Zuwa era um jovem que vivia na casa de
renda com seis filhos e a sua esposa, Kunanga de trinta
anos, passava o dia a jogar nantérrite
e a sua esposa passava o dia a jogar cartas de dinheiro para poderem sustentar
os filhos. A necessidade de sustento e de garantir o futuro para a família
pesava sobre a consciência do Zuwa. Ele queria ser polícia, por isso lutava por
uma vaga naquele órgão pertencente ao Ministério do Intestino Grosso. Para que
concretizasse seu desejo, tinha de reunir documentos para se candidatar. Se
candidatar? Diga-se de passagem, porque no Intestino Grosso todos eram tão
unidos, por essa razão, todos eram da mesma família. Daí que Zuwa não era
propriamente um candidato, mas sim um familiar, assim sendo, cada funcionário
atendia seu familiar.
Na senda de
tratar documentos, dirigiu-se à administração do
Intestino Grosso, depois de suportar uma fila, aguardou durante duas horas diante
da janela em que supostamente se fazia atendimento, apreciando os trabalhadores
que simplesmente riam, sorriam, batiam-se nas costas e atendiam cada um a seu
familiar não pela janela, mas de modo mais amigável e discreto possível. Não
demorou tanto para que Zuwa encontrasse um familiar. Acenou para que alguém o
viesse atender, foi convidado a entrar depois de explicar o seu intento, a
senhora perguntou-lhe:
— Tens quanté? – Ele não era muito instruído,
mas pôde ver que por apenas 350 fezes (moeda nacional do Intestino Grosso),
obteria ou trataria o documento.
— Você leste bem? —
Perguntou a senhora — se são 350 fezes, intão pede na própria vitrina que te atenda, de
outro modo tens que pagar 35.000 fezes. —
Concluiu.
Não havia outra hipótese, por isso
consentiu. Depois de fecharem o contrato, a senhora dirigiu-se ao seu chefe
dizendo que Zuwa era seu irmão, e que precisava do documento com alguma
urgência, aliás, como disse, no Intestino Grosso todos eram da mesma família.
Não tinha dinheiro suficiente, mas também não era problema. Ele e seus amigos
organizaram uma festa, na verdade, uma orgia. O panfleto foi colado nas paredes
e a adesão não se deixou esperar. Todos desejavam estar lá, pois o panfleto
chamava muita atenção; nele estava uma jovem com o tamanho das ancas de um
elefante e seios dilatados do tamanho das vacas. Os jovens do Intestino Grosso
eram peritos em realização de festas e as mulheres não pagavam, porque no Intestino
Grosso as mulheres eram como cervejas, TV plasma, ou seja, eram móveis, pelo
que, não compravam ingressos porque eram objectos, mas podiam ser compradas
pela mesma razão. Mas havia uma condição, tinham de ir semi-nuas, estando ou não
em período fértil, assim mandava a cultura dessa zona. A festa correu e
ocorreu.
Zuwa conseguiu os 35.000 fezes e pôde ter
os seus documentos, assim sendo, estava preparado para se candidatar, mas havia
um outro problema, estava perplexo porque receava que a formação envolvia
escrever e ler, e ele não sabia. Até que no discurso de abertura, o ministro confortou-o quando
proferiu as seguintes palavras: a
formação visará, sobretudo, a preparação física para que estejam aptos a
cumprir suas missões, tais como,
perseguição às zungueiras, torturas aos que pensam diferente, intimidação aos
que desejam fazer ciência, isto é, produção científica, etc.
Completado o período de treino, sentia-se
realizado por conseguir um trabalho no Estado, e tinha algumas valências
acessórias: era matumbo e sabia conduzir motorizadas, o que era fundamental
para qualquer polícia dessa zona, tendo em conta o número de estrangeiros. E
quando estes últimos não tivessem a documentação, era só tirar-lhes a
motorizada e ameaçar levá-la, que o dinheiro
aparecia. Aí o agente não poderia ir até à viatura, nem conversar
olho-nos-olhos com o automobilista, tinha de dar-lhe costas e este último tinha
de seguir-lhe até que desse alguma coisa que não fosse documento.
Com essas valências, Zuwa não tinha como
não ser bem-sucedido, sendo um homem totalmente feliz.
SOBRE O AUTOR
Gonçalves Handyman Malha, Pseudónimo
literário de Gonçalo Domingos Salvador Quizela. É Professor, Ensaísta, Poeta,
Estudante da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto e Membro do
Movimento Literário Litteragris. Natural de Luanda, participou em várias
antologias e revistas literárias internacionais e nacionais. Coordenou a
Revista Literária “O Fio da Palavra” em homenagem ao
Lopito Feijóo.
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