimas para todo o continente. No exterior, os roteiros das radionovelas são vendidos a peso de ouro.
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segunda-feira, 14 de março de 2016

Idade de janela

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domingo, 13 de março de 2016

No calor de Março | ELA

Texto de Lauriano Tchoia
Kilamba, Luanda 12.03.2016
Altiva, serena e possessiva, é a estética de um corpo que nasceu a dançar.
Faz de Júpiter a razão guia e apaixona ao toque no sabor tácito do olhar.
Seguir em frente e não se deixar hipnotizar, qual magia de mumuila na puberdade do ufiko....
Louca a cabeça que desvia a metafísica do sono que não vem dormir de tanto pensar.
Vê-la embriagada na harmonia do jazz em pés em lustro, deslizar feita pluma sobre a sala meio escura.
E a alma não sossega. 
É assim este vazio que domina quanto mais distante da órbita te deslocas, ó forças apelativas de Zeus e Hermes do meu mito. 
DEIXA-ME POR UM MINUTO SER O TEU DONO, ...EM CONTRAMÃO!
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sábado, 12 de março de 2016

Crónica | Uma brasa ao comité do tio

Em tempos, por mais de uma vez, telefonei para uns amigos activos no exercício político-partidário ligado ao emblema tradicional da minha família (MPLA).

Entre sugestões e o puxão de orelhas, contestei o aspecto pouco atraente de alguns comités de acção, quase sempre bem localizados. Será que não podiam os deputados de cada partido contribuir com uma pequena mensalidade capaz de formar salário de uma ou duas pessoas administrativas e deste modo manter a casa aberta?

De argumento em argumento, sublinhei que tal aparente desleixo punha em causa o princípio da ascensão a partir da base, pois se não arrumamos o ponto de partida, ficaria complicado convencer novos militantes. Mas as minhas intervenções, confesso, só pecam pela sua agenda escondida, ou não fossem elas motivadas por memórias de infância e melancolia familiar. É que tal génio conselheiro só salta do estado de hibernação cada vez que passo pelo comité José Samuel, na Zona Comercial ou 28. O anúncio mais recente, colado na porta, é sobre um evento ocorrido em 2014, salvo erro.
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sexta-feira, 11 de março de 2016

Já lá vão 16 anos desde que saí | Alguém aí capaz de meter cunha para uma visita guiada minha ao estaleiro da Sonamet?

Passou-me por esta peregrina cabeça a ideia de visitar, num exercício de reencontro com o passado, o estaleiro da Sonamet (Sociedade Nacional de Metalurgia), no Lobito, empresa de construção de estruturas metálicas de apoio ao sector petrolífero, da qual fui trabalhador (Lob 020) durante 22 meses (1998-2000) como ajudante de soldador e armazenista de consumíveis para a produção, depois de um insatisfatório aproveitamento na escola de soldadura (três meses). Sei que muitos progressos têem sido registados, entre os quais a ascensão de angolanos aos cargos de chefia (até ao nível de superintendentes). Gostaria de andar pelas secções, rever o pessoal da minha geração. Sempre podia oferecer de forma simbólica alguns livros meus, por exemplo este O APITO QUE NÃO SE OUVIU, cuja crónica ASSINAR NO LOBO é referente ao meu tempo de trabalhador. Não sei é se a biblioteca ainda continua (no meu tempo, havia um pequeno club de vídeo na seccção dos recursos humanos, que disponibilizava cassetes a preto e branco e com filmes em francês). Se me deixassem, faria umas fotos. Quanto à protecção da boa imagem da empresa, podem ficar descansados, pois até tenho limites de ordem deontológica que me impediriam "beliscá-la". Então, não há aí nenhum amigo capaz de influenciar a viabilização de tal vontade deste também fundador?
Era só isso. Obrigado.
Gociante Patissa
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[arquivo] "A cor dessa cidade sou eu"

Benguela, 21 Janeiro 2016
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quinta-feira, 10 de março de 2016

Partilhando leituras | Lavagante

Safio. Imagem sem assinatura de autor
«Então expliquei-lhe que o lavagante é principalmente um animal de tenebrosa memória, paciente e obstinado, e terrível nos seus desígnios. Contei-lhe como ele serve o safio que está nas tocas submersas levando-lhe comida a todas as horas, e como a sua existência anda presa a essa serpente estúpida de grandes sonos, vendo-a engordar, engordar, até saber que a tem bloqueada, incapaz de sair do buraco porque o corpo cresceu de mais, enovelou-se, e não cabe na abertura por onde podia libertar-se. Nesse momento, fica sabendo, o lavagante servil aparece à boca da toca do safio mas já não traz comida. Vem de garras afiadas devorar o grande prisioneiro que alimentou durante tanto tempo.»(Pag.16)
 
