Kalundu,
mais conhecido por KT, tinha vinte e três anos de idade. Proveniente de Luanda
– onde perdeu os pais –, morava com a avó em Benguela, no Bairro da Kamunda.
Era negro como o breu, alto e forte como uma torre; valente como um tigre, com
garras de leão. O mais famoso e temido daquela zona, pois tinha o costume de
ofender e bater os demais colegas de idade, e roubar as namoradas alheias.
Certo dia,
numa manhã de sábado – do mês em que o segundo dia nos lembra que todos somos
iguais e brevemente morreremos –, um grupo de rapazes alegremente encontrava-se
no Buraco da Câmara – um dos estádios de referência provincial – a saborear o
desporto-rei. Tudo ia calmamente até a chegada de Kalundu. Este provocou um
rapaz chamado Tony. Tirou-lhe seiscentos kwanzas e as chuteiras que enfeitavam
os pés.
O total de
imagens e semelhanças vivas que visualizava o triste episódio agitava para que
os jovens lutassem, gritando: bilo, bilo! Todavia, Tony simplesmente pedia de
volta os seus pertences, e o tigre não aceitava. A cena parecia um filme: Kalundu
socou a cara do rapaz e pontapeou-o brutalmente na barriga. Mesmo assim, o
batido não quis lutar. Parecia que ouvia anjos dizendo: não lutes!, e demónios
dizendo: luta, pá! vais ganhar. Mas como a dor era tanta (e doía mesmo),
aceitou aceitar a luta: os dois jovens lutaram. Kalundu saiu a ganhar, afinal
de contas treinava artes marciais (judô e capoeira).
Depois de
uma semana e meia, Tony – baixo, magro, educado, filho de policial – passava o
tempo num salão de jogos, jogando o seu jogo predilecto: San Andreas. De repente, seu inimigo apareceu e, como de costume,
obrigou-lhe a pagar jogo para si. Porém, Tony não pagou. Não tinha mais
dinheiro. Kalundu, com palavras-podres, rapidamente, começou a agredir o
culpado jovem. Este ficou ferido. Foi em casa e regressou ao local com uma
sabre de seu pai e – com uma raiva do tamanho do céu – deu uma sabrada nas
costas tatuadas de Kalundu. E, depois de alguns minutos, o ferido foi
gravemente levado ao Hospital Central de Benguela.
Com aquele
episódio, o valente ficou humilhado. Por um pouco moraria no ser xará: o
cemitério. Apenas ficou com um braço debilitado. Mudou de rotina: reconheceu que
vale a pena ser humilde e pacífico. Sempre diz que a valentia não leva a lugar
algum. É como a gente diz na gíria: lhe tiraram as gabas!
Júlio Teixeira
SOBRE O AUTOR
Júlio
Novady Dimas Teixeira é um jovem benguelense que adora e sempre adorou
escrever, pois desde cedo já brincava com as palavras. É filho de um médico
contador de histórias e de uma professora de Língua Portuguesa. Seu maior sonho
é ser escritor, razão pela qual fez Língua Portuguesa/EMC na EFP-Benguela, e
actualmente frequenta o ISCED, especialidade de Linguística/Português.
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