(...) A esta capacidade para perpecionar e muitas vezes vivenciar as dinâmicas a que as sociedades ocidentais estão sujeitas corresponde ou pode corresponder um desapego em relação às sociedades a que pertencem, o que, ao acontecer, acaba por contribuir para a desestruturação e para o enfraquecimento dos correspondentes "mundos da arte" ou da "literatura". Uma das consequências mais usuais de tal fragilidade tem sido a dependência, material e estético-simbólica, em relação aos " mundos da arte e da literatura" dos países mais desenvolvidos. Estes são, em muitas das circunstâncias -- até porque de permeio se coloca um factor que é paradoxalmente de aproximação, a da língua da colonização -- as antigas metrópoles. Assiste-se, desta forma, à transferência das instâncias de legitimação estética do que é localmente produzido para as antigas metrópoles coloniais. Em consequência, prolonga-se a relação colonial com uma agravante: a própria criatividade, na expectativa deste reconhecimento, acaba, também ela, por se submeter aos requisitos das instâncias de legitimação com óbvias perdas em termos de autenticidade cultural e estética, para o que é produzido. Os referentes dessa produção são outros que não as fronteiras dos respectivos países, relevadas como o principal enquadramento estético durante a vigência do paradigma nacionalista, isto é, entre os 1930 e os anos 1990 do século passado.
(José Carlos Venâncio, in "Maka- revista de literatura e artes", vol 1, n.°1, págs. 65-66. União dos Escritores Angolanos, Luanda, 2010.)
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