segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

[Oficina literária 49] VOU DEIXAR MINHA ALMA FALAR – poema de Marta Teixeira Lopes

Hoje enxergo melhor que ontem
Não vou dramatizar
Vou deixar minha alma falar

Vou sincronizar as antenas
Da minha estação
Sentimental
Vou dar a notícia matinal,
Não vou xinguilar,
Vou-me equilibrar.


Vivemos como se tivéssemos
Donos
Nossas vidas são expostas
Como fardos
Estendidos nos cabides das
Praças.

Somos despidos.
Levam nossas esperanças
Os nossos assaltantes
Usam fatos e
Gravatas
Ai de quem reclamar lhe avançam
A verdade dói.

Ai de quem falar demais!
gente grande querendo
Calar a nossa voz
Até parece que nascemos
Para sofrer!
Quem nos vai acudir?!
Temos medo de sucumbir.

Vivemos de esmolas,
Comemos migalhas
O lema é chorar por dentro
E sorrir por fora
Hora bolas…

Estamos a engordar com
Mentiras,
E promessas jamais cumpridas
Clamamos por justiça
Queremos justiça…
Grita o povo sofrido!
Aonde vamos parar?
Vou deixar minha alma falar…
Nem tudo eu vivi

Meus antepassados viveram com
Medo da
Guerra
Da fome
Da miséria
E alguns até morreram.

Meus irmãos
Eram chamados
De refugiados
Procuravam abrigo em cada
Cubico.
A vida era correr com as
Crianças no dorso
E viteles nas cabeça

Falavam sobre esperança
Nos discursos banais
Que sabiam a bálsamos
O terror espalhava-se
O caos aumentava
E perder foi virando rotina

E os gritos de dor!
Ah! esses eram ouvidos
Não dava para ignorar
A miséria assolou
A nossa terra
A dor envelheceu o rosto
Dos jovens e também
O das crianças

Os olhares eram o puro reflexo
Do sofrimento sofrido
Veio a paz, 
Agora vivemos a kitota
Da igualdade
Que maldade!

A história não acabou,
Está escondida no olhar,
Nas cicatrizes,
Na alma e também no
Silêncio
Nem tudo eu vivi,
Mas senti, nas histórias que ouvi.

Marta Teixeira Lopes

SOBRE A AUTORA

Marta Teixeira Lopes, de Nacionalidade Angolana, tem 29 anos de idade, residente em Benguela, município da Catumbela. Licenciada em psicologia da educação, pela universidade Katyava Bwila. Professora, palestrante e formadora de opinião pública.
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