quarta-feira, 31 de janeiro de 2018
Diário | Mas o meu pai não tem sorte, ya?...
“Aló,
mulher!”
“Sim,
marido, está tudo?”
“Está
e não está…”
“Então,
este recrutamento vai ou não vai? Já fiz a minha parte, que era influenciar o PCA
meu pai a te indicar director dos RH. Agora vê lá se não me fazes comprometer…”
“É
mesmo este o problema, querida. Não está fácil apurar o candidato certo para o
posto de assessor-conselheiro para o PCA meu estimado sogro…”
“Ainda?”
“O
CV’s até têem algum peso, mas quando chega nas entrevistas é que fico
baralhado. Meu amor, não deixa o teu pai me exonerar, pelo nosso amor, faz
favor…”
“Mas
o que é que se passa de concreto?”
“No
perfil dos candidatos. Não se acham qualidades e competências que procuramos…”
“Como
assim?!”
“Repara
que um, ao lhe perguntar as qualidades pessoais, me respondeu que é honesto,
que nota um oportunista à distância. Isso se fala?! Esse assim tem objectivos
na vida?!”
“Esse
é um caso perdido, amor…”
“Eu
falei ‘meu irmão, a pessoa tem que ter metas e espírito de concorrência. Se for
preciso agitar as águas e mostrar o que vales, isso é estratégia de vencer, não
tem nada a ver com intrigas. Se há um mambo da empresa que te pode resolver as
necessidades, você olha mais atrás?! Este é o mundo do chegou e ganhou, ou não
é isso?”
“Puxa,
mor, vendo assim o cenário, são jovens assim sem ambição de subir na vida, né?”
“Ah,
mas ainda não ouviste o outro. Lembras-te de quando nos passaram aquela fórmula
do humanismo contra o pedantismo matemático na gestão?”
“Sim…
quer dizer…”
“Um
então não lhe perguntei já quanto é 100+100? Dá 200!, insistia o burro. Ainda lhe
dei pista para não ir muito por aí, que daria 200 e qualquer coisa, talvez e 20…”
“E
ele?”
“De
maneira nenhuma! Teve sempre professores matemáticos muito bons. Para ele,100+100
é igual a 200, e ponto final! Esse não vai incomodar os saldos do PCA?!”
“É.
Por acaso há que ter cuidado, há pessoas globais que não se ajustam às leis de gestão local…”
"Nem mais..."
"Nem mais..."
“Agora
vamos fazer como, querido, se daqui a pouco termina o prazo?”
“Havia
um miúdo que de longe parecia bom. Alto, musculoso, cara feia, olhos vermelhos.
Lhe perguntei assim: na qualidade de assessor-conselheiro, algumas vezes terás
de dar a cara em nome do senhor PCA. Como é que estamos em termos arrogância?”
“E
ele?”
“Ah
porque ‘como humano, não posso dizer que não tenho, mas procuro dominar os impulsos’.
Mor, esse assim conseguiria encostar os grevistas à parede, tal como falavam
que fazia aquele director karateka que chamava os sindicalistas um a um durante os treinos dele no
ginásio?”
“Mas
o meu pai não tem sorte, ya?”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 31 Janeiro 2018
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
segunda-feira, 29 de janeiro de 2018
Citação
"O teatro em Angola é visto como um
teatro" (Flávio Ferrão, encenador angolano. In Conversas de Bar, TPA2,
29/01/2018)
Diário | Isso existe?!
"Mor, mor! Estás muito ocupada?"
"Muito até não, mas podes pedir..."
"Obrigado, mor. Ah! Essa vida não presta, ya?..."
"Oh, mor! Que cara é essa?! Estas mesmo arrasado!... Mas tu em casa a estas horas?! Tiveste problemas no serviço, mor?"
"Dá só um jeito naquelas calças pretas e camisa de luto. Quando eu sair do banho quero encontrar junto com as meias pretas, sapatos negros mais os óculos de sol, ya?"
"Oh, meu querido! Deixa-me antes dar-te um abraço. Coitado! Sabes que me corta o coração te ver assim todo sentido..."
"Obrigado, mor. És mesmo carinhosa nos momentos que a pessoa mais precisa..."
"Não agradeças. Estar ao teu lado é a minha razão de viver..."
"Mas o Mimoso não podia! Não podia mesmo fazer isso connosco, nós amigos de infância. Morrer assim tão cedo?!"
"Mas, quem é o Mimiso? Acho que não conheço este teu amigo. Tento mas não consigo lembrar a fisionomia dele. Esteve no nosso casamento?"
"Bem, os convites como eram limitados - lembras-te do valor do buffet, né? - então não deu para contar com ele, mas..."
"Ah, ok. Mas morreu de quê?"
"Aquilo até não foi de muitos dias... Ligou-me na segunda-feira, agora estou a ouvir que no sábado assim mesmo já deu o último suspiro... Ah, como o Mimoso nos traiu..."
"Sinto muito, mor. Quando o foste visitar, ele tinha assim ar de abatido?"
"Bem, por causa do trabalho, não cheguei a ir visitar - já sabes o quotidiano urbano - mas todos os dias lhe mandava mensagem de rápidas melhoras. Tive esta preocupação..."
"Mas, ó mor! Não te estou a reconhecer! Então nos eventos sociais não o convidaste. Na doença não lhe visitaste. Agora que morreu, o Mimoso já é prioridade?! Isso existe?! Poupa-me. Engoma tu mesmo o teu traje de luto, o ferro até já está ligado à tomada, ya?..."
"Muito até não, mas podes pedir..."
"Obrigado, mor. Ah! Essa vida não presta, ya?..."
"Oh, mor! Que cara é essa?! Estas mesmo arrasado!... Mas tu em casa a estas horas?! Tiveste problemas no serviço, mor?"
"Dá só um jeito naquelas calças pretas e camisa de luto. Quando eu sair do banho quero encontrar junto com as meias pretas, sapatos negros mais os óculos de sol, ya?"
"Oh, meu querido! Deixa-me antes dar-te um abraço. Coitado! Sabes que me corta o coração te ver assim todo sentido..."