(José Cardoso Pires, 2008, escritor português. In «Lavagante. Encontro Desabitado», excerto. Imagem: portal O Retiro do Sossego)
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quarta-feira, 9 de março de 2016

Humor | Piada de bar

"Marreco! Ouve lá, ó corcunda! Dá-me cá um copo de água, se faz favor!"
"Sim, senhor."
"Ó homem, deixa de lhe chamar 'Marreco', pá! Ele tem nome, meu!"
"Mas por acaso ouviste o gajo a reclamar?! Ele nem se importa..."
"Não fica bem tratar o homem pela deficiência. E já lá vão cinco anos..."
"Pronto. Ó marreco! É assim, daqui para frente, vou passar a te chamar pelo teu nome, não mais marreco ou corcunda, como fiz estes anos todos."
"Ah, é assim? É de maneira que também vou deixar de cuspir no teu copo de água, como fiz estes anos todos." 
(adaptado de autor desconhecido)
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Rubrica Crónicas do Metro | Não pude deixar de ouvir

Texto de Alexandra Sobral
Lisboa, Portugal
Hoje não andei de Metro. Tinha de ir almoçar com uma cliente, perto da praia da Adraga (até parece que não faço mais nada, senão andar em almoços e jantares… enfim, de vez em quando concentra-se o social e dá nisto… e, a cause de, o que não dirão as más línguas, mas adiante…) a um estabelecimento que foi revelador das mais apaladadas e apelidadas “entradas”, que se me foram apresentadas a degustar nos últimos tempos. Tanto assim que delas, das “entradas”, não saí. Mas falar dos prazeres do palato apenas serve de intróito ao que aqui me traz, ou seja, a necessidade que uns, uns mais que outros, têm de se fazer ouvir, mesmo por aqueles que nisso não estão interessados. Lá pelo meio da segunda “entrada”, não obstante ser boa a conversa com a minha interlocutora, não pude deixar de ouvir o que um empertigado cavalheiro fazia questão de perorar, de forma bem audível para a outra ponta da sala, que era, de resto, onde eu me encontrava. Dissertava o mesmo sobre o quão são"petites" as mulheres, algumas, claro, esclarecendo que com isso pretendia dizer que as mesmas são fofinhas, docinhas, lindinhas, simpaticazinhas e outras coisas terminadas em inhas que não me dei ao trabalho de decorar. Lindo e enternecedor e agoniante… Não que eu seja dada a preocupações libertárias, porque há que tempos que sei que entre homens e mulheres a equidistância se afere pelos conhecimentos, competência e empenho que todos, e cada um, como seres humanos que são, manifestem, mas sempre me irritaram paternalismos, venham eles de onde vierem. Paternalismos, machismos, racismos, xenofobismos, chauvinismos e outros da mesma laia que se resumem à mania de uns têm de que são mais do que os outros. E isso leva-me às queixas que foram feitas, bem feitas por sinal, junto da ERC, por via do título mesquinho, desprovido (para outra expressão não usar) daquele pasquim infecto denominado Correio da Manhã, acerca dos chamamentos da cega e do cigano para o Governo… Mas isso levar-me-ia a outros considerandos que não cabem por aqui, pelo menos por hoje.
Depois falamos.
_____________ 
(*) No Blog Angodebates, uma rubrica com textos da nossa amiga Alexandra Sobral, advogada de profissão, que, utilizando um transporte colectivo em Portugal, põe o seu sentido de observação em acção. Resulta disso um trabalho individual que passa a valer (se não muito mais, pelo menos) o dobro, uma vez submetido ao exercício de tradução de emoções pela via da escrita e partilhado no espírito cosmopolita da comunicação e socialização. Originalmente publicadas no mural Facebook da autora, saem com o genérico Crónicas do Metro, sendo da responsabilidade do Angodebates o complemento dado ao título para facilitar a distinção entre uma e outra. Dá imenso gosto passear por Portugal à boleia destes breves apontamentos
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Partilhando leituras | Minha terra tem

