Duas semanas já. Tinha dado todas as
voltas possíveis a visitar perfis mas, não, dela nada achava. Para lá do nome
de registo, ao que tudo indica sem paradeiro, nada mais o ligava à rapariga
como antecedente senão a vaga sensação de lhe soar familiar o rosto. Talvez a
tivesse visto antes, a julgar pelo doce à vontade com que a rapariga o abordou
em pleno horário de serviço. E ela? Diria o mesmo? De que servem as perguntas
quando não encurtam os extremos? Há encontros, por casuais que sejam, que se
negam a embarcar para o passado. É como se, inquietos no tempo, se revestissem
de promessa de retoma. Ficou-lhe o contacto, as palavras, o sentido de humor, o
sóbrio vestir, o olhar-lhe nos olhos a poucos palmos de distância. De nada vale
agora o esforço, nem o rosto dela mais ele consegue imaginar. E quando
acontece, e disso sabe-o bem o rapaz, é porque houve ali uma nascente de
afectos. Sim, ele conhece-se a si próprio pela faculdade de não memorizar
rostos de mulheres que lhe tenham com alguma profundidade marcado.
Gociante Patissa | Aeroporto Internacional da Catumbela 18.11.14 (Conto em construção) | www.angodebates.blogspot.com
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