Existem muitas maneiras clássicas de se
construir um argumento: o caçador caçado, o triângulo amoroso, o mundo do
avesso, a astúcia diante da força... Se nos aproximarmos um pouco, vamos
observar que esses modelos podem reduzir-se a alguns esquemas conflituantes básicos.
Sem pretendermos esgotar o assunto, propomos estes quatro que, bem trabalhados,
sempre atraem o interesse do ouvinte.
- Existe uma CULPA e
vários suspeitos: Trata-se de descobrir quem é o culpado e por que age assim.100
É o esquema típico do gênero policial e de tantos filmes de suspense. Com
freqüência esses argumentos são finalizados com um julgamento ou com uma
acareação final entre todos os implicados
- Existe um DESEJO e
outros candidatos: Trata-se de averiguar quem consegue o objeto ou a pessoa
desejada e a maneira como consegue. No final das intrigas e dos desenganos,
quem ficará com quem? O gênero romântico não pode prescindir desse esquema.
Tampouco a infinita gama de dramas passionais que giram em torno do amor, do
dinheiro e do poder.
- Existe um PERIGO e
poucas escapatórias: Trata-se de conhecer como o protagonista vai encarar os
obstáculos que se apresentam, as 100 Umberto Eco. “No fundo, a pergunta
fundamental da filosofia, assim como a da psicanálise, coincide com a do
romance policial: quem é o culpado? (Apostillas al nombe de la rosa, Barcelona,
Lumen, 1984, p.59).
O cinema norte-americano, refletindo a
sociedade leguléia desse país, tem abusado desse esquema. Experimente contar os
filmes que terminam na sala de um tribunal e perceberá o novo deux ex machina com
que trabalham. ameaças cada vez maiores que o acossam. O gênero de aventura, os
chamados filmes de ação, são o melhor exemplo desse esquema.
- Existe um MISTÉRIO e
nenhuma pista: Trata-se de resolver a intriga. Quanto mais obscura se
apresente, mais excitante será. Os bons argumentos de terror se apóiam nesse
esquema. Os ruins, lançam mão de truculências, saturação de gritos e efeitos
especiais.
Como os minerais, esses esquemas — e
outros do gênero — não costumam ocorrer em estado puro. Amalgamam-se uns aos
outros. Um argumento de ficção científica pode basear-se nas peripécias e
perigos da viagem espacial. Mas não vai faltar a traição de um dos tripulantes.
Nem um enigma indecifrável. Nem um romance dentro da nave.
José
Ignacio López Vigil, in «Manual Urgente Para Radialistas Apaixonados», Pág. 117. Edição
Paulinas, 2004. São Paulo, Brasil.
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