"Obrigado, mor. És mesmo carinhosa nos momentos que a pessoa mais precisa..."
"Não agradeças. Estar ao teu lado é a minha razão de viver..."
"Mas o Mimoso não podia! Não podia mesmo fazer isso connosco, nós amigos de infância. Morrer assim tão cedo?!"
"Mas, quem é o Mimiso? Acho que não conheço este teu amigo. Tento mas não consigo lembrar a fisionomia dele. Esteve no nosso casamento?"
"Bem, os convites como eram limitados - lembras-te do valor do buffet, né? - então não deu para contar com ele, mas..."
"Ah, ok. Mas morreu de quê?"
"Aquilo até não foi de muitos dias... Ligou-me na segunda-feira, agora estou a ouvir que no sábado assim mesmo já deu o último suspiro... Ah, como o Mimoso nos traiu..."
"Sinto muito, mor. Quando o foste visitar, ele tinha assim ar de abatido?"
"Bem, por causa do trabalho, não cheguei a ir visitar - já sabes o quotidiano urbano - mas todos os dias lhe mandava mensagem de rápidas melhoras. Tive esta preocupação..."
"Mas, ó mor! Não te estou a reconhecer! Então nos eventos sociais não o convidaste. Na doença não lhe visitaste. Agora que morreu, o Mimoso já é prioridade?! Isso existe?! Poupa-me. Engoma tu mesmo o teu traje de luto, o ferro até já está ligado à tomada, ya?..."
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Restinga do Lobito, 29 Janeiro 2018
CONVITE AO EXERCÍCIO DA CIDADANIA SOS SANTA CRUZ
Caros moradores do bairro Santa Cruz, entre Lobito e Catumbela, o cheiro tóxico das indústrias do PDIC não terá solução se não fizermos uma denúncia colectiva. Sabemos que por detrás das fábricas há interesses de gente com dinheiro, logo, todo o "barulho" que se fizer será importante para reforçar possível intervenção da administração municipal junto da inspecção provincial da saúde. Que tal cada um de nós escrever no seu mural qualquer coisa de protesto pacífico e cidadão? A sugestão é: "Pela saúde dos moradores do bairro Santa Cruz, acabem com a poluição do ar que vem das indústrias do PDIC. Antes do lucro, os direitos do cidadão!"
Ainda era só isso. ObrigadoDaniel Gociante Patissa | 29.01.2018 | www.angodebates.blogspot.com
domingo, 28 de janeiro de 2018
Citação
"Durante muitos anos, houve no nosso país a desvalorização de práticas positivas e boas. Uma pessoa honesta era vista como um burro. Ser honesto não era visto com bons olhos, era sinal de falta de ideias" (Vicente Pinto de Andrade, político e economista angolano. In Telejornal da TPA, 28.01.2018)
Denúncia | ATENÇÃO, MINISTÉRIO DA SAÚDE BENGUELA
Excelências, está um cheiro horrível a produtos químicos no bairro da Santa Cruz, que liga os municípios do Lobito e da Catumbela, na província de Benguela, junto da rotunda que dá para o estádio do Buraco, entre as instalações da Fertiangola e as fábricas de material descartável, no perímetro do Polo de Desenvolvimento Industrial da Catumbela (PDIC). Não é a primeira vez que se faz uma denúncia a respeito de tal poluição ao ar que se respira, mas voltamos a fazê-la a bem da saúde dos moradores, já tendo em conta que a nossa sociedade é vulnerável a doenças infecciosas. É um cheiro intenso e desconfortável, que não pode ser absorvido como algo normal, pelo que se impõe o posicionamento das autoridades sanitárias no sentido de averiguar possíveis atentados à saúde humana que venham a resultar das unidades produtivas instaladas nos antigos talhões de cana-de-açúcar da açucareira primeiro de maio da Catumbela.
Ainda era só isso. ObrigadoDaniel Gociante Patissa www.angodebates.blogspot.com
Diário | Assim queres te armar em quê?!
“Filho, filho! Prepara-te, despacha!!!”
“Para quê, pai?”
“Vamos à marcha. Estás com 16 anos, portanto, menos dia, mais dia, praticamente chegou o momento de seres homem…”
“Mas isso é aonde?”
“No centro da cidade. Concentração no jardim do hospital, na rua da TPA e da TV Zimbo, vamos acabar na rotunda do Kalunga… Nós os dois começamos e com os cartazes que andei a preparar, vais ver que mais gente se vai juntar…”
“Mas qual é o tema?”
“Primeiro: fomos chamados de país de merda pelo Donald Trump…”
“Mas quem é Trump, pai?”
“Como é que não sabes uma coisa destas, filho?! É o presidente da América…”
“E o senhor Trump vai saber que marchamos contra ele?”
“Nós fazemos a nossa parte. Os camaradas da TPA, da TV Zimbo, da Rádio Ecclesia, como é mesmo na rua deles que passa a marcha, terão que fazer barulho do assunto…”
“Mas a privatização da praia do Pequeno Brasil para construir bares não é também ali?”
“Não quero chocar com ninguém, filho, é melhor não se meter…”
“Ok, pai. Tem mais outro tema?”
“Segundo: vamos marchar contra o nepotismo neste país.”
“Nepotismo é quê, pai?”
“É colocar familiares nos lugares de benefício daquilo que é de todos…”
“Tipo quando o pai vai visitar a família da mamã com a moto da secretaria da igreja?”
“Assim queres te armar em quê?! Também estás a seguir os revús às escondidas, né?!”
“Mas o papá não tem dito que as contradições geram desenvolvimento?”
“Mas não tem nada a ver, filho! Estavas já a querer ir longe dum coro…”
“Não foi intenção, pai. Desculpa. Estou quase pronto…”
“Terceiro: marchar pelo respeito pela constituição e mais transparência…”
“Transparência é o quê, pai?”
“Prestar contas sobre a forma como se gere o que é de muitos por direito…”
“Ah, bonito. Pai, assim por curiosidade, quanto é que o pai recebe em nosso nome no salário como abono de família?”
