No leito
do mar o
Sol deita-se
Na areia
da praia o
silêncio ruge
No cais
a última embarcação atraca
Na praça
a quitandeira bate
o ponto
O último comboio chega
à estação
O maquinista faz a
última inspeção
O taxista recolhe a
ossada d'ocasião
O cobrador ajusta a
conta do patrão
O obeso ruído desanda das avenidas
O silêncio iliba o
asfalto da pressão
Mendigos recolhem-se para o banquete
Luzes coreografadas vestem-se de mudez
As ruas
já se recolheram
Os gatos
inauguram a alvorada
As almas
ressonam cansadas
Mergulhadas na imensidão do
escuro
Entre o
sono, o sonho
e a insónia
O início não chegou, mas o
fim antecipa-se
Entre o caminho não caminhado
E a meta
inalcançável o sonho suicida-se
Entre o prelúdio do
anseio
E a incerteza do
calendário
Estagnada fica a
vida
À margem do
rio que não
flui
Lá fora
canta o galo
O despertador toca
No relógio da fome o tic tac ressoa
É hora de partir para a correria
Em busca de um pecado novo
Olhos mergulhados no
escuro
Acenam à
nova jornada
Sorriso enferrujado
Lágrimas de gelo
no rosto
Chão congelado
Pernas bambas, caminho não cruzado
Semeia-se o 'hoje' na planície da expectativa
Que o 'amanhã' trará outro fardo
Luanda, 17/11/2018
Henriques Fortuna
Vila da Mata-Cazenga
SOBRE O AUTOR
Henriques Fortuna,
formando em Língua Portuguesa e Literatura pelo ISCED-Luanda, poeta e
cronista, autor de textos dispersos, publicados, alguns, no espaço semanal
de poesia e sugestão de leitura, no programa “GENTE VIVA” da Rádio
Cuanza-Sul, enquanto formando na E.F.P do Cuanza-Sul, 2013-2016. Tem
escritos poemas de temas variados, «DE FÉRIAS NO EXÍLIO» denunciando a
correria, os infortúnios e a alegria dos angolanos.
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