“Filho, filho! Prepara-te, despacha!!!”
“Para quê, pai?”
“Vamos à marcha. Estás com 16 anos, portanto, menos dia, mais dia, praticamente chegou o momento de seres homem…”
“Mas isso é aonde?”
“No centro da cidade. Concentração no jardim do hospital, na rua da TPA e da TV Zimbo, vamos acabar na rotunda do Kalunga… Nós os dois começamos e com os cartazes que andei a preparar, vais ver que mais gente se vai juntar…”
“Mas qual é o tema?”
“Primeiro: fomos chamados de país de merda pelo Donald Trump…”
“Mas quem é Trump, pai?”
“Como é que não sabes uma coisa destas, filho?! É o presidente da América…”
“E o senhor Trump vai saber que marchamos contra ele?”
“Nós fazemos a nossa parte. Os camaradas da TPA, da TV Zimbo, da Rádio Ecclesia, como é mesmo na rua deles que passa a marcha, terão que fazer barulho do assunto…”
“Mas a privatização da praia do Pequeno Brasil para construir bares não é também ali?”
“Não quero chocar com ninguém, filho, é melhor não se meter…”
“Ok, pai. Tem mais outro tema?”
“Segundo: vamos marchar contra o nepotismo neste país.”
“Nepotismo é quê, pai?”
“É colocar familiares nos lugares de benefício daquilo que é de todos…”
“Tipo quando o pai vai visitar a família da mamã com a moto da secretaria da igreja?”
“Assim queres te armar em quê?! Também estás a seguir os revús às escondidas, né?!”
“Mas o papá não tem dito que as contradições geram desenvolvimento?”
“Mas não tem nada a ver, filho! Estavas já a querer ir longe dum coro…”
“Não foi intenção, pai. Desculpa. Estou quase pronto…”
“Terceiro: marchar pelo respeito pela constituição e mais transparência…”
“Transparência é o quê, pai?”
“Prestar contas sobre a forma como se gere o que é de muitos por direito…”
“Ah, bonito. Pai, assim por curiosidade, quanto é que o pai recebe em nosso nome no salário como abono de família?”
“Mas, oh rapaz! Achas que são maneiras perguntar quanto é que alguém ganha?! Você não costuma comer?! Por acaso andas de roupa rota, hã?!”
“Desculpa, pai. Era só para entender melhor a transparência…”
“É assim. Eu sei que com a vossa mãe às vezes reclamam de uns pequenos lapsos meus. Falam que não sei ser humilde, que não reconheço os meus erros e assim não ajudo a encontrar caminhos para os prevenir. Mas é assim: só erra quem trabalha, ouviu?!”
“Está bem, pai.”
“Temos de exigir mais ética durante as palavras de ordem do protesto, ok?!”
“Ética é o quê, pai?”
“Ética é ser exemplo de arbítrio moral, coerência entre o falar e o fazer, o bom-senso… Porra, pá! Sinceramente, você também é um aluno da merda, ya? Tudo só é dúvida?!”
“Pai, pai. Faz mesmo sentido irmos começar esta marcha?”
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Catumbela 28 Jan 2018
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