“Mas, oh rapaz! Achas que são maneiras perguntar quanto é que alguém ganha?! Você não costuma comer?! Por acaso andas de roupa rota, hã?!”
“Desculpa, pai. Era só para entender melhor a transparência…”
“É assim. Eu sei que com a vossa mãe às vezes reclamam de uns pequenos lapsos meus. Falam que não sei ser humilde, que não reconheço os meus erros e assim não ajudo a encontrar caminhos para os prevenir. Mas é assim: só erra quem trabalha, ouviu?!”
“Está bem, pai.”
“Temos de exigir mais ética durante as palavras de ordem do protesto, ok?!”
“Ética é o quê, pai?”
“Ética é ser exemplo de arbítrio moral, coerência entre o falar e o fazer, o bom-senso… Porra, pá! Sinceramente, você também é um aluno da merda, ya? Tudo só é dúvida?!”
“Pai, pai. Faz mesmo sentido irmos começar esta marcha?”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Catumbela 28 Jan 2018
sábado, 27 de janeiro de 2018
Em linhas tortas (23)
O passo seguinte, olhando para o rumo dos ventos novos, será o pagamento de portagem aos donos singulares de novos estabelecimentos para se ter acesso à praia. Os benguelenses ainda resmungam pequeno Brasil, acham que têem passado a preservar. Voltam a acreditar na força da sua utopia em demover os autorizados e respectivos autorizadores de plantar malha de comércio decidido a fechar em definitivo espaços comuns seculares à beira mar herdados. Outros porém, arraigados na promessa da oferta de emprego como escadote, já o dissemos antes, seguem assobiando para o lado, bloco sobre bloco. São seres superiores em sofisticação e de uma moral ainda não decifrável nesta nossa encarnação. É bem capaz de se regerem por conceitos do século 24, e nós os demais ainda tão atrasados no século do bom-senso e das preocupações ecológicas, né? Ontem nasceu um Morena Beach em tampão à universidade, ao lado caiu-lhe cedo e de pára-quedas um infantário, a mesma fórmula está a dar forma a um projecto vertical sem placa a divisar. Não se conhece o rosto de quem nos está a "obrar" por cima. Talvez alguns saibam quem, dizer é que ninguém ousa. Daqui a pouco a poeira assenta e levamos com mais surpresa, que não chega a ser honestamente uma surpresa como tal. É da nossa natureza reivindicar... para melhor aceitar. Rendamo-nos, atados e apequenados pela sinuosa calmaria dos bastidores burocráticos. A lei, feita por homens para servir os homens, sabe para que lado pender. E para já não é para o da memória colectiva ou do bem comum. Boas-vindas, caros donos de todos nós, só não se esqueçam depois é de estipular o valor da portagem. Ainda era só isso. Obrigado.
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 27 Janeiro 2018Diario | Em Portugal também não há ostentação?!
"Viste aquilo ontem nas notícias, pá?"
"A bola, não é? Eh pá, o Real está mesmo a meter água por todos os lados, pá. É que nem com o Cristi..."
"Mas qual Cristi, qual real, qual quê?!"
"Oh..."
"Mas não é possível que essa sua cabecinha veja o mundo além da bola?!"
"Vê lá como falas, por amor de Deus! Foi um redondo lapso, meu. Desculpa lá... Falávamos mesmo de quê, já agora?"
"Das notícias policiais, homem!"
"Ah, e não foi isto que respondi? Tenho a vaga sensação que sim..."
"Pois, também eu tenho esta mesma sensação. Mentiroso de péssima qualidade hahahahah. Mas num lado tens razão quando enfias a cabeça como a avestruz na bola. A criminalidade, no universo desportivo, é residual. Não passa da Fifa..."
"Vamos já falar a sério agora. Eu até já me enjoa o critério das notícias. Ultimamente só da assaltos, roubos, assassinatos, raptos, enfim, um pesadelo que nunca mais acaba, credo!"
"A criminalidade de Luanda está efectivamente uma coisa assustadora..."
"Mas, oh meu caro amigo, há crime em todo o lado..."
"Não digo que não. Mas hás-de concordar que a ostentação no meio social cá também é assim um bocado provocatória, que cauusa raiva..."
"Mas em Portugal também não há ostentação?!"
"Mas é diferente! Lá só causa inveja, não ao ponto da raiva."
"Como assim?"
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Benguela, 27 Janeiro 2018
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Fragmentos do conto «A CHEFE E OS HOMENS» | do livro «O Homem Que Plantava Aves», cuja edição para Angola está condicionada pela ausência de apoios. No mercado brasileiro saiu em 2017 sob iniciativa e despesas da editora Penalux
Adorada
por mulheres que viam nela um ícone da ascensão feminina na vida, a Comissária
era ao mesmo tempo alvo de intrigas. (…) Era acusada de impingir ideias de
brancos e desprezos lá da China à nossa cultura africana, como aquilo de
impedir que as padarias familiares se prestassem à cozedura de filhos na
quantidade que bem entendessem. A má influência só podia derivar do nível
académico da chefe, pois estava visto, segundo a sabedoria popular moderna naquele
meio difundida, muito estudo na cabeça de uma mulher faz mal. E nesse quesito a
chefe tinha o Ensino Médio (…) o maior nível findava na sexta classe. (…) Média
de estatura e abonada na massa corporal, não tardou a ser alcunhada de
«Superfofinha», no que pode ter contribuído o seu estilo de vida arisco.
(…)
A
comuna da Equimina é uma concha cercada de montanhas e mar, ligada à Baía dos
Elefantes. Fazer o troço, acidentado e serpenteante, até ao Dombe-Grande e
vice-versa não era seguro. Quando não fossem as emboscadas da Unita, eram os
ladrões de gado bovino (…) As deslocações de pessoas e bens exigiam guias de
marcha, devidamente dactilografadas, assinadas e autenticadas com carimbo a
óleo. Ser ali colocado representava em certa medida uma prova de militância e
amor à pátria, tendo em conta que os habitantes eram majoritariamente pessoas
capturadas nas invasões às bases do inimigo, com o qual teriam potencialmente
relação de conspiração.
