Texto de Lauriano Tchoia Luanda, 14.04.2016 |
Eram
nervosos e vinham para ajudar, ...dizia-se.
Decorria
o ano que nos orgulhava por nobre estágio, pois estávamos a passos curtos da independência
de setenta e cinco em Novembro.
A
caravana passava por nós, numa Kahála qualquer do meu mapa de miúdo. Homens
brancos de tom vermelha na pele camuflada em farda sobre tanques, sinais de
guerra. Era o filme que se despregara da tela e vinha até mim.
Entre
o medo e a curiosidade, eu queria ver o que era uma guerra de verdade. Expectativas
mais de mil!
Devorados
na noite, seguiam eles. Soubemos depois que o destino era Luanda e que vinham
da África do Sul por uma questão de ajuda. Palavra pouco entendida por mim para
aquele enorme investimento e acto bélico, pois a minha ajuda restringia-se a “se
dar” sal, entre a mamã e a dona Berta, sua vizinha.
Bem,
quanto a mim, bastava apenas que passassem e nos deixassem com o nosso à
vontade em jogar à bola.
Dias
depois, relatos diziam que novas bandeiras em três paus tinham sido içadas, que
iríamos ficar em retalhos, pois não seríamos os primeiros (igual a resposta do
tio Filomeno para consolo seu, quando se soube que tinha mais uma mulher,
nestes casos ocorre já grávida, perfazendo naturalmente duas na soma e no
esforço).
Sobre
terras retalhadas falou-se de locais que o meu cérebro geográfico desconhecia,
lembro-me apenas de Berlim que estava em duas com um muro pelo meio, li mais
tarde. Na rapidez dos pedreiros deles, deixaram irmãos separados, até noivos.
Ouvira isso do Padre Martinho, o Holandês.
Se
Luanda içou, Huambo e Uíge bateram-se no chão e também ergueram, num orgulho
que afinal não valeu. Coisas do Man Prole a confirmar a efémera alegria do
pobre.
Tardou
pouco e o mesmo movimento dos vermelhos torturando o asfalto que fez surrar o
meu avo, na kimbangula das pedras para construí-lo e o branco vir passar. Desta
vez fazendo o sentido inverso. Se já ajudou, pode ir, era assim também nas
nossas pelejas de kandengues. Buscou o teu kota, bateu o adversário, esta arrumado,
vamos embora. “Benfeito”!
Com
os vermelhos Afrikaans, nada mais natural que regressar para os braços das
esposas e amantes intranquilas, distante e à mercê dos gabirús.
Pena
nada terem dito, ficamos pelas especulações e no acreditar ou não, no Angola
Combatente de Kudibanguela, que dizia pejorando estarem eles a dar o “lenguenu”,
no bom kimbundu para dizer que foram escorraçados.
No
entanto, entre o sim e o não, só sei que nunca mais regressaram. Cimentada
ficou a divisão dos soldados de pele clara em dois polos históricos: uns
sul-africanos indiferentes e outros cubanos no “jogo da penetração” social.
Sobre eles, os cubanos, e os proventos que nos viriam a brindar falarei num
próximo texto.
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