Circula
nas redes sociais uma intervenção repartida em dois áudios da empresária
Filomena de Oliveira, da província da Huila, feita no parlamento por ocasião da
aprovação do novo Orçamento Geral do Estado. A intervenção é pontuada pela
frontalidade com que coloca à mesa assuntos que muitos angolanos abordam em
bares e em um ou outro espaço radiofónico ou de TV, mas com aquele velho receio
de arcar com as consequências de um possível fechar de portas. Alguém disse a
brincar que não sabia mesmo se à sua chegada ao Lubango a empresária não
encontraria uma nota de demissão. Claro, não só isso não vai ocorrer (por
motivos óbvios), como também a corajosa Filomena de Oliveira (que se a memória
não nos trai já apareceu no espaço mediático como historiadora, para além de
ter sido por volta do ano de 2003 uma das primeiras representantes da Unitel na
Huila) é daquelas vozes com um garantido "alvará dos deuses" para
dizer o que pensa. O que sua excelência eu reteve foi uma referência às nossas
universidades (cotadas abaixo das do Lesotho em termos de padrão de qualidade)
e que, no entender da empresária, são "centros de papagaios" e não
"centros de produção do saber". E este papagaio que vos escreve, com
quase 40 anos de idade e mais de metro e setenta de altura, considera entender
bem o que se quis dizer. Uma das preocupações nos últimos oito anos tem a ver
com a proliferação de palestrantes de auto-motivação, assim como de "obras
literárias" de auto- ajuda. Parece estranho que nos anos em que o acesso à
universidade era complexo (antes de 2006), o auto-didactismo tenha incentivado
o hábito do debate, das análises, das pesquisas, das bibliotecas, com uma
ajudinha das ONGs e das rádios. Curiosamente, hoje, já num contexto mais
favorável, quando cada vez mais gente formada é lançada ao mercado do trabalho, a
internet é mais acessível, o que temos a prosperar e a ser imposto pela
comunicação social como modelo de sucesso é precisamente a
"consagração" do mercado de sábios (de português polido) que usam das
suas opiniões, conselhos, frases feitas e lugares-comuns para "formar
mentes". Põe-se de parte a análise profunda, o recurso à lógica, paradigma
epistemológico e a confrontação/sustentação de ideias. Quando uma sociedade
(constituída formalmente por intelectuais) se reúne por horas e horas a
aplaudir opiniões de oradores charmosos cuja idade e experiência de vida nem
sempre seriam suficientes para lhes conferir a autoridade de assumir o posto de
influenciadores de mentalidades e destinos nos ramos que se propõem, a pergunta
é mesmo esta: O que andará a universidade a fazer senão reproduzir papagaios?
Ainda era só isso. Obrigado. Assina: sua excelência eu (que pensa Angola e não
se dirige a ninguém em particular).
www.angodebates.blogspot.com |
Gociante Patissa, 21 Janeiro 2018
0 Deixe o seu comentário:
Enviar um comentário