(…)
Para
piorar as coisas, a traineira que dava jeito às deslocações dos quadros da
Administração Municipal da Baía Farta dera entrada de baixa nos estaleiros, por
avaria. Inadiável, a ida do instrutor teve de ser por canoa, odisseia que não
tinha como ser feita em menos de três dias. Porque a pátria aos seus filhos não
implora, ordena, mais tarde ou mais cedo o homem chegaria. Outro remédio não
havia senão esperar.
(…)
Instantes
depois, entrava a vítima. Delfim não parecia minimamente interessado em
dissimular diplomacias. Saudou apenas e só o visitante e sentou-se. Mantinha
propositadamente os pensos no rosto, quando na realidade já as feridas tinham
sido amainadas pelos dias passados entre a agressão e a chegada do inquiridor.
Estão os três nervosos na sala. O inquiridor, pelo iminente suicídio por teimosia da Comissária. Ela, pela vontade de aplicar mais um soco a Delfim. Este rói-se por dentro pela surra de mulher (sem desforra), a primeira vez na vida, depois da mãe.
Repentinamente,
uma andorinha entra por uma janela, debica a taça de arroz que serve de vaso
dum ramo de rosas artificiais, faz cocô sobre o bloco de anotações e sai por
outra janela em acrobacia. A cena arrancou desprevenidos sorrisos do trio.
—
Camarada Delfim, como vai?
—
Mais ou menos, chefe. A vista ainda está vermelha e o nariz dói com soco da chefe.
—
Olha, por acaso a agressora diz…
—
Desculpa, camarada Pedradura, com todo o respeito. Agressora, não!
—
Pronto. Disse a camarada Comissária que teve essa atitude de te dar surra, aos
olhos de too-oo-do o povo, porque o camarada Delfim agrediu uma mulher.
—
Bem, chefe, vai-me desculpar, mas é verdade.
—
A mulher que o camarada Delfim agrediu tentou roubar víveres?
—
Não, chefe… Não, chefe…
—
Desrespeitou a bicha? Disse alguma palavra reacionária contra o nosso esforçado
governo, os heróis martirizados ou as causas da nossa luta? Era infiltrada e/ou
colaboradora do nosso inimigo?
—
Não, chefe… Não, chefe…
—
Foi apanhada a bruxar?
—
Não, chefe… Não, chefe…
—
Mas, ó caramba!, afinal, que mal fez a mulher para lhe partires a bacia com
surra?
—
Me falou quero ser tua mulher, me namora. Ó chefe, uma mulher é que vai me
conquistar?!
Gociante
Patissa, In «O Homem Que Plantava Aves», coletânea de contos do autor. Penalux.
São Paulo, Brasil, 2017
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Em linhas tortas (22)
Uma observação um tanto neutra e desapaixonada dos meandros da política doméstica na vertente partidária, olhando para as alas que se seguem a cada decisão superior não contestável, as cisões só disfarçadas com alguma dose de cinismo (há quem lhe chame diplomacia) e olhando para as denúncias de vícios nos processos de apuramento de delegados aos congressos que legitimam as lideranças, leva a uma sugestão: Já era altura de instituir um dia de consenso para os partidos políticos depositarem coroa de flores (em túmulo à escolha) em memória do princípio utópico da "crítica e auto-crítica". Ainda era só isso. Obrigado | www.angodebates.blogspot.com
terça-feira, 23 de janeiro de 2018
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Diário | Vocês são mesmo deste mundo?!
“Dá licença,
irmão?”
“A
paz do senhor, irmão! Chega mesmo aqui na sombra do onjango. Sabes já que nesta
fase de calor, dentro de casa é um forno, só dá mesmo para dormir, não é isso?”
“Pois
é, irmão. Ainda mais com tecto falso, aquece de que maneira.”
“Vai
alguma bebida? Uma cisângwa, uma gasosa, uma água?”
“Cisângwa
está bom. Depois a nossa cunhada sabe mesmo preparar com ombundi, a pessoa até fica
tipo é criança que volta da escola no colo da mãe dela heheheh.”
“Mas
e como é a saúde?”
“Vai
bem, graças a Deus. Ainda nada temos para fazer acusações. E do vosso lado?”
“Vamos
na graça do Senhor. Se dependesse dos homens, não sei o que seria nesse mundo de
conflitos e doenças. Mas vem só mesmo visitar ou tem uma palavrinha?”
“Bem,
as duas coisas…”
“Estou
a ficar preocupado, o irmão parece sério. Há algum problema?”
“Problema,
problema, não. É assim irmão. Em meu nome, em nome da minha esposa e dos meus
filhos, queremos transmitir a nossa gratidão pelo apoio. E assim sendo, decidimos
devolver o terreno que o irmão nos ofereceu naquele tempo…”
“Como
assim?! Há alguma mágoa ou ressentimento, irmão?”
“Bem…”
“Assim
já é problema das nossas mulheres, não é? Eu sabia!!! Mas as mulheres são
porquê assim, oh meu Deus?!”
“Assim
como? Está a falar de quê, irmão?”
“Que
na hora de namorar são bonitas e boas conselheiras, mas bastou só se instalarem
no lar estragam as boas relações encontradas com trocas de palavras?”
“Calma,
irmão! Pede ainda desculpas à cunhada, pelo mau juízo que lhe fizeste. Filha alheia.
Não disse nada nem estragou nada.”
“Mas
então como é que o irmão, assim mesmo do nada, vem devolver o terreno que oferecemos?! Isso nunca se viu, vai-me desculpar, irmão, mas não vai dizer que foi uma decisão
assim de pé para a mão. Põe-te ainda no meu lugar, faz favor…”
“Tens
razão. Uma decisão de pé p’ra mão não foi. O irmão nos acolheu com a oferta do
terreno para construirmos e iniciarmos a nossa vida, certo?”
“Afirmativo…”
“O
irmão recorda aquele concurso interno na empresa para mudar de categoria e
passar a auferir um salário mais condigno, que fiz testes e só faltava assinar o
contrato?”
