“Ó meu caro amigo, você me desculpe, mas isso está
a me fazer um bocado de confusão! É já a terceira vez só essa semana que o
senhor vem cá almoçar prato do dia.”
“E daí, com o devido respeito, mas qual é o
problema?”
“O problema é mesmo tu vires aqui comer
constantemente…”
“Mas isto aqui não é um restaurante? Não é lugar
livre para quem consome e paga? Diz-me lá, mas o quê que me proíbe?!”
“Como assim, ‘o quê que me proíbe?’ Ainda perguntas?
Vou ser directo. O senhor também não é dono de um restaurante? Lá também não
servem almoços?”
“Sim, mas eu gosto dos pratos do dia daqui. Anteontem
foi feijoada. Ontem foi carapau grelhado com banana cozida e molho de cebola
picada. Hoje é joaquinzinho, o nosso ‘kasombosombo’,
fresco frito com molho de tomate, amanhã é pirão…”
“E no teu restaurante servem pedras no prato? Não dá
para comer?”
“Lá esta semana é tudo chique: lasanha, sushi, tornedó,
bacalhaus e pratos franceses… É um negócio para grandes famílias, um segmento
de clientes que se prezem…”
“Viva! Muito bom. É um nível altamente! Só uma
curiosidade: quem elabora o conceito gastronómico do teu negócio?”
“O amigo deve saber que sou muito viajado, modéstia
à parte. O conceito é meu.”
“E não almoça o seu conceito porquê?!”
“Mas esta pergunta não faz sentido. Eu mereço ser
tratado como cliente normal, só isso. Não peço mais nada, por amor de Deus…”
“Você não sabe que estamos em crise económica, que as
importações encravaram, que os armazéns andam caquéticos? Quer dizer, vens cá comer todos os dias para dar cabo
da minha despensa a ver se o meu negócio vai à falência e passo a comer as
gordurosidades do teu restaurante, não é isso?
GP, Benguela, 16.04.2016
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