segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Partilhando leituras | Breve olhar à obra de Gociante Patissa por Banny Di Castro

Banny (à esq.) e Patissa
Boa noite, Patissa
Eis um comentário que fiz aos teus livros.

Não me arrogo alguma autoridade, gosto de partilhar comentários com autores que conheço (mas comentários autoritários são coisa que um homem de ciência deve temer, muitas vezes autoridades disseram coisas sem razão, embasadas na força da sua autoridade e popularidade). Ler “Fátussengóla” e “Não tem pernas o tempo”, melhor que “O consulado do vazio” e “O apito que não se ouviu” (destes últimos, o primeiro tinhas-mo oferecido quando moravas no 11 e o segundo adquiri-o aquando da sua apresentação na Mediateca de Benguela; tinha lido “A última ouvinte” também na mediateca de Benguela” quando tinha encontrado um nas suas prateleiras), ler esses dois livros, quis dizer, foi para mim como conhecer um outro Patissa, um homem que faz uma boa viagem pelo mundo dos livros, uma viagem, a priori, sem risco de acidentes, cuja finalidade é isolar-se do ambiente socializacional para desse isolamento, feito uma abelha, levar seu prestimoso contributo a uma grande colmeia da qual todos os angolanos e não só poderão saciar a fome. O Patissa manifesto nas entrelinhas desses livros está mais aberto para mudanças e novas ideias, e estar aberto para a mudança é o primeiro e imprescindível requisito para aceder à evolução e à felicidade.

Conclusão do meu comentário: “Cara Rita Baptista (A personagem, extraída de "Não tem pernas o tempo", representa nomes de minha mãe e meu pai respectivamente), se o tempo tivesse pernas nós seríamos
eternos”. Parece-me que os dois amigos que ofereceram-me livros na véspera do Natal de 2017 pretendem revolucionar a noção de tempo que a tradição nos legou. É curiosa essa semelhança de ideias porque, pelo que consta, os dois nasceram e cresceram em ambientes distantes e diferentes, apesar de partilharem um pouco de história (no caso, a colonização e a miscigenação cultural e racial advinda desse factor) e de geografia (no caso, o oceano Atlântico). É caso para aventar que, mais do que o resto, é a cultura, pelo que tem de verdadeiramente intelectual, que garante uma efetiva transposição de diferenças. A cultura rompe barreiras e tem o poder de realizar o que mais nada consegue fazer com a mesma eficácia: torna o nosso planeta realmente mais poético e harmonioso (os selvagens não se casam por faltar-lhes cultura, nós fazemos amizades com base em interesses mais ou menos estéticos e racionais).
Saudações,
Banny di Castro. Ganda, 24.12.2017
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