É louvável o trabalho que a TPA faz em
denunciar, chamar especialistas para comentar, no seu papel pedagógico de
promoção da cidadania e harmonia social. Tão louvável que deve continuar, mesmo
quando a roçar o excesso. Só esta semana, já vi pelo menos mais de cinco vezes
a reportagem do "Segurança Pública" sobre o assassinato de quatro
cidadãos chineses, ocorrido em Janeiro deste ano em Luanda, perpetrado por um grupo de oito
angolanos que se fizeram passar por vendedores de terreno, liderado
alegadamente por um cidadão de nome Nataniel. Nesta matéria em particular,
ressalta-se a eficiência da polícia que despoletou a investigação depois de
reportado o desaparecimento pela esposa de um dos malogrados orientais e
culminou com a localização dos corpos dois meses mais tarde. É esta sinergia
que o cidadão espera, não apenas no esclarecimento dos crimes, senão também na
responsabilização dos autores/culpados, independentemente do status da vítima,
partindo do princípio do valor absoluto da vida. E os mais honestos concordarão
comigo em como igual visibilidade não tem sido dada aos casos em que são bandidos cidadãos
chineses. A história recente de Benguela mantém indelével o infeliz desfecho do
caso do kínguila (cambista informal) que foi raptado, roubado em mais de 30
mil dólares e assassinado por uma quadrilha de chineses, cujo cabecilha, muito
misteriosamente, para dizê-lo de forma generosa, não chegou a ser julgado
porque, à data, simplesmente evaporou da cadeia por ordem de alguma entidade
angolana não identificada. Nem se sabe a quantas anda o caso daquele chinês que
assassinou em Luanda o seu enteado angolano de oito anos de idade. Bem sei que
nesta sociedade das conotações é um risco dizer isto e assumi-lo, mas faço-o
por imperativos de consciência, já que o kínguila podia ser um familiar meu,
para além de concidadão, assim como o menino que provavelmente tinha muito a
dar ao país. O que defendo é uma sociedade onde a justiça funcione
independentemente do sobrenome, da ocupação social e da cor do passaporte. É
para isto que os nossos pais lutaram. Os meus pêsames às famílias, sejam
angolanas, sejam chinesas. E para não se pensar que estou contra a TPA, pois é
a ela que geralmente dirijo reparos, esclareço que por opção não tenho
instalada parabólica em casa, não havendo por conseguinte acesso a qualquer outra
estação televisiva a quem "monitorar".
Gociante
Patissa, Benguela, 21 Abril 2016
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