“Mas, ó mano Vano, eu já não te falei para você não andar vir me
procurar mais?!”
“Isso mais que estás a falar é como é que é?”
“Será que na vossa casa não tem televisão? Eu não posso todos os dias
deixar de fazer jantar, não lavar a louça, para vir te atender, ouviste? Não vamos
só se complicar, ya?”
“Ehh…, vejamos…”
“A essa hora, os outros estão a ver telejornal, depois é novela, depois
é sessão da meia-noite; você se põe no caminho para vir conquistar uma mulher
com quatro meses e metade?”
“Você não entende quase nada da vida, e é isso que gosto em ti, cada vez
adoro mais…”
“Apaga ainda esse cigarro, faz favor.”
“Te incomoda?”
“Assim vou falar quê, hã?! Ainda me fala só… Esse dinheiro que gastas
no tabaco ainda podias só comprar um par de chinelos em condições. Olha só o
calcanhar como está empoeirado, ó mano Vano.”
“Ouve o fundo da questão, ó minha benquista, e isso é difícil porque
você mesmo sabe que os homens… ora… não são lá bons sentimentais, né? Mas é
assim, esse ponto que reclamas, para mim não influi… O filho que vai nascer ou
o titular da gravidez que fugiu, para mim é pacífico.”
“Ainda não dá só muitas voltas, homem, me ouve. Haka!, ó coiso, você
acha mesmo juízo conquistar uma mulher com cinco meses de uma gravidez que não
te pertence?”
“Mas você não é a gravidez, ó amável. Você é uma constante, uma
constelação de sorrisos, afectos, enfim, um paiol de aconchegos que o futuro me
reserva…”
“Qual futuro, homem, futuro de quê?”
“Mas eu te amo!”
“Mas você não tem o direito de me amar!”
GP. 12.04.2016, Aeroporto Internacional da Catumbela
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