"Muito até não, mas podes pedir..."
"Obrigado, mor. Ah! Essa vida não presta, ya?..."
"Oh, mor! Que cara é essa?! Estas mesmo arrasado!... Mas tu em casa a estas horas?! Tiveste problemas no serviço, mor?"
"Dá só um jeito naquelas calças pretas e camisa de luto. Quando eu sair do banho quero encontrar junto com as meias pretas, sapatos negros mais os óculos de sol, ya?"
"Oh, meu querido! Deixa-me antes dar-te um abraço. Coitado! Sabes que me corta o coração te ver assim todo sentido..."
"Obrigado, mor. És mesmo carinhosa nos momentos que a pessoa mais precisa..."
"Não agradeças. Estar ao teu lado é a minha razão de viver..."
"Mas o Mimoso não podia! Não podia mesmo fazer isso connosco, nós amigos de infância. Morrer assim tão cedo?!"
"Mas, quem é o Mimiso? Acho que não conheço este teu amigo. Tento mas não consigo lembrar a fisionomia dele. Esteve no nosso casamento?"
"Bem, os convites como eram limitados - lembras-te do valor do buffet, né? - então não deu para contar com ele, mas..."
"Ah, ok. Mas morreu de quê?"
"Aquilo até não foi de muitos dias... Ligou-me na segunda-feira, agora estou a ouvir que no sábado assim mesmo já deu o último suspiro... Ah, como o Mimoso nos traiu..."
"Sinto muito, mor. Quando o foste visitar, ele tinha assim ar de abatido?"
"Bem, por causa do trabalho, não cheguei a ir visitar - já sabes o quotidiano urbano - mas todos os dias lhe mandava mensagem de rápidas melhoras. Tive esta preocupação..."
"Mas, ó mor! Não te estou a reconhecer! Então nos eventos sociais não o convidaste. Na doença não lhe visitaste. Agora que morreu, o Mimoso já é prioridade?! Isso existe?! Poupa-me. Engoma tu mesmo o teu traje de luto, o ferro até já está ligado à tomada, ya?..."
www.angodebates.blogspot.com | Gociante Patissa | Restinga do Lobito, 29 Janeiro 2018
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