Minha terra tem
a cor
que lhe devolvemos do chão

Minha terra tem
o odor
dos que lhe separam os grãos

Minha terra tem
a força
do clandestino encontro das mãos.

poema de Arnaldo Santos, in Momentos (1958-2011), apud Revista Austral Nov/Dez 2013, pág. 98. Taag. Luanda, Angola
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terça-feira, 8 de março de 2016

Brevemente | ALMAS DE PORCELANA | Poesia de Gociante Patissa reunida em livro sob iniciativa da editora brasileira Penalux

"Ao mergulharmos no universo de Almas de Porcelana, temos que nos desamarrar daquilo que guardamos do significado de “fragilidade”. Agarrado à imagem da porcelana, Patissa sabe construir a beleza daquilo que um dia foi apenas mero barro, mas graças ao calor da poesia e ao talento do poeta transfigura-se em algo de inestimável valor. Sua fragilidade reside na apreciação pacífica que emana de seus poemas sensíveis, preciosos; há neles belas filigranas de esperança, como num delicado conjunto de fina porcelana, em cujas peças brilha um arremate de debruns nostálgicos. No vigor destes poemas, evidencia-se a demonstração de como se processa a força nos indivíduos, herdeiros de passados árduos, roubados e massacrados (ou, no mínimo, ignorados). Indivíduos que, através da própria resiliência, transformam sua vida em arte. De alto nível. As terras verde-amarelas, tão fatigadas com histórias estereotipadas sobre nossos irmãos africanos, não poderiam mais esperar para apreciar as importantes – e inevitáveis – palavras de Patissa, poeta com quem comungamos os Cantos da África e a Língua de Camões." (orelha do livro, nota do editor)
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Partilhando leituras | Uma certa Madalena

… Ruas misteriosas, sombras pelo caminho e uma sensação de perigo e paz, aquele silêncio magnífico, eu e Deus, aos poucos um e outro atleta, um e outro escravo do horário, e aquelas gloriosas mulheres que de sol-a-sol cruzam ruas e avenidas levando consigo quase sempre dois embrulhos humanos e um material, este ultimo, o garante do sustento dos humanos: zungueiras! …como em todas as manhãs, trouxe-me um: preto, cremoso, cheiroso -mesmo depois de já me ter feito companhia um outro, aceito-o, mais pela gentileza do que pelo desejo - ela que vem de outro extremo distante da cidade, e garante o pão para filhos e netos a oferecer o precioso café. Muitas vezes, o pão fica pela metade porque a outra metade é consumida na própria luta pelo pão, entre o asfalto de azul e branco e a vermelha terra batida – uma certa Madalena! Cortinas afastadas, olhar perdido no vermelho das acácias, poucas, mas tão rubras que contrastam com o céu azul onde o lápis insiste em escrever os tons da vida: certezas, incertezas, as angustias… Entrincheirados em seus pensamentos atravessam a curta avenida rumo a um longo dia que muito cedo começou (deve ter começado), lá a frente a certeza de um futuro melhor, estudantes! Um e outro, os humanos se sucedem na expectativa do amanhã incerto, e a sirene entrecorta o pensamento, é um deles rumo ao lugar onde proíbem e permitem, rumo às estratégias do egoísmo que acaba com a vida dos que dizem governar, mas, a vida segue curso... deixo o lápis solto no ar, ainda com muitos tons por escrever…e separo-me então da observação dos humanos, afinal viver ultrapassa qualquer entendimento e, e Deus, Deus certamente dá a cruz que cada um consegue carregar... eu aqui a carregar a minha!

Crónica de Anna Mathaya. Luanda, 16 dezembro 2009 (blog «Don’t Give UP»)
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segunda-feira, 7 de março de 2016

[Oficina] Crónica | «Abre Salão»

Texto de Albano Epalanga, Lobito, 07.03.2016
 (foto de autor não disponibilizada)
Maria Antónia. Calma, simples e muito reservada. Dona de uma beleza natural incomparável, era única na banda que não passava despercebida. Eu já estava com os meus 25 anos, futuro quase definido: Pastor. Muito por influência de meus pais que foram sacerdotes durante muito tempo e parece que a única forma de honrá-los seria seguir a mesma carreira «sacerdotal» fazendo jus ao ditado «filho de peixe é peixe». Os meus Pais eram responsáveis pela evangelização a nível do Lobito. Morávamos no Bairro da Bandeira, segundo alguns dos antigos moradores, o nome terá surgido devido a uma bandeira enorme (da república) que ali se achava, bem no local onde se situa a actual Comarca do Lobito.
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domingo, 6 de março de 2016

Crónica | Estará um Big Brother acima do prestígio do Ladislau?

