domingo, 6 de março de 2016

Contos seculares universais | O Rei Vai Nu

Foto disponível em bip.inesctec.pt
Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem arranjado.
Um dia vieram ter com ele dois aldrabões que lhe falaram assim:
– Majestade, sabemos que gosta de andar sempre muito bem vestido – bem vestido como ninguém; e bem o mereceis! Descobrimos um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com um fato assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes dos tolos, parvos e estúpidos que não servirão para a vossa corte.

– Oh! Mas é uma descoberta espantosa! – Respondeu o rei. Tragam já esse tecido e façam-me o fato; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.
Os dois aldrabões tiraram as medidas e, daí a umas semanas, apresentaram-se ao rei dizendo:
– Aqui está o fato de Vossa Majestade.

O rei não via nada, mas como não queria passar por parvo, respondeu:
– Oh! Como é belo!

Então os dois aldrabões fizeram de conta que estavam a vestir o fato, com todos os gestos necessários e exclamações elogiosas:
– Ficais tão elegante! Todos vos invejarão!

Como ninguém da corte queria passar por tolo, todos diziam que o fato era uma verdadeira maravilha. O rei até parecia um deus!

A notícia correu toda a cidade: o rei tinha um fato que só os inteligentes eram capazes de ver.

Um dia o rei resolveu sair para se mostrar ao povo. Toda a gente admirava a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:
– Olha, olha! O rei vai nu!

Foi um espanto! Gargalhada geral. Só então o rei compreendeu que fora enganado; envergonhado e arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio.

NOTA: Publicado em 1837 por Hans Christian Andersen, dinamarquês, diz o wikipedia que o conto foi inspirado no «Libro de los ejemplos» (ou El Conde Lucanor, 1335), coleção medieval espanhola de 55 contos morais de autores como Esopo e outros clássicos, compilados por Juan Manuel, Príncipe de Villena (1282–1348). Andersen não conhecia o original em castelhano, leu a versão em alemão («So ist der Lauf der Welt»). No conto original, um rei recebe cavilosamente de tecelões um traje que seria invisível a todos menos àqueles que são filhos legítimos de seus pais presumidos. Já Hans altera sua fonte para direcionar o foco da história à vaidade cortesã e soberba intelectual. 
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