Texto de Alexandra Sobral Lisboa, Portugal |
Hoje não andei de Metro. Tinha de ir almoçar com uma
cliente, perto da praia da Adraga (até parece que não faço mais nada, senão
andar em almoços e jantares… enfim, de vez em quando concentra-se o social e dá
nisto… e, a cause de, o que não dirão as más línguas, mas adiante…) a um
estabelecimento que foi revelador das mais apaladadas e apelidadas “entradas”,
que se me foram apresentadas a degustar nos últimos tempos. Tanto assim que
delas, das “entradas”, não saí. Mas falar dos prazeres do palato apenas serve
de intróito ao que aqui me traz, ou seja, a necessidade que uns, uns mais que
outros, têm de se fazer ouvir, mesmo por aqueles que nisso não estão
interessados. Lá pelo meio da segunda “entrada”, não obstante ser boa a
conversa com a minha interlocutora, não pude deixar de ouvir o que um
empertigado cavalheiro fazia questão de perorar, de forma bem audível para a
outra ponta da sala, que era, de resto, onde eu me encontrava. Dissertava o
mesmo sobre o quão são"petites" as mulheres, algumas, claro,
esclarecendo que com isso pretendia dizer que as mesmas são fofinhas, docinhas,
lindinhas, simpaticazinhas e outras coisas terminadas em inhas que não me dei
ao trabalho de decorar. Lindo e enternecedor e agoniante… Não que eu seja dada
a preocupações libertárias, porque há que tempos que sei que entre homens e mulheres
a equidistância se afere pelos conhecimentos, competência e empenho que todos,
e cada um, como seres humanos que são, manifestem, mas sempre me irritaram
paternalismos, venham eles de onde vierem. Paternalismos, machismos, racismos,
xenofobismos, chauvinismos e outros da mesma laia que se resumem à mania de uns
têm de que são mais do que os outros. E isso leva-me às queixas que foram
feitas, bem feitas por sinal, junto da ERC, por via do título mesquinho,
desprovido (para outra expressão não usar) daquele pasquim infecto denominado
Correio da Manhã, acerca dos chamamentos da cega e do cigano para o Governo…
Mas isso levar-me-ia a outros considerandos que não cabem por aqui, pelo menos
por hoje.
Depois falamos.
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(*) No Blog Angodebates, uma rubrica com textos da nossa amiga Alexandra Sobral, advogada de profissão, que, utilizando um transporte colectivo em Portugal, põe o seu sentido de observação em acção. Resulta disso um trabalho individual que passa a valer (se não muito mais, pelo menos) o dobro, uma vez submetido ao exercício de tradução de emoções pela via da escrita e partilhado no espírito cosmopolita da comunicação e socialização. Originalmente publicadas no mural Facebook da autora, saem com o genérico Crónicas do Metro, sendo da responsabilidade do Angodebates o complemento dado ao título para facilitar a distinção entre uma e outra. Dá imenso gosto passear por Portugal à boleia destes breves apontamentos
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