“Sim,
lembro…”
“Pois,
irmão. Aquilo ficou anulado, a empresa entrou em banca rota…”
“Oh,
meu irmão, que triste…”
“Lembra
daquele processo de crédito bancário, que deu entrada há quase cinco anos? Ficou
sem efeito, houve desfalque no banco e aboliram os créditos.”
“Que
provação, irmão!…”
“Está
a ver a bolsa do Inagbe que aliviaria as propinas das crianças? Não avançou…”
“A
pessoa até só não chora porque parece que o tal vaso das lágrimas está seco…”
“Por
isso pensamos assim: o irmão nos deu o terreno para construir. Passados quatro
anos, nada fizemos nem temos esperanças de conseguir meios. O mais sábio é
devolver, pode ser que tenha outra ideia para dar um fim melhor…”
“Mas
não podiam pelo menos vender e ajeitar a vida com o dinheiro?”
“Mas,
irmão! Isto seria gozar com o seu bom coração. Não o recebemos para vender…”
“Mas,
me fala só uma coisa, irmão. Vocês são mesmo deste mundo?!”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa,
22 Janeiro 2018
Em linhas tortas (19)
Vivemos
tempos de inquietação social em função da austeridade, sobretudo pela incerteza
do que está para vir desta névoa chamada crise económica e do impossível acesso
às divisas (que já mandou muita gente ao desemprego). A realidade mostra que
somos uma sociedade de contrastes, paradoxal mesmo, com cidadãos ao mesmo tempo
passivos e controladores. Ou seja, em termos de participação, quando intervenções
directas de advocacia assim recomendariam, a adesão é pouca. Mas ao mesmo tempo
quando é para defender a angolanidade (quase sempre de base moral, sem pôr de
parte valores e tradições culturais nem sempre bem apurados), aí já somos
rápidos a emitir opiniões no espaço público e informal. A título de exemplo,
insurgimo-nos contra uma eventual aparição indecente de um cantor em palco ou
em vídeos, mas fechamos os olhos se este mesmo cantor, na condição de
automobilista, atropelar (mortalmente) um peão e não assumir as suas
responsabilidades. Quanto ao estado de opinião e comentários, lidera o anúncio
recente do secretário-geral da Assembleia Nacional, que desenganou a todos
quantos julgassem estar fora de questão (uma vez que aos patriotas tem sido
apelado o aperto dos cintos) a atribuição de viaturas de luxo de marca Toyota
Lexus aos 220 deputados. O anúncio, sob o ponto de vista do impacto da sua
comunicação, não podia calhar em pior altura. Justamente na véspera do arranque
de um ano lectivo de lamentações, com tantas escolas em risco de ruir e/ou sem
carteiras, a par da seca no município do Caimbambo, em Benguela, que viu
cidadãos morrerem por falta do que comer. A indignação social, que não tem
obrigações de consultar leis, não se fez esperar. A figura do deputado anda
numa desvalorização pior que a da moeda nacional, o kwanza. Ontem, na TV Zimbo,
os comentadores Gildo Matias e Paulo Nganga convergiram no quanto não se deve estabelecer
o paralelismo entre as mordomias dos deputados e demais servidores públicos com
os demais quadros e sectores, pois, entendem, trata-se de um falso problema. Em
sua visão, quem ganha bem deve assim continuar, porque é reflexo da
responsabilidade da função. Os que ganham pouco, isto já é outro problema que
deve ser visto, o da assimetria social, em busca da equidade. Falaram da
autonomia financeira e do poder discricionário da assembleia quanto ao que
fazer com o orçamento que lhe cabe, não havendo por isso a obrigação (moral,
acho eu) de se alinhar com o repto patriótico de cortar no supérfluo. Numa coisa
sua excelência eu está de acordo com a dupla, a nossa legislação (por norma cópia
de Portugal) anda desfasada da realidade. Afiançar que o deputado tem mais
responsabilidade do que um professor, um enfermeiro ou um agente da polícia,
parece escoriar o bom senso. O que se entende afinal por responsabilidade? Enfim,
para não se julgar que não oferecemos soluções, aqui vai uma ideia disparatada.
Se do ponto de vista da lei se está a estudar a possibilidade de autorizar a
importação de viaturas usadas que tenham no mínimo cinco anos de vida, deduz-se
que o estado reconhece haver condições de segurança óptimas para o utente e a
via pública. Ora, se já na legislatura passada houve a doação de 220 Lexus, gosto
que não se pode descartar porque “queremos fidelizar a marca”, como advogou o
secretário-geral do parlamento, que tal fazer um inventário do activo? A questão
é de lógica. Se as viaturas são dadas a título oficial (e não para uso e abuso
para fins pessoais), logo pertencem ao Estado angolano. Ora, considerando que
muitos dos deputados foram “reconduzidos” e são elegíveis para receber Lexus, então
que se recolha a frota da legislatura de 2012 e seja revendida. O dinheiro que
seja investido no hospital sanatório anti-tuberculose. Senão qualquer dia temos
uma sociedade que perdoa o assassino mas tem nojo do deputado, que diz
representar um povo cujas dores não veste. Ainda era só isso. Obrigado.
