Texto de Lauriano Tchoia Luanda, 02.04.2016 |
“Um dia frio, um
bom lugar pra ler um livro, o pensamento lá em você eu sem você não vivo”. Com
a devida permissão de Djavan, exubero-me no trecho-lenda de sua canção.
Abriam-se e
encerram-se anos aritméticos, o desespero em auto-reverso, sonho adiado e a
infindável tortura. Tardava o surgimento do rebento pretendido. Meia-volta o
suspiro, é Chissola expondo-se à permanente melancolia, mão em arco
sobrepondo-se o queixo e o plácido rosto segredando com o silêncio.
Esforços familiares
conjugados, prestativo marido sujeitando-se à vigília continua, até de beber
deixara, por se lhes ter sido dito que o álcool e o cigarro reduziam o sêmem
reprodutor.
“Então, até
agora, nada?! Nem um exemplar? O problema é teu ou dele?” Bocas de veneno,
víboras à solta, queriam saber de tudo e mais algo, como que a ajudar. Porém no
lugar de dó, trespassavam flechas sobre o cândido e já dolorido coração da
aspirante a progenitora.
Rumo do vento com
poder sobre as coisas, o olhar manso e distante, claro conceito de vida a
determinar a liberdade de voar..
O clima entre os
dois arruinava-se e no lugar do sorriso, acusações mútuas, assessorando a
tortura psíquica e o surgir de desconfianças, trazidas em conselhos infiéis. “Se não dá certo, tenta
lá fora; andas burra ou quê? Não vês que o tempo e a menopausa não perdoam?
Pelo menos um filho, prima. Pelo menos, prima!...” Coisas assim, levadas ao
irremediável prisma. Amor, ódio e rancor confundindo-se vezes sem conta e
actuando em bateria artilheira.
Difícil relação;
panelas acrobáticas em plena testa ou lábios amassados. Facas afiando-se,
abdómen como destino, insónias e vontade de dormir com fraldas de aço… para
protecção especial em zonas restritas. Todo o cuidado era pouco.
“Eu arranco-te a
ginguinga seu cabrão!”(A coisa estava feia, não era a linguagem que conhecera
da dócil esposa, puro rancor visceral e sede de sangue pelo meio. Estavam
irreconhecíveis). “Não dá, não dá! Melhor a separação! De preferência isso. Já
não dá…”
Oito anos de
juras remetidos à nulidade, ele partiu e ela optou pelo regresso ao seu
Kipungo, ponto de partida à prometida felicidade.
Dois meses
ocorridos, lágrimas inenxugáveis e preces percorrendo madrugadas, eis que do
sinal de atrasos, um toque se fazia no ventre da mãe, acordada para a
confirmada, bem-vinda, e aclamada gravidez. O parto deu-se meses depois.
Infrutíferas
foram as tentativas de contactar Jorge Kiosa, o pai. Nasceu e deu-se à escola.
Hoje, médico cirurgião. Reputação ao nível dos melhores hospitais de Luanda.
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