Texto de Lauriano Tchoia Kuito 28 Fevereiro 2016 |
Olhos perfilando, na
ânsia de que algo mais poderá acontecer.
Entre ir à escola e
não, a fome empurrava para o lado da preguiça. Se dependesse apenas de mim, não
seria difícil determinar a escolha, sabendo que o foco alimentar tem resultados
imediatos. O que não entendia era o porquê de tantas disciplinas na escola, se
na prática não iremos fazer uso dela.
Lá fomos sem resmungar
para o cumprimento do dever do pioneiro, carregando na sacola uma batata doce assada
na véspera, com a missão de celebrar a morte da fome que não tardaria a chegar.
Do bairro à escola, superamos
a distância, ora caminhando, ora parando de vez em quando para dar uns pontapés
em latas vazias, e encarnávamos desta forma o Mantorras ou Akwá, ou outros ídolos
do nosso imaginário.
Sabendo que o meu destino
era medicina, não entendia a razão de aprender matemática e inglês, até porque,
para doente estrangeiro, acredito ser bastante um intérprete.
Nem sei se seria mesmo
necessário um tradutor. Nas coisas do amor, da música e do futebol, a língua
não domina a vontade de as coisas acontecerem. Joana Divua era a confirmação de todo o argumento
para a defesa certa da minha tese. Logo que chegou a paz, a vida abriu-se a
parcerias de todo o género.
Na jovem começou por se
clarear a pele, enquanto por outro lado seleccionava a dedo o que devia, ou não,
ser aceite para ingestão metabólica. Foi cuspindo a cada minuto e o abdómen denunciava que o que a fazia engordar… não era apenas alimento.
Juntaram-se as tias,
mas sobre o pai da gravidez, o segredo fechava-se a sete chaves, Divua não
tugia nem mugia por nada. Ralhetes e palmadas ou ameaças a feitiço não deram
abertura ao confessionismo exigido por alturas destas.
Não tardou, veio à dor.
O parto foi de risco, tendo valido a experiência das anciãs e lá estava o
sobrinho ao primeiro grito. O tracejar dos olhos do bebé estampavam, era chegado
à família um herdeiro de PiongYang ou de Pequim em pleno Nambuangongo.
Só podia ter sido
aquele motorista chinês (já que por cá é padrão, tudo o que se apresenta de
olhos rasgado não passa disso) que trouxe o tractor da cooperativa; é o único
que por cá passou nos últimos doze meses.
E nesta nova parceria,
a dúvida persistia se era mesmo necessária a disciplina de língua estrangeira para
o meu futuro currículo de medicina.
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