Gociante
Patissa | Benguela, 22 Janeiro 2018 | www.angodebates.blogspot.com
domingo, 21 de janeiro de 2018
Em linhas tortas (18)
Angola Debates e Ideias- G. Patissajaneiro 21, 2018angodebates, Blog Angola Debates & Ideias, Em linhas tortas
Sem comentários
Circula
nas redes sociais uma intervenção repartida em dois áudios da empresária
Filomena de Oliveira, da província da Huila, feita no parlamento por ocasião da
aprovação do novo Orçamento Geral do Estado. A intervenção é pontuada pela
frontalidade com que coloca à mesa assuntos que muitos angolanos abordam em
bares e em um ou outro espaço radiofónico ou de TV, mas com aquele velho receio
de arcar com as consequências de um possível fechar de portas. Alguém disse a
brincar que não sabia mesmo se à sua chegada ao Lubango a empresária não
encontraria uma nota de demissão. Claro, não só isso não vai ocorrer (por
motivos óbvios), como também a corajosa Filomena de Oliveira (que se a memória
não nos trai já apareceu no espaço mediático como historiadora, para além de
ter sido por volta do ano de 2003 uma das primeiras representantes da Unitel na
Huila) é daquelas vozes com um garantido "alvará dos deuses" para
dizer o que pensa. O que sua excelência eu reteve foi uma referência às nossas
universidades (cotadas abaixo das do Lesotho em termos de padrão de qualidade)
e que, no entender da empresária, são "centros de papagaios" e não
"centros de produção do saber". E este papagaio que vos escreve, com
quase 40 anos de idade e mais de metro e setenta de altura, considera entender
bem o que se quis dizer. Uma das preocupações nos últimos oito anos tem a ver
com a proliferação de palestrantes de auto-motivação, assim como de "obras
literárias" de auto- ajuda. Parece estranho que nos anos em que o acesso à
universidade era complexo (antes de 2006), o auto-didactismo tenha incentivado
o hábito do debate, das análises, das pesquisas, das bibliotecas, com uma
ajudinha das ONGs e das rádios. Curiosamente, hoje, já num contexto mais
favorável, quando cada vez mais gente formada é lançada ao mercado do trabalho, a
internet é mais acessível, o que temos a prosperar e a ser imposto pela
comunicação social como modelo de sucesso é precisamente a
"consagração" do mercado de sábios (de português polido) que usam das
suas opiniões, conselhos, frases feitas e lugares-comuns para "formar
mentes". Põe-se de parte a análise profunda, o recurso à lógica, paradigma
epistemológico e a confrontação/sustentação de ideias. Quando uma sociedade
(constituída formalmente por intelectuais) se reúne por horas e horas a
aplaudir opiniões de oradores charmosos cuja idade e experiência de vida nem
sempre seriam suficientes para lhes conferir a autoridade de assumir o posto de
influenciadores de mentalidades e destinos nos ramos que se propõem, a pergunta
é mesmo esta: O que andará a universidade a fazer senão reproduzir papagaios?
Ainda era só isso. Obrigado. Assina: sua excelência eu (que pensa Angola e não
se dirige a ninguém em particular).
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Gociante Patissa, 21 Janeiro 2018
Conto | O HOMEM QUE PLANTAVA AVES | Texto que dá título à colectânea de Gociante Patissa lançada no Brasil pela editora Penalux no ano de 2017
Antologia Angola 40 anos... disponível nos mercados KERO |
À
memória do meu avô paterno e xará, Manuel Patissa, cujo relato foi a base.
As
aves no coração da aldeia eram prestimosas mensageiras. Disputavam o céu, cada
espécie tentando caprichar num rol de acrobacias desinteressadas. Anunciavam ora
cacimbos de grandes caçadas, ora estações de férteis chuvas. Um lindo
espectáculo de se ver. Várias sessões ao dia. Garças pela manhã, cegonhas ao
meio dia, gaivotas ao cair da tarde. À boleia, até as corujas, odiadas pelo seu
mau presságio, e daí o pânico, viam-se temporariamente toleradas.
Em
meios virgens, dantes a vida resumia-se a duas festas, nomeadamente, o trabalho
e a celebração das estações da natureza, muitas vezes não se sabendo ao certo onde
começava uma e terminava a outra. De tal maneira que volta e meia estavam
brancos pássaros à ponta da enxada, feitos guias, ou sobre o dorso do boi que
puxa a charrua ou, antes, trespassando a choupana da maçaroca a assar,
desmentindo a solidão de camponesas. Nas encostas do riacho, tal era a
cumplicidade entre as pessoas e a natureza que não chegava a ser novidade
poisar uma andorinha à cabeça, como se simbolicamente se quisessem tributar os
brancos cabelos debaixo do lenço de mais uma idosa com filhos e neto por criar.
A
aldeia renovava-se no seu vigor e nas suas esperanças. Não tardaria, estava às
portas o luar de fim de cacimbo, que representava uma grande festa. Nesta fase,
já com as temperaturas bem mais amenas, o ritmo quente do batuque nas veias
africanas soltava-se da hibernação e a aldeia confundia-se com um verdadeiro
festival de artes performativas, numa dança em casamento com a representação.
Ao compasso de «ukongo», os aldeões agradeciam aos deuses pelo êxito nas
caçadas e por regressarem com vida a suas casas os bravos homens. Por seu
turno, no «olundongo», por vezes até às umbigadas, convergiam os prantos
de cada um, ao passo que o fecho do ciclo da circuncisão estimulava as palmas e
os assobios com o «ocinganji», mascarado.
Esta
parte final, a mais efusiva, passava ao lado de uma alma mais ou menos
incompreendida. Suportava estoicamente o ressoar dos batuques, não podendo
dormir sossegado nem juntar-se à festa. A arena ficava distante de casa, e ele
era paralítico. É que nessa aldeia, distante, distante do nosso tempo, havia
espaço para tudo, menos para a felicidade de pessoas com deficiência.
Acreditava-se que a limitação motora seria praga dos deuses por eventual erro
dos ancestrais. E perverso do jeito que chega a ser o dogma do senso comum,
quem acabava por levar com algum desdém era a própria vítima. E começava mesmo pelo
paradigma proverbial dos nomes africanos.
Tendo
uma infância bastante doentia, ficando a sua sobrevivência a dever-se a preces
e medicações à base de raízes, os pais dele entendiam que nenhum nome seria mais
oportuno do que Lumbombo, sinónimo de raiz.
Ademais,
ao atribuir nomes simbolicamente feios, acreditava-se que seria uma maneira de
enganar a morte, pois esta tem a inconveniência de roubar do nosso convívio pessoas
que nos são queridas. Ora, se ao nome a gente revela desprezo, pode ser que a
pessoa tenha longa vida ou, no mínimo, finge-se que o finado também já não nos fazia
falta alguma, não podendo por isso a morte achar que venceu.
sábado, 20 de janeiro de 2018
Diário | Filha de mulher não tem mais pena da mãe?