Foto do seu mural no Facebook
Amigos, colegas e familiares juntaram-se à indignação do jornalista Ladislau Fortunato , em consequência de o profissional ter perdido a oportunidade de enriquecer o seu curriculum, desta feita para integrar a direcção de conteúdos do Big Brother Angola e Moçambique, a convite da organização.
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Contos seculares universais | O Rei Vai Nu

Foto disponível em bip.inesctec.pt
Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem arranjado.
Um dia vieram ter com ele dois aldrabões que lhe falaram assim:
– Majestade, sabemos que gosta de andar sempre muito bem vestido – bem vestido como ninguém; e bem o mereceis! Descobrimos um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com um fato assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes dos tolos, parvos e estúpidos que não servirão para a vossa corte.
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Partilhando leituras | Uma pequena crónica

Janela ao sol. Estico o pescoço com dificuldades e olho para fora. Pessoas apressadas, buzinas, olhares fugidios. 
Ouço vozes, muitas. Desconexas, sem fim nem começo.
Sinto cheiros estranhos. Não há mais o que se provar. Não há mais gostos, apenas releituras bizarras. Fedor.
Os toques são sempre involuntários. Esbarros. Ninguém teve a intenção. O emaranhado das relações parece mais novelos de lã embaraçados. Ninguém sabe onde tudo começa. 
Estou cansado, minha vista dói. Não suporto mais essa confusão.
Encolho o pescoço, fecho a janela, olho para o quarto. O espelho no fundo revela-me. Descubro, então, que eu estava dentro de mim.

Texto de Lissânder Dias, 2006, Brasil. Disponível no site http://ultimato.com.br/
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Partilhando leituras | "Porte de Arma"

"Escrevo porque não tenho porte de arma de fogo. Escrevo porque não ganhei um autorama no natal de 1992. Escrevo porque o Silvio Santos não leu as cartas que mandei para o programa Porta da Esperança. Já criei centenas de definições para literatura e descobri que escrever é apenas uma forma de domesticar o animal que mora no zoológico interno. Fazer carinho no beijo raivoso que rosna dentro da gente.Uma necessidade. Uma doença sem nome. E que a solidão é o Posto Ipiranga para o abastecimento do tanque lírico. Que solidão é o tempo para ideias surgirem como temporais que destelham casas. Não tenho horário para escrever. Sou um eterno combatente do tédio. Estou sempre estancando um vazio ruminando ideias. Sempre escrevendo no parquinho do cérebro. Qualquer mentira escutada na rua é motivo para confabular poemas, contos e roteiros. Impossível não pensar em fazer literatura num mundo que só te oferece mentiras. A saída é sempre criar mentiras com asas. Nunca fui de ter crises criativas, os socos que a vida nos dá na cara é sempre inspiração. Literatura é cão que se alimenta da ração das tragédias alheias. Bem-aventurado aquele que desconta as decepções da vida escrevendo versos. Dia desses atravessei o porto de Manaus e vi crianças brincando numa canoa furada no Rio Negro. Uma hora a canoa sumiu nas águas e pensei: 'Escrever é apenas uma forma de naufragar lentamente. Literatura é naufrágio e o barco é você mesmo'. As crianças choraram e eu fui para o bar cheio de lindezas para um conto. O escritor é um náufrago pedindo socorro. O lance é seguir em frente estacionando catástrofes e transformando em poesia."

Extracto da resenha feita por Vivian de Moraes ao livro "Meu coração é um bar vazio tocando Belchior", da autoria de Diego Moraes. Editora Penalux, Brasil, 2016
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Humor | Piada de políticos

Numa noite escura, voltando de uma carreata pelo interior, um dos autocarros, lotado de políticos sai da estrada, capota duas vezes e cai numa fazenda. O fazendeiro acorda assustado e vai ver o que aconteceu. Ao se deparar com aquela terrível visão, rapidamente começa a cavar um buraco, onde enterra os corpos. Alguns dias depois, um investigador bate a sua porta e faz várias perguntas sobre o acidente. - E onde estão os políticos? - Eu enterrei eles naquela cova ali! - Mas estavam todos mortos? - espanta-se o policial. - Bem... alguns diziam que não... mas o senhor sabe como os políticos são mentirosos! (de autor desconhecido)
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sábado, 5 de março de 2016

