Devo ao jornalismo a honra de me ter possibilitado falar para as pessoas, ser seguido nas minhas opiniões e acesso à mídia para analisar aspectos da vida nacional. Infelizmente discute-se pouco a opinião expressa e os analistas crescem pouco. Deveria ser o contrário, já que são úteis e ajudam o cidadão a formar opinião própria.
Depois de tantos anos desta actividade, aprende-se que a opinião pública é traiçoeira: a mesma mão que hoje te bate no ombro de satisfação amanhã é a primeira a considera-se um traidor. Na nossa opinião pública, as pessoas não esperam por uma opinião dos fazedores para formar a sua, como deveria ser. A maior parte das pessoas primeiro forma uma opinião e depois espera que o fazedor vá à imprensa corroborar dessa opinião. Se coincidem, então o fazedor de opinião é bestial mas se ele não diz o que se está à espera que diga, então passa a ser a besta.
Os tais analistas também têm culpas: uns porque são ostensivamente parciais, sem qualquer compromisso com o equilíbrio e alimentam a tendência de criação de facções na opinião pública e outros porque em vez de explicar e interpretar os fenómenos usam a capa da análise para fazer política, captar simpatias ou fomentar antipatias contra partidos políticos.
A qualidade da nossa política também passa pela qualidade de quem avalia as decisões, estratégias e acções dos políticos.
A bajulação e culto de personalidade que vemos nos partidos políticos têm muito a ver com o modo como os analistas são incapazes de ver os líderes como falíveis, humanos e mortais ou como olham a vida entre os bons e maus. Os erros dos líderes são escamoteados ou até apresentados como um alto nível do seu pensamento estratégico.
A opinião pública também tem de ter critérios, regras e uma delas tem de ser a de explicar os fenómenos, fazer entender os factos em vez da manipulação, da opinião pessoal, do "eu acho" ou "penso que". Bom dia
(Ismael Mateus, in Facebook, hoje. Versão de texto com revisão do Blog Angodebates)
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