Com
a empregada doméstica em defeso, ainda que justamente justificado, já só sobra
pouco menos de uma camisa para vestir a rua de banga. No canto do dormitório,
uma pilha no cesto cheirando a amoníaco.
Houvesse
cá concurso de suores, a selecção angolana estaria nos lugares cimeiros, só a
contar com Benguela, tal é a quentura ambiente e o húmido clima.
Mas
como lavar e comprar até concorrem para o mesmo, sai o cidadão, quem sabe,
atrás de umas camisolas interiores. Vou à loja do árabe, lhe encontro não está.
O libanês alheio "crisou". A vitrine, envergonhada de vazio,
agasalhou-se de velhos jornais, estendidos quais cortinas. Segue-se um salto à
imponente loja mais a sul. Tudo no lugar, beleza, luxo e montras... Mas também
a "crisar", só que de outra forma. Moça, vocês não facilitariam a
vida aos clientes se pusessem o preço? Mas tem lá preço. Tem? Não vi. Vem
comigo.
E a
jovem (muito bem apresentada, calças maleáveis a descrever cada detalhe do
itinerário entre os glúteos e o tornozelo) inclina-se sobre a montra, põe a mão
e volta de dentro de uma pólo com a etiqueta de preço em cordel. Não tivesse
tido um mata-bicho reforçado, estaria caído o cliente, dada a violência do
preço.
Temos
essas de 12 mil Kwanzas, mas também aquelas de seis, diz, solícita, a beldade,
ante a reacção facial de choque do outro. Infere-se dali uma estratégia, que
até não é má, da gerência em ocultar os preços... para não afugentar já à
primeira vista. O resto é ter uma atendedora sobriamente sensual para
convencer.
Na
hora de deixar a loja, o cliente pensa: xé! Crise é mesmo crise, ya?! Que até
os preços agora têem prepúcio?...
Gociante
Patissa, Benguela, 23 Fevereiro 2016
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