…
Ruas misteriosas, sombras pelo caminho e uma sensação de perigo e paz, aquele
silêncio magnífico, eu e Deus, aos poucos um e outro atleta, um e outro escravo
do horário, e aquelas gloriosas mulheres que de sol-a-sol cruzam ruas e
avenidas levando consigo quase sempre dois embrulhos humanos e um material,
este ultimo, o garante do sustento dos humanos: zungueiras! …como em todas as
manhãs, trouxe-me um: preto, cremoso, cheiroso -mesmo depois de já me ter feito companhia um outro, aceito-o,
mais pela gentileza do que pelo desejo - ela que vem de outro extremo distante
da cidade, e garante o pão para filhos e netos a oferecer o precioso café.
Muitas vezes, o pão fica pela metade porque a outra metade é consumida na
própria luta pelo pão, entre o asfalto de azul e branco e a vermelha terra
batida – uma certa Madalena! Cortinas afastadas, olhar perdido no vermelho das
acácias, poucas, mas tão rubras que contrastam com o céu azul onde o lápis
insiste em escrever os tons da vida: certezas, incertezas, as angustias…
Entrincheirados em seus pensamentos atravessam a curta avenida rumo a um longo
dia que muito cedo começou (deve ter começado), lá a frente a certeza de um
futuro melhor, estudantes! Um e outro, os humanos se sucedem na expectativa do
amanhã incerto, e a sirene entrecorta o pensamento, é um deles rumo ao lugar
onde proíbem e permitem, rumo às estratégias do egoísmo que acaba com a vida
dos que dizem governar, mas, a vida segue curso... deixo o lápis solto no ar,
ainda com muitos tons por escrever…e separo-me então da observação dos humanos,
afinal viver ultrapassa qualquer entendimento e, e Deus, Deus certamente dá a
cruz que cada um consegue carregar... eu aqui a carregar a minha!
Crónica
de Anna Mathaya. Luanda, 16 dezembro 2009 (blog «Don’t Give UP»)
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