Texto de Elisabete Calmon, Brasil
Árvore da minha e da infância do meu pai. Plantada pela
minha avó. Naquele tempo as árvores faziam parte das famílias e a gente ia
nomeando as casas da lembrança por suas flores e frutos.
Havia na vizinhança a casa da Caramboleira, que generosa
oferecia frutas logo ali, no muro do meu quintal. Do lado, a casa da Goiabeira
e logo depois a casa das Avencas e do Carnaval. A da Acácia amarela ficava do
outro lado da calçada e era nela que as cigarras orquestravam a sonata do entardecer.
Quase no final da rua a majestosa casa das Jaqueiras. Sim, Jaqueiras porque eram três, as fruteiras e os moradores. Velhinhos, de cabelos brancos, sempre nas janelas, um em cada uma, quase imóveis, vendo a vida passar.
Eu imaginava que ali era a Casa do Tempo, um lugar tão
distante, inalcançável para o olhar de uma criança. Um tempo que só hoje pude
encontrar. Sim, eu agora também fico nas janelas, dezenas delas, tantas quanto
eu quiser abrir. São janelas virtuais, telas de um celular, de um laptop, de um
computador...
Janelas onde vejo e sou vista, no silêncio da escrita que
brota de cada um de nós. Janelas sem flores nem frutos, sem perfumes e sem
sabores. Das antigas janelas, só restou o vidro. Onde andará o velho Resedá?
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