Humor | Piada de advogados

Aluno de Direito ao fazer prova oral: - O que é uma fraude? - É o que o senhor professor está fazendo - responde o aluno. O professor fica indignado: - Ora essa, explique-se. Então diz o aluno: - Segundo o Código Penal, 'comete fraude todo aquele que se aproveita da ignorância do outro para o prejudicar'. (de autor desconhecido)
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sexta-feira, 4 de março de 2016

[Oficina] crónica | Cachicondala, o mistério em miniatura

Texto de Lauriano Tchoia
Huambo, 01.02.2016
Cachicondala surgiu assim, do nada, ninguém o conhecia de lado algum.

Corpo franzino, pequeno na altura, perdia-se no olhar imaginário de um pavão predador. Tornou-se nosso primo por assim nos ter sido ensinado. Era neto do avô Fátima, a madrasta da mamã. Repartíamos o sorriso e as brincadeiras, só não nos juntávamos na mesma cama por ter fama de mijão.

Dormia feliz na sua esteira, mas pelas manhãs cruzava sempre com o terror do chicote e o mundo a escurecer ao seu redor. A desgraça de acordar molhado da cintura à cabeça valia-lhe a terapia que antecipava o mata-bicho, por mais um acto imperdoável, dado o azar de não saber governar a própria bexiga.

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Rubrica Crónicas do Metro │No meio do mutismo geral (*)

Texto de Alexandra Sobral
Lisboa, Portugal
Crónicas do Metro (que gostaria fossem do quotidiano, mas não são). Hoje fui jantar a casa de uma amiga, ali para os lados do bunker da PJ, e não levei carro (cada vez me apetece menos levar carro, só de pensar nas voltas que tenho de dar para arranjar onde largar o mesmo, não só nos sítios para onde vou, mas, mais gravemente, no sítio para onde regresso, ainda para mais agora que me tornei fervorosa adepta de caminhar e de andar de transportes públicos). Por via disso, fui de Metro até ao Saldanha e fiz o restante percurso a pé. Estava aquele friozinho gostoso que um qualquer cachecol sustém e uma boa caminhada afasta. No regresso, já passava um bocado das onze, a caminhar para a hora em que todas as carruagens se transformam em abóboras, ponderei vir de táxi, mas eu cada vez tenho menos paciência para a conversa de tudólogos de vão de escada dos condutores dos ditos, por isso, e por certo inspirada pelo Duque de Viseu que, a mim e à minha amiga, nos acompanhou ao jantar, decidi vir de novo a pé e de Metro, calcorreando o percurso inverso. Já dentro deste último, no lanço da linha verde que se encarregaria de me trazer a casa, esperançadamente sã e salva, olhei, com olhos de ver (diria a minha avó) para os meus concidadãos ou, pelo menos, para os meus companheiros de viajem, a tentar perceber em que medida o acontecimento do dia, a tomada de posse do novo governo, os incomodaria, regozijaria, ou afectaria de um modo geral. Nada, nada de nada se descortinava, no meio do mutismo geral, das olheiras ostentadas até ao queixo, dos cabeceares sonolentos, da apatia gritante das gerações aparentemente mais velhas, que os outros, os das gerações aparentemente mais novas, esses, que eram 90% do total, fixamente, quase sem excepção, olhavam e movimentavam os dedos por sobre os pequenos écrans dos respectivos e venerados ditadores (aqueles que ditam e se vêm inquestionavelmente obedecidos), os telemóveis! Conclui, assim, e depois de aturada observação, e atento o ar compenetrado com que todos estavam, que, por certo, estariam todos, entre si, a debater o alcance do discurso da tomada de posse, o proferido pelo PR!
_____________ 
(*) No Blog Angodebates, uma rubrica com textos da nossa amiga Alexandra Sobral, advogada de profissão, que, utilizando um transporte colectivo em Portugal, põe o seu sentido de observação em acção. Resulta disso um trabalho individual que passa a valer (se não muito mais, pelo menos) o dobro, uma vez submetido ao exercício de tradução de emoções pela via da escrita e partilhado no espírito cosmopolita da comunicação e socialização. Originalmente publicadas no mural Facebook da autora, saem com o genérico Crónicas do Metro, sendo da responsabilidade do Angodebates o complemento dado ao título para facilitar a distinção entre uma e outra. Dá imenso gosto passear por Portugal à boleia destes breves apontamentos
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quinta-feira, 3 de março de 2016

