domingo, 3 de abril de 2016

[Oficina] Crónica | Oito Anos de Juras

Texto de Lauriano Tchoia
Luanda, 02.04.2016
“Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro, o pensamento lá em você eu sem você não vivo”. Com a devida permissão de Djavan, exubero-me no trecho-lenda de sua canção.

Abriam-se e encerram-se anos aritméticos, o desespero em auto-reverso, sonho adiado e a infindável tortura. Tardava o surgimento do rebento pretendido. Meia-volta o suspiro, é Chissola expondo-se à permanente melancolia, mão em arco sobrepondo-se o queixo e o plácido rosto segredando com o silêncio.

Esforços familiares conjugados, prestativo marido sujeitando-se à vigília continua, até de beber deixara, por se lhes ter sido dito que o álcool e o cigarro reduziam o sêmem reprodutor.

“Então, até agora, nada?! Nem um exemplar? O problema é teu ou dele?” Bocas de veneno, víboras à solta, queriam saber de tudo e mais algo, como que a ajudar. Porém no lugar de dó, trespassavam flechas sobre o cândido e já dolorido coração da aspirante a progenitora.

Rumo do vento com poder sobre as coisas, o olhar manso e distante, claro conceito de vida a determinar a liberdade de voar.. 

O clima entre os dois arruinava-se e no lugar do sorriso, acusações mútuas, assessorando a tortura psíquica e o surgir de desconfianças, trazidas  em conselhos infiéis. “Se não dá certo, tenta lá fora; andas burra ou quê? Não vês que o tempo e a menopausa não perdoam? Pelo menos um filho, prima. Pelo menos, prima!...” Coisas assim, levadas ao irremediável prisma. Amor, ódio e rancor confundindo-se vezes sem conta e actuando em bateria artilheira.

Difícil relação; panelas acrobáticas em plena testa ou lábios amassados. Facas afiando-se, abdómen como destino, insónias e vontade de dormir com fraldas de aço… para protecção especial em zonas restritas. Todo o cuidado era pouco.

“Eu arranco-te a ginguinga seu cabrão!”(A coisa estava feia, não era a linguagem que conhecera da dócil esposa, puro rancor visceral e sede de sangue pelo meio. Estavam irreconhecíveis). “Não dá, não dá! Melhor a separação! De preferência isso. Já não dá…”

Oito anos de juras remetidos à nulidade, ele partiu e ela optou pelo regresso ao seu Kipungo, ponto de partida à prometida felicidade.

Dois meses ocorridos, lágrimas inenxugáveis e preces percorrendo madrugadas, eis que do sinal de atrasos, um toque se fazia no ventre da mãe, acordada para a confirmada, bem-vinda, e aclamada gravidez. O parto deu-se meses depois.

Infrutíferas foram as tentativas de contactar Jorge Kiosa, o pai. Nasceu e deu-se à escola. Hoje, médico cirurgião. Reputação ao nível dos melhores hospitais de Luanda.
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