Texto de Alexandra Sobral, Lisboa, Portugal, 20 Fevereiro 2016 |
As viagens de Metro são sempre um manancial para a
observação e permitem pensamentos
desgarrados sobre a natureza humana, que, até para quem os tem, esse tipo de
pensamentos, no caso eu, não podem deixar de se qualificar como extravagantes.
Hoje, para além da já habitual profusão de cidadãos que se adivinham de
paragens tão diferentes, distantes e muitas delas de difícil determinação e
denominação, havia uma rapariga com um cabelo comprido, imensamente comprido, tão comprido que sugeria tratar-se de Lady
Godiva, estivéssemos nós no campo e a mesma cavalgasse o cavalo branco que a
identifica. Mas o que era mais surpreendente, para além do tamanho do cabelo,
era a cor do mesmo que oscilava entre o verde esmeralda e o azul lazuli, numa
cor de difícil qualificação. A tez tão branca, que se diria transparente, fazia
ressaltar ainda mais aquelas tonalidade e cor que lhe emolduravam a face. Uma
pequena argola metálica, dourada, colocada na narina esquerda, quebrava, ainda
que só aparentemente, a harmonia criada por aquele contraste. Apanhei-me a
divagar se teria sido transportada para o reino dos Elfos pela mão de Gandalf,
tal o fascínio que aquela visão me provocava. Mas a voz maviosa a lembrar-me
Baixa-Chiado, fez-me perceber que não passava de mais uma manifestação destes
tempos, que, tal como em todos os outros, todos queremos, de uma forma ou de
outra, ser diferentes... na imensa e confrangedora mediania que se nos agarra à
pele e não nos deixa distinguirmo-nos.
(*) O Blog Angodebates lança hoje a rubrica
«Crónicas do Metro», com textos da nossa amiga Alexandra
Sobral,
advogada de profissão, que, utilizando um transporte colectivo em Portugal, põe
o seu sentido de observação em acção. Resulta disso um trabalho individual que
passa a valer (se não muito mais, pelo menos) o dobro, uma vez submetido ao
exercício de tradução de emoções pela via da escrita e partilhado no espírito
cosmopolita da comunicação e socialização. Originalmente publicadas no mural
Facebook da autora, saem com o genérico Crónicas do Metro, sendo da responsabilidade
do Angodebates o complemento dado ao título para facilitar a distinção entre
uma e outra. Dá imenso gosto passear por Portugal à boleia destes breves
apontamentos
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