Certa vez, no uso da palavra, determinado líder
partidário na oposição discorria a sua prelecção sobre as falhas da governação
no seu país. Do amontoado que é a prolixidade congénita em um discurso
político-partidário, destaco por ora o parecer negativo do orador no que
concerne à equidade e por aí vai.
Tomada a palavra, um eminente opositor à oposição nestas
andanças chamou a atenção para a necessidade de um diagnóstico razoável e quê e
tal. E não se achando suficientemente esgrimista, mas sem dispensar a elevação
a si também costumeira, teria acrescentado à guisa de réplica o que reproduzo a
seguir, exercício para o qual convoco a margem de erro de quem cita de memória
e a soberana subjectividade de um cronista:
"Excelência, a própria
vida é injusta; repare como está montado o cenário desta nossa conferência:
Vossa excelência está protegido pela sombra e em assento confortável, enquanto
nós estamos ao sol. Vossa excelência não pediu isso, pelo que eu saiba, é o
tratamento que a organização julga merecerem os convidados do vosso ilustre
nível."
Bem, não sendo propriamente
um adepto das retóricas circunstanciais do bicho-homem-político, nem me dei ao
trabalho de esperar pelo fim do evento nem pela tréplica do prelector. O que
todavia se fez inevitável de soar na mente de lá para cá é a sineta das
injustiças que uma vez a outra residem nas formas de tratamento.
Eis que mais uma vez, o que
não deve ser bom sinal porque frequente nos últimos dias, me vejo obrigado a
protestar contra produtos informativos na comunicação social angolana. Agora há
pouco vinha eu a conduzir e ouvindo o noticiário, quando me fez "pó"
(como diria o português) o realce dado a Donald Trump, candidato a presidente
dos EUA, que o locutor fazia questão de pontuar por ser milionário, como se eu
e mais outros na função pública angolana também não o fôssemos, modéstia à
parte.
Isto por cá, nunca é demais
lembrar, desde que se vetou a importação de carros usados, a coisa andou um bom
bocado para frente. É tudo zerinho. Basta ir a um banco da esquina (e de quando
em vez, que é para não variar assim muito, subornar lá o tipo das autorizações)
e sacar um crédito. Sempre a começar por não menos de milhão.
Por acaso tem o noticiarista
noção de quantas viaturas da grande maioria (por baratas e básicas que sejam)
circulam pelas estradas de Angola, já sem incluir a província milionária e ao
mesmo tempo capital que é Luanda? Então... Mas o quê que é isso de tratar Trump
por milionário e os demais angolanos pelo nome?! Ah, era para nos lembrar que
os nossos milhões já quase nada compram, ainda mais agora com a crise financeira
e a desvalorização do Kwanza ao triplo, não é? Ah, pois, assim… está bem.
Gociante Patissa, Benguela, Angola, 27.04.2016
www.angodebates.blogspot.com
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