Marcas
Em cada verso dos meus retratos
Uma lágrima sangrada
Uma alma ensanguentada
De vários servos sem contratos
O menino ao colo, a voz do choro
Dizendo basta
Mas a saga não pára
A chaga à procura da cura
Clama só assim, pedindo socorro
Olha aí meu pai
Carregando sua cruz
Chibatado, mas não cai
Sofrendo tanto quanto Jesus
Minha mãe latindo às correntes
Seu espírito fugiu-se do corpo
O coração quase já não bate
Expirando o último fôlego
Encarcerada até aos dentes
O peão é sacrificado pelo rei
A rainha levando xeque-mate
Chora só assim até à morte
Isso não é um jogo de xadrez
Sobreviveu, teve sorte
Ó miséria que nos pariu
Vários séculos se passaram
Os cadeados se romperam
Mas a porta não se abriu
A liberdade jaz no seu cativeiro
Os quinhentos euros de escravatura
A merda do espelho nos traiu
Do livro a escritura sagrada
O cão que o Diogo alimentou
Os meus calcanhares feriu
É difícil ultrapassar
(Os karmas)
É difícil superar
(Os traumas)
É difícil esquecer
(Os problemas)
Se ainda existem marcas na alma
Anjo N'silu | Retratos
SOBRE O AUTOR
Filho de pai mukongo e mãe kamundongo, Anjo
N’silu nasceu no município de Rangel, província de Luanda, se bem que o registo
oficial mencione, como local de nascimento, o distrito de Ingombota. É um novo
talento da literatura angolana, versado em poesia, prosa, crónica, conto, dramaturgia,
abordando temas que traduzem a realidade sociocultural angolana e africana.
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