Fábulas da nossa terra | Há muito jacaré por aí (*)

Quis o destino que a família Macaco habitasse numa árvore na margem do rio Catumbela, onde seria fácil cuidar da higiene e a comida abundava.
Imagem de autor não identificado

Estava o Macaco a fazer a barba, numa bela manhã, quando recebeu uma visita:
– Bom dia, Macaco! – saudou, eufórico, o Jacaré – Concluí que temos de ser amigos.
– Estás maluco ou quê? – retorquiu o Macaco – Somos vizinhos e isso BASTA!
– Está aí um ponto que tenho de discordar contigo, Sr. Macaco…
– Mas discordar como, ó Jacaré? – interrompeu – Se tu és incapaz de trepar a mais baixa das árvores, que amigo hei-de ser para ti, eu que mal sei nadar? – refilou o Macaco.
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Diário | Ah, fala o namorado dela?

"Wey, estás a ver essas miúdas?"
"Ya, wi."
"Lhes pára ainda!"
"Xé, garinas, venham cá!"
"Boa tarde, moços."
"Tudo bem, bebés?"
"Tudo."
"Vocês moram aonde?"
"Na Fronteira..."
"Aié? Passem aqui vossos números de telefone, já, já!"
"E o contacto da outra?"
"Ela ainda não tem."
"Olha, o meu amigo e eu vamos vos procurar, ouviram? Não vale a pena só desligar ou dar uma de quem não viu, estão a ver né? Eu fico lixado! É atender, ouviram bem, né?"
"Está bem. Vamos atender."
"Ok. Podem bazar!"
"Tchau."
"Wey, já viste o mambo? Essas miúdas, logo mais, é só arrastar, mano. A mais boa é minha, você fica com a mamudinha. Damas muito fracas."
"É, não é? Essas gajas hoje é tudo bandida. Um desconhecido é que você vai lhe dar número do terminal?..."
"Deixa ainda lhes dar já um beep no número que elas deram. Alô! Está? (Wey, é voz de homem) Esse número não é da fulana? Ah, fala o namorado dela? Deve ser engano, meu velho, vai-me desculpar."
"Filho da mãe dessas miúdas, meu! Nos enganaram, deram número que não é delas."
"Vamos fazer como, agora que já foram embora?"
GP, 03.03.2016
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[Oficina] poesia | Sou vossa obra mãe

Texto de Arcanjo Cambinda
 01.03.2016
Por entre caminhos a caminho desta caminhada
encontrei-te, mãe

Ao converter-me em fardo leve por entre tuas uterinas asas
encolhi-me seguro na protectora sombra do teu ventre quente

Encarnei-me na veia da humanidade
e na vida que palpita na lentidão do tempo

O tacto faz de mim delicadeza moral
sou não mais obra da utopia

Quando o poço de mantimento inflamou de angústia 
aqueles seios secos de fome
foram o meu precioso alimento

Por entre estrondos dos seus joelhos que se encurvam
aprendi a escutar o murmúrio de Deus

Por isso mãe
das cicatrizes que se encravam nesse terno coração
anseio ver-te livre

Junto-me ao ruído dos sins que pronunciaste
aos sopros da tua alma repercutente
e ao silêncio de olhares familiarizados

O tacto faz de mim delicadeza moral
sou não mais obra da utopia

Declaro-me obra encarnada nas túnicas do teu rubro amor
sou o teu primeiro sopro miraculoso, mãe
________________
Ventura Arcanjo Cambinda (1989) é natural do Luena, província do Moxico, onde se tornou membro da Brigada Jovem de Literatura. Residente em Benguela, onde faz parte do Clube de Poetas e Trovadores. É Licenciado em Direito pelo Instituto Superior Politécnico Jean Piaget de Benguela. O gosto pela guitarra ao principiar dos seus 14 anos de idade, transportou-lhe para outra realidade, a literatura, pois, viu-se obrigado a escrever o que lhe vinha na alma para musicar. Paixão essa, que veio a solidificar-se quando era estudante no internato da Escola de Professores do Futuro - ADPP - Benguela, no ano de 2006. 
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A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

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