Texto de Alexandra Sobral, Lisboa, Portugal, 20 Fevereiro 2016 |
Vi-nos no Metro, com 19 e 18 anos,
respectivamente. Tu sério e circunspecto, com o ar imberbe a sublinhar o adolescente
que sempre irá contigo, vestido a condizer com o que ao mesmo tempo não te
assenta e te molda, a tentar negar o tal ar. Eu com o ar travesso que teimo em
afastar e com as roupagens e caracterizações que penso me conferem a maturidade
que parece nunca mais chegar. Íamos de pé, que não sobravam lugares sentados
aos pares e as tentativas que fomos fazendo para ocupar um desses, foram, de estação em
estação, sendo frustradas, pois havia quem, por certo por insensibilidade,
distração ou puro e duro egoísmo, sempre se nos antecipasse, deixando sem vaga
o lugar par que tanto queríamos e tanto nos escapava. Não conseguia conter o
riso, que em cada nova dessas tentativas me saía nervoso e a soar a idiota,
deixando-te, eu bem presentia, deveras incomodado, diria mais, envergonhado. A
verdade é que não queria que só a minha mão ficasse junto à tua, na pega que
quem prevê essas coisas deixa disponível para esse e outros efeitos.
Finalmente, à medida que os empecilhos foram saindo, ficou ali disponível o
lugar que nos permitiu sentarmo-nos lado a lado e, passados uns breves
instantes, que me pareceram várias eternidades, encontrar coragem para deixar
que a minha cara procurasse o teu ombro e a minha mão enlaçasse a tua. Tu
desarmaste por momentos, e o teu ombro e a tua mão acolheram-me … Só fiquei
intrigada com o ar nostálgico que tinha uma mulher, com idade para ser minha
mãe, que nos vinha observando desde há umas estações atrás...
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(*) No Blog Angodebates, uma rubrica com textos da nossa amiga Alexandra Sobral, advogada
de profissão, que, utilizando um transporte colectivo em Portugal, põe o seu
sentido de observação em acção. Resulta disso um trabalho individual que passa
a valer (se não muito mais, pelo menos) o dobro, uma vez submetido ao exercício
de tradução de emoções pela via da escrita e partilhado no espírito cosmopolita
da comunicação e socialização. Originalmente publicadas no mural Facebook da
autora, saem com o genérico Crónicas do Metro, sendo da responsabilidade do
Angodebates o complemento dado ao título para facilitar a distinção entre uma e
outra. Dá imenso gosto passear por Portugal à boleia destes breves apontamentos
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