domingo, 6 de março de 2016

Partilhando leituras | "Porte de Arma"

"Escrevo porque não tenho porte de arma de fogo. Escrevo porque não ganhei um autorama no natal de 1992. Escrevo porque o Silvio Santos não leu as cartas que mandei para o programa Porta da Esperança. Já criei centenas de definições para literatura e descobri que escrever é apenas uma forma de domesticar o animal que mora no zoológico interno. Fazer carinho no beijo raivoso que rosna dentro da gente.Uma necessidade. Uma doença sem nome. E que a solidão é o Posto Ipiranga para o abastecimento do tanque lírico. Que solidão é o tempo para ideias surgirem como temporais que destelham casas. Não tenho horário para escrever. Sou um eterno combatente do tédio. Estou sempre estancando um vazio ruminando ideias. Sempre escrevendo no parquinho do cérebro. Qualquer mentira escutada na rua é motivo para confabular poemas, contos e roteiros. Impossível não pensar em fazer literatura num mundo que só te oferece mentiras. A saída é sempre criar mentiras com asas. Nunca fui de ter crises criativas, os socos que a vida nos dá na cara é sempre inspiração. Literatura é cão que se alimenta da ração das tragédias alheias. Bem-aventurado aquele que desconta as decepções da vida escrevendo versos. Dia desses atravessei o porto de Manaus e vi crianças brincando numa canoa furada no Rio Negro. Uma hora a canoa sumiu nas águas e pensei: 'Escrever é apenas uma forma de naufragar lentamente. Literatura é naufrágio e o barco é você mesmo'. As crianças choraram e eu fui para o bar cheio de lindezas para um conto. O escritor é um náufrago pedindo socorro. O lance é seguir em frente estacionando catástrofes e transformando em poesia."

Extracto da resenha feita por Vivian de Moraes ao livro "Meu coração é um bar vazio tocando Belchior", da autoria de Diego Moraes. Editora Penalux, Brasil, 2016
Share:

0 Deixe o seu comentário:

A Voz do Olho Podcast

[áudio]: Académicos Gociante Patissa e Lubuatu discutem Literatura Oral na Rádio Cultura Angola 2022

TV-ANGODEBATES (novidades 2022)

Puxa Palavra com João Carrascoza e Gociante Patissa (escritores) Brasil e Angola

MAAN - Textualidades com o escritor angolano Gociante Patissa

Gociante Patissa improvisando "Tchiungue", de Joaquim Viola, clássico da língua umbundu

Escritor angolano GOCIANTE PATISSA entrevistado em língua UMBUNDU na TV estatal 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre AUTARQUIAS em língua Umbundu, TPA 2019

Escritor angolano Gociante Patissa sobre O VALOR DO PROVÉRBIO em língua Umbundu, TPA 2019

Lançamento Luanda O HOMEM QUE PLANTAVA AVES, livro contos Gociante Patissa, Embaixada Portugal2019

Voz da América: Angola do oportunismo’’ e riqueza do campo retratadas em livro de contos

Lançamento em Benguela livro O HOMEM QUE PLANTAVA AVES de Gociante Patissa TPA 2018

Vídeo | escritor Gociante Patissa na 2ª FLIPELÓ 2018, Brasil. Entrevista pelo poeta Salgado Maranhão

Vídeo | Sexto Sentido TV Zimbo com o escritor Gociante Patissa, 2015

Vídeo | Gociante Patissa fala Umbundu no final da entrevista à TV Zimbo programa Fair Play 2014

Vídeo | Entrevista no programa Hora Quente, TPA2, com o escritor Gociante Patissa

Vídeo | Lançamento do livro A ÚLTIMA OUVINTE,2010

Vídeo | Gociante Patissa entrevistado pela TPA sobre Consulado do Vazio, 2009

Publicações arquivadas