"Falar de África nos termos do pessimismo de romancistas africanos, ou
da literatura de viagem, é algo que poucos escritores angolanos tenham feito. O
que é compreensível se concordarmos que um dos mais preocupantes traços da
literatura angolana é o seu total desfasamento da realidade social. Há muito
poucos escritores que conseguem compreender esta sociedade com a acuidade e a
profundidade dos nossos letristas de kuduro e rap, por exemplo. A única excepção,
que eu saiba, é Albino Carlos, no seu romance de estreia, Olhar de Lua Cheia.
Raramente li descrições tão cruas e reais sobre a vida dos musseques. Luandino
Vieira criou o seu estilo de falar dos musseques, muito romantizado, como se o
seu grande desafio fosse apenas escrever poeticamente sobre estes espaços.
Existe muito pouco espaço para romantismo nos musseques de Albino Carlos, no
pós-independência, durante os piores anos do país – culpa também da longa
guerra civil. No musseque, escuro e lúgubre, as pessoas matam-se por muito
pouco, prostituem-se para alimentar os filhos, e sempre a gravidez precoce a
mostrar às adolescentes a ilusão que é a luta por uma vida diferente da que
tiveram os seus pais. Tudo cheira a álcool, vidas destruídas e lares
desfeitos."
(António Tomás, in portal «Buala», 26 Novembro 2012. Disponível na
Internet)
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