Celebremos,
somos homens! A culpa é da mulher, tem de ser. Sempre. Sempre ou quase sempre?
Sei lá! Há que evitá-la. Culpa pelo vento que levanta a saia e expõe. Culpa
pelo olhar enviesado do banhista, culpa pelo bolsar e coma etílicos do marido,
culpa pelo filho confeccionado por ele fora e na vigência do casamento, culpa
pela “bexiga” que dói, pelo odor do fluxo justo em dia de altos apetites. Culpa
pelas crises de adolescência do agregado. Culpa por verbalizar palavrão,
exteriorizar desejo, fazer uso da prodigiosa e mucosa estufa quando, com quem,
onde e como aprouver. Culpa por servir no prato algo nada próximo ao do
restaurante. Alvenaria armada com o patriarcal e a moral religiosa algumas vezes
ultra-conservadora. Ah, e a maior delas: culpa pelo casamento que não der
certo. Celebremos, pois somos homens! É o que fazia aquele vizinho do terraço
na Zona Comercial. Os demais apadrinhavam por omissão o que para um invejoso
podia soar revoltante. Investira os parcos recursos de estivador do Porto do
Lobito na aquisição de um meio chamado mulher (não atesto o título de
propriedade, culpa minha), a qual alojou, como já referimos, no terraço do
edifício que dava a testa à Livraria Magalhães, defunta, por volta de 1998.
Alimentava-a com o que podia, dava-lhe de beber também. E o meio cumpria,
deduzimos, consoante o estímulo, as suas atribuições, não se sabendo a autoria
da ausência de rebentos, se dele ou dela. O ponto mais alto do lazer, que tinha
no desentendimento forjado a ignição, coincidia com os ciclos de salário.
Invariavelmente depois das oito da noite, a percussão iniciava à porta fechada,
acrescente-se, o que afastava a hipótese de se tratar de um improviso. Num
primeiro plano os sons que chegavam à plateia eram estaladiços, depois agudos.
A vizinha, merecidamente, estaria a apanhar. Tentei no outro dia bater
violentamente à porta como meio de demover o vizinho do que me parecia ser
agressão. Quase fui expulso do prédio. Não valia a pena se meter. A mulher era
dele que, irritado, podia partir a socos para cima de mim que não passava de 55
Kg. O que vinha a seguir era previsível. Imaginava-se uma marido que agarra a
mulher pelo braço e corre com ela de uma ponta sala, embatendo violentamente a
cabeça dela contra a outra parede. Maldade a dela por ter carapinha frondosa e
deste modo amortecer o impacto e aquele símbolo de valentia de macho, o galo da
senhora ao amanhecer. E o meio chamado mulher só gritava: “Me bate só, mas não
me xota de casa”. E ele, muito generoso, fazia esta vontade. Torturaria mais
vezes, mas respeitando o limite. O que diria ela à família caso fosse xotada do
lar, né? Ainda era só isso. Obrigado. | www.angodebates.blogspot.com
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