“Mana!
Mana! Pelo menos só um vai à merda, né?”
“Eh,
primo, vai só já me desculpar, meu primo. Achas que se estivesse tudo bem, eu
ia passar sem saudar? Te olhei mesmo mas não te vi… Coração ficou longe…”
“Estás só
com o coração fora do lugar. É porcádequiê?”
“É
escola, primo. É escola…”
“Matrícula
das crianças já, não é?”
“É isso,
primo. A pessoa já não sabe mais como vai fazer. O estado é que não tem palavra
de homem. Um dia fala na boca do chefe que pagar propina é ilegal. No dia
seguinte, no mesmo noticiário, o director da escola diz que comparticipação não
é ilegal, que é acordo entre a escola e a comissão de pais. Mas você já sabe
mesmo que, no fim de todas as gramáticas que mastigam no micro, quem manda é que
sempre mandou…”
“Mana,
ainda me desculpa. Aqui está a passar muita gente. Não estamos a falar política,
né?”
“O primo
tem medo?”
“Não é
medo, prima, é história…”
“OK.
Falam que livro é gratuito, mas antes de chegar na escola, já está na montra da
praça. O pouco do negócio de mandioca e ginguba vai na fuba ou no estudo? Mas
você vê só, primo, uma gaja é pai e é mãe das crianças. Vou fazer como?”
“Mas
então, e o pai das crianças?”
“Foi…”
“Foi
aonde?”
“Na
mulher dele…”
“Mas você
não exige as obrigações dele?”
“Para
quê? Para trazer uns trocos e depois querer me dormir de novo?! Oh primo, você
quando toma decisão, toma mesmo. Não fica mais tipo carne de cão não como mas o
molho vai…”
“É isso
aí…”
“Eu estou
a ver mesmo bem, meu primo, este ano vai ser o último do menino. Fica mesmo na
terceira classe dele, não estou a me ver. Vou só investir na menina, que está
na segunda…”
“Mas onde
come um não comem dois?”
“Meu
primo, que futuro é que ele vai-me dar? Filho de homem quando crescer só vai
sustentar a sogra dele, esquece a mãe. Melhor é investir na menina. Filha de
mulher não tem mais pena da mãe?
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| Gociante Patissa | Benguela, 20 Janeiro 2018
Humor | O deputado e a estudante
Fazia a primeira viagem à Europa, depois de receber os seis meses de retroactivos no salário aumentado, um certo deputado angolano, destes que praticam o poder legislativo em casas de jogos ou desmentindo a velhice em meninas de 24 anos para baixo. Coincidiu sentar-se ao lado de uma Jovita. O deputado pergunta à estudante se quer participar num jogo interessante. Ela, muito cansada, e que só quer um sono para relaxar, agradece educadamente e vira-se para a janela para dormir. O deputado insiste e explica que o jogo é fácil e muito divertido. E vai o detalhe:
– Eu faço-te uma pergunta e, se tu não souberes a resposta, pagas-me 10 euros e vice-versa.
Ela não se mostra interessada e tenta dormir um bocadinho. O deputado, agora, já enervado, para gabar a sua inteligência, diz:
– Ok, se tu não souberes a resposta, pagas-me 10 euros e se eu não souber a resposta, pago-te 100 euros.
Isso chamou a atenção da estudante, que pensando que este tormento nunca mais acabava, decidiu concordar. O deputado fez a primeira pergunta:
– Qual é a distância exacta entre a Terra e a Lua?
A jovem não disse uma palavra, abriu a carteira, pegou em 10 euros e entregou ao deputado.
– Ok, é a tua vez – disse o deputado.
Então ela perguntou:
– O que é que sobe a montanha com três pernas e desce com quatro pernas?
O deputado, desconcertado, pegou no seu tablet e pesquisou todas as referências, sem nenhuma resposta. Pegou no telefone do avião, e ligou-o ao modem do cmputador, procurou em todos os bancos de dados e bibliotecas possíveis, sem nenhuma resposta. Frustrado, mandou e-mails para todos os seus amigos e colegas de trabalho, sem nenhum sucesso. Uma hora depois, ele acordou a estudante e entregou-lhe os 100 euros.A jovem disse «Muito obrigada!» e virou-se de novo para uma nova soneca. O deputado, já muito chateado, acorda-a novamente e pergunta:
– Muito bem, qual é a resposta?Sem dizer uma palavra sequer, ela abre a carteira e entrega-lhe 10 euros. Depois volta a dormir.
(adaptação) http://angodebates.blogspot.com/
sexta-feira, 19 de janeiro de 2018
Ainda não adquiriu o seu exemplar do livro de contos "O Homem que Plantava Aves"? Visite o site da editora brasileira Penalux e ajude a divulgar a literatura angolana além fronteiras
CARACTERÍSTICAS
DO PRODUTO:
GÊNERO:
Contos
ISBN: 978-85-5833-282-8 | ANO: 2017
FORMATO: 14X21
PÁGINAS: 184 | Pólen Bold 90gr
preço: R$35.00
ISBN: 978-85-5833-282-8 | ANO: 2017
FORMATO: 14X21
PÁGINAS: 184 | Pólen Bold 90gr
preço: R$35.00
Em linhas tortas (17)
A nova gestão da TPA, concretamente o
segmento canal 2, liderado por Manuel da Silva, que prometeu introduzir 12
conteúdos (programas novos), aos poucos vai mostrando que é possível fazer-se
televisão com recursos ao limite e que, acima de tudo, afinal também é possível
oferecer qualidade contando só com técnicos angolanos (xenofobia pura! Ou
não?). Alguns programas despontam pela positiva, como são os casos do
"Nossa Geração" (debate conduzido por Miguel Manuel sobre temas
actuantes da juventude), "Matabicho" (dirigido por Niurca, entrevista
biográfica ou de perfil a diversas personalidades, só de Luanda) e aquele
espaço de entrevista biográfica com mulheres de mérito. Já não diria o mesmo do
"Conversa de Bar" (21h), apresentado por José Dange, que denota por
enquanto, como é óbvio em principiante em coisas de apresentação em TV, uma
falta de habituação. O positivo do programa, para além do cenário, está na
música ao vivo. Fica-se com a impressão de o mesmo fazer apologia excessiva ao
"Goz'aqui", produto comercial de humor ao qual pertence (conflito de
interesses ou haverá algum compromisso de troca de serviços entre o projecto e a
TPA?) O grande receio mesmo é que descambe no seu humor e voltemos a ter os
mesmos excessos de Pedro Nzage e de Benvindo Magalhães. Uma das brincadeiras de
muito péssimo gosto é, já não se esforçando em pronunciar bem os nomes
africanos, ir troçando destes ou sugerindo que os interlocutores se apresentem
apenas com os nomes "fáceis", quando podia muito bem procurar saber o
significado e daí explorar curiosidades antropológicas. Não se devia nunca
sugerir exotismo no nome desconhecido. A liberdade de humor, numa televisão que
procura fazer um corte com produtos "plásticos" do passado, não devia
tratar com leviandade aspectos não tão bem encaminhados na história do país e
dos seus povos, como os da identidade/cultura. Somos por um entretenimento
pedagógico. Ainda era só isso. Obrigado. Assina: sua excelência eu (que ainda
não tem parabólica em casa, só vê mesmo TPA). hahaha
Gociante Patissa | Benguela, 19 Janeiro 2018 | www.angodebates.blogspot.com
Fábula infantil | A rã que quis se inchar como um boi (*)
Uma
rã que se encontrava em uma lagoa viu um dia se aproximar um boi que tinha ido
beber um pouco de água, e lhe chamou a atenção o grande tamanho do animal. A
rãzinha era muito pequena, não maior que um limão, e ao ver o corpulento boi se
encheu de inveja e decidiu se inchar até igualá-lo em tamanho.
A
rãzinha enquanto ia se inchando, perguntava às suas companheiras:
-
Eu já me inchei bastante para igualá-lo? Já sou tão grande como ele?
-
Não
-
E agora?
-
Tão pouco
-
Eu conseguirei!
-
Você ainda está muito longe!
E
a pobre da rã se inchou tanto que explodiu.
Moral
da história: O mundo está cheio de medíocres
que, por inveja, mostram-se diante dos outros como grandes senhores.
(*) Versão atribuída a La Fontaine por Vilma Medina, no site www.br.guiainfantil.com,
de uma fábula conhecida por A Rã e o Boi e que fez parte há algumas décadas do
currículo de ensino angolano em nome do autor brasileiro Monteiro Lobato.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Just a question
O que perderia o país e a
nossa democracia se o número de deputados (220) fosse reduzido para a metade
(110)? Obgd
Em linhas tortas (16)
Se o bom do cantor torrou por sua iniciativa em média 60 mil kwanzas por dia em dois anos a se nutrir de cocaína (o que equivaleria a construir uma casa em condições, se formar nas melhores universidades ocidentais e poupar), isso quer dizer que o orçamento do vício era patrocinado, saía das vendas de CD ou era cachet dos shows? Agora há essa azáfama mediática de todo o mundo querer apoiar, o que seria bom, não fosse a exploração mediática e algum protagonismo de figuras que já apareceram num passado recente a encabeçar campanhas de apoio a músicos em estado de saúde carente (campanhas de arrecadação de bens e receitas cujo fim as famílias do interessado dizem publicamente desconhecer). O próprio Kueno Aionda, no áudio a que sua excelência eu teve acesso, promete, caso apareça apoio para a desintoxicação, ir fazendo publicações nas redes sociais, com direito a directos, do evoluir do tratamento contra a dependência. Nada mais desaconselhável, até porque isso elevaria o grau de expectativas sociais e o colocaria sob a pressão de não errar. Com a carreira a rastejar e sem o amparo dos familiares há mais de seis meses, não restaria estaleca emocional para muitas vagas de depressão e censura. Tanto quanto se sabe, uma recaída não seria propriamente a primeira dele. Se nesta fase a sociedade reagiu à revelação maioritariamente com empatia e fé, é certo que também pode vir a ser cruel numa outra oportunidade. Sou dos que aconselham o apoio mas dispensando a espetacularização do momento menos bom do rapaz, que neste momento vive "de favor" em casa de Titica. Caridade para audiência é pior que a droga, por comprometer exactamente a dignidade de quem anda vulnerável. Melhoras, Kueno, de preferência caladinho (entenda-se em baixa visibilidade). Ainda era só isso. Obrigado
Gociante Patissa | Catumbela, 18 Janeiro 2018 | www.angodebates.blogspot.comQuetta
Do inglês algo curto
Crónico fraquinho meu
Não prefiro britânica nem americana
Tampouco africana
Mas a língua
Na língua de mulher
Quão belo surto!
Falou-me
dela o João
E em
poucos dias
O sumo
de limão
Poesia
e Rap em fatias de maçã
Apartamento
acolhedor
Meio
cá meio lá
Nos olhos
dela uma névoa ainda assim
Fora
não abrimos a porta ao desconhecido
Uma
diáspora tão à mão
Empatia
cultura geral e confidências
Varanda
panorâmica
Lobito
cidade em inglês
Uma grande
mulher e grande
Curvas
mestiças
Um cinzeiro
sensual
Vestido
de beatas vestidas de batom
Tanta
paixão para dar
Um amante
infantil em copos no rés-do-chão
Nove
da noite bato-lhe à porta
Uma duas
três
Tarda
a resposta
Insisto
e sai uma alma de rastos
Abraça-me
forte como nunca dantes
Não percebo
o motivo
Qual
compressor de suspiros é toda gratidão
Acabava
de lhe interromper o suicídio
Egoísta!
Digo chateado
Desamor
nenhum vale tamanho tributo
Pergunto
o que posso fazer
Corre-lhe
o rio olhos abaixo
“I
miss a cigarret”
Tenho
medo de a deixar só
Digo
que é linda
Que ponha
a melhor roupa
E saímos
sem